Trechos Clarice Lispector

Cerca de 1832 frases e pensamentos: Trechos Clarice Lispector

O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Para onde vou? e a resposta é: vou.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Por enquanto há diálogo contigo. Depois será monólogo. Depois o silêncio. Sei que haverá uma ordem.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Não estava abatida de chorar. (...) E sua tristeza era um cansaço grande, pesado, sem raiva.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O mundo todo é ligeiramente chato, parece.
O que importa na vida é estar junto de quem se gosta.

Clarice Lispector
Todas as cartas. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.

Nota: Trecho de carta para Elisa Lispector e Tania Kaufmann, escrita em 7 de agosto 1944.

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Só que dessa não se morre. Mas tudo, menos a angústia, não? Quando o mal vem, o peito se torna estreito, e aquele reconhecível cheiro de poeira molhada naquela coisa que antes se chamava alma e agora não é chamada nada. E a falta de esperança na esperança. E conformar-se sem se resignar. Não se confessar a si próprio porque nem se tem mais o quê. Ou se tem e não se pode porque as palavras não viriam. Não ser o que realmente se é, e não se sabe o que realmente se é, só se sabe que não se está sendo. E então vem o desamparo de se estar vivo. Estou falando da angústia mesmo, do mal. Porque alguma angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Crônica Angina pectoris da alma.

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Ninguém saberia de que negras raízes se alimenta a liberdade de um homem.

Clarice Lispector
Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto Os laços de família.

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É que o mundo de fora também tem o seu “dentro”, daí a pergunta, daí os equívocos. O mundo de fora também é íntimo. Quem o trata com cerimônia e não o mistura a si mesmo, não o vive, e é quem realmente o considera “estranho” e “de fora”. A palavra “dicotomia” é uma das mais secas do dicionário.

Clarice Lispector
Rocha, E. Clarice Lispector. Série encontros. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2011.

E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros, o que pouco me importa, já que eu tantas vezes sou incomodada pela alegria superficial e digestiva dos outros.

Clarice Lispector
Minhas queridas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

Nota: Trecho de carta escrita em 29 de janeiro de 1945 a Elisa Lispector.

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O pior é que sou vice-versa e em ziguezague. Sou inconcludente. Mas é preciso me amar como involuntariamente sou. Apenas me responsabilizo pelo que há de voluntário em mim e que é muito pouco.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Tenho vontade de escrever e não consigo (...) O que escrevo está sem entrelinha? Se assim for, estou perdida. (...)
Há um livro em cada um de nós.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Um domingo de tarde sozinha em casa dobrei-me em dois para a frente – como em dores de parto – e vi que a menina em mim estava morrendo. Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias. E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heroica. Sem menina dentro de mim.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

O vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu – a meu mistério.

Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu?” cairia estatelada e em cheio no chão. É que “quem sou eu?” provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. Embora não aguente bem ouvir um assovio no escuro, e passos.

Quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico.

É melhor eu não falar em felicidade ou infelicidade – provoca aquela saudade desmaiada e lilás, aquele perfume de violeta, as águas geladas da maré mansa em espumas pela areia. Eu não quero provocar porque dói.

(Mas quem sou eu para censurar os culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se ame o criminoso que nos mata. Mas não estou seguro de mim mesmo: preciso perguntar, embora não saiba a quem, se devo mesmo amar aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte do que eu, responde que quer porque quer vingança e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo que eu morra depois. Se assim é, que assim seja.)

Irei até onde o ar termina, irei até onde a grande ventania se solta uivando, irei até onde o vácuo faz uma curva, irei aonde meu fôlego me levar.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Trechos do livro.

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Viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Frases que lhe saíam fáceis e incolores mas que em mim se cravavam, rápidas e agudas, para sempre.

Clarice Lispector
A bela e a fera. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho do conto Obsessão.

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Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.

Clarice Lispector
Correio feminino. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.

O destino de uma mulher é ser mulher.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quem não é um acaso na vida?

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Às vezes no amor ilícito está toda a pureza do corpo e alma, não abençoado por um padre, mas abençoado pelo próprio amor.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica A perigosa aventura de escrever.

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Numa experiência pela qual peço perdão a mim mesma, eu estava saindo do meu mundo e entrando no mundo.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.