Trovão
Meu coração tem o mesmo formato e faz o mesmo som q o trovão faz. Minhas mãos e ações causam o mesmo estrago.
Nesse vazio, o som do teclado ecoa como um trovão pela manhã, e eu tô sentindo frio. Frio imenso de doer os ossos. Frio por dentro.
O zéfiro balouça o ipê.
Longe ritomba um trovão.
Detrás do zíper: o ocaso.
Noite e vinho
derramando sono nos meus olhos.
A Esperança da Humanidade
A vida política, porém, veio como um trovão desviar-me dos meus trabalhos. Regressei uma vez mais à multidão.
A multidão humana foi a maior lição da minha vida. Posso chegar a ela com a inerente timidez do poeta, com o receio do tímido; mas, uma vez no seu seio, sinto-me transfigurado. Sou parte da essencial maioria, sou mais uma folha da grande árvore humana.
Solidão e multidão continuarão a ser deveres elementares do poeta do nosso tempo. Na solidão, a minha vida enriqueceu-se com a batalha da ondulação no litoral chileno. Intrigaram-me e apaixonaram-me as águas combatentes e os penhascos combatidos, a multiplicação da vida oceânica, a impecável formação dos «pássaros errantes», o esplendor da espuma marítima.
Mas aprendi muito mais com a grande maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo. Pode esta mensagem não ser possível a todos os poetas, mas quem a tenha sentido guardá-la-á no coração, desenvolvendo-a na sua obra.
É memorável e desvanecedor para o poeta ter encarnado para muitos homens, durante um minuto, a esperança.
Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi"
Mulher - Fragmento do livro Zeus: homem e trovão
Zombeteira asneira de ser
Mulher serpente
Mulher de dente
Na ânsia de morder...
O mundo redondo eu dobro
Corto a orelha do vendaval
O sinal está aberto...
A cada gota um novo pensamento, a cada raio uma nova surpresa, a cada trovão um medo estonteante. É assim que vida nos mostra o quanto somos frágeis perto de nossa natureza desafiadora. Em meio tempestades, somos apenas gotas secas envolvidas em nossos próprios casulos... O homem nasceu pra ser livre, mas poucos, aproveitam tempos assim para lavar a alma.
Ó ARVORE
- Ó grito que rasgas de dor o ventre
Nas masmorras das trevas subterrâneas
- Ó trovão que ecoas o infinito
No sangue dos inocentes humilhados
- Ó abutre insaciável mercenário
Cheio de ódio, de hipocrisia
- Ó cavaleiro de espada de ferro
Exterminador da mentira
- Ó muro de arame farpado nas árvores
De poderosos ramos do universo
- Ó labirinto escondido de pedras entre ervas
Que esvoaçam folhas já de papel
- Ó galhos que sufocam a luz
Que criam raízes sem brotar esperança
LETAL DESTINO
Cinzas no chão, veneno no deserto
Trovão no céu, abre-se o desejo
Fogo inextinguível, dor na vesícula
Mastigo o terror de orgulhoso medo
Furor exausto de irritada verdade
Picada em sangue, doce mordida
Cobra de sombra que lança perdida
Batalhas doridas no próprio sustento
Espada de ferro que carrega um anjo
Que mata a carne, que espera esquecida
Chuva de lama que remove a vida
Liga fraudulenta entre os ossos, o cérebro
Torcem o braço até às clavículas
Vermes que não sabem decifrar o silêncio
Práticos pesadelos em caçar talentos
Molhada argila feita de nada para nada
Destino falso de letais falsos profetas
Sertão.
Se alguém ouvir um trovão
me ligue por caridade
quero voltar pro sertão
é grande a minha saudade
quem nasce na plantação
não se acostuma em cidade.
num beijo sinto teu amor
como num trovão sinto teu coração,
tudo pode estar em chamas.
e seus olhos puros no imenso vazio,
grito que te amo,
todos olham assustados nos braços da morte,
a simplicidade da musica toca notas do teu coração...
espalho meus sentimentos pelas estrelas,
tudo pode ser uma suposta surpresa
os sonhos torna se tão reais poucos segundos,
desdenho toda forma de amar tão distante da realidade.
olho para os laços da solidão.
cobrindo minha face gelada num estado eterno,
dos quais sobrevivi com a ilusão da sua voz...
coisas fantásticas acontece quanto ainda vivemos.
Ao final dos relâmpagos negros e dos raios solares,
lá está;
silencioso como um trovão;
estável como um vulcão;
é perigoso se atormentado
e destrutivo se despertado!
É lento, mas também veloz como um guepardo;
Seu lado sozinho é o seu pecado,
mas é também o que o deixa ligado.
Festa do trovão.
Começa o dia no chão
arando a terra sagrada
colhendo da plantação
o sustento da filharada
quem vive pelo sertão
não pode ouvir um trovão
que faz uma festa arretada.
POEIRA DO VENTO
e de como a luz se tornou trevas
o raio de sol se fez trovão
cada vez mais
a solidão adentra em meu coração
como uma flor a secar
o lobo a parar de uivar
e as rajadas de vendo pararem de soprar
de meu companheiro melhor amigo
para um alguém desconhecido
sendo separados cada vez mais
pelos quais não se importa mais
me deixou milhas além
por alguém que não valia cem
mas se assim tu queres
assim será feito
meu eterno amor imperfeito
traidor desbravado
com perfume na flor do olfato
mas de amor foi ao pó
feito por um só
poeiras do amor
seja para quem for
o vento levará
e hás de cuidar
pois amor mais puro não há
de quem só queria amar.
Não tenho medo da tempestade que se aproxima
Mesmo o trovão dos canhões dos inimigos não me assustam
Pois vi a Liberdade decepada brotar em forma de juventude
Eram flores lindas que coloriam as ruas
Entendi que não mais o medo habita o coração
Entendi que pra cada patrão mais de milhões se erguerão
Que da barriga vazia da criança nasce a força da guerrilha cheia de esperança
Que do corpo da mulher oprimida se erguem barricadas na avenida
Não tenho medo das batalhas que se avizinham
Mesmo o barulho dos fuzis inimigos não me assustam
Pois a Justiça roubada foi resgatada nos gritos da juventude
Eram vozes doces e firmes que falavam ao mundo de agora o futuro que virá
Entendi que pra cada latifúndio milhões de sem-terra se erguerão
Que pra cada julgamento pela cor
o povo de Zumbi valente quebrará as correntes
que pra cada chão indígena roubado Sepé Tiaraju retornará com seu exército sagrado
Não tenho medo do império que esmaga a Paz
Mesmo as máquinas assassinas dos donos do mundo não me assustam
Pois eu vi no calor dos abraços e na alegria de viver
Uma juventude que se recusa a morrer
Pronta para a batalha em breve ficará
Então o medo cairá sobre os opressores
A revolução vai triunfar
A criança vai brincar
O ser humano vai amar
O mundo se erguerá
A história vai mudar
E o povo?
Esse é quem vai governar!