Vento Ventania
Noite fria
Trouxe a chuva num zumbido
agourento
Vozes a sussurrar recônditos
segredos
Incansavelmente, repetida vezes
Predizendo a longa e ruidosa
tormenta
Vindo do leste em movimentos
ensaiados
Arrastando a madrugada à procura
do amanhecer
Bailando por corredores de
álgido concreto,
Obras de meros mortais
subalternos
Deslizando pela fresta da gasta
janela
Rastejando por entre o estreito
vão da porta,
Como uma astuta e vil serpente
Impregnando o quarto com a
aspereza da noite lá fora
Afagando o espesso cobertor
de lã
Revelando a solidão que o
preenche.
"É na hora da chuva torrencial e do vento caudaloso, que descobrimos amigos; e não em tempos de calmaria".
Dizem que os ventos nunca sopram a nosso FAVOR...
E que, é contra este vento que o pássaro alça vôo, as aeronaves ganham alturas, e as nuvens se derretem em lágrimas.
A favor, mesmo é sempre a vontade
de encontrar um motivo que não sei, pro vento não nos arrastar pronada.
FILHA DE OYÁ
Sou como o vento que sopra em todas as direções; se num momento eu quero muito, no outro já não quero mais. Sou como os raios que fazem tremer a terra, pois quando sinto que estou sendo prejudicada, me possuo de uma fúria incontrolável. Sou como a trovoada que se faz ouvir em todos os cantos do mundo. Mas, como uma tempestade que vem arrasando com tudo e levando as misérias do mundo, tambem possuo o calor vibrante de uma noite quente de verão, que faz com que as pessoas do meu mundo se sintam embriagadas de felicidade. Como o fogo que aquece e transforma. Como o vinho que inebria os sentidos. Eu sou as cores quentes de uma pintura viva. Eu sou filha de Oyá!
Ouso dizer, se ainda posso, que sim você é ,e muito mais ... é a pausa pra respirar em uma canção, o caos organizado da playlist, a doçura da jaboticaba no pé e a força do absinto, o cheiro do café invadindo a casa em uma manhã de domingo, você é protagonista nunca uma coadjuvante, nunca será e não deve ser uma mulher dos intervalos, por você um homem deve ansiar o entardecer pra te encontrar e não suportar esperar o sol da manhã pra te ver , escrever músicas, te afundar em mimos ,te acarinhar o rosto, definitivamente sim você é e sempre será mais...lindo, doce e forte vento norte.
Venta longe daqui
Vai, vento, vai... vai ventar longe daqui.
Vai e não volte... ou volte bem devagar...
Flores azuis na cortina a balançar
Quem me dera…
Quem me dera em quimeras… sonhos, fantasias, ilusões… acreditar
Que bem fariam ao meu coração.
Quem me dera… quem me dera.
Vai, vento, vai... vai ventar em outro lugar
Quem sabe... perto do mar?
Você vai amar, vento...
Fazer o mar em grandes ondas se demudar.
O vento canta um mantra
tão forte como um alarme
mas o vento não é pilantra
ele gosta de fazer charme
Há pessoas que são como vendavais, entram na sua vida, bagunçam tudo e rápido passam, deixando um rastro de desordem.
POETANDO O VENTO (soneto)
Melancólico, gemem os ventos, em secas lufadas
No cerrado do Goiás. É um sussurrar de ladainha
Em tal prece, murmurando em suas madrugadas
Do planalto, quando a noite, da alvorada avizinha
Sussurros, sobre os galhos e as folhas ressecadas
Sobre os buritis, as embaúbas, e a aroeira rainha
Que, em torpes redemoinhos, vão pelas estradas
Em uma romaria, lambendo a sequidão daninha
Bafejam, num holocausto de cataclísmica rudeza
Varrendo os telhados, o chão, por onde caminha
Em um cântico de misto de tristura e de euforia
E invade, o poema, empoeirado, com sua reza
Tal um servo, em súplica, pelo trovar se aninha
O vento, poetando e quebrando a monotonia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/01/2020, 05’35” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
vento
o vento no cerrado, chia
acaricia grosseiramente
pelos pequizeiros rodopia
e assobia ansiosamente
nos buritis, e em romaria
de repente, se faz ausente...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano