Um dia Percebemos Mário Quintana
O bom das filas é nos convencerem de que afinal esta pobre vida não é tão curta como dizem.
Meu Deus, por que será que nos sentimos tão culposos diante desse olhar interrogativo que nos lançam, às vezes, os cães? Mas culposos de quê?
Conhecer o mundo não adianta nada: as viagens apenas complicam a ignorância.
O mais difícil na morte é acomodar-se a gente aos novos hábitos.
Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.
As lagartas não podem acreditar na lenda das borboletas – tão antiga entre o seu rastejante e esforçado povo... mas sua felicidade consiste em relembrar, às vezes, o absurdo e maravilha desse velho sonho: o de se transformarem, um dia, em borboletas.
O crítico é um camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo lado avesso.
Durante as belas noites de tempestade os relâmpagos tiram radiografias da paisagem.
É preciso escrever um poema várias vezes para que dê a impressão de que foi escrito pela primeira vez.
Não se devia permitir nos relógios de parede esses ponteiros que marcam os segundos: eles nos envelhecem muito mais que o ponteiro das horas.
Nós todos levamos o anel da morte e um dia temos de o trocar com ela.
Ah, nem queiras saber... A vida é preciosa como um pão roubado!
O único problema da solidão consiste em como preservá-la.
E chegará um tempo em que os militares inventarão um projétil tão perfeito, mas tão perfeito mesmo, que dará volta ao mundo e os pegará por trás.
Os sonhos têm luz própria, uma luz que não vem de nenhum sol, de nenhuma lua, de nenhum foco. Está em toda parte. Na próxima vez que sonhares, procura ver se o teu vulto projeta alguma sombra. E se a tua imagem se reflete nalgum espelho. Tolice minha! Nos salões do sonho nunca há espelhos...
Mas felizes, felizes esses peixinhos de aquário: pensam que o seu universo é infinito.
O dia passa, a vida continua. E os que pensam que a vida muda com o gosto devem pensar também que o corpo se transforma com as modas.