Tinta
Era um caderninho cujas folhas amareladas continham palavras traçadas com tinta, lágrimas, sonhos e esperanças. Um caderninho que servira de abrigo para as palavras em tempos felizes e nos mais difíceis e que nunca deveria ser lido. Era um caderninho secreto que ficava guardado junto ao seu dono cedendo-lhe mais páginas e absorvendo sonhos em formato de pequenas palavras. Palavras tão frágeis e tão doces que guardavam algo muito maior que seu significado e que nunca foram descobertas. Eram todas palavras de amor e tristeza escritas a uma admirável caligrafia e borradas por pesadas lágrimas. Eram palavras machadas por erros e reescritas com sabedoria. Mas, acima de tudo, eram todas apenas palavras escritas em um caderninho manchado pelo o passado e reescrito pelo presente.
A CRIAÇÃO
Teu sorriso embebido no papel,
Escorrendo sobre uma tinta salutar
O vermelho que contorna os teus lábios
Te faz viver, te faz dançar!
Assim a vida vai brotando lentamente
E o pincel se torna a mão do criador
O ventre virginal da tela é fecundado
Com o respingado da fresca tinta!
O sêmen tinturado se fecunda
E os dias das vigílias são constantes
O artesão da criação a trabalhar
Para dar cabo ao ressurgir do universo
Os dias da labuta multiplicam-se
Os traços, as curvas, os círculos são traçados,
Os arrependimentos encobertos
E esse deus criador se move em esperança!
Nasce um mundo encoberto pelas tintas
Parido pelas mãos de um pintor!
Você tenta, vai, força, mancha, de tinta tudo que aparece pela frente, mas aquilo sai ilegível, pouco decifrável e tanto esforço, mão pintada, roupa suja, nunca lavada, sempre marcada pelos tons do preto? Azul? Para no fim, ninguém entender, compreender como se deve realmente te ler.
Vazio mal ocupado
Eu tenho essa sensibilidade de tinta velha.
Eu sempre tive isso aqui incorporando minhas veias em vez de sangue, e sempre que percebo que minha ave velha e triste inventa de sair pela garganta esmagando minhas tripas e sufocando meu ar, eu me seguro até encontrar um lugar vazio e escuro para engolir com uma dose forte de álcool a ave infeliz que tenta de alguma forma sair, demonstrando um outro eu que tão pouco existe, e sim ele existe.
Mas não, ele não ira sair,não é a hora de me desmanchar em lágrimas com plateia e falsos aplausos, num momento tão egoísta e tão meu.Tão seu, meu.
Agora sinto a garganta ardendo, invento uma gripe com a desculpa da inflamação, que joga fora uma grotesca dor de solidão, sim isso acontece quando se sufoca tudo dentro de si,sem arrependimentos ou reclamação volto pro meu quarto bebo um pouco de remédio querendo que cure a dor que machuca o meu coração, acendo um cigarro e paro por alguns segundos de sentir.
Já que em mim essa dor quase não para... e se para nem repara.
Sem Destino
Esta noite não consigo dormir
Os fantasmas rondam o meu espelho
Olhos azuis e tinta no cabelo
E já não faz mais sentido sorrir
Queria ter o mundo e não posso tê-lo
Preciso de um motivo para existir
Não posso tocar, mas posso sentir
E o olho azul passa a se tornar vermelho
Viver... E não conseguir respirar
É como morrer, e eu quero partir
Porque sei que aqui eu não vou mais ficar
Começo a correr sem ter um destino
Agora não tem como desistir
Vou buscar aquilo que estou sentindo...
A Escrita
Da poesia sai o verso
Do verso a construção
Da pena sai a tinta
Que expressa o coração.
Os dedos correm rápidos
O papel recebe o verso
O coração é o lápis
Escrevendo neste universo.
O poema exprime o sentimento
A mente vaga na imensidão
Os olhos escrevem no vento
Agradecendo a criação.
PASSADO NO PAPEL
É tão difícil o amor relatar
Ainda mais essa caneta
Que já sem tinta
Começa a falhar
Refaço o brio da tinta
Privo a maneira exata de ser
Tento o amor esclarecer
Me ferve na mente
O passado a recordar
De um amor que tive
O ontem que vive
No peito a pulsar
Que corre nas veias
Vem no coração alojar
Essa coisa engraçada
E ao mesmo tempo malvada
Que me interfere a vida
Essa de forma bem vivida
PAPEL SEM ROSTO
Brotar de papel caído
de tinta sem cor,
tinta grudada em caniço
vermelho a pingar nos olhos,
nos olhos teus
Porquê cair …
se chora a caneta a tinta
em margens do papel,
este papel segurador dos sonhos teus,
guardador dos teus beijos banhados de lágrimas
Águas puras …
faleceram as tuas lágrimas,
sucumbiram em branco as tuas magoas
és caneta sem tinta,
és papel sem rosto.
A tinta e a caneta..
As tintas, vão se misturando
com a criatividade do artista
que na combinação de cores,
vai dando formas
detalhando momentos
cruzando olhares
atravessando alamedas
e na suavidade do pincel,
vai desenhando o amor.
A caneta,
descreve a beleza
que os olhos enxergam
e muitas vezes, ousada,
rouba a imagem da tela
e vai contar uma história
que lê, naquele silêncio
pendurado na parede da sala
ou escondido,
em um canto do quarto.
by/erotildes vittoria
O que nos distingue dos pontos de tinta — ou de pixels, se preferir — é que nós, ao contrário destes últimos, possuímos a capacidade de falar, comer, chorar, tolerar, sentir. Temos, sobretudo, sonhos, amores e outros pontinhos pelos quais viver.
Feito tatuagem eu gravei você em mim, e te juro, essa "tinta" não precisa de retoque, não sai. E eu não te coloquei no braço nesses lugares comuns. Eu te tatuei no peito, e acredite: feito tatuagem, doeu.
E digo ao escritor: Liberte a tinta da caneta para que as palavras por ela escritas, inspire multidões.
Quando aplica-se tinta e verniz,se lixa e prepara previamente...Está doendo? Tenha paciência:
VOCÊ AINDA VAI BRILHAR!
Escrever é sugar de volta o que verte minha essência. É bombear a tinta sacra que corre em minhas pecantes veias. Abster-se disto é um pecado lírico: perece a mente, apodrece a carne e depaupera o espírito.
Eu tenho um livro em branco. Você, uma caneta sem tinta.
A única forma de escrevermos uma história, é com sangue.