Poemas sobre o vento
Escrevo
Meu sentimento se perdeu no vento.
Por isso escrevo.
Nos dias tristes, alegria canto... em cada verso, o riso leve descrevo.
O sonho lindamente sonhado...
No papel é cuidadosamente desenhado.
O medo é enfrentado.
O choro... consolado.
Escrevo e fim.
Não importa se toca em você ou apenas em mim.
Presente
Os ipês apagam as tristezas do inverno.
Renovam suas cores ao vento.
Desmancham o cinza sem graça e lento
em tons que afagam a tardinha.
Os ipês esbanjam ternura.
Roubam os olhares de quem está triste à toa.
Porque tristeza não foi feita pra gente boa.
Tristeza não foi feita pra ninguém.
Feito folha e vento
Num intento de voar
No invento de ser céu.
Feito asa e tempo
No momento de alçar
Num alento, ser ao léu.
Feito fita ou pipa...
No experimento de planar
No advento... No ar, no vento...
É tempo de vôo.
Navio-esquife
Correm as águas do rio
Corre veloz o navio
Entre as faces do vento
Entre as faces do tempo
Corremos nós.
Ao abraço de que foz
Viajam as águas
Viajamos nós?
Árvores nas margens
Céleres passam
Sob remansos de céu
Onde se apaga o sol.
Eis que longe o porto acende seu colar de luzes:
Grinalda para os mortos
Que no navio-esquife
Ante-somos todos.
O vento que vem de lá
Entra sem eira nem beira
Descabela o mundo de cá
Abre a janela, venta e incendeia.
ESPERTINA (soneto)
O cerrado está frio, lenta é a hora
É tarde da noite, o vento na vidraça
Pendulando o tempo, tudo demora
E o relógio, em letargia não passa
A espertina virou no dormir escora
Tento escrever, mas a ideia está lassa
A vigília do olhar não quer ir embora
Viro, e reviro no liso lençol de cassa
Dormir? O sono no sono faz ronda
O frio na minha alma faz monda
E o adormecer em nada me abraça
Que insônia! O sino da igreja já badala
O galo da vizinha o canto já embala
E o sol pela janela a noite ameaça!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho, 2016
Cerrado goiano
PRAIA ILUMINADA
Fogos de artifício, o céu sorria
Sobre o mar da praia iluminada.
O vento no rosto da meninada
Anunciava um ano que se abria!
Ela, a sereia do mar, era só magia,
Pulando ondas d’águas quebrantadas!
Ele, pés descalços na areia molhada,
Era o príncipe da terra da alegria!
Eram os mais belos se abraçando...
Amados filhos lá se divertindo...
Formas puras no mundo brincando...
Não se esqueçam de mim, anjos lindos!
Por vós - as noites eu velei chorando,
Por vós - os dias eu vivi sorrindo!
"Não me moldo ao sabor do vento. Minha essência permanece intacta, mas minhas ações refletem a forma como me tratam."
Deus não se explica, mas sim, sente-se no coração a Sua presença como o vento suave e doce para a alma.
Talvez você não seja mais que isto: alguém,
de costas, tenta acender um cigarro ao vento.
E há este oceano abstrato que vem bater em nosso quarto.
É preciso cuidado, não são poucas e são altas suas ondas;
escuto, mas quem compreenderia a valsa monocórdia
dos afogados, feita de uma boca intraduzível?
O vento dispersa o que eu diria, não chego
a você, a seus ouvidos; assim também minha mão
que desmorona antes de alcançar seu rosto onde
do que entre nós alguma vez foi nítido embaraçam-se
os fios; o vento derrama seus olhos para longe,
dessalga e seca nos meus a hipótese da queixa;
vento da noite, que espalha suas pedras negras
no imenso metro entre nós.
Talvez o mundo mais perfeito seja apenas isto:
você, enfim, acende seu cigarro.
Recomece seu caminho
Seu amor se foi com o vento
Deixou escorregar na escuridão
Escapar na imensidão
Morrer no pensamento
Nas lágrimas se afogou
Seu desespero parou
O peso aliviou
Na chuva se molhou
Garota erga sua cabeça
Sorria de leve
Sua vida celebre
Seu caminho recomece
Seu jardim refloreça
Nessa terra celeste
O poeta tem o dom do vate, o som dos sinos quando o badalo bate, toca o instrumento do vento, a harmonia das cores no pensamento, um lume de costumes, em resumo, ALMA & CORAÇÃO.
Posso ser brisa, ar ou vento...
Sou deslocamento;
Instigo, provoco, balanço,surpreendo...
Não passo despercebida.
A velhice é um vento que nos toma
no seu halo feliz de ensombramento.
E em nós depõe do que se deu à obra
somente o modo de não sentir o tempo,
senão no ritmo interior de a sombra
passar à transparência do momento.
Mas um momento de que baniram horas
o hábito e o jeito de estar vendo
para muito mais longe. Para de onde a obra
surde. E a velhice nos ilumina o vento.
- O céu está coberto de um cinza azulado, um vento fresco e árido, açoitando levemente as grandes e fortes rochas, em questão de minutos o céu oriental se tornou uma conflagração de âmbar flamejante, as colinas crescia contra ele, que então despejava uma brilhante luz acobreada, com água incendiada, essa luz percorreu o flanco da colina e o terraço, envolvendo-os em flamejante radiação fazendo com que a linda flora ter pulado pra vida; então o sol apareceu no cume de uma montanha e a terra acordou com um eco sussurrante.
Alma corroída 1986
Meu amor por você se foi
O vento levou o sentimento
Simultâneo árduo momento
Não há nada mais que pensamento
Coração formado de pedra
Deixei você e despertei a fera
Por mais que eu busque a bela
Saia agora da minha mente
Sua falsa serpente
Esta corroendo minha alma
Está me envenenando com calma
Morrendo estou por dentro
Me matar é um jogo lento
Só que a você é satisfatório
IDENTIDADE
Sensação de outono.
Em que folhas soltas
ao vento se perdem leves,
em total desapego.
É quando me percebo
mais amiúde, transmutada.
Sempre em profusa doação,
me acompanho: adubo da terra,
úmido limbo, absorvido
pelas pedras, sal e lama.
Entregue às estações,
desprendida, aceito o ciclo
da regeneração.
Tudo sentindo, fundo.
E ao sentir, espalho palavras,
assim como as folhas ao vento.
Renovo-me.
Assim sou parte.
Há doces amores
que não se revelam,
apenas flutuam
ao sabor do vento,
e por onde vão,
bordam quimeras
Há doces amores,
que sonham em luas e sóis,
envolvem-se nas tramas do tempo,
espreitando outros amores
em docesesperas
O Andarilho
Enquanto um carro passa apressado
e lhe banha o corpo com uma rajada de vento,
ele atravessa uma ponte sobre um pequeno riacho
e para por um instante,
olhando a paisagem.
Ele segue seu caminho!
Passa por pequenas propriedades rurais
e avista um trator arando a terra no alto de uma serra:
_ Do que será aquela plantação?
Ele caminha...
Outro carro passa como uma flecha buscando um alvo
com o som no volume mais alto,
enquanto ele silencia para ouvir o solo de um canarinho
laranja como o entardecer:
_ Bom dia, Senhor Laranja!
Ele caminha...
Uma brisa lhe refresca e lhe dá fôlego,
mesmo com o sol ardendo e fazendo o asfalto suar.
Está muito quente,
mas mesmo assim ele caminha.
Ele sente a dor de seus pés dentro da velha bota rasgada,
mas mesmo assim ele caminha.
Ele caminha...
Ele caminha...
Crianças jogam futebol num pequeno campo de terra
com traves de bambu amarradas com corda,
ele para e observa.
E depois de alguns minutos, ele segue sua jornada,
ouvindo, ao longe, o grito de gol e a farra dos meninos.
Ele continua caminhando...
Na curva da estrada ele passa por uma casa branca
de janelas azuis abertas
e um velho cão vira-lata começa a latir,
correndo em sua direção.
Ele aperta o passo:
_ Sai! Vai deitar, Campeão!
O cão é distraído por duas motos que passam devagar
e ele já foi.
O cão o procura com olhos inquietos.
Outro carro passa
e duas crianças se viram no banco de trás:
_ Pai, para onde vai aquele maluco? De onde ele vem?
Ele caminha...
Ele passa por um pequeno vale
e para em frente uma cruz de madeira na beira da estrada.
Faz o sinal da cruz e uma prece:
_ Descanse em paz, meu filho. Logo estarei com você, mas não agora. Ainda não.
Ele segue seu caminho carregando algumas lágrimas no rosto sujo.
Ele caminha...
Livremente, ele caminha.
De lugar nenhum ele veio
e para lugar nenhum ele vai.
Ele somente caminha.
Livremente, ele caminha.