Versos de Carlos Drummond de Andrade

Cerca de 448 versos de Carlos Drummond de Andrade

Autógrafo

Pedir autógrafo a autor lisonjeia sua vaidade
sem melhorar a qualidade da obra.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.
Inserida por portalraizes

Automóvel

Veículo que desperta o desejo de ir a
alguma parte já superlotada por veículos idênticos.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.
Inserida por portalraizes

Bem
Há boas ações que se praticam porque
não foi possível deixar de praticá-las.

( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.)

Inserida por portalraizes

Cão
O fato do cão ser fiel ao homem não quer dizer
que ele aprove as ações do dono.

( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.)

Inserida por portalraizes

Cão
Rendo homenagem ao cão; ele late melhor do que eu.

( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.)

Inserida por portalraizes

Banqueiro

O banqueiro ignora que tem dinheiro suficiente
para fechar o banco e começar vida nova.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.
Inserida por portalraizes

Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã.

(extraído do livro em PDF: JOSE (trecho de “O LUTADOR”)

Inserida por portalraizes

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Inserida por rodkalenninfe

Não morres satisfeito.
A vida te viveu
Sem que vivesses nela.
E não te convenceu
Nem deu qualquer motivo
Para haver o ser vivo.

A vida te venceu
Em luta desigual.
Era todo o passado
Presente presidente
Na polpa do futuro
Acuando-te no beco.
Se morres derrotado,
Não morres conformado.

Nem morres informado
Dos termos da sentença
Da tua morte, lida
Antes de redigida.
Deram-te um defensor
Cego surdo estrangeiro
Que ora metia medo
Ora extorquia amor.

Nem sabes se és culpado
De não ter culpa. Sabes
Que morre todo o tempo
No ensaiar errado
Que vai a cada instante
Desensinado a morte
Quanto mais a soletras,
Sem que, nascido, mores
Onde, vivendo, morres.

Inserida por Binha2309

Evocação

À sombra da usina, teu jardim
Era mínimo, sem flores.
Plantas nasciam, renasciam
para não serem olhadas.

Meros projetos de existência,
desligavam-se de sol e água,
mesmo daquela secreção
que em teus olhos se represava.

Ninguém te viu quando, curvada,
removias o caracol
da via estreita das formigas,
nem sequer se ouviu teu chamado.

Pois chamaste (já era tarde)
e a voz da usina amorteceu
tua fuga para o sem-país
e o sem tempo. Mas te recordo

e te alcanço viva, menina,
a planejar tão cedo o jardim
onde estás, eu sei, clausurada,
sem que ninguém, ninguém te adivinhe.

Inserida por Binha2309

A folha

A natureza são duas.
Uma,
tal qual se sabe a si mesma.
Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou  a ilusão das coisas?

Quem sou eu para sentir
o leque de uma palmeira?
Quem sou, para ser senhor
de uma fechada, sagrada
arca de vidas autônomas?

A pretensão de ser homem
e não coisa ou caracol
esfacela-me em frente  folha
que cai, depois de viver
intensa, caladamente,
e por ordem do Prefeito
vai sumir na varredura
mas continua em outra folha
alheia a meu privilégio
de ser mais forte que as folhas.

Inserida por Mary-25Silver

Se procurar bem, você acaba encontrando,
não a explicação (duvidosa) da vida. Mas a
poesia (inexplicável) da vida.____________

° ೋ ♡ ೋ ° ° ೋ ♡ ೋ ° ° ೋ ♡ ೋ ° ° ೋ ♡ ೋ °

Inserida por berepasin

A noite anoiteceu tudo.
O mundo não tem remédio.
Os suicidas tinham razão.

Inserida por BiaRebelatto

Construção
Um grito pula no ar como foguete.
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
O sorveteiro corta a rua.
E o vento brinca nos bigodes do construtor.

Inserida por pensador

Mas foi pintando sujeira
O patamo estava sempre na jogada
Porque o cheiro era bom
E ali sempre estava uma rapaziada

Inserida por backlup

“... Não decifre o enigma. Olha o mistério
transluzia o rosto que está sério...!”

Inserida por profeborto

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco”.

(trecho extraído de versos do livro "Nova Reunião", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1985, pág. 78. Projeto releituras)

Inserida por portalraizes

"A religião ocupa espaço infinito dentro do homem,
sem que este perca as limitações humanas."

Inserida por evelynda96

Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...

Inserida por santoslidia

"Se era tão sedosa e perfumada
que tudo quanto houvera embriagasse,
É certo que era coisas de mulheres
e homens que a elas se entregassem".

Inserida por Claudia31