Um dia e dá Caça e outro e do Caçador
A vida é o único caça-palavra que faz o vocábulo ressurgir, mesmo se o alfabeto do dia a dia estiver inacabado.
Caça à palavra
repleta, minha alma espreita atrás do estrume do mundo:
de onde vêm os versos, que face ocultam entre o amor e a morte?
às vezes os sons são os mesmos, as texturas, o tempo,
o mesmo homem a revolver-me as veias
onde se lacram as vãs repetições, que noite veste o poema?
o sol nos vasos de crisântemos, ecos de um triste país,
largos horizontes onde meu pai passeia verbos nem sempre sublimes.
tudo é memória, sirenes ligadas. a infância sempre ontem, mas aqui.
todo verso sugere uma serpente oferecida.
que na minha caça à palavra (que face ocultam o amor e a morte?)
não haja qualquer vislumbre de repouso.
E a vida esta sempre por um fio, entre caça e caçadores, vitima e réus, culpados ou inocentes, doenças ou acidentes, causas naturais ou não, porém uma coisa é certa, incrivelmente, nunca sentimos claramente que isto possa ocorrer conosco.
Pode acontecer do nosso lado, ou com personagens famosos da mídia, pelo mundo afora, e até multimilionários, com recursos de sobrevivência muito maiores do que os nossos,
mas não conosco.
Só Deus mesmo para nos abastecer com tamanha insensatez programada e dirigida à nossa percepção na aceitação de um destino maravilhoso e sempre superior.
Imaginem o peso de uma existência toda, pensando num fim implacável e a qualquer momento.
Obrigado Senhor.
(Teorilang)
O novo déu
Déu do cum-quibus
Buscaram os urubus
Co'a caça na mata
Balburdiava a floresta!
-Isso lá é campanha?
Resmungou o sabiá!
-Para! Só acompanha!
Interveio o velho preá!
Temos que escolher?
Perguntou o coelho!
Temos! É um dever!
O urubu pressionando:
- O dever é um direito!
Acabou se gabando!
II
E daí que na floresta
Depois de toda a festa
Veio a torta do repolho
Trazido pelo boi caolho!
Eita! Que tudo tinha gosto
Dos prazeres dos deuses
Fartaram-se todos eles,
Depois viera o desgosto:
- C'o pum a atmosfera poluíram!
Passou a chover reclamação!
Até greve, os bichos fizeram.
Só que depois de toda confusão
Esqueceram do que reclamaram
Estavam prontos para nova eleição!
Com a evolução da pandemia, ficam os caçadores em casa e entra a caça na rua como se fosse o homem a pisar pela primeira vez a lua.
O autoconhecimento requer reflexão, interpretação e, acima de tudo, coragem para sair à caça de um objetivo que só pode ser plenamente alcançado quando algumas perguntas são respondidas.
Flávia Abib
Sou arrepios
Sou dengo
Sou flor de Liz
Meretriz
Sou de raça
Sou de caça
Aprendiz
Sou de luz
Sou neon
Sou do mar
Do rio
Do frio
Sou sacana
Louca
Leviana
Feiticeira
Pagodeira
Sou de dança
Sou de rampa
Bagunceira
Tenho cor
Música minha praia
Poesia meu cobertor
Sou sapeca
Sou de rosas
Chocolate minha cama
Deixo cheiros onde passo
Dou rosas onde for
12/08/2020
Eu sou uma cobra,
Ando atrás de ti à caça,
Amor tenho de sobra,
Para te dar e agora o que queres que eu faça?
Eu sou um caçador,
Tenho de caçar uma presa,
Para lhe mostrar o meu amor,
E mostrar-lho com clareza!
cORaçÕES qUEImadOS
uma constante caça
no meio desse mar de lava,
antes até parecia ser mais fácil
mas sozinho se torna assustador.
a vida é um grande terror
sem medo, sem pudor.
até que eu gosto desse caos,
pois é ele que me traz ânimo de estar aqui,
por provar desse fogo
que no calor é mais gostoso.
eu amo esse jeito de não levar desaforo
e dar a desculpa que é um crime culposo.
vou desmestificar os tais "fiéis",
espalhar o meu fogo nos bordéis.
meu coração é de bar em bar,
sou infernos a superar.
o mundo inteiro quer me desmanchar
só por que tenho o poder de me curar.
porque ninguém nunca teve o poder
de voltar depois de se dilacerar.
cada ferida se cicatriza, ateia fogo,
recupera das cinzas.
os corações que já tive foram queimados
e hoje, reconstroem em todos os pedaços.
lindo é o caminho, fé que vai chegar
um santo que me mostre
o dia que os corações queimados
vão se encontrar.
que sempre esteja vivo
o meu poder de recomeçar e fazer das cinzas
um fogo que nunca vai apagar.