Poemas curtos de Clarice Lispector
Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise.
É egoísta e cobiçosa. Não larga as pessoas em parte por amor, em parte por não saber romper.
Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respirar nossas fraquezas.
Quem não sabe o que é jamais chegará a saber. Há coisas que não se aprendem.
(...) onde a maldade era fria e intensa como um banho de gelo. Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede, sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações. Talvez apenas alguns goles...
Eu venho de uma longa saudade. Eu, a quem elogiam e adoram. Mas ninguém quer nada comigo. Meu fôlego de sete gatos amedronta os que poderiam vir. Com exceção de uns poucos, todos têm medo de mim como se eu mordesse.
Hoje é dia de muita estrela no céu, pelo menos assim promete esta tarde triste que uma palavra humana salvaria.
O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo.
A verdade é que ser anjo estava começando a me pesar.
A satisfação que o nosso trabalho nos proporciona é sinal de que soubemos escolhê-lo.
Mas eu sou uma chata que parece viver com medo de dizer as coisas claramente.
Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.
Era malcriada demais, revoltada demais, embora depois caísse em si e pedisse desculpas.
Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões.