Poemas curtos de Clarice Lispector
Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere. Sou uma paisagem cinzenta e azul. Elevo-me na fonte seca e na luz fria.
Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo.
Não ter forças para lutar era o meu único perdão.
É preciso antes saber, depois esquecer. Só então se começa a respirar livremente.
Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.
Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em ralação a outras coisas importantes. Continuo aliás atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
O pequeno êxtase da palavra fluir junto do pensamento e do sentimento: nessa hora como é bom ser uma pessoa! (...) Eu me encontro nos outros. Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.
É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas.
Chorou livremente, como se esta fosse a solução.
Refugio-me nas rosas, nas palavras. Pobre consolação. Estou inflacionada. Não valho nada.
Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas – mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.
E o que não posso e não quero exprimir fica sendo o mais secreto dos meus segredos.
Ninguém sabia que ela estava sendo infeliz a ponto de precisar buscar a vida. (...) Ela só sabia viver.
O que é preciso é não ir demais contra a onda. A gente faz como quando toma banho de mar: procura subir e descer com a onda. Isso é uma forma de lutar: esperar, ter paciência, perdoar, amar os outros. E cada dia aperfeiçoar o dia. Tudo isso está parecendo idiota... Mas até que não é.
De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.
Às duas horas da madrugada, enfim, nasceu ela, a ideia.
Sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.