Um dia Percebemos Mário Quintana
No dia em que estiveres muito cheio de incomodações, imagina que morreste anteontem... Confessa: tudo aquilo teria mesmo tanta importância?
Na convivência, o tempo não importa.
Se for um minuto, uma hora, uma vida.
O que importa é o que ficou deste minuto,
desta hora… desta vida...
Seiscentos e Sessenta e Seis
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Conhecer o mistério de um corpo é talvez mais importante do que conhecer o mistério de uma alma.
Dona Lógica usa coque e óculos, como aquelas velhas professoras que não se fabricam mais e tão chatas que, no meio da aula, sempre alguém lhes pedia “para ir lá fora”. Sim, Dona Lógica, a alma também precisa de um pouco de ar.
Sábios pensares
Dos pequenos ridículos
nunca faça escândalos ao menos
visto que tanto ousas
não os faça pequenos
o ridículo está é nas pequenas coisas
Do pranto
não tentes consolar o desgraçado
que chora amargamente a sorte má
se o tirares por fim do seu estado
que outra consolação o restará...
Do prazer
quanto mais leve tanto mais sutil
o prazer que das coisas nos provém
escusado é beber todo um barril
para saber que gosto o vinho tem...
Da contradição
se te contradisseste e acusam-te. Sorri.
pois nada houve em realidade
teu pensamento é que chegou por si só
no outro pólo da verdade
Da falsidade
foi tudo falso o que ela disse ...
fecha os olhos, crê, a mentira é tão linda
nem ela sabe que fingir meiguice
é o mais certo sinal de que te ama ainda
Do eterno mistério
um outro mundo existe...uma outra vida...
mas de que serve ires para lá...
bem como aqui, tu'alma atônita e perdida
nada compreenderá
Do mau estilo
todo o bem, todo mal que eles te dizem, nada
seria, se soubessem expressá-lo
o ataque de uma borbolete agrada
mais que todos os beijos de um cavalo
Passageiro Clandestino
No porta-mala do meu automóvel
Levo um anjo escondido...
Quando chegamos a um descampado,
Ele sai lá de dentro, estende as asas, belas como a vitória
E aí, então, nos seus ombros, dou uma longa volta pelos céus da cidade...
Ah, sempre que se sonha alguma coisa
tem-se a idade do tempo em que a sonhamos:
Me esqueci do futuro...
Pergunto-me por que o uivar de lobos, os trovões, os raios constituem o pano de fundo para as cenas de horror. Pois, quando o medo é muito, faz-se um silêncio na alma. E nada mais existe.
Não sejas muito justo, e nem utilize sua sabedoria mais que o necessário, para que não venhas a ser estúpido.
Há uma cor que não vem nos dicionários. É essa indefinível cor que têm todos os retratos, os figurinos da última estação...a cor do tempo.
Do Mau Estilo...
Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada
Seria, se soubessem expressá-lo...
O ataque de uma borboleta agrada
Mais que todos os beijos de um cavalo.
Alma errada
Há coisas que a minha alma,
já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom,
a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há…
e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui, ouvindo o que todos ouvem,
bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda.
(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente,
o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…
A verdadeira coragem consiste, apenas, em não nos importarmos com a opinião dos outros. Mas como custa!
O futuro é uma espécie de banco ao qual vamos remetendo, um a um, os cheques de nossas esperanças. Ora, não é possível que todos os cheques sejam sem fundo.
Há ilusões perdidas mas tão lindas que a gente as vê partir como esses balõezinhos de cor que nos escapam das mãos e desaparecem no céu...