Um Poema para as Maes Drummond

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O amor. Claro, o amor. Fogo e chamas por um ano, cinzas por trinta. Ele bem sabia o que era o amor.

Nada é menos digno de honra do que um homem idoso que não tenha outra evidência de ter vivido muito exceto a sua idade.

Um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso da civilização.

As mulheres não podem amar um homem em quem os olhares da mais afectuosa simpatia não insinuam calor ao coração.

Uma vida longa e intensa muito dificilmente se pode caracterizar por um único amor.

O amante é um arauto que proclama onde existe o mérito, o espírito ou a beleza de uma mulher. Que proclama um marido?

Uma grande campanha publicitária fará um mau produto fracassar mais rapidamente. Ela irá conseguir que mais pessoas saibam quanto ele é ruim.

As piores dificuldades de um homem começam quando ele é capaz de fazer o que quer.

Tão frequentemente o intelectual é um imbecil que o deveríamos sempre tomar como tal, até que nos tenha provado o contrário.

Qualquer problema que possa ser resolvido com um talão de cheques não é realmente um problema, é apenas uma despesa.

A erudição é, em muitos casos, uma forma mal disfarçada de preguiça intelectual ou um ópio para adormecer as inquietações íntimas do espírito.

Quando, neste mundo, um homem tem qualquer coisa para dizer, o mais difícil não é fazer-lho dizer, mas impedi-lo de o dizer vezes de mais.

Que importa viver com os outros quando cada um se está nas tintas para o que é importante para os outros?

Quando o trabalho é um prazer, a vida é bela! Mas quando nos é imposto, a vida é uma escravatura.

O adulador é um ser que não tem estima nem pelos outros, nem por si mesmo. Aspira apenas a cegar a inteligência do homem, para depois fazer dele o que quiser. É um ladrão nocturno que primeiro apaga a luz e em seguida começa a roubar.

Os homens medíocres cumprem um importante papel nos grandes acontecimentos unicamente porque não se encontram lá.

Se é um prazer desfrutar do que é bom, prazer maior é provar o que é melhor; e na arte aquilo que é ótimo é bom o suficiente.

Até mesmo de um corpúsculo disforme pode sair um espírito realmente forte e virtuoso.

Romance da Bela infanta

Chorava a infanta chorava na porta da camarinha
Perguntou-lhe o rei seu pai: Por que choras filha minha?
Eu não choro senhor pai, se chorasse razão tinha
Todas eu vejo casadas, só a mim vejo sozinha.

Procurei no meu reinado, filha, quem te merecia
Só achei o conde Olário e esse já mulher havia
Ai meu rei pai de minh’alma, esse mesmo é que eu queria
Mande aqui chamar o conde pela vossa escravaria

Palavras não eram ditas, já o conde chegaria
E que a vossa majestade quer com minha senhoria?
Mando que mate a condessa pra casar com minha filha
E traga a cabeça dela nesta dourada bacia

Sai o conde por ali com tristeza em demasia
Ter que matar a mulher, e a mulher não merecia
A condessa que o esperava para abraça-lo corria
Com o filhinho nos braços já de longe bem ouvia
Sentaram-se os dois a mesa, nem um nem outro comia
As lágrimas eram tantas que pela mesa corriam

Porque choras senhor conde, desafogue essa agonia
Me dê a sua tristeza que lhe dou a minha alegria
Ou te mandam pra batalha ou te mandam pra Turquia

Nem me mandam pra batalha nem me mandam pra Turquia
O rei manda que te mate, pra que case com sua filha
E quer a sua cabeça nessa dourada bacia

Não me mate senhor conde, um remédio haveria
Vou meter-me em um convento da ordem da freiraria
Lá guardarei castidade e a fé que te devia.

Como pode ser tal coisa condessa da minha vida
O rei manda que te mate pra casar com sua filha
E quer sua cabeça nessa dourada bacia

Deus que te perdoe meu senhor conde lá na hora da cotia
Me tragam aqui meu filho entranhas da minha vida
Deste sangue do meu peito, beberá por despedida

Bebe meu filhinho, bebe, este leite de agonia
Hoje aqui ainda tens mãe que tanto bem te queria
Amanhã terás madrasta de mais alta fidalguia

Já ouço tocar o sino, ai meu Deus quem morreria?
Morreu foi a bela infanta, pela culpa que trazia
Descasar os bem casados, coisa que Deus não queria.

JOANINHA

Essa é a história de Joana dos Santos
Mais conhecida como Joaninha
Linda menina com tantos encantos
Seu sonho maior era entrar pra marinha

Tinha dois irmãos, mãe e padrasto
Numa casa simples da periferia
Rosto de boneca e corpo casto
Os vizinhos diziam que artista seria

Aos 11 anos tudo mudou
Joaninha tornou-se mocinha
Chegou na escola com o braço roxo
Sorriso amarelo e olhar de desgosto

Cada dia uma história contava
Bati na maçaneta, caí da escada
Escorreguei no banheiro
Cortei-me com o espelho

Dona Rosa, sua professora
Percebeu haver algo errado
Ela confessou à protetora
Que era violada por seu padrasto

Chorou amargamente
Disse que pra casa não voltaria
Dona Rosa tinha algo em mente
No dia seguinte o denunciaria

Ao acordar ouviu a manchete
Menina jogada em terreno baldio
Não entrou pra Marinha nem tornou-se artista
A pobre criança virou estatística.