Três Coisas

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Carinho, com letra maiúscula, é uma das coisas em falta no mercado.

As pessoas têm medo de falar o que elas acham de verdade, têm medo até de pensar em algumas coisas.

Por que as coisas só ficam claras quando é tarde demais?

Me entender é simples. É só se pôr no meu lugar, ver as coisas que eu vejo, passar pelo que passo e sofrer pelas coisas que eu nunca comentei.

Não é uma questão de sorte. As coisas acontecem na hora certa e da maneira que têm que acontecer, seja pra ensinar ou pra mostrar alguma coisa, sempre aprendemos. Tudo que temos é fruto de uma conquista, seja ela fácil ou difícil.

Pode não parecer, mas mudar e amadurecer são duas coisas bastante diferentes.

Às vezes Deus faz as coisas de uma maneira que eu não entendo. Mas sei que sempre dá certo.

Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer.

Entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito (...).

Um homem me disse que no Talmude falam de coisas que a gente não pode contar a muitos, há outras a poucos, e outras a ninguém. Acrescento: não quero contar nem a mim mesma certas coisas. Sinto que sei de umas verdades. Mas não sei se as entenderia mentalmente. E preciso amadurecer um pouco mais para me achegar a essas verdades.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Ao correr da máquina.

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Quando resolvi fugir daquelas coisas torpes lá de fora não pensei que fosse tão fácil: na verdade foi tudo muito natural, como se um dia isso tivesse mesmo que acontecer, e exatamente dessa forma. Não precisei fazer esforço algum. Só deitar e esperar. A princípio ainda classificava lembranças e memórias, tinha consciência de um antes, um durante, um depois, de um real e um irreal, um tangível e um intangível, um humano e um divino: separava minha memória e meus conhecimentos em partes cuidadosamente distintas. Depois que ele começou a rondar minha janela, ou antes, não sei, tudo se confundiu num só bloco, e fiquei assim: esta massa compacta toda à superfície de si mesma. Não lembro de ninguém assim tão à flor de si mesmo: raiz, caule, folhas e frutos. Talvez eu esteja sendo gerado, não sei. Sei que falta pouco. Eu queria que não fosse assim, que não tivesse sido assim. Mas não consegui evitar. A semente recusava-se a vir à tona, eu nem sempre tinha tempo ou vontade de regá-la, e não chovia mais – foi isso que aconteceu.

É que as coisas simplesmente não eram do seu lado. Pensou uma bobagem: até sua pequena cara era de lado. Em esquina. Nem pensava se era bonita ou feia. Ela era óbvia.

Clarice Lispector
A bela e a fera. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho do conto Um dia a menos.

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Só quero ir indo junto com as coisas, ir sendo junto com elas, ao mesmo tempo, até um lugar que não sei onde fica, e que você até pode chamar de morte, mas eu chamo apenas de porto.

Você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu...

O resto das coisas

O resto das coisas, eu me digo baixinho, você ainda tem todo o resto das coisas.
Para não enlouquecer sem você, eu me agarro àquela lembrança desfocada e amarelada de que existe vida lá fora, e me pego tentando lembrar, com um esforço que quase me faz esquecer você por alguns segundos, o que seriam mesmo essas coisas.
O que sobra quando você sai é um dia claro que me pede para dar um passo, apenas um passo. Mas eu fico dura que nem pedra para não desmontar e me espalhar pelo mundo.
Não quero sujar nosso amor com a minha mania de amar despedaçada e esfarelada.
Eu endureço e esqueço o resto das coisas, porque quero ficar toda inteira pra quando você me quiser de volta.
Tenho medo do vento que passa arrancando partes de mim e das pessoas que me envenenam, matando partes de mim. Não quero ouvir ninguém, não quero saber de nada, não quero sentir nada. Quero esperar você voltar reta e dura como uma estátua, porque tenho medo de me espalhar pelo mundo e nunca mais ser sua.
Imagine se, por causa daquele longo adeus que eu dei e que nunca mais acabou, porque o adeus definitivo dói demais, você volta e me encontra sem as mãos? Imagine se você me encontra sem joelhos porque resolvi contar a Deus o quanto ainda confundo amor com escravidão?
Imagine só você me encontrar sem fígado, porque você mesmo o deixou naquele pote estranho em cima do móvel da cozinha enquanto me contava coisas que eu não queria saber?
Não posso ser uma mulher incompleta, tem tanto amor dentro de mim que, mesmo eu sendo inteira, quase já não cabe. Mas se eu der um passo, um passo apenas, eu vou deixar um rastro do que eu fui pra você e você vai querer voltar pra casa como um cachorrinho fiel, mas não vai mais ter casa.
Então eu cerro os olhos, trinco os dentes, fecho os punhos, engulo o ventre e espero você chegar, porque só você me vira do avesso sem perder nenhum grão de mim.
O resto das coisas do mundo quer sempre fazer trocas, o resto me dá vida, mas quer sempre meus pedaços.
E eu acho uma traição sair por aí dando pedaços do meu pulmão para ares mais leves, pedaços do meu coração para risos mais despretenciosos, pedaços do meu umbigo para momentos de altruísmo.
A vida fica surda sem você, porque o volume do mundo abaixa para ouvir meu grito interno. O mundo fica passando como um filme Super Oito na parede, as pessoas estão felizes demais, mas parece que faz tempo demais e sentido nenhum. Sem você sinto essa felicidade sem som, como se, por maior que fosse um sentimento, ele já nascesse com defeito.
Eu sei que as ruas vão continuar com seus lixos, seus cinzas e suas possibilidades de destino. Eu sei que a poeira vai continuar dançando em volta do meu lustre enquanto eu tento me concentrar em duas ou três frases de um livro qualquer.
Eu sei que eu posso muitas coisas sem você, e eu sei que, se eu tomar um banho quente e comprar uma roupa nova, talvez eu possa querer uma coisa que seja, só uma, sem você.
Nada muda no mundo quando você não caminha ao meu lado, as pessoas quase não percebem que falta metade do meu corpo e que eu não posso ser muito simpática porque toda a minha energia está concentrada para eu não tombar.
Os cachorros cheiram outros mijos, as pessoas estranhas fazem exercícios apertando as mãos levantadas para cima, alguns homens de terno insistem em usar óculos de surfistas como se fossem o super-homem que deixa aparecer um pedaço do S no peito.
Ninguém deixa de espreguiçar só porque você não está aqui, ninguém deixa de molhar a torrada no café e de falar com voz idiota enquanto boceja.
E eu odeio o mundo por isso, eu acho o mundo muito medíocre, eu tenho pena de todas essas pessoas que não sabem o que é encaixar o rosto no vão das suas costas e querer ser embalsamado ali por mil anos.
Amor de verdade não acaba, é o que dizem, mas eu tenho medo. Eu tenho medo de quantos mijos, bocejos, cinzas e óculos de surfistas eu ainda vou ver sem você, eu tenho medo dos meus pedaços espalhados pelo mundo, eu tenho medo do vento passar enquanto eu estou míope, e eu ficar míope pra sempre.
Eu tenho medo de tudo isso apagar e o vento levar suas cinzas, desse fogo todo ser de palha, como dizem. Da dor que se dissipa a cada respirada mais funda e cheia de coragem de ser só.
Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem você, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem você, de como eu posso ser até mais feliz sem você.
Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, músicas, descobertas solitárias e momentos introspectivos andando ao Sol.
E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar você de grão em grão, sujando seus dentes e olhos e nada eu posso com a pá que está na minha mão.
O vento está mais forte do que o vidro que eu fiz com os meus próprios grãos para me guardar para você. Ele está esmurrando a porta, escapando pelas frestas e eu gosto da brisa fina na minha testa aliviando o meu tormento.
Eu já quase quero ser varrida por ele, como se sentir tudo isso fosse uma sujeira. Eu já quase quero ficar surda com o zumbido do vento, e calar a boca do desgraçado que mora na minha cabeça.
Mas lembrar de você ainda tem o poder de congelar a natureza, de estancar a fresta aberta, de me fazer preferir o demônio quente na testa. Lembrar de você e de como é bom percorrer cada detalhe de tudo o que é seu ainda é melhor do que ser só minha ou me dissipar por aí, para sentir a leveza de querer um pouco de tudo e não muito de uma coisa só.
O resto das coisas continua encapado por um plástico vagabundo, pedindo que eu espere mais um pouco para rasgar tudo e voltar. Minha vida ficou velha quando te conheci e todo o esforço que eu faço para não morrer a cada segundo longe de você, é a lembrança de um velho caminhão de mudanças cheio de quinquilharias, sem rumo e perdido.

Certas palavras podem dizer muitas coisas;
Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;
Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
Certos gestos,parecem sinais guiando-nos pelo caminho;
Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;
Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,
Assim como você que deixarão belas lembranças para todo o sempre:

O dia mais belo: hoje
A coisa mais fácil: errar
O maior obstáculo: o medo
O maior erro: o abandono
A raiz de todos os males: o egoísmo
A distração mais bela: o trabalho
A pior derrota: o desânimo
Os melhores professores: as crianças
A primeira necessidade: comunicar-se
O que traz felicidade: ser útil aos demais
O pior defeito: o mau humor
A pessoa mais perigosa: a mentirosa
O pior sentimento: o rancor
O presente mais belo: o perdão
O mais imprescindível: o lar
A rota mais rápida: o caminho certo
A sensação mais agradável: a paz interior
A maior proteção efetiva: o sorriso
O maior remédio: o otimismo
A maior satisfação: o dever cumprido
A força mais potente do mundo: a fé
As pessoas mais necessárias: os pais
A mais bela de todas as coisas: O AMOR!

É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós:
onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração; Pois a vida está nos olhos de quem sabe ver...

Maurício Francisco Ceolin

Nota: Trecho de um poema de Maurício Ceolin. Autoria do poema foi confirmada pelo próprio, muitas vezes confundida com Henfil, que citou o poema de Maurício Ceolin no livro "Diretas Já". A autoria do texto tem vindo a ser também erroneamente atribuída a Pedro Bial, Gabriel García Márquez ou Clarice Lispector.

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Eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas.

Caio Fernando Abreu

Nota: Trecho do conto "Para uma Avenca Partindo" (O ovo apunhalado, 1975).

Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.