Trechos Clarice Lispector
E não esquecer que a estrutura do átomo não é vista mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi.
Se o sol e a lua sabem a hora de sair de nossas vistas, por que algumas pessoas “agradáveis” não seguem o ciclo da natureza?
Quando eu digo te amo, estou me amando em você.
Vou tomar um banho antes de sair e perfumar-me com um perfume que é segredo meu. Só digo uma coisa dele: é agreste e um pouco áspero, com doçura escondida.
Minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que tristeza era uma alegria falhada.
Só a necessidade que eu tenho me justifica.
Que seria de mim se eu não precisasse?
Que seria de meu corpo se não houvesse
o aviso da fome? Que seria de mim se não
houvesse o futuro? Que seria de mim se eu
não precisasse de Deus?
Divido-me milhares de vezes em quantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos – só me comprometo com a vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim.
A gente escreve como quem ama.
Erguia-se para uma nova manhã, docemente viva. E sua felicidade era pura como o reflexo do sol na água.
Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra?
Pouco sei sobre o amor. Apenas lembro-me que o temia e o procurava.
Eu sou feita de tão pouca coisa e meu equilíbrio é tão frágil que eu preciso de um excesso de segurança para me sentir mais ou menos segura.
A respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
Eu, que simbolicamente
morro várias vezes só para
experimentar a ressurreição.
Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso...
Eu vivo à espera de inspiração com uma avidez que não dá descanso. (...) Cheguei mesmo à conclusão de que escrever é a coisa que mais desejo no mundo, mesmo mais que amor.
Parece com momentos que tive contigo, quando te amava, além dos quais não pude ir pois fui ao fundo dos momentos.