Poemas curtos de Clarice Lispector
Sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique.
Bem sei que é assustador sair de si mesmo, mas tudo o que é novo assusta.
Toda vez que eu faço uma coisa com intenção não sai nada, sou portanto um distraído quase proposital. Eu finjo que não quero, termino por acreditar que não quero e só então a coisa vem.
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.
É difícil compreender e amar o que é espontâneo e franciscano. Entender o difícil não é vantagem, mas amar o que é fácil de se amar é uma grande subida na escala humana. Quantas mentiras sou obrigada a dar. Mas comigo mesma é que eu queria não ser obrigada a mentir. Senão, o que me resta?
Desde já calculo que aquilo que de mais duro minha vaidade terá de enfrentar será o julgamento de mim mesma: terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.
Não sei como se faz outra cara. Mas é só na cara que sou triste porque por dentro eu só até alegre. É tão bom viver, não é?
O pior momento de sua vida era nesse dia ao fim da tarde: caía em meditação inquieta, o vazio do seco domingo. Suspirava. Tinha saudade de quando era pequena – farofa seca – e pensava que fora feliz.
Quanto ao resto, ladies e gentlemen, eu me calo. Só não conto qual é o segredo da vida porque ainda não aprendi. Mas um dia eu serei o segredo da vida. Cada um de nós é o segredo da vida e um é o outro e outro é um.
Uma mulher inteligente visa um único homem. Veste-se, anda, e fala para agradar exclusivamente a ele.
Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico – a vida é sobrenatural. (...) Antes de me organizar tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me.
Como é chato lidar com fatos, o cotidiano me aniquila, estou com preguiça de escrever esta história que é um desabafo apenas. Vejo que escrevo aquém e além de mim. Não me responsabilizo pelo que agora escrevo.
Por falta de quem lhe respondesse ela mesma parecia se ter respondido: é assim porque é assim.
Se fosse criatura que se exprimisse diria: o mundo é fora de mim, eu sou fora de mim.
Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando.
É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chama talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo.
O telefone não toca. Dói. Mas é Deus que me poupa.