Uísque
Básico são os outros
Básico é copo d'água sem gelo e uísque Cowboy sem emoção
é solidão abundante e tristeza falseada nas mesas dos bares
básico são os olhares chorosos das pessoas
escondidos por detrás de largos sorrisos de desespero
e o desesperado soluço engasgado no peito
na iminência de rasgar as entranhas de dentro para fora
e transbordar feito fazem os vulcões em cólera.
Básico é o levante furioso dos insetos
disputando os melhores lugares em sua parede favorita
carregando e entremeando os restos mortos de carne
que se encontram caídos no chão
levando-os para as fendas e buracos abertos pelos pregos sujos
que sustentam os engordurados quadros com propagandas
de conhaque, cerveja e cachaça.
Básico é uma pitada de raios dourados de meia lua na retina
e uma noite inteira cheia de estrelas num céu à sua escolha.
Básico é não querer ser o que não se é
e sendo, não ser o que se pode.
Básico é sentir a poesia entrando pelas narinas
queimando a pele, alterando a pulsação
feito o vento frio que maltrata o corpo em uma bucólica manhã de inverno.
Básico é não morrer de véspera, por antecipação
ou viver a vida numa pressa desmedida
embalado por um repetitivo e antiquado refrão.
Básico é embriaguez no mês de dezembro
- às vésperas do natal -
sem pessoas nos pontos de ônibus
cães ladrando pelas ruas
e larápios espreitando a melhor ocasião.
Básicos são os tombos que se cai no caminho de volta pra casa
com a gravata retorcida no colarinho da camisa
e a cara amassada de tanto sono.
Básico é a chave da porta da sala
que insiste em não abrir a fechadura do portão
e o movimento do lápis desembestado na folha
e o da borracha, desgovernada na contramão.
Básico são os outros, nós não.
Madrugada boa para fumar um cigarro imaginário, pra beber uma dose imaginária do melhor uísque, boa para escrever uma poesia verídica sobre amores imaginários... Chega a ser tudo completamente hilário.
Roger: Minha cara, estamos na Escócia. É claro que não gostar de uísque é um crime.
A libélula no âmbar
A vida como dura é
Me deu uma dose do seu melhor uísque
Bebi sem perceber
Já estava na metade da segunda garrafa
Quando te vi
Me levantei
Andando em tua direção fui
Cambaleei, cambaleei
Em teu colo fui cair
E nesse bar vazio
A música a tocar está na tua voz
Que me agrada os ouvidos
E faz esquecer da vida antes da segunda garrafa
Obrigado a ti, estranha do bar
Se um dia puder te recomendar
Que seja te pagando um drink
Dar dinheiro e poder ao governo é como dar uísque e as chaves do carro para adolescentes.
As coisas grandes te derrubam enquanto as coisas pequenas te levantam, como uma garrafa de uísque e uma xícara de café.
Dissolvida em seu copo com uísque e gelo, você bebe, mas não lhe causa efeito algum.
E eu que, solúvel, me dissipei em você.
De forma sucinta devaneio em seus olhos cor de uísque, quentes como o fogo lambendo a lenha seca, expressivos como uma criança em suas primeiras descobertas. Olhar que me lembra o outono, as folhas secas despencando suavemente e tocando o chão, folhas que morrem embebecidas na mais pura beleza.
Apague seu malboro
Termine seu copo de uísque barato,
Pegue suas coisas mais inúteis e vá-se.
Mas não se esqueça
Deixe meu coração comigo desta vez.
Chova,
molha junto de mim
derrama sua alma em um copo de uísque
despeja sua roupa no chão e vem comigo.
Quando minha mulher quis saber porque eu cheguei de madrugada, cheirando a perfume e a uísque, eu disse: "Reservo-me o direito de ficar calado." Não funcionou...