Trechos Clarice Lispector

Cerca de 1836 frases e pensamentos: Trechos Clarice Lispector

O pequeno êxtase da palavra fluir junto do pensamento e do sentimento: nessa hora como é bom ser uma pessoa! (...) Eu me encontro nos outros. Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trechos da crônica Os prazeres de uma vida normal.

...Mais

É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Não ter forças para lutar era o meu único perdão.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Ela era muito satisfatona: tinha tudo o que seu pouco anseio lhe dava. E havia nela um desafio que se resumia em “ninguém manda em mim”.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Clarice Lispector
Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2018.

Nota: Trecho da crônica Pertencer.

...Mais

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Eu sempre fui e imediatamente não era mais.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Armando Nogueira, futebol e eu, coitada.

...Mais

Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, sempre não acaba nunca.

Clarice Lispector
Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Chorou livremente, como se esta fosse a solução.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nada a retinha, nem o medo. Mas mesmo que agora se aproximasse a morte, mesmo a vileza, a esperança ou de novo a dor. Parara simplesmente. Estavam cortadas as veias que a ligavam às coisas vividas, reunidas num só bloco longínquo, exigindo uma continuação lógica, mas velhas, mortas. Só ela própria sobrevivera, ainda respirando. E à sua frente um novo campo, ainda sem cor a madrugada emergindo. Atravessar suas brumas para enxergá-lo. Não poderia recuar, não sabia por que recuar.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Ninguém sabia que ela estava sendo infeliz a ponto de precisar buscar a vida. (...) Ela só sabia viver.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

E o que não posso e não quero exprimir fica sendo o mais secreto dos meus segredos.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar.

Clarice Lispector
Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.

Nota: Trecho do conto Os desastres de Sofia.

...Mais

Refugio-me nas rosas, nas palavras. Pobre consolação. Estou inflacionada. Não valho nada.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.

Clarice Lispector
Borelli, Olga. Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
...Mais

Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas – mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O que é preciso é não ir demais contra a onda. A gente faz como quando toma banho de mar: procura subir e descer com a onda. Isso é uma forma de lutar: esperar, ter paciência, perdoar, amar os outros. E cada dia aperfeiçoar o dia. Tudo isso está parecendo idiota... Mas até que não é.

Clarice Lispector
Todas as cartas. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.

Nota: Trecho de carta a Elisa Lispector e Tania Kaufmann, escrita em 12 de maio de 1946.

...Mais

Uns dias, cheia de tédio, enervada e triste. Outros, lânguida como uma gata, embriagando-se com os menores acontecimentos. Uma folha caindo, um grito de criança, e pensava: mais um momento e não suportarei tanta felicidade.
(A bela e a fera – trecho da crônica Gertrudes pede um conselho)

E depois ando meio bonita, sem o menor pudor: vem do bem-estar.
(A descoberta do mundo – trecho da crônica Facilidade repentina)