Poemas curtos de Clarice Lispector
Não há dúvida: pensar me irrita, pois antes de começar a tentar pensar eu sabia muito bem o que eu sabia.
Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e autorrisco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever.
Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua própria chave e a dos outros nada resolve.
A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente.
Estou tentando te dizer de como cheguei ao neutro e ao inexpressivo de mim. Não sei se estou entendendo o que falo, estou sentindo – e receio muito o sentir, pois sentir é apenas um dos estilos de ser.
Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa, Mas também sou inocente. (...) Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. (...) Às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
O tédio é de uma felicidade primária demais! E é por isso que me é intolerável o paraíso.
Os fatos são sonoros mas entre os fatos há um sussurro. É o sussurro que me impressiona.
E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só. (...) Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo.
Preciso aprender a não precisar de ninguém.
Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia.
Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente.
No mais fino e doído de seu sentimento ela pensava: vou ser feliz.
Sou fraca diante da beleza do que existe e do que vai existir.
Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri.
Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece.
Na hora do acontecimento não aproveito nada. E depois vem uma ilógica saudade.
O que chamo de morte me atrai tanto que só posso chamar de valoroso o modo como, por solidariedade com os outros, eu ainda me agarro ao que chamo de vida. Seria profundamente amoral não esperar, como os outros esperam, pela hora, seria esperteza demais a minha de avançar no tempo, e imperdoável ser mais sabida do que os outros. Por isso, apesar da intensa curiosidade, espero.
Ela passaria a noite a rezar, a olhar para o céu escuro, a velar por alguém.