Tristeza Clarice Lispector
Ela estava triste. Não era uma tristeza difícil. Era mais como uma tristeza de saudade. Ela estava só. Com a eternidade à sua frente e atrás dela.
De nada sei. Que se há de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só.
E achava bom ficar triste. Não desesperada (...). Claro que era neurótica, não há sequer necessidade de dizer.
E só estou triste hoje porque estou cansada. No geral sou alegre.
Não sei como se faz outra cara. Mas é só na cara que sou triste porque por dentro eu só até alegre. É tão bom viver, não é?
E só estou triste hoje porque estou cansada.
Não se pode fazer arte só porque se tem um temperamento infeliz e doidinho.
Porque é cruel demais saber que a vida é única e que não temos como garantia senão a fé em trevas – porque é cruel demais, então respondo com a pureza de uma alegria indomável. Recuso-me a ficar triste.