Velhice
Eu não penso em ficar velhinho, se eu chegar lá, lá, talvez, eu pense, não em ficar velhinho ou que fiquei velhinho, mas num monte de coisas que nada tenha a ver com ficar velhinho ou de estar velhinho, provavelmente, continuarei pensando em tudo que atualmente penso, quer seja, nos jovens, na juventude, na força que tem a vida, na vida.
Ser velho é uma experiência que os novos não tiveram e deveriam abster-se de tentar analisá-la.
Só os velhos podem escrever com propriedade sobre certos aspectos da velhice, pois olhar para o precipício não é a mesma coisa que mergulhar no precipício.
A história é semelhante a de uma rosa que reina em todo jardim. Perdido o viço é cortada e às folhas secas lançadas. É o seu destino e seu fim. Há muita gente vaidosa que vive assim como a rosa. Orvalhada de beleza, ao sol da fama e o som da beleza, sempre em capa de revistas, sem perder o cartaz. Mas, tal como tempo, é fugaz. E ao perder a mocidade, vai sozinha com a saudade, pro retiro da idade.
Quem viu daquela pedra o luar... Quem escutou aquele acorde... Se não voltar para ficar, marca encontro com a saudade. Do dividendo alegia, do divisor mocidade, resultou melancolia, que reduzida, também é saudade. Pode o sol nascer ao poente e haver mulher sem vaidade? O que não há certamente, é passar por lá e não levar saudade. As parcelas de paixão sentidas naquelas calçadas ou resultam decepção, ou mais uma vez somam saudade. E quem nega sentir saudade, fingindo ser diferente, ou nunca curtiu a vida de verdade, ou não diz bem o que sente. Constante nesta existência, eu vejo só em verdade a inevitável sequência: o moço, o velho e a saudade. Suplício do meu fadário, que me mata e me dá vida.
Sou Velho Sim
Sou velho sim! Que me importa todos esses anos de vida, as rugas que transcendem em meu rosto.
Sim! Sou um velho, meus movimentos são mais lentos e compassados, não tenho mais aquele vigor da juventude,
Sou velho sim! Envelhecer não é ruim, quando se pode olhar o passado com dignidade e orgulhar-se do presente sem se importar com o futuro.
Sim! Sou velho e já passei por todas as etapas da vida, hoje mais calejado pelos percalços da vida e ela muito me bateu.
E as batidas, forjaram-me o espirito, calejaram-me a alma e a vida ao rebimbar seu martelo marcou o compasso do tempo, o meu tempo que ainda não findou.
O mundo foi minha escola e a vida quem me ensinou, me diplomou com louvor o ser humano que sou.
Com muitos defeitos sem duvida, mais o tempo me lapidou, me fez brigar com o destino, pra chegar a onde estou.
Não sou nada reconheço, mais tenho o meu valor, o valor de ser humano que por essa terra passou.
Sou velho sim! Mais cronologia não conta quando o espirito se remoça, bebendo da fonte do saber e da verdade.
É! O tempo marcou-me o rosto, curvou-me o corpo, mais nunca dobrou o meu espirito, cada vinco no rosto são marcas do que passou, tirou-me a rigidez da juventude e jamais a jovialidade do meu ser.
Sou velho sim! Sou aquela criança que correu pelo tempo e se cansou e hoje ainda ofegante caminha colhendo dos frutos que plantou.
Entardecer em 2079
De repente um sonho, ao entardecer sentado em um parque, sentia os braços fracos, pernas largadas sob o banco, escutava vez o outra o barulho do pisar em folhas secas, lembro do meu estado temporal, estou velho, as cãs embranquecidas, rugas, um olhar experiente e saudosista, mesmo cansado um brilho e uma expectação de alegria nos olhos, de quem aprendeu a viver; fico olhando os círculos que faziam-se quando as crianças jogavam pedras no lago, começo a lembrar dos dias da mocidade, do vigor de outrora, dos amigos, das garotas, das juras de amor eterno, dos flertes temporãos, das noites de esbórnia ininterruptas, dos discos, das músicas e dos livros, tento me recordar de todos que li, vi, de coisas notáveis e outras nem tão… Começo a lembrar de datas, noites, dias, pessoas, caralho,caralho! … as entranhas começam a fervilhar e estremecer, de maneira tal como o abrir de uma caixa de pandora, vejo flashs de memórias e sensações. Alguns amigos se foram, alguns parentes, outros sumiram, os tempos mudaram, outras gerações, outros costumes. Uma inquietude toma conta, mas de certa forma me sinto em paz, plena; quanto tempo se passou desde a primeira vez que cai da bicicleta. Subtamente choro, trata-se do filme real de uma vida …
Sinto uma paz, olho para os lados, não vejo ninguém por perto, só um pessoal andando de longe, e um barco vazio no meio do lago … e então, sinto uma mão em meu ombro, olho e vejo minha filha sorrindo com a sua filha nos braços, toda sorridente, suja de areia… é uma tarde de verão!
- Vovô o que você estava fazendo ai sentado? Eu estava com a mamãe no parquinho!!
- Estava descansando docinho.
Levantamos e vamos indo embora.
Está anoitecendo, olho no relógio e são 17:55 da tarde do ano 2079.
O tempo passou como passa todas as coisas. Um dia percebi que havia muita gente velha próximas a mim.
Fio de cabelo branco
Uma noite dessas, já quase passando das tantas... e meio borracho, arranhei a garganta tentando pigarrear uma palavra qualquer. Num relance, enquanto olhava no espelho do banheiro, vi meu semblante roto refletido feito vidro partido, meio distorcido, talvez pelo sono que me acometia àquela hora.
E mesmo que tentasse fixar o olhar na imagem não via surpresas, só conseguia enxergar minha insuportável silhueta de sempre, igual a sempre.
Lá fora, um frio insuportável! Aqui dentro, um friozinho gostoso... Se esquivando pelas frestas da janela, tentando incomodar.
Ainda de front ao espelho vi meu rosto, meio choco, parecendo querer desandar. As muitas linhas emprestadas pelo tempo emolduravam-no, formando uma expressão esteticamente impressionante, quase arte. Se fosse uma vanguarda, seria Expressionista.
Aquelas formas singulares, aqueles traços ousados, aquele fio de cabelo branco... Aquele fio de cabelo, branco? Em minha opinião, quase uma instalação contemporânea, tamanho meu espanto. Era tudo que tinha de diferente na minha face naquele dia, naquela noite, há anos.
Já se passava em muito da meia noite quando me deitei. Ainda pensava naquele fio de cabelo branco que trazia na face, talvez um disfarce do tempo para encobrir os meus tantos lamentos durante toda a vida. Talvez uma lágrima solitária derramada e petrificada ali, no canto esquerdo do rosto transformada em monumento, um totem erguido à minha maturidade.
Talvez fosse isso mesmo, talvez não!
Nunca soube o porque daquele fio de cabelo branco. Nunca tive um ciso se quer, nunca me casei, nunca tive filhos, nunca plantei uma árvore, moro com a minha mãe até hoje, deixo a cama desarrumada pra hora de deitar e provoco o cachorro só pra ver ele se zangar. Sem falar que até ontem soltava pipa e papagaio na rua feito moleque, um crianção. E agora com esse fio de cabelo branco, muda tudo! Será o fim? Será que será bom ou será que será ruim?
Acha mesmo que sou um velho tentando lhe dar conselhos? Esquece de forma conveniente que já fui como você e fiz todas as merdas que agora você está fazendo e que adquiri a alto custo e sofrimento a sapiência necessária para para me entender? Ok, não vai me escutar mesmo. Todos os velhos são chatos e idiotas, você não. Ainda vai chegar lá, quem sabe.
Fico sentado no meu banquinho,,
Lembrando-me de quando tinha 17,,
Tudo passava rápido,,
Hoje tudo passa lentamente,,
Ainda continuo a espera dela,,
Aqui no meu banquinho,,
Só vejo arvores e corpos velhos,,
Eu pedia tanto essa calmaria,,
Hoje peço tanto aquela rebeldia,,
Ainda continuo á espera dela,,
Aqui no meu banquinho,,
A eternidade da espera.
assopre a vela, corte o bolo, faça um pedido. Posteriormente se sinta mais velho, mais experiente, se sinta um filosofo pensando no tempo que ainda resta, no que vale a pena apostar suas fichas. Nessa hora abrace seus amigos, seus familiares, olhe seu cachorro, gato ou periquito como se soubesse que tudo e todos englobam o dom da vida, o dom de viver. Que tudo faz parte... Nessa hora, que a vela é apagada, depois do com quem será, é que vem a hora psicodelica, para quen sabe o que é se sentir mais velho, para quem sabe o que significa ficar mais velho e suas consequencias.... É aí que você lembra que tem brigadeiro para comer...
Contemplo, acaricio e beijo
o rosto enrugado...Castigado...
Cada ruga representa uma lição absorvida,
nas marcas do tempo,
no sorriso tímido
ou no doce olhar
a verdade dura, pode-se vislumbrar
nas mãos trêmulas, no andar cambaleante...
Percebo medo,
por um instante
corro pra te amparar...
A obrigatoriedade compulsiva de tratar os mais velhos de Senhor, tem sua origem na tentativa de esquecer que sob aquele corpo desfeito, está aprisionado um adolescente em pânico.
A melhor maneira de vencer o tempo,
é estabelecer um pacto de não agressão.
Respeitar as suas condições,
mesmo as mais exigentes.
Entender que segundos, minutos e horas
jogam ao lado do adversário.
A pior coisa de ficar velho é que cada vez a gente fica mais velho.
E a gente fica velho quando é velho, fica mais velho quando é novo e tem gente que é novo mas parece velho.
A velhice começa com a primeira queda e termina com muitos tombos.
Dizem que cair os cabelos é sinal de velhice e uma questão genética.
Tem gente que fica careca aos vinte anos e até menos e tem gente que fica com os cabelos brancos antes de ficar velho.
Por algum motivo, os cabelos são grande preocupação para a maioria das pessoas.
As mulheres têm especial preocupação e cuidado com os cabelos e as mais novas usam os cabelos tão grandes quanto possível,muitas se negam a cortá-los e “cortar as pontas” parece que dói. À medida que ficam mais velhas a preocupação não diminui, mas muitas passam a usá-lo mais curto porque é muito mais prático.
Não tenho estatísticas mas acho que a maioria das mulheres usa tinta nos cabelos. Umas, só para variar mesmo, outras porque acham que ficam melhor com ele mais claro ou mais escuro.
É raro ver mulher com os cabelos parcialmente brancos e mais raro ainda vê-las com eles todos brancos.
Não há quem não perceba que está ficando velho ao ver uma foto de si próprio com dez anos a menos.
No perfil do Facebook, todo mundo escolhe uma foto da qual goste mais e invariavelmente ela é menos atual do que a realidade.
Há quem não ligue para ficar velho ou mais velho, alguns se se acham até melhor do que quando eram mais novos, mas até isso é uma coisa passageira porque ninguém gosta de perder a mobilidade, a visão, a audição e a vitalidade de quando era mais jovem.
Eu poderia escrever várias páginas sobre as vantagens de ser jovem, de quanto é difícil e ruim ficar mais velho e depois outras tantas rebatendo um monte de gente dizendo que ficar velho é natural, é legal e que a maturidade traz paz, sabedoria e inegáveis vantagens.
Concordo que ficar mais velho possa ter umas coisas legais, mas no geral, ficar mais velho um dia acaba deixando a gente muito velho e ficar velho, no bom português, é uma merda….
Como diz minha querida Amanda Palma, eu começo escrevendo bem mas invariavelmente esculhambo o texto. Juro que nem sempre fui assim….
Isso é coisa de velho!
A idade traz consigo a experiência, a serenidade e a autonomia para decidir as formas mais sábias de aproveitar o tempo.
Envelhecer ao seu lado
Há motivos pra que você escolha alguém pra compartilhar os seus dias, há encantos, há magia... Manter a chama do encanto acesa é um dom que pouquíssimas pessoas possuem, e envelhecer ao lado de quem você escolheu pra dividir sua vida é um privilégio destinado apenas aos que sabem o verdadeiro valor e significado do amor. Passar a vida amando e sendo amado é a única coisa que justifica a nossa existência. Que pena que os amores hoje durem apenas uma estação, e o encanto se desfaça no ar como nuvem passageira... Que o encanto seja denso, intenso e extenso o suficiente pra transpor os umbrais do tempo, e na eternidade eu ainda seja a feiticeira que te encanta.
Nasci nas ilhas Fortunadas, onde a natureza não tem necessidade alguma de arte. Não se sabe, ali, o que sejam o trabalho, a velhice, as doenças; nunca se veem, nos campos, nem asfódelo, nem malva, nem lilás, nem lúpulo, nem fava, nem outros semelhantes e desprezíveis vegetais. Ali, ao contrário, a terra produz tudo quanto possa deleitar a vista e embriagar o olfato. (…) Nascida no meio de tantas delícias, não saudei a luz com o pranto, como quase todos os homens: mal fui parida, comecei a rir gostosamente na cara de minha mãe.
(Elogio da Loucura)
Fala a Loucura: “Por tudo isso, observai, senhores, que, quanto mais o homem se afasta de mim, tanto menos goza dos bens da vida, avançando de tal maneira nesse sentido que logo chega à fastidiosa e incômoda velhice, tão insuportável para si como para os outros”. (Elogio da Loucura)