Tiro no Escuro
Quando tudo parecia deserto, tu me trouxeste flores. Quando tudo estava escuro, tu me trouxeste a luz e as cores. Quando tudo era solidão, tu me trouxestes teu abraço amigo. Muito obrigado.
Assim que ficamos a sós, ele me girou nos braços e me carregou para o terreno escuro até chegar no banco nas sombras das árvores. Ele sentou ali, mantendo-me aninhada em seu peito. A lua já estava alta, visível através das nuvens diáfanas (...)
- Porquê? - Perguntei delicadamente.
Ele me ignorou olhando a lua.
- O crepúsculo, de novo - murmurou ele - Outro fim. Mesmo que o dia seja perfeito, sempre tem um fim.
- Alguma coisas não precisam terminar - sussurrei.
Vivemos no poço escuro da web. Ou buscamos a exposição total para ser "celebridade" ou usamos esse anonimato irresponsável com o nome dos outros.
Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo.
Como o mundo é claro e belo, quando não nos perdemos nele, e como é escuro o mundo, quando nos perdemos nele!
Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo,
nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisas
que não são mais terríveis do que aquelas que as crianças temem
no escuro e pensam que acontecerão a elas.
Ela passaria a noite a rezar, a olhar para o céu escuro, a velar por alguém.
Havia
uma palavra
no escuro.
Minúscula. Ignorada.
Martelava no escuro.
Martelava
no chão da água.
Do fundo do tempo,
martelava.
contra o muro.
Uma palavra.
No escuro.
Que me chamava.
Poema Sujo
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
Sabe aquele lugar no cantinho, bem escuro,
lá atrás da zilhonésima oitava cadeira,
onde nem mesmo o ar habita?
Pois bem: é ali que eu fico. Ali é o meu cantinho.
Não é no palco, nem sob as luzes.
É ali mesmo, longe da vista de tudo e de todos.
E o que eu estou fazendo ali?
Me esforçando para fazer dele
um lugar melhor e mais bonito.
Se nada houver em seu coração além do escuro, o que você poderia fazer a não ser degenerar de animal a monstro? Atingir seu objetivo como animal seria sem dúvida amargamente cômico - como dar uma lente de aumento a um elefante. Mas atingir o objetivo como monstro...
Durante anos, as pessoas desta cidade mentiram sobre mim. Me trancaram longe, me chamaram de monstro. Agora vão ter o monstro que tanto merecem.
Algumas pessoas acreditam que se contarmos uma história várias vezes ela se torna real. Ela nos torna quem somos. E isso pode ser assustador.