Vácuo
Tu chegastes com tal intento
Rompendo as fechaduras de relento
Que trancam o vácuo, espaço vazio
Por onde irradio lembranças do meu lamento
Ao destrancar sem hesitar
O vazio com o qual permaneci tanto tempo
Por ti, tão tolo, me apaixonei isento
Revivendo em mim nuances que um dia esqueci
E quando tornas a desaparecer
Faz-me aflito, prestes a perecer
Ainda que não tardas a voltar
E prometas que a meus braços sempre retornará
Ansiedade que corrói o receio de perder
Mais uma vez alguém que me faz viver
Todas as volúpias de um bel prazer
Do inteiro encanto que um dia me privei
Por perder você
Valores invertidos. Caixas vazias, literalmente, sem ar, vácuo. Talvez me ache muito certo, egocentricamente. Não, me recuso a aceitar que os valores estejam invertidos, quero, sinceramente, pensar que não. Mas acreditar em falsos pensamentos seria me jogar nos braços disso que, ironicamente, chamam de civilização.
Antes do primeiro dia
No principio era o caos que jazia solitário no vácuo.
O caos era volátil e virou-se do avesso e começou a dançar frenético - ora implodindo ora explodindo. As trevas ruíam, as formas quase foram sendo plasmadas por acidente, mas como ninguém estava ali, tudo não passava de um sonho improvável. Por conseguinte raiou uma pálida luz – reflexo análogo a imperícia da ausência de escuridão total. Confundiram-se os elementos primitivos numa cadeia infinita de infinitas moléculas que não existiam. No nada, nada subsistia senão a anatomia do nada. Nada crescia. Nada estava aguilhoado. Centenas de estrelas ocultas, mil e uma constelações inéditas. Um ponto de interrogação cósmico e insipiente. Formas sem sentido, cores descoloridas. Sussurros silenciosos de um universo inexistente. Diáfanas luzes corruptíveis. Delírios entrevados adormecidos. Nesse dia não houve dia.
E nesse momento, sinto um frigelido sentimento,
o coração pulsa num vácuo silencioso,
não sinto nem dor nem amor, só um horizonte estático entre o céu e a terra.
Sinto-me cansado, como se precisasse repousar imediatamente.
Nem as mais belas teorias nem mesmo as ciências comprovadas farão com quer eu entenda tudo isso agora.
Mas não posso abandonar o livro da minha historia, preciso escreve-lo ate o fim.
Mania da gente de tentar algo maior, mania de viver no limite ou no vácuo, delícia de deixar-se levar no terror do destino.
Big Bang
Antes era tudo escuridão
absoluto silêncio
vácuo inerte em meu ser.
De repente, não mais que de repente
houve uma explosão
dentro de mim.
Não destrutiva
muito pelo contrário
uma explosão evolucionista.
Após um inexplicável estrondo
e revirar das estruturas
fez-se a luz em meu interior.
E com ela coisas vêm surgindo
e ressurgindo
e se estabelecendo.
Lágrimas desprendem-se de meus olhos
a saliva é difícil de engolir
a cabeça me pesa.
Lembraças e pensamentos
vão sendo consolidados e
reorganizados.
Sinto cada estímulo
eletrizante
entre meus neurônios.
Meus tímpanos ainda doem
devido a intensa
vibração provocada.
Meus músculos
se contraem
como em cãimbra.
É tudo muito doloroso ainda
a luz é intensa demais
às minhas pupilas.
Posso sentir o pulsar do meu coração
o ar entrando e saindo dos meus pulmões
e o sangue correndo em minhas veias.
Acho que naquele instante
eu renasci...
Se divago no vago pensamento,
No vácuo de um momento,
E percebo-me desapercebida,
Como que numa íngreme subida
A olhar apenas o chão.
A olhar apenas as pedras,
Meus passos e os passos de outros,
Que andaram nesta trilha,
Que ancoraram mesma ilha,
E que também só olhavam para o chão.
Que não viram sequer uma flor,
Não sentiram um trisco de amor,
Não perceberam que lindo caminho,
Estavam deixando atrás...
Quando o sol se deitava mansinho,
E deixava o mar em lilás.
Lá na frente, uma lua em pingente,
Vai iluminando o lugar,
E das estrelas não se ouve a canção,
Percorridos mil poemas,
Tanta gente perde as cenas,
Porque, pena! Olham apenas para o chão...
O que em nossa vida deixamos de fazer se torna o vácuo de uma história incerta... Ferroada pelo arrependimento, a implacável dor da consciência projeta-nos inúmeras possibilidades do que nunca aconteceu, empurrando os nossos desejos no desfiladeiro de nossos mais profundos devaneios.
Quem sou?
Sou um aglomerado de pensamentos.
Um atordoado de gritos silenciosos presos ao vácuo.
Uma série desastrosa de acertos inconscientes.
Um espaço preenchido pelo vazio de existir.
A palavra certa
'No vácuo de um olhar busco um pensar equidistante que ascende todos os horizontes. Um infinito".
“Amar você é como um grito desesperado no vácuo, não importa quantas vezes eu grite, você não vai gritar de volta.”
O vácuo é doloroso para qualquer um. Triste e desalmado, uma dor incomum. Mas se for vindo da vacuosa é um ar de amor. Não tenha medo e não se desespere com o terror. Pois assim que possível ela vai te contactar e o seu coração alegre ficará.
FAZER
Pendências nada são
Se pautam num anseio
Se encerram em um vácuo
Pendências nada são
Indagações inoportunas
Procrastinações de interrogar
Liberdade demasiada
Pendências nada são
Queremismo falho
Aceitação reflexiva
Repulsa mais que notória
Fluxo que movimenta à vontade
Pendências nada são
Contrações hemáticas e orgânicas
Devaneios que não se encerram
Silêncio na ação
Aristóteles, Galileu e Newton na omissão
Pendência realmente algo é
Talvez um superávit que possuo
Às noites entrego tudo aquilo que não me pertence...
Adverso a si, entrelaço-me ao vácuo entre os suspiros...
Tento, enfim, destruir o que me destrói...
Quando, como, onde? Terás fim com meu último suspiro?
Ou carregar-me-ei pelos escuros labirintos de incertezas?
Ocultarei, assim, minha própria existência?
Enfatizarei, assim, somente a dor?
Das chuvas irei carregar-me...
Tempestades e dilúvios a me rodear...
Sempre desejando afogar-me
Naquilo que parte de mim nunca fará...
De vácuo em vácuo
A gente perde o contato,
De desleixo em desleixo
A gente perde o desfecho,
Sem puxar assunto
Permaneço mudo!
E assim nossas conversas
Vão ficando sem rumo...