Poemas curtos de Clarice Lispector
Sei o que é o absoluto porque existo e sou relativa. Minha ignorância é realmente a minha esperança: não sei adjetivar. (...) Olhando para o céu, fico tonta de mim mesma.
Os sensíveis são simultaneamente mais infelizes e felizes que outros.
Não se preocupe comigo. Eu sou muito feliz.
Eu antes vivia de um mundo humanizado, mas o puramente vivo derrubou a moralidade que eu tinha? É que um mundo todo vivo tem a força de um Inferno.
Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros.
E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior – vive-se, sem ao menos uma explicação.
É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é.
Para não se traírem eles ignoravam que hoje era ontem e haveria amanhã.
Por que quero fazer de mim um herói? Eu na verdade sou anti-heroica. O que me atormenta é que tudo é "por enquanto", nada é "sempre".
Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final.
Era muito impressionável e acreditava em tudo o que existia e no que não existia também. Mas não sabia enfeitar a realidade. Para ela a realidade era demais para ser acreditada. Aliás a palavra “realidade” não lhe dizia nada. Nem a mim, por Deus.
Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.
Fantástico: o mundo por um instante é exatamente o que o meu coração pede.
Vivemos exclusivamente no presente, pois sempre e eternamente é o dia de hoje, e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas nesse momento.
Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo?
Ocupei-me o tempo todo para disfarçar a saudade.
Me mato? Não. Vivo como bruta resposta. Estou aí para quem me quiser.
Depois de um certo tempo cada um é responsável pela cara que tem.