Versos de Clarice Lispector

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.

Clarice Lispector
Borelli, Olga. Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
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Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas – mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Chorou livremente, como se esta fosse a solução.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto A criada.

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Ela era muito satisfatona: tinha tudo o que seu pouco anseio lhe dava. E havia nela um desafio que se resumia em “ninguém manda em mim”.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, sempre não acaba nunca.

Clarice Lispector
Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

Minha história é de uma escuridão tranquila, de raiz adormecida na sua força, de odor que não tem perfume.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Clarice Lispector
Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2018.

Nota: Trecho da crônica Pertencer.

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Às duas horas da madrugada, enfim, nasceu ela, a ideia.

Clarice Lispector
A bela e a fera. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho do conto História interrompida.

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Eu sempre fui e imediatamente não era mais.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Armando Nogueira, futebol e eu, coitada.

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A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Ninguém sabia que ela estava sendo infeliz a ponto de precisar buscar a vida. (...) Ela só sabia viver.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O que é preciso é não ir demais contra a onda. A gente faz como quando toma banho de mar: procura subir e descer com a onda. Isso é uma forma de lutar: esperar, ter paciência, perdoar, amar os outros. E cada dia aperfeiçoar o dia. Tudo isso está parecendo idiota... Mas até que não é.

Clarice Lispector
Todas as cartas. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.

Nota: Trecho de carta a Elisa Lispector e Tania Kaufmann, escrita em 12 de maio de 1946.

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Algo está sempre por acontecer. O imprevisto me fascina.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Ao correr da máquina.

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Era uma falsa revolta, uma tentativa de libertação que vinha sobretudo com muito medo de vitória.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Ser livre era seguir-se afinal.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O que deve fazer alguém que não sabe o que fazer de si? Utilizar-se como corpo e alma em proveito do corpo e da alma? Ou transformar sua força em força alheia? Ou esperar que de si mesma nasça, como uma consequência, a solução? Nada posso dizer ainda dentro da forma. Tudo o que possuo está muito fundo dentro de mim.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.