Poemas curtos de Clarice Lispector
Sinto-me derrotada pela minha própria corruptibilidade. E vejo que sou intrinsecamente má.
O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
É. Eu me acostumo mas não amanso. Por Deus! eu me dou melhor com os bichos do que com gente.
Mergulhe como eu mergulhei.
Nota: Trecho adaptado de outro pensamento da escritora.
Às vezes também penso que eu não sou eu, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro.
Sou um mistério para mim.
As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito.
Enquanto isso as nuvens são brancas e o céu é todo azul.
É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que eu faço para conseguir ser possível?
Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.
Eu peço a Deus tudo o que eu quero e preciso. É o que me cabe. Ser ou não ser atendida – isso não me cabe a mim, isto já é matéria-mágica que se me dá ou se retrai. Obstinada, eu rezo. Eu não tenho o poder. Tenho a prece.
Ninguém dentro de si mesma que podia ter os pensamentos mais desligados da realidade, se quisesse. Se eu me visse na terra lá das estrelas ficaria só de mim.
Amizade é matéria de salvação.
Eu preciso de algumas horas de solidão por dia senão “me muero”.
Não passava de um coração solitário pulsando com dificuldade no espaço.
Estou me interessando terrivelmente por fatos: fatos são pedras duras. Não há como fugir. Fatos são palavras ditas pelo mundo.
Será que o meu ofício doloroso é o de adivinhar na carne a verdade que ninguém quer enxergar?
Quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico.