Textos sobre Mar

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Como a água do mar lava a areia,
eu quisera ser lavado do tempo em que minha carne é prisioneira.
Como a água leva tudo nas quedas da cachoeira,
quisera lavar os pensamentos que para o mal me norteiam.
Escorrer de mim o que não me faz bem.
Esgotar assim o que me detém, mudar o fim e partir.
Limpo e leve, seguir atrás do que há além.

Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

Beira-Mar

Olhe o oceano.
Sinta apenas a sensação do vento quando bate no rosto e respire bem fundo, o ar que te preenche remove o mal.
Chore agora, como uma criança sem aquele brinquedo preferido,
derrame cada lágrima carregada de dor,
elas estarão pesadas eu sei, e virão com soluço que parece tirar-te o fôlego,
mas elas também removerão o mal.
Agora fique em silêncio, pense em tudo novamente,
está mais leve, não?
Um pouco vazio, eu sei.
Mas agora apenas caminhe.
Olhe toda a imensidão tão bem desenhada por Deus,
quando você olhar o horizonte e ver nada mais que o céu tocando o mar pense que amanhã vai ser melhor,
e mesmo que não seja amanhã,
um dia será.

Sonhe

Sonhe, mesmo acordado.
Viva suas emoções intensamente.
Imagine as ondas do mar.
Olhe o pôr-do-sol...
Olhe para o céu, conte estrelas.
Tome um banho de chuva.
Sorria para todos.
Cante uma canção.
Ouça uma música...
Tome um banho de espuma.
Perca tempo com você.
Lute pelos seus sonhos.
Faça o que tem vontade.
Não tema parecer ridículo.
Mostre o quanto está feliz.
Não deixe de ser criança.
Tenha coragem das pequenas coisas.
Telefone para os amigos e diga:
- Gosto muito de você!
Fale mais: eu te amo!
Demonstre:
- Preciso de você!
Dê uma boa risada.
Compre um presente para você.
Mude alguma coisa.
Esqueça rancores, perdoe.
Permita-se o erro.
Aceite um elogio sem se desculpar.
Sinta-se com direito de brilhar!
Viva com paixão!

Quietude

Eu sempre quis ser o mar revolto com ondas gigantes...

Hoje me alegro em ser um lago parado onde o reflexo de sua água espelha o meu rosto quieto e calmo!


Eu sempre tive uma labareda querendo inflamar a tudo e a todos...

Hoje me vejo como uma pequena chama que o vento balança!

Eu sempre quis ser o céu de alguém ...

Hoje me limito a dividir espaços e já não penso em ser o céu porque tenho os meus pés no chão!


Eu sempre quis ser muito amada, eu lutei tanto por isto...

Hoje tanto faz, eu só quero a minha paz!

Talvez um dia eu volte a querer ser o mar,

e o meu fogo me inflame novamente.

Talvez eu sonhe em ser o céu de alguém

e faça de tudo para ser amada.

Porém por enquanto estou serena

e estranhando esta minha quietude

de não querer mais nada!

O mar está agitado, o vento forte e as ondas quebram sobre o barco.
As ondas levantam o barco que várias vezes quase vira.
E a água invade o varco sem pedir licença.
Não adianta pegar eu balde e tirar água do barco.
Não adianta pegar o leme e tentar driblar as ondas.
Não adianta tentar enfrentar a fúria da natureza.
Essa é uma daquelas situações que o homem percebe que, realmente, não é nada.
O que fazer? Eu me pergunto.
Então eu me lembro...meu Mestre está lá embaixo.
Dormindo, sossegado.
O vento não O afeta, a tempestade não O pertuba.
A fúria da natureza não O assusta.
Nada, absolutamente nada, pode pertuba-Lo
Eu vou até Ele, Ele prometeu que estaria comigo...que me protegeria.
Penso em acorda-Lo mas quando me aproximo vejo uma cena que me deixa impressionado.
Ele está dormindo como um bebê, a tranquilidade em seu rosto é impressionante.
O caus está instaurado, a natureza rompe em fúria e Ele está dormindo.
Nada O abala.
Eu não o acordo...algo me diz que eu não preciso acorda-Lo.
Ele, mesmo dormindo, está no comando.
Acho que é isso que chamam de fé.
Eu me sento ao seu lado, não durmo, estou nervoso demais para isso.
Eu seguro sua mão, afinal, estou apavorado.
Eu recosto minha cabeça no seu ombro, estou exausto.
E de repente me vem a certeza de que, mesmo se tempestade não pare, nós, eu e meu Mestre, chegaremos seguros a outra margem.

A onda

A onda no mar nunca é uma
igual a outra ,todas as ondas
são diferentes umas das outras ,
e vivem em função umas das
outras ,umas
maiores ,outras menores ,
são todas diferentes ,mas
quando unidas tornam-se fortes
e poderosas .
Num instante uma grande onda
torna-se pequena e noutro
instante uma pequena onda
torna-se grande ;
Assim como numa família
todos diferentes mas um vive
em função do outro ,
uma onda abraça a outra e
também chocam-se umas
contra as outras e
estão ali sempre ,quando
afundam é por que deixaram
de ser onda.

e as Ondas

Era noite. O alto mar se enfurecia...
Para o barco veloz que à morte avança,
Não restava uma simples esperança
De incólume rever a luz do dia...

Entre as brumas, porém, da noite fria
Aparece uma sombra, calma e mansa...
Era um fantasma? – Não! – era a bonança
Que em Jesus, como bênção, se anuncia.

Inda hoje o mar do mundo se encapela;
E, no barco da vida, já sem vela,
Não nos resta sequer uma ilusão...

Mas – Senhor! – sobre as ondas revoltadas,
Volta a trazer às almas torturadas
O consolo da tua salvação!

A PÉROLA NA TENDA

Você estava escondida
pérola no fundo do mar
as ondas lhe trouxe
como presente ao luar

agora numa praia deserta
o coração aperta
matar minha saudade
das coisas incertas

saudade contida
coração apertado com um nó
mirando seu corpo suado
conheço cada parte de cor
fazer de uma tenda um harém
harém de uma mulher só

Entre Mim e Ela

Entre mim e ela
Existe um oceano
Peixes, algas, cavalos marinhos
E estrelas do mar.

Entre mim e ela
Existe um céu
Inúmeras estrelas
E uma lua minguante.

Entre mim e ela
Existe um multiverso
Inúmeros cometas, planetas
E um imenso vácuo.

Entre mim e ela
Existe uma multidão
Inúmeras vidas
E tanta gente em depressão.

Entre mim e ela
Existe a filosofia
Kant, Nietzsche, Hume, Platão
Poucas certezas e inúmeras indagações.

⁠Em acordes de sol e sal
cantam as ondas no oceano
enquanto o meu coração
derrama lágrimas te chamando
A saudade dói no peito
diante da imensidão do mar
nele mergulho e sem jeito
quero ir ao fundo te buscar
mas sereia eu não sou
e volto ao meu devaneio
na praia onde a alma esperou
o amor que tanto anseio



Acordes de sal e sol - Metáfora criada pela autora e registrada

Imerso em meus pensamentos:

Às vezes eu sinto como se eu estivesse perdido em um vasto e profundo mar, enquanto as pessoas apenas passam e observam, sem se importar, tudo que eu preciso é que alguém segure minha mão e me puxe para fora, porque a cada minuto que passa, esse oceano de pensamentos e angústias, para o abismo tenta me puxar.

VIRGEM MORTA

Lá bem na extrema da floresta virgem,
Onde na praia em flor o mar suspira...
Lá onde geme a brisa do crepúsculo
E mais poesia o arrebol transpira...
Nas horas em que a tarde moribunda
As nuvens roxas desmaiando corta,
No leito mole da molhada areia
Deitem o corpo da beleza morta.
Irmã chorosa a suspirar desfolhe
No seu dormir da laranjeira as flores,
Vistam-na de cetim, e o véu de noiva
Lhe desdobrem da face nos palores.
Vagueie em torno, de saudosas virgens
Errando à noite, a lamentosa turma...
E, entre cânticos de amor e de saudade,
Junto às ondas do mar a virgem durma.
Às brisas da saudade soluçantes
Aí, em tarde misteriosa e bela,
Entregarei as cordas do alaúde
E irei meus sonhos prantear por ela!
Quero eu mesmo de rosa o leito encher-lhe
E de amorosos prantos perfumá-la...
E a essência dos cânticos divinos
No túmulo da virgem derramá-la.
Que importa que ela durma descorada
E velasse o palor a cor do pejo?
Quero a delícia que o amor sonhava
Nos lábios dela pressentir num beijo.
Desbotada coroa do poeta!
Foi ela mesma quem prendeu-te flores!
Ungiu-as no sacrário de seu peito
Inda virgem do alento dos amores!...
Na minha fronte riu de ti, passando,
Dos sepulcros o vento peregrino...
Irei eu mesmo desfolhar-te agora
Da fronte dela no palor divino!...
E contudo eu sonhava! e pressuroso
Da esperança o licor sorvi sedento!
Ai! que tudo passou!... só resta agora
O sorriso de um anjo macilento!

Ó minha amante, minha doce virgem,
Eu não te profanei, tu dormes pura:
No sono do mistério, qual na vida,
Podes sonhar ainda na ventura.
Bem cedo, ao menos, eu serei contigo
— Na dor do coração a morte leio...
Poderei amanhã, talvez, meus lábios
Da irmã dos anjos encostar no seio...
E tu, vida que amei! pelos teus vales
Com ela sonharei eternamente...
Nas noites junto ao mar e no silêncio,
Que das notas enchi da lira ardente!...
Dorme ali minha paz, minha esperança,
Minha sina de amor morreu com ela,
E o gênio do poeta, lira eólia
Que tremia ao alento da donzela!
Qu’esperanças, meu Deus! E o mundo agora
Se inunda em tanto sol no céu da tarde!
Acorda, coração!... Mas no meu peito
Lábio de morte murmurou: — É tarde!
É tarde! e quando o peito estremecia
Sentir-me abandonado e moribundo!?...
É tarde! é tarde! ó ilusões da vida,
Morreu com ela da esperança o mundo!...
No leito virginal de minha noiva
Quero, nas sombras do verão da vida,
Prantear os meus únicos amores,
Das minhas noites a visão perdida...
Quero ali, ao luar, sentir passando
Por alta noite a viração marinha,
E ouvir, bem junto às flores do sepulcro,
Os sonhos de su’alma inocentinha.
E quando a mágoa devorar meu peito...
E quando eu morra de esperar por ela...
Deixai que eu durma ali e que descanse,
Na morte ao menos, sobre o seio dela!

Como as ondas do mar

Assim como as ondas do mar tem um momento mágico, logo quebram e se vão. As estrelas saem só de noite mas em algum lugar do universo permanecem acesas. Assim como as nuvens mudam, vai mudando o nosso amor. Mas em algum lugar de nossas almas vive em chama na eternidade de um olhar e a simplicidade de uma lágrima.

Assim como não se vê o vento mas se sente e existe, assim é nosso amor, presente em cada momento. E na imensidão do universo, uma lágrima volta a rolar para fundir- se no mar e alcançar a magia de amar.

DIA DA CRIAÇÃO
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.

Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

Vinicius de Moraes
Antologia poética

NAVEGUE

Navegue, descubra tesouros,
mas não os tire do fundo do mar,
o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não
queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele,
mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva,
ela quer cair e molhar muitos rostos,
não pode molhar só o seu.
As lágrimas?
Não as seque, elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse você deve segurar,
não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama?
Guarde dentro de um porta-joias,
tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior
joia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano
muda, se o século vira, se o milênio é outro,
se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver,
não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar
e as portas também.
Persiga um sonho,
mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor,
cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história,
seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas
não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo,
só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos,
mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Caso sinta-se só, olhe para as estrelas:
eu sempre estarei nelas.
Não estão ao seu alcance mas estarão eternamente
brilhando para você!

Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave!

Silvana Duboc

Nota: Trecho do poema de de Silvana Duboc: Link

Perseverança

Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, quando a recolho, descubro que ela retorna vazia. Não há como não me entristecer e não há como desistir. Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam, por dentro, em silêncio: dor que não verte, envenena. O coração marejado, arrumo, como posso, os meus sentimentos. Passo a limpo os meus sonhos. Ajeito, da melhor forma que sei, a força que me move. Guardo a minha rede e deixo o dia dormir.

Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajosa o bastante para não me acostumar com essa ideia. Se gente não fosse feita pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.

Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar. E eu estarei lá na beira da praia de novo.

Canção Da Eterna Despedida

A noite é linda
inda palpita no mar
a lua cheia a se esvair em luar
Vem, ó minha amada
e fica linda e sem véu
como essa lua no céu

Eu sou o mar
Ó meu amor, diz que sim
E vem pousar o teu luar sobre mim
Vem que todo dia
cada noite tem um fim
só para nos separar

Ai, minha amada
madrugada chegou
e a sua luz me diz que devo partir
Mas meu coração
não compreende a razão
de me arrancarem de ti

É tanta a mágoa
desta separação
que já meu corpo chora a falta do teu
Que esses cantos meus
são como prantos de adeus
por me arrancarem de ti.

Tom Jobim e Vinicius de Moraes
Letra da música "Canção da eterna despedida", composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
...Mais

Sou apenas uma gota a mais no imenso mar de matéria, definida, com a capacidade de perceber minha existência. Entre os milhões, ao nascer eu também era tudo, potencialmente. Eu também fui cerceada, bloqueada, deformada por meu ambiente, pela manifestação da hereditariedade. Eu também arranjarei um conjunto de crenças, de padrões pelos quais viverei, e no entanto a própria satisfação de encontrá-los será manchada pelo fato de que terei atingido o ápice em matéria de vida superficial, bidimensional – um conjunto de valores.(...)
Meus Deus, a vida é solidão, apesar de todos os opiáceos, apesar do falso brilho das “festas” alegres sem propósito algum, apesar dos falsos semblantes sorridentes que todos ostentamos. E quando você finalmente encontra uma pessoa com quem sente poder abrir a alma, para chocada com as palavras pronunciadas – são tão ásperas, tão feias, tão desprovidas de significado e tão débeis, por terem ficado presas no pequeno quarto escuro dentro da gente durante tanto tempo. Sim, há alegria, realização e companheirismo – mas a solidão da alma, em sua autoconsciência medonha, é horrível e predominante.

Sylvia Plath
Os diários de Sylvia Plath 1950-1962. São Paulo: Editora Globo, 2004.