Poemas curtos de Clarice Lispector
O verão está instalado no meu coração.
E eu não aguento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta.
Nota: Trecho da crônica As crianças chatas.
...MaisEu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? esgotaram-se os significados.
Pois há um tempo de rosas, outro de melões, e não comereis morangos senão na época de morangos.
Quando de noite ele me chamar para a atração do inferno, irei. Desço como um gato pelos telhados. Ninguém sabe, ninguém vê. Só os cães ladram pressentindo o sobrenatural.
Sou uma só. (...) Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo
Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas.
O pequeno êxtase da palavra fluir junto do pensamento e do sentimento: nessa hora como é bom ser uma pessoa! (...) Eu me encontro nos outros. Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.
É preciso antes saber, depois esquecer. Só então se começa a respirar livremente.
Não ter forças para lutar era o meu único perdão.
Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere. Sou uma paisagem cinzenta e azul. Elevo-me na fonte seca e na luz fria.
Se me abandonar, ainda vivo um pouco, o tempo que um passarinho fica no ar sem bater asas, depois caio, caio e morro.
Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo.
Minhas ideias são inventadas. Eu não me responsabilizo por elas.
Preciso ser livre - não aguento a escravidão do amor grande, o amor não me prende tanto.
Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois são cinco.
A fé – é saber que se pode ir e comer o milagre. A fome, esta é que é em si mesma a fé – e ter necessidade é a minha garantia de que sempre me será dado. A necessidade é o meu guia.