Poemas sobre o vento
NA TELHA
Lua cheia
lobo na telha
urro no mundo...
O medo em cima do muro
vento na areia.
Maré com sereia...
Farol encandeia,
sombras no escuro...
O fim, não faz corpo duro
e a peia, rodeia.
Antonio Montes
Quando a tarde te lembrar alguém
e o vento te acariciar
quando fores ao encontro da vida
e achá-la bela
não esperes trocas
aprecies
quando os olhares forem um só
e as mãos quiserem se tocar
quando o coração bater apertado
Não esperes o amor,
o amor é inesperado
olhes ao lado
e se ele estiver lá
viva-o ...
Existe em alguns...
Um poeta oculto dentro de si
A qualquer momento
Num pé de vento pode vir emergir
Escrever lindos versos do Sul ou do Norte
Soprar tão forte que nos fará sorrir...
Dar plena satisfação em ler sua canção interior
Cuja tradução chama-se AMOR!
MEUS VERSOS (soneto)
Meus versos, o vento no cerrado ganindo
A angústia da alma vozeando melancolia
O silêncio fraguando rimas na monotonia
Duma solidão, da saudade indo e vindo
São a trilha do fado escrevendo romaria
Desatinadas, o meu próprio eu saindo
Das palavras de ansiedade, intervindo
Com minha voz sufocada, do dia a dia
Meus versos são a migalha cá luzindo
Na sequidão do vazio que me angustia
Que há entre a quimera e o real infindo
Meus versos são colisão com a ironia
Do choro e da alegria no peito latindo
Meus versos, minha voz, minha valia
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
Ao assistir o entardecer prodigioso...
Escuto os passos do vento em minha varanda...
A saudade trás a lembrança de ternuras antigas...
E penso que morro todos os dias
Enxugo as lágrimas na solidão do crepúsculo
E encanto-me com a canção dos passarinhos...
Sussurrando nos lábios o encanto infindo...
E num longo devaneio misterioso viajo
No voo de poesias não escritas...
E continuo a escutar as canções dos ventos e seus passos
Que me fazem adormecer e sonhar contigo!
VOEJAR (soneto)
Como deve ser bom voar, no céu planar
Asas ao vento no cerrado, solto ao léu
Tal periquitos, e sobre corcel no tropel
Fechar os olhos e sentir o paladar do ar
Ir acima dos buritis, ipês, num carrocel
Resvalar nas estrelas, na nuvem pairar
Revoar como as aves, e assim delirar
Em quimeras, qual estórias de cordel
Deve ser uma rara sensação ímpar
Pros sem asas uma falta bem cruel
Que só na ilusão, possível esvoaçar
Só queria voar! Ter asas de papel
Poder ao sonho de Ícaro ocupar
E com ele então: voejar... voejar!...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
PRENDEDORES DO TEMPO
Eu sinto o vento dando vida
as roupas do varal,
ao mesmo tempo... Vejo-as alegres,
batendo palmas como se tivessem,
saldando o sol, e vibrando o
enxugamento do momento.
Se bem que, no mesmo tempo...
Dá impressão que elas estão
agradecendo o ontem...
Sinto pena por velas felizes...
Sabe se lá porque, o motivo da alegria!
Mas estão lá, presa ah prendedores...
E não se dão conta do seu,
repetitivos castigos.
Antonio Montes
BREVE SUTILEZA
Me leve, assim leve
como uma folha seca
ao vento, leve
ou como um leve...
Pensamentos,
em sentimento breve.
Me leve, leve...
Como sentir alem da cerca,
com leveza, me entregue,
n'essa leve sutileza...
Na beleza de ser breve.
Com o seu leve, me leve...
Assim leve sem sentir
me leve depois me entregue
no mundo leve de mim.
Antonio Montes
CATÁSTROFE
Uh... Que vento!
Desabou, pétalas e roupas
... Abriu cratera no matagal.
Tsunami?! Ai de mim...
passou por aqui assoviando, arame
e fez danuras no Haiti.
Derrubou casas, derribou famílias
semeou tristeza n'aquela ilha.
Antonio Montes
FLECHA DO VENTO
O vento que por aqui passou
... Flechou saudades de ti
no alvo do meu amor.
Antonio montes
A PÁLIDA CANOA
Com vento em popa
lá vai à canoa
maré na calmaria
ondas sobre a proa.
O bico, vai às águas
sem sede pra encher
canoa, alguém paga...
Pra andar com você?
Quando criança; andei
com medo no ar
de não cair nas águas
para não se afogar.
A canoa esta pálida
de tanto navegar
já levou saudades
para o lado de lá.
VENTO SOLTO
Aquele vento solto no chapadão
alargou-se pelos campos e na larga,
não alisou nada!
Balançou poste, derrubou placa
acalentou caminhões...
Tanta força, tanta força!
que até os olhos do motoqueiro
arrancou da cara.
Sabe aquele poço que estava,
sobre a margem direita da estrada...
Mudou-se para, margem esquerda
e transformou em chuva...
Toda a sua água.
Aquele vento solto no chapadão
causou danos, desconcertou coração...
A tudo que foi feito com as mãos.
Antonio Montes
REFLEXO
É o cachorro perseguindo osso
é o pássaro pulando atrás da fruta
é o vento doido no mês de agosto
é o bruto testando a força bruta.
É a espuma do mar sempre persistindo
é o lobisomem namorando a lua cheia
é a saudade tirando o todo o sossego
é o desespero da mulher feia.
é a morte amável e amiga de adeus
ao mesmo tempo inimiga da vida
pensamentos dos outros não seu teus
são todos tortos em causas perdidas.
Os pensamentos sim, são mesmo torto
irmãos de todos os infelizes aleijados
em vida têm enjoou, vômito e aborto
orgulho, vontades e desconfiados.
O galho da rosa não tem somente flor
tem caule com casacas e também espinho
o mundo é uma precisão de paz e amor
para encontrar-se com meiguice e carinho.
Antonio Montes
"" Somos todos retratos
e o vento passando
somos todos tão poucos
loucos por fantasias
sem ironias
somos os pecados querendo acontecer...
FRÍVOLO
Manhã da roça
bacia de biscoito
vento solto
relincho de potro
sentimento afoito
tudo torto, tudo oco.
Barcaça das águas
fundo do mar morto
rabanada do boto
rosa do porto
olhos loucos
rebolo, tolo.
Pena de poema
tema treslouco
tudo ainda pouco
topada no toco
nesse ninho choco
... Tinoco, broco.
REMINISCÊNCIA
Pagina branca sobre a mesa
... Uma carta ao tempo
uma nuvem ao vento
rascunho dos sentimentos
... Alveja a saudade tesa.
Uma sombra ao chão
Olhos tristes, atentos
feitio de um pensamento
trilhos de contentamento
... Coração moda paixão.
Feito da imaginação
pautas cheias, poemas belo
esquecimento amarelo
passos treloso no castelo
... Mãos sofreguidão.
Antonio Montes
CONTRA GOSTO
Era tarde de agosto
tive gosto na farinha
mas veio o vento e me levou.
E com cara de desamor
na brisa d’aquela tardinha
meu olhar triste chorou.
Eu? Eu fiquei de contra gosto
com aquela migalha de troco
entre sopapo e assopro.
Barriga, seca em alvoroço
pequeno tempo tão pouco!
E a marmita seca no toco.
E a fome? No contra vapor
tremia a carne e as vistas
criava-se assim aquela dor.
O vento? A esse treiteiro
rodopiou pelo terreiro
e flertou ao mundo inteiro.
Antonio Montes
Uma escada escarlate
de inconstantes degraus e sonhos de prata
Onde o vento passeia
E um silente poeta
Seus sentimentos semeia
Caminho...
·
Sigo o caminho do vento, aquele de todos os dias, ele é quem me passa alento, sabe de mim e me extasia. Vem com força ou com brandura, recolhe meu verso, outro traz, esparge a poesia. Meu caminho é tecido em ternura, tirar-me dele só Deus será capaz.