Velho
E nesta fila um velho de suíças, com um boné de pano e um nariz adunco, esperava, num lugar chamado Concha Acústica Chão de Estrelas, para partilhar a sua parte do segredo do céu: que cada vida afeta a outra, e a outra afeta a seguinte, e que o mundo está cheio de histórias, mas todas as histórias são uma só.
No jardim da vida, o velho e o novo se contrasteiam, como a flor que murcha e a que brota. Uma se abaixa com a certeza dos dias, pois vê sua raiz. A outra com o vigor se sente insegura, pois é grande a imensidão que aprecia.
Dizem que festas e bebedeiras não levam a nada a uma coisa leva sim quando você for ficando velho estará cheio de historias para contar.
SOLIDÃO
Um certo dia, eu acordei
Ao me olhar no espelho
Percebi que fiquei mais velho
Mas será que mais velho fiquei
Por que o dia de ontem passou
Ou por que sozinho estou?
Indago-me a cada passo que dou
Na vã estrada da solidão
Se os deuses nunca olharam um pouco para mim
Indago-me ainda
Na doce desilusão na qual me encontro
Se um frágil raio de luz
Não poderia iluminar meu caminho
Solidão
A mais triste das palavras
O estado que eu me encontro
Perdido numa porção de pensamentos
Que não se ligam
Solidão
Mais podre das palavras
Me contagiou
Naquela manhã, naquela ensolarada manhã
Quando nos separamos eternamente
A cada dia, eu vejo seu reflexo no espelho
O espelho cujos reflexos são amargas dores
E escuto sua voz, cálida voz
E sinto seu perfume, doce perfume
Sentado estou, em frente ao espelho
Mas meus reflexos não chegam até mim
Porque cego estou por causa da solidão
Única coisa que meu espelho reflete
É o reflexo de minha amada
Cuja forma existe apenas
Em forma de imagem
Faça-a voltar, faça-a voltar, faça-a voltar
Dor no coração estou
Caio de joelhos para pedir súplica
Me encontro no mais profundo desespero
Neste fechado recanto
Minha alma eu prendi
E a chave se encontra
No meu pensamento, no meu mais profundo pensamento
No pensamento de minha amada
Sem seu cálido sorriso, cálido sorriso, cálido sorriso
Louco estou
Louco por querer tê-la de novo
Em meus braços
E dar-lhe abraços
Seu coração pulsando, seus pulmões respirando
Faça-a voltar, faça-a voltar, faça-a voltar
Ó deus poderoso,
Faça-a voltar
Para finalmente eu conseguir
Achar a chave para poder sair dessa solidão
Sublime e obscura solidão
Por ai ando eu, o velho guerreiro que nada conquistou
Atravessou dunas, fortes e fronteiras e nada amealhou
Por demérito ou não só sei que nada alcancei
Por mais que tentasse, por mais que me esforçasse
Já a vida se esgotava, já o nosso amor se gelara
Por estas ruas vagueio
Com as mãos cheias de nada
Nem cicatrizes de guerra marcadas na minha face
Nem feridas fechadas outrora infetadas
Infelizmente liberto da prisão do teu olhar que tanto me acomodei
Por esses teus olhos que tanto sofri e chorei
Por dunas arenosas caminhei
E em altas montanhas guerrilhei
Como é possível um soldado tenaz, bravo e provocador
Tenha acabado sendo apenas mais uma notícia de rodapé na nossa História?
Alguém que por quem tudo lutou?
Acabou aqui no fundo deste antro
Desta vala comum onde sou apenas mais um cadáver sem alma
Que nunca voltará a renascer das cinzas
Nunca verá um amanhecer
Embora voltará a amanhecer
Pois sou apenas um velho conquistador
No apogeu da minha insignificância
Voltará a amanhecer
Um novo amor irá florescer
Um sorriso no teu rosto irá reaparecer
E eu? E eu serei só uma árvore podre e velha
Que já possuiu um verde exuberante
Mas, o Inverno chegou impiedoso
E limpou todas as folhas de esperança que permaneciam fortes
E o verde de vida ceifou
A vida que em mim habitava, cegou e sufocou
E fiquei esta apática e triste arvore
Despida de sentimentos, de cor, de sorrisos e de amor
Há algum tempo, um velho amigo me disse: "Ainda é preciso sonhar!" E eu o questionei: Vale mesmo a pena sonhar? Sonhar, é sinônimo de acreditar, e infelizmente acreditar traz expectativas do irreal, da ilusão. Logo, sonhar se torna motivo de decepção.
O velho e o Moço
Deixo tudo assim
Não me importo em ver a idade em mim,
Ouço o que convém
Eu gosto é do gasto.
Sei do incômodo e ela tem razão
Quando vem dizer, que eu preciso sim
De todo o cuidado
E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz,
Quem então agora eu seria?
Ah, tanto faz
Que o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar...
Mas eu, quem será?
Deixo tudo assim,
Não me acanho em ver
Vaidade em mim
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.
Sei do escândalo
E eles têm razão
Quando vêm dizer
Que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo
E se eu for
O primeiro a prever
E poder desistir
Do que for dar errado?
Ahhh
Ora, se não sou eu
Quem mais vai decidir
O que é bom pra mim?
Dispenso a previsão!
Ah, se o que eu sou
É também o que eu escolhi ser
Aceito a condição
Vou levando assim
Que o acaso é amigo
Do meu coração
Quando fala comigo,
Quando eu sei ouvir
Encurralado
(Tradução: Pedro Gonzaga)
bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho. o talento perdido. tateando às cegas em busca
da palavra
ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…
ainda não, velho cão…
logo em breve.
agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, acontece, ele já
era… é
triste…”
“ele nunca teve muito, não é
mesmo?”
“bem, não, mas agora…”
agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.
agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona
enquanto as sombras assumem
formas
combato retirando-me
lentamente
agora
minha antiga promessa
definha
definha
agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas
tem sido um belo
combate
ainda
é.
E segredou o velho no seu leito de morte:
- a vida que já é curta foi-se célere; passei-a ambicionando coisas, quase sempre supérfluas, ao invés de ser feliz com o que já tinha. Hoje troco tudo que tenho por mais tempo, mas infelizmente o mesmo não está à venda.
Certo de que não precisa voltar
Existe uma doce saudade lá fora
Passa o tempo, velho calabar
Não passam as horas, não adianta agora
Voltei para ver se minha pequena
Que de tão doce me perdoou
Ficou um pouco mais amena
Sem dizer se ainda o sou
Tem pressa em chegar?
Diz se tenho algum motivo
Se posso partir, se posso amar
Fale das coisas do mundo
Explique qual seu incentivo
De dizer "só por um segundo"
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