Poemas sobre o vento
Tudo é efémero:
ontem escutava a tua voz
hoje só o vento
VERÃO NO CERRADO (soneto)
Lá fora o vento em agonia e rebeldia
Redemoinhando o taciturno cerrado
Do silêncio carrascal, fez-se agitado
Sob a chuva nua, acordando o dia
Na vastidão do chão, o tempo arado
Da sequidão para o sertão em urgia
Molhado da tempestade em romaria
Empapando o alvorecer enovelado
E neste, porém de tão boa harmonia
O horizonte na ventura é amansado
Enxurrando na procela a melancolia
Assim, vai-se avivando o árido cerrado
Do acastanhado que ao verde, barbaria
Ao rútilo encarnado do verão variegado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
Se ouvires o canto do vento
a soprar em teus ouvidos
saibas que foi Deus que o compôs
para que ouças os sustenidos
São palavras de pleno amor
numa canção de carinho
ouvindo-a serás abraçado
não ficarás mais sozinho
Deus está a te acompanhar
através dessa amplidão
ordena a natureza para musicar
mesmo que não ouças a canção
Castelo de Areia
Somos feito crianças
Brincando junto ao mar.
Tão cheias de confiança
Vivendo sem se preocupar.
Construímos nossas casas
E torres de areia fina
Perto de águas rasas
Sob um sol que ilumina.
Mas vem o mau tempo
Nuvens mudam de cores.
É certo que o vento
Desfará nossas torres.
A vida é oceano.
Sua vontade é maré cheia.
Nossos sonhos e planos
São castelos de areia.
Mudar não é uma escolha. Com o tempo e o vento a gente e uma porção de coisas vai ficando diferente.
ÁRIDO, MUITO ÁRIDO, SECO
Árido, seco, muito árido
O vento do cerrado leve passa
Contigo leva o sonho parido
E vai-se entre tortos galhos, arruaça
Assoprando na melancolia alarido...
E eu sentado no banco da praça
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Escrevo versos quando o dia amanhecer
Essa canção fala de mim e de você
O sol irradia inspiração
A poesia chega ao entardecer
Até o vento mudar
Vibrou em mim a ventania
Gravando seu cheiro por todo lugar
Era doce, mas turbulento
Aquele momento que parecia não acabar.
Então virou só vento
Meio lento que devagar
Levou embora o tormento
E me deixou só a pensar
E ali só, esperei, até sentir uma brisa
Suave, que parecia murmurar
Tudo isso vai passar
Só espero entender
Nunca esquecer
Nem mesmo quando o vento tornar a mudar
Publicado em Antologia de Poetas Brasileiros - vol 159
Vento... carinho
que despenteia os cabelos,
mal sabe ele que
da vida tentamos
desfazer os nós de novelos
que ela faz sem receio
sob fortes ventos emocionais
que muitas vezes...
nos deixam de joelhos !
Sigo o caminho do vento
junto com as folhas que ele carrega,
escrevo palavras ao tempo,
perpetuando a poesia, em entrega...
Gente que é folha, gente que é trevo
Se você não for trevo de 4 folhas, conversa boa, dessas que faz o tempo parar.
Não tem nada a acrescentar, você é folha no vento de lá pra cá tentando se achar.
Só quero pessoas com gosto de saudade de casa, dessas que a gente acha sorte encontrar,
pra amizade, pra irmandade, sem maldades, apenas pra amar, pra somar e no coração guardar.
Autor: Eu mesma !
Vem de longe
o vento mansinho,
perfumando a noite,
a bailar,
traz vozes em carinho
meu coração quer tocar
fico em êxtase, vou ouvindo
a canção que talvez
seja só minha
e ainda não consegui decifrar
Meu epitáfio será o vento, o silêncio, a maré vazante.
A morte vai ficar chateada
Porque não haverá carpideiras
Nem lágrimas no meu velório.
Ninguém precisará ficar triste,
Porque tudo que existe
Será como o vento, o silêncio e a maré vazante.
Quando eu morrer, quero música.
Palavra ao vento vem palavras vão e esses pensamentos vão se esvaindo durante a noite e se completando com outros ventos de lugares que nem posso imaginar
Talvez possa imaginar os ventos que são trazidos pelo seu sorriso, ventos tão calmos, mas ao mesmo tempo tão perturbadores.
É essa perturbação nos seus ventos que faz meu mar se agitar e gritar
Faz ele chorar e se pergunta o motivo disso tudo
Pergunta perguntas que nem eu mesmo consigo falar
Meu conselheiro é o vento
Com ele ando à conversar
Ainda que nada fale
Está sempre à me alcançar
Sempre me faz refletir
Em minhas lembranças imergir
Este mesmo vento sempre sopra
Trazendo consigo amargura
De tal forma, vai e volta
Sendo para mim, ares de tortura.
Tempos de trovoadas
A trovoada,
De tão medonha que é,
Ao mesmo tempo,
Encorajadora é,
Ora,
Será?
Trovoada que nasce,
Que Sol empanece,
Que de baixo aparece,
Que o céu escurece,
E que antes,
Lá longe aparece,
Trazida pelo vento,
Vento à ventania,
Faz do sopro poesia,
Pela noite,
Pelo dia,
Trazendo à navegar,
A trovoada...
Devagar,
De tão medonha que é.
NO CAMINHO
É no caminho que eu me distraio
É no caminho que ouço os pássaros
É no caminho que eu sinto a falta
É no caminho que me falta a fala
É no caminho que bate o cansaço
É no caminho que sinto o mormaço
É no caminho que passa a multidão
É no caminho que enxergo a solidão
É no caminho que sopra o vento
É no caminho que me esbarro com o desalento
É no caminho que penso em tudo,mas vejo o mundo
com tanta grandeza que a minha tristeza se envergonha de existir…