Textos que Descreva a Si Própria

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Ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já é uma grande felicidade, porque quase todo o sofrimento provém justamente da sociedade, e a tranquilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial da nossa felicidade, é ameaçada por ela e, portanto, não pode subsistir sem uma dose significativa de solidão.

O que deve fazer alguém que não sabe o que fazer de si? Utilizar-se como corpo e alma em proveito do corpo e da alma? Ou transformar sua força em força alheia? Ou esperar que de si mesma nasça, como uma consequência, a solução? Nada posso dizer ainda dentro da forma. Tudo o que possuo está muito fundo dentro de mim.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Era uma tarde de inverno, aparentemente calma em relação aos dias tumultuosos que se tem vivido nos últimos tempos. Uma época desgastante para todos nós, mas de uma forma mais acentuada em certos indivíduos.
De repente começara uma nova tempestade, algo como já mais alguém imaginara. Tinha o telemóvel praticamente em silêncio quando o sentira a vibrar e ao longe ouvia uma musica suave proveniente do mesmo. Era a minha grande amiga de infância com quem ainda vou mantendo contacto. Precisava de apoio, estava completamente só ninguém queria mergulhar no seu mar de problemas.
Lá fora, a tempestade aumentava de uma forma monstruosa, tinha sido lançado um alerta para a população se manter em casa e com tudo trancado.
Ai começara o tumultuo, de um lado a minha amiga a necessitar dos meus préstimos, do outro a monstruosa tempestade que me poderia impedir de sair de casa. Mas reflecti durante breves segundos e pensei se seria justo deixar alguém que amo que necessita dos meus préstimos em apuros e ficar em casa numa cómoda poltrona enquanto a tempestade passava.
Parei tudo e disse. Não! Não posso ficar de braços cruzados. Vou te ajudar, pois para que servem os amigos se não for para nos apoiar e para nos levar à razão se estivermos a cometer um erro?? Para a diversão qualquer um serve, mas para nos apoiar e criticar, tem de ser alguém importante para nós que nos conheça melhor que nós próprios e que de certa forma seja uma parte de nós. Pois bem, vou a onde for preciso para te ajudar a superar este problema pois se um dia precisar vou gostar que alguém faça o mesmo por mim.
No caso desta minha amiga não havia solução há vista, mas uma conversa, a simples presença ou até mesmo um silêncio singelo ajudaria muito a superar esta barreira. E assim fiz, ofereci a minha presença, o meu apoio e todo o meu carinho. Se muitos fizessem assim a esta altura ela sentir-se-ia muito melhor, mas mesmo sendo só eu ela sentiu-se um pouco melhor e fez com que eu me sentisse muito melhor, pois o sentimento de dever cumprido, de ser útil para algo e importante para alguém, vale muito mais do que uma tarde passada na poltrona perto da lareira enquanto lemos um livro.
Penso que isto é amizade, mas não sei deixem a vossa opinião!

O homem não deve poder ver a sua própria cara. Isso é o que há de mais terrível. A Natureza deu-lhe o dom de não a poder ver, assim como de não poder fitar os seus próprios olhos. Só na água dos rios e dos lagos ele podia fitar seu rosto. E a postura, mesmo, que tinha de tomar, era simbólica. Tinha de se curvar, de se baixar para cometer a ignomínia de se ver.
O criador do espelho envenenou a alma humana.

'Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, diverso, móbil e só, não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, o que passou a esquecer. Noto à margem do que li o que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.'

VIDA E MEDO


Cada um tem o seu modo de estar em paz com a própria vida. Alguns precisam de segurança e outros se entregam sem medo. Não a fórmula para se viver o próprio sonho. O escritor S. Anderson sempre foi rebelde e só conseguia escrever diante de sua rebeldia. Seus primeiros editores, preocupados com a situação de miséria com que Anderson costumava viver, resolveram enviar para ele um cheque mensal como adiantamento de sua
próximas novela. Depois de um tempo, receberam a visita do escritor, que apareceu la apenas para devolver todos os cheques. "Faz tempo que não consigo escrever uma linha", disse Anderson. "Para mim, é impossível trabalhar com a segurança financeira me olhando do outro lado da mesa".


"CADA UM TEM O SEU
MODO DE ESTAR EM
PAZ. NÃO HÁ FÓRMULA
PARA SE VIVER O
PRÓPRIO SONHO"

Acordei a pensar que te is encontrar...
Que nosso amor ia superar...
Tanta inveja e amargura...
Pensei no que ia fazer...
No que nos ia acontecer...
Até que percebi que não há perdão...
É só tristeza no meu coração...
Dor porque te perdi...
Saudade porque desisti...
Amargura porque te desiludi...
Triste por não ser quem desejavas...
A pessoa que mais amavas,
não existe, não a encontro dentro de mim...
Peço perdão por não merecer a tua atenção...

Solidão? O que acontece é que a gente procura os outros para se livrar de si mesma. A intolerável companhia que eu me faço. Preciso dos outros para não chegar àquele ponto altamente intolerável do encontro comigo. Eu sou exatamente: zero. E tanto se me dá.

Conselho: fique de vez em quando sozinho, senão você será submergido. Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.

Clarice Lispector
Borelli, Olga. Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
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Jamais deve buscar a coisa em si, a qual depende somente dos espelhos.
A coisa em si, nunca: a coisa em ti.
Um pintor, por exemplo, não pinta uma árvore: ele pinta-se uma árvore.
E um grande poeta - espécie de rei Midas à sua maneira - um grande poeta, bem que ele poderia dizer:
Tudo que eu toco se transforma em mim.

Sem que eu soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, com o branco dos olhos reluzindo na penumbra. Se eu interrogava, o que você tem amor? Ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele acordo sem palavras.
Nunca imaginei o mal que o roía.

Não adianta ele não vai chorar.
Desapegado das pessoas, mas agarrado à vida. Talvez isso descreva tão bem suas atitudes. Alguém assim não é egoísta, solitário, ruim ou cruel, pelo contrário, se soubessem por quantos ele reza à noite, jamais pensariam tais coisas ao seu respeito. Da vida só quer tempo, saúde e o resto ele da um jeito. Sorrir, inspirar-se, viver é fácil, é simples, é o que faz de melhor. Se você desistir, tudo bem é uma escolha. Se você abandonar, tudo bem é sua vontade. Se você desaparecer, tudo bem ele esquece. Sim, ele vive assim, sai um entra outro, mas os poucos que permanecem, por esses sim ele luta bravamente. Não gosta de desafio? Treinar seu fôlego? Testar sua resistência? Então se afaste. Ele é diferente! Vai chegar quando sua vida estiver bagunçada, triste, destruída e vai te recompor, deixar-te feliz, vai te inspirar e partir. É estranho, mas é assim. Ele não cai, despenca. Ele não aceita, apossa-se. Ele não caminha, voa. Ele vive intensamente, não tem tempo a perder. Ou entra no ritmo ou ele te ensina a dançar. Ou você corre com ele ou ele a carrega. É só abraçá-lo e ir, sem medo, sem dó, no compasso que ele sempre dá um jeito. Mas não sufoque. Talvez nunca o viu chorar, pois pode ter passado muito depressa. Talvez nunca o viu reclamar, pois não ouviu atentamente o que lhe contou. Talvez tudo o que viu nele foi exatamente tudo o que ele não quis que visse. Talvez você ainda simplesmente não o entendeu...

Descreva você. Nunca houve atividade que me deixasse mais emburrada. Como posso lhe afirmar algo de que nem eu tenho total conhecimento?

Bem, posso dizer que sou tímida. Hoje. E talvez amanhã lhe mostrar meu lado mais extrovertido. Um lado novo! Que, talvez, conheça um dia.

Não posso dizer o que já fui, por não ser mais quem sou agora. Não quero agir com hipocrisia! Mas, talvez, possa dizer quem sou no atual presente, no instante atual. No entanto, quem sabe, descobrir algo novo daqui a cinco, dez, quinze minutos E isso mudará quem eu era nesse instante, que de agora, virou passado.

Vou ser sincera, ao dizer que não saberei descrever muitas coisas. Hoje, agora, sou criativa, confusa, atenciosa, intensa e até mesmo receosa. Coisas pequenas que acredito que não mudaram tão fácil. O resto, como ignorante às vezes bruta, quieta e talvez um pouco orgulhosa, pode chegar a mudar, talvez, quem sabe.

A palavra que chegaria mais perto de me descrever agora seria descoberta. Essa dai, eu sei que não mudará tão fácil. Mas, seu significado me submeterá a mudar diariamente. Descobrindo partes de mim que nem eu mesmo saberia descrever. A palavra em si, me coloca em uma grande dúvida. Me descreveria mais como um mistério. E se o ego subir demais, me compararia, eu e a minha vida, à caixa de pandora, repleta de segredos. Quem sabe, talvez, seja isso mesmo. Porém, afirmo-lhe não sabereis até quando vão durar essas descobertas, então até lá, será difícil explicar em palavras exatas, quem eu sou.

A proposta de autoavaliação dada a mim seria mais exata se questionasse sobre o instante atual. De uma forma explicativa e direta me perguntar, quem você é agora?

"Se um dia, me fizessem o seguinte questionamento,
-Descreva a moça em uma só palavra.
Eu provavelmente pensaria por alguns instantes e chegaria a seguinte resposta.
-Não consiguo, pois, não existe em nosso vocabulário uma única palavra que possa descrever tanta simpatia, beleza, humildade, carisma, alegria, que chegue a ter a ousadia de se comparar com aquele sorriso, e acima de tudo a incrivel capacidade de preencher toda a parte vazia do meu ser.
Eu sei que Eu Te Amo, não diz tudo, mas eu estou disposto a provar que posso, e quero, merecer este amor.
T Amo!"

Ninguém sente em si o peso do amor que se inspira e não comparte. Nas máximas aflições, nas derradeiras do coração e da vida, é grato sentir-se amado quem já não pode achar no amor diversão das penas, nem soldar o último fio que se está partindo. Orgulho ou insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência..

Camilo Castelo Branco
BRANCO, C., Amor de Perdição

Talvez a miséria tenha chegado. Não se pode viver da própria alma. Não se pode pagar o aluguel com a alma. Experimente fazer isso um dia. É o início do Declínio e a Queda do Ocidente, como Splenger dizia. Todo mundo é tão ganancioso e decadente, a decomposição realmente começou. Eles matam gente aos milhões nas guerras e dão medalhas por isso. Metade das pessoas deste mundo vai morrer de fome enquanto a gente fica por aí sentado vendo TV.

Portanto, entre querer e alcançar, flui sem cessar toda vida humana. O desejo, por sua própria natureza, é dor; já a satisfação logo provoca saciedade: o fim fora apenas aparente: a posse elimina a excitação, porém o desejo, a necessidade aparece em nova figura; quando não, segue-se o langor, o vazio, o tédio, contra os quais a luta é tão atormentador quanto contra a necessidade.

A vida e o universo confundem-se com a própria essência do tempo – o tempo que, por sua vez, é sem começo nem fim, sem essência, sem natureza ou desnatureza, até mesmo sem medida. A vida é como o tempo. O tempo que não se percebe, o tempo que nunca foi nem será. O tempo que simplesmente é. Eternamente, é.

Existem pessoas que convivem anos conosco e além de pouco que representam, não deixam sua lembrança em nossos corações.
Outras, ao contrário, surgem repentinamente em nosso caminho e sem que se espere gravam seu nome em nossa existência, fazendo tudo que não tinha valor, ganhar brilho do amanhecer ao entardecer...
Enfim...
... Você é esta pessoa...

Andando com a solidão
Me questiono como homem
Retrato do Divino Espirito Santo

sorriso para a raiva
alegria para a tristeza
É o que estou sempre a cantar

E quando não canto
O vento me traz
Lembranças da minha infãncia
Coisas alegres de criança

De pulos e passos
Continuo a Caminhar
A solidão não mais existe

A harmonia, a paz e a alegria
Agora, são apenas uma simples parcela
Da riqueza divina que habita o meu coração.

Inserida por Valcasmalopes

Quasímodo sentia mover-se dentro de si uma alma feita à sua imagem. Essa desgraça em que vivia tornou-o mau. Era mau porque era selvagem, era selvagem porque era feio. Mas não nasceu malvado. Desde muito cedo sentira, por parte dos homens, o escárnio, o espezinhamento e a rejeição. Só encontrou ódio ao seu redor.

Victor Hugo
HUGO, V., O Corcunda de Notre Dame