Velhas Amizades
"Porque gostar das Minas Gerais: Pelas suas montanhas onduladas que se perdem no horizonte; pela grandeza e retidão do seu povo; pela vontade de fazer, confiando sempre, nem sempre em quem devia, mas antes de tudo, acreditando no reto e na consciência consentida"
Sinto saudade de alguns velhos amigos, talvez não seja saudade, seja necessidade de viver tudo outra vez.
A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas as nossas relações com o passado ficam alteradas.
“Ergamos um brinde aos amigos ausentes, amores perdidos, velhos deuses e à Estação das Brumas, e que cada um de nós sempre conceda ao diabo o que lhe é merecido”.
Validade da amizade
Algumas amizades já vem com a data vencida. São pessoas que deixam a impressão de que nunca deveríamos tê-las conhecido.
Algumas amizades tem prazo curto de validade (como leite em sacola, tipo C). Desembarcam em nossa vida por uns dias, algumas semanas... de repente saem e a gente nem percebe. Delas só nos lembramos quando as vemos em algum lugar, assim mesmo, há casos até da gente pensar: “essa pessoa não me é estranha...” Mas não lembramos nome e nem de onde a conhecemos. Não tiveram relevância na nossa vida.
A amizade de pessoas especiais são do tipo Longa Vida, duram mais! E são tão intensas que, mesmo vencida a validade, por muito tempo as guardaremos vivas na memória.
A amizade de pessoas MUITO ESPECIAIS, ah, essas guardaremos eternamente no peito e na lembrança! São pessoas que em muitos momentos nos trouxeram alegria, deram força e sentido ao nosso viver. São pessoas tão especiais que a data de validade dessa amizade nunca expira, independentemente do tempo e da distância!
Resumo: Só a morte separa verdadeiros amigos!
Velhas amigas
Minha avó tinha uma inimiga ferrenha chamada Marina. Elas se mudaram para casas próximas na pequena cidade onde tinham ido viver. Não sei quem começou a guerra, pois foi muito antes de eu nascer, e não sei se quando nasci, uns quarenta anos depois, elas mesmas se lembravam de quem havia começado. Mas o duro combate continuava, com amargas batalhas. Era uma contenda travada sem um pingo de educação. Era uma guerra entre senhoras, o que representava guerra total. Nada na cidade escapou das consequências. A igreja de quatrocentos anos quase desabou quando a vovó e a senhora Marina travaram a batalha pela presidência de uma Sociedade local. Vovó ganhou este combate, mas foi uma vitória sem valor, pois a senhora Marina derrotada, demitiu-se da Sociedade num acesso de pura raiva. E qual é a graça de você dirigir alguma coisa se não puder humilhar sua inimiga mortal? A senhora Marina venceu a batalha da Biblioteca Pública, conseguindo que sua sobrinha Fernanda fosse indicada bibliotecária no lugar de minha tia Amanda. No dia em que Fernanda tomou posse, vovó parou de apanhar livros na biblioteca, dizendo que estavam "cheios de germes", e começou a comprar os livros que queria ler. A batalha da Escola Secundária terminou empatada. O diretor conseguiu um emprego melhor e saiu antes que a senhora Marina o tirasse de lá ou vovó conseguisse mantê-lo lá para sempre. Além dessas batalhas mais sérias, aconteciam constantes ataques e recuos na linha de tiro. Quando éramos crianças e visitávamos vovó, parte da diversão consistia em fazer caretas para os terríveis netos da senhora Marina que revidavam com igual truculência. Corríamos atrás das galinhas e púnhamos bombinhas nos trilhos do bonde bem em frente à casa da senhora Marina com a doce esperança de que, ao passar, o bonde provocasse uma explosão que a fizesse morrer de susto. Num dia histórico, pusemos uma cobra na calha de chuva da senhora Marina. Minha avó ainda ensaiou um protesto, mas sentimos sua solidariedade, bem diferente dos veementes "nãos" de mamãe, e prosseguimos na nossa carreira de crianças endiabradas. Não pense, nem por um minuto que só havia um lado nessa guerra. Lembrem-se de que a senhora Marina também tinha netos bem mais valentões e espertos do que os netos de vovó. Os pestinhas puseram gambás no porão de sua casa e esta foi a agressão mais suave. O fato é que qualquer incidente na casa de vovó foi atribuído aos parentes da senhora Marina. Não sei como vovó poderia ter suportado todos esses problemas se não fosse pelo caderno feminino do jornal diário. A página era uma instituição maravilhosa. Além das usuais dicas de cozinha e conselhos sobre limpeza, havia uma seção de troca de cartas para que as leitoras pudessem desabafar seus problemas. Para que o anonimato fosse mantido, as cartas vinham assinadas com um pseudônimo. O de vovó era Serena (que ironia!!!). Outras pessoas que tivessem o mesmo problema respondiam, dando a solução encontrada e também usando seus pseudônimos. Muitas vezes, exposto o problema, as leitoras ficavam trocando cartas por anos através do jornal, falando sobre filhos, doces em conserva ou a mobília nova da sala de jantar. Foi isso que aconteceu com vovó. Ela e uma mulher chamada Andorinha se corresponderam por vinte e cinco anos, e vovó dizia a Andorinha coisas que jamais confessara a ninguém, como a vez em que contou que pensava estar grávida (e não estava) ou quando meu tio Célio pegou piolho na escola e vovó ficou profundamente humilhada. Andorinha era sua amiga do coração. Quando eu tinha dezessete anos, a senhora Marina morreu. Numa cidade pequena, mesmo que você deteste a vizinha, faz parte das regras de educação se oferecer para ajudar a família enlutada no que for necessário. Vovó atravessou o gramado, deu os pêsames às filhas e começou a ajuda-las a limpar a já imaculada sala de visitas para o funeral. De repente, viu aberto sobre uma mesa, num lugar de destaque, um enorme álbum de recortes. Para seu mais absoluto estarrecimento ali estavam coladas, em colunas paralelas, as cartas dela para Andorinha e as de Andorinha para ela. A maior inimiga de vovó fora, na verdade, sua melhor amiga. Foi a única vez que me lembro de ter visto minha avó chorar. Eu não sabia naquela época por que ela estava chorando, mas agora sei. Chorava por todos os anos perdidos que não poderiam ser recuperados. Naquele momento fiquei tão impressionado com as lágrimas de minha avó, que não me dei conta da descoberta fundamental que começava a fazer. Uma descoberta que se transformou em convicção e que tem me ajudado imensamente a viver.
As pessoas podem parecer insuportáveis. Podem parecer egoístas, mesquinhas e hipócritas. Mas, se não procurarmos olha-las sob outra ótica, nunca seremos capazes de descobrir que são também generosas, amorosas e bondosas. E, se não lhes dermos a oportunidade de revelarem seus segredos e aspectos positivos, procurando sempre falar com elas e não delas, ficaremos sempre privados do bem que elas poderão nos proporcionar.
Algumas pessoas da minha lista de amigos virtuais deixaram de ser especiais.
Elas agora são ESSENCIAIS!
Saudades das velhas amizades, dos velhos sorrisos, saudades dos velhos motivos... Saudade das coisas que se foram e não voltarão.
Saudades dos velhos tempos , dos velhos amigos , dos velhos amores . Hoje só ficaram velhas lembranças que me deram a esperança de que um dia poderei viver tudo outra vez.
Sobre os velhos amigos
Muito mais que qualquer nostalgia barata de um reencontro despretensioso ou a simpatia de uma rápida conversa diplomática, são as lembranças que tenho a respeito de quem passou por minha vida: os velhos amigos. Eles são cicatrizes benignas feitas por pessoas que, usufruindo de toda a liberdade que têm, deixaram com que a intersecção de nossas histórias existisse.
E eu quero lhe chamar a atenção aqui porque, quando digo história, estou falando do acumulado de experiências, acúmulo de encontros e desencontros da vida colecionados em um indivíduo, de forma que seu caráter, personalidade, espiritualidade e ideologia se fazem frutos desta dita história.
As sobreposições que sofri pelos meus velhos amigos me permite ver, talvez só aqui na frente olhando para as fotos, que a vida foi boa de ser vivida com eles; me permite ver que, como diria Spinoza, o encontro fraterno de nossas almas gerou ganho potência, o que ele mesmo traduz como felicidade.
Aos meus antigos amigos dos enes lugares pelos quais passei, a cada um deles, eu sinto a falta de vocês. Obrigado por permitirem o nosso encontro. Com vocês eu ganhei potência, eu palpei a felicidade. Com vocês vivi momentos dos quais não queria que acabassem e compartilhei lugares dos quais não queria sair.
Os amigos antigos vão-se, novos amigos aparecem. É como os dias. Um dia velho vai-se, um novo dia chega. O que é importante é que adquira significado: um amigo com significado - ou um dia com significado.
Sabe quando bate aquela saudade de tempos passados? Velhos amigos, pequenas lembranças? É que momento estranho, é o momento que você percebe que tudo passa rápido demais, que aquele pedido de aniversário que você recusou podia ter sido muito divertido, ou aquela vez que você não quis falar com tal pessoas simplesmente por que estava de "saco cheio", e agora está aí implorando para que esses momentos voltem, é meu amigo não voltam, acostume-se, solte uma lágrima se necessário, faz parte, mas não fique parado, esses amigos podem não voltar mais, lembra deles? Ainda sabe onde estão? Ligue pra ele, você não sabe o quanto um boa noite seu pode alegrá-lo, vai que ele também se lembrou de você? Se não, vai lembrar.Se não lembrar desligue, não era seu amigo. O verdadeiro amigo vai dar um salto ao ouvir sua voz e fazer com que aquela conversa não termine, para que assim ele não tenha que se lembrar dos momentos que não aproveitou.
Minha velha avó sempre costumava dizer: amigos de verão derretem como neves de verão, mas amigos de inverno são amigos para sempre.
Se não damos valor nem reconhecimento às velhas amizades, com certeza também não o faremos com as novas. Basta acabar a novidade!