Poemas curtos de Clarice Lispector
Essa noite – de ventania – sonhei um sonho tão gratificante. Era um menino de 14 anos e uma menina de 13 que corriam um atrás do outro, se escondendo atrás de árvores, e às gargalhadas, brincando. E eis que de repente eles param e mudos, graves, espantados se olham nos olhos: é que eles sabiam que um dia iriam amar.
Sou Botafogo, o que já começa por ser um pequeno drama que não torno maior porque sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.
Quanto ao meu meio sucesso me perturbar, às vezes ele me deixa saciada e cansada. Às vezes, embora possa parecer falso, me desanima, não sei por quê.
Eu espero nunca exigir de mim nenhuma atitude. Isso me cansaria.
[Um amigo é] uma pessoa que me veja como eu sou. Que não me mistifique. Que me trate de igual para igual. Que me permita ser humilde.
Escrever é um dos modos de fracassar.
Sim. Uma mulher maravilhosa e solitária. Lutando sobretudo contra o próprio preconceito que a aconselhava a ser menos do que era, que a mandava dobrar-se.
Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo.
As coisas foram feitas para serem ditas à luz do dia e se não se pode dizê-las é porque são de má qualidade.
Ela era antes uma mulher que procurava um modo, uma forma. E agora tinha o que na verdade era tão mais perfeito: era a grande liberdade de não ter modos nem formas.
Talvez a divindade das mulheres não fosse específica, estivesse apenas no fato de existirem. Sim, sim, aí estava a verdade: elas existiam mais do que os outros, eram o símbolo da coisa na própria coisa.
As jovens mulheres saberão, então, que delas se espera o cumprimento do grave dever de ser feliz.
Sua alma incomensurável. Pois ela era o Mundo.
Ser às vezes sangra.
O horrível dever é ir até o fim.
Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro.
Dedico-me à tempestade de Beethoven. À vibração das cores de Bach. A Chopin que me amolece os ossos.