Textos para Refletir
Gente feliz e gente triste. Tem gente que sorri de nervoso e gente que chora de saudade. São encontros e despedidas. São lugares que nunca fui e lugares que voltei.
É adulto virando criança, é criança tendo que se comportar como adulto. Revista daqui, revista dali...compra uma revista e dispara o alarme. É aquela voz chata da comissária de bordo anunciando o vôo, mas não era o seu. E o tempo vira o seu melhor amigo e o jeito é esperar....esperar. Faz o sinal da cruz e pede proteção a Deus. Aproveita que você vai estar mais perto dele, no céu,bem alto.
Vai com o coração cheio de saudade e cheio de esperança, sem medo dos caminhos que vai percorrer. Acho que chegou a hora de embarcar. Boa viagem.
Hoje eu decidi que não vou mais escrever. Aliás, decidi que não vou mais falar com ninguém. Decidi que vou passar pela rua e não cumprimentar ninguém, não darei mais bom dia e nem boa noite. Não darei meu lugar a nenhuma senhora idosa e nem a nenhuma grávida. Não distribuirei sorrisos falsos,nem apertos de mão e também não pedirei mais por favor nem com licença quando eu passar.
Decidi viver dentro de uma bolha onde as pessoas passarão por mim e não me verão, assim não precisarei mais falar com elas. Não quero ouvir os problemas de ninguém e muito menos dar conselhos sobre namorados ou que faculdade você deve escolher pro seu futuro. Ah, e também não quero que você me pergunte se estou bem porque todo santo dia vocês me perguntam a mesma coisa. É tudo sempre tão igual, sem mudar nada em perfeita sintonia. É como se fosse uma regra a seguir, dar bom dia, por favor, com licença e obrigada.
Por acaso seguir essas regras deixou alguém mais educado? Não, pelo contrário. As pessoas que acreditam que dar um sorriso, mesmo que seja falso, é sinônimo de simpatia está errada como a mesma pessoa que acredita que pode fazer tudo errado que depois é só ir a igreja pedir perdão aos pecados que tudo será perdoado.
As regras da “boa educação” não mudaram você para melhor. Apenas te fizeram uma pessoa mecânica que mesmo quando está sentindo uma enorme dor por dentro ou explodindo de felicidade, sempre vai seguir as regras de ser apenas sociável. Ser sociável não vai te tornar civilizado. Não adianta defender algo que julgas errado, agredindo com mil pedras na mão aquilo que te incomoda. No fundo, você sabe que aquilo que te incomoda, é porque talvez se viu naquela situação detestável que você nunca imaginou estar. Não procure ser perfeito porque você não será. Não finja ser quem você é e não julgue para não ser julgado.
Não diga que não gosta de algo só porque tem vergonha do que os outros vão pensar. Não segure o choro quando a sua vontade é de gritar e se espernear. Não finja que não é com você quando alguém te perguntar algo que você não gostaria de responder. Não seja hipócrita quando você comete o mesmo erro que a pessoa que você julga. Não cuspa pra cima, pois na maioria das vezes cai na testa. Não se vista de máscaras, porque uma hora ela pode cair. Lembre-se sempre, que você não é de ferro e que dentro de você, além de um coração, deve existir um cérebro. Aprenda a usar os dois e seja muito feliz.
Se o tempo não tem gosto, pq tão amargo?
Se não tem cor, nem forma, pq tão feio?
Se é tão rápido, pq tão lento?
Se é sempre tão preciso, pq tão perdido?
Se é o futuro, pq o presente?
Se é o passado, pq passou?
Tempo.
Quem é você afinal?
Tá roubando, ou tá me dando?
Me criando, ou me matando?
Tempo,
Não sei quem é você,
Mas você poderia ser mais legal.
'CASAMENTO'
Era magro como os arbustos secos.
Olhos turvos.
Sorriso deformado no caule.
Pele escura queimada ao sol.
Desprezível na altura.
Camisa de botões aberta acima até embaixo,
surrada.
Na parte de baixo,
vestira algo como um bermudão maior do que lhe coubera,
amarrado com uns cipós enfraquecidos.
Facão enferrujado,
andar distorcido...
Morava nas matas,
sentia-se dono.
Receoso de diálogos.
Mãos calejadas e aspecto casando.
José plantava moisaicos,
cozia na lenha molhada.
Asfixiava peixes com as mãos.
Engolia banho de rios.
Pouco insinuava na terra seca que morava.
Colhia o que lhe davam,
tinha poucos afetos...
Intacto na linha do tempo,
José não tera casamentos,
conjugou-se com as quimeras,
chapéus de palhas.
Vivera a vida acaçapado,
perdidos entre matas.
Cantando entre pássaros,
criando melodias de uma 'vista perdida'.
Lá no fundo,
não afirma ser feliz ou se a vida é um tédio.
Sabe-se que tem nome forte,
e uma ostentação no respiro,
nada cotidiano visto por fora...
'ESTRANGULA-TE'
Molha teus pés nas praias desertas.
Elas te esperam medonhas,
curvando calor,
chuva,
vazão.
Pede morada nas pequenas cabanas,
enche-as de relíquias,
adormece.
Estrangula-te enquanto há tempo....
Cobri-te de vaga-lumes,
corre de encontro aos rebentos,
paredes de afagos.
Submerge a cabeça nas águas passageiras.
Suspira-as.
Engole o que te inflama olhando teu reflexo extraordinário,
repentino...
Donde vai tão mesquinho?
Sufoca-te e vê as neblinas até onde te sustentam.
Devora as flores que te contornam sentindo os contratempos nas hemácias!.
Celebra a vida com jeito de criança e a credulidade de quem dorme,
rescendendo montanhas,
terras molhadas...
'MADRUGADA FRIA'
A vontade era ser livre,
prosseguir com paladares,
coisas estranhas.
Livretos.
Histórias...
Advento,
a madrugada trouxe brusca trajetória,
destruíra pontes.
Não vira mais o rio que respira,
tudo outrora...
Esvaiu-se o tempo para compilar resumos,
resenhas.
Ficara tudo a fazer,
construir,
planejar...
Dilúvio!
Porquê permanece frio adentrando embaraços?
Sem avisar!
Meu sorriso esparramar!
As poucas horas findar!
Crivou-me às entranhas.
Plantou espaços,
saudades.
Abraçou-me e recusei.
Contou-me a última história e não tive interesse...
Aprisionou-me cativo.
No final a escurecer,
sem trilhos/avisos.
Tantas folhas perecer,
não haverá outra estação?
Saí de mim causadora leveza!
Leva teus faróis degradantes que planejou-me às escuras,
sem brilhos,
saídas.
Despir-me aquém essa misura?
Olhares no cômodo quadrângulo me despem,
mui reflexivos que eu.
Aguçados no coma que persegue.
Tristonhos,
silentes...
Aflições ou outros dilemas,
a ferida sempre finda.
Mera calada!
Pobre nos temas.
Geralmente na arquitetura não desejada...
Chegara o ápice dos velhos minutos,
já respiro águas brandas ,
metais desconhecidos.
Serei divindade em outras chegadas?
Mendigo?
Liberto estou das amarras,
o espírito não abandonei!
Eis o maior sarcasmo da vida:
trilhar novos caminhos/novos rumos,
não sei!!!
+++
Homenagem a mais um 'grande amigo'...
Que se foi (Jack)...
‘ÁLCOOL’
Às cegas, a cozinha definha.
Sozinho, a madrugada consome.
O gosto de vodca tem fome.
Paredes anunciam rotinas.
No estômago, a água declina.
Desequilíbrio a cabeça tortura.
Na vida, tudo amargura.
Vulneráveis pernas toxinas.
Metafísica a cadeira suporta.
Reflexos viajam no fardo.
Não atendera vozes de portas,
Ou sentimentos desesperados.
O vazio fingiu-se, desbota.
O álcool ficara calado!
'INIMAGINÁVEL'
Escrevo o inimaginável como quem compõe esboços na areia,
solto nos grãos,
livre de quedas,
Amparo-me às tantas luzes que se sacrificam,
homogêneas e dispersas,
luas lêvedas.
Imagino o mar acuando montanhas,
abatendo e aliviando correntezas.
Aconchego de calmas,
libertando prisões,
ventanias!
Assim crio,
sem tantas alegorias ou parâmetros,
figurado,
mortal...
Sucinto o inimaginável que peçonha o peito,
e rói uma habitude sempre infinda.
Posso ser íntimo,
campestre.
Rei,
miserável.
Os cárceres perguntam algo totalmente desfigurado,
invital.
Sou inimaginável,
mas cultivo existência.
Apascentando os supetões dos grande e pequenos alpendres,
avanço calmaria,
sem ode,
ou tesouro algum...
'SEI LÁ![2]'
Quero-te sei lá!
Convencional.
Inverídico.
Amar-te-ei como o mar?
Quero-te silenciosamente,
embaralhar...
Partículas no ar.
Sei lá!
Deletar meu coração.
Abrir corpos,
tencionar.
Insinuar outro mar...
Quero ausência cingir!
Titubear,
não só teu olhar.
Maquino detalhes,
litorais...
Sei lá!
'LUA'
O veneno corre,
vivificador febril nas entranhas,
covil dos tentáculos envoltos na alma.
O amarelo,
fogo brando.
Simetria de mudos mistérios...
O pequeno rio barulha,
a pobre visão carapuça.
Hora de acordar!
Esquecer!
Adormecer inquietudes,
redemoinhos...
O andar às escuras,
extinguindo flores.
Flores absolutas!
Múmias juntos à acinzentada lua.
Refletora de luz,
horto na escuridão...
Porque tantas flores perecidas no escuro?
Se bem que o clarão já não importa.
Aqui distante,
loucos matam todas as formas,
lua míngua/futuro.
Homem inexpressivo no muro...
Tudo confuso!
A lua desencanta-te.
Fita-te ao horizonte,
é a muda esperança.
O pairar de mais um painel:
'o pincelar na lua minguante'...
'Traçado de homens flamejantes',
pronunciando-se ao glacial,
acidental.
Embaralhando neblinas,
as tantas luas que se foram,
pontos na velha retina...
O mundo paisagístico revela algo sinistro:
Lua Negra tão pequenina,
vagão!
Um curvar-se ao pequeno ponto!
E o traçado atônito,
imensidão na palma da mão?
'AMOR MACRÓBIO'
Sinto o amor de uma forma
tão errônea, tão moldada,
tão sonhada, tão tristonha.
O amor que outrora voou.
Outros estão florescendo.
Não cabem no peito da dor!
Mas sinto-o das formas tão
variadas. Redondo, quadrado,
túmido, medonho. Ah amor!
Sinto-te ainda sepultado.
Fulgente nas estrelas!
Antiquado nos enamorados.
Quero-te amigo, opoente,
dormindo, acordado! Tônico
e dormente. Hesitando as
tantas moradas em mim...
'NATAL HODIERNO'
Não sou de ficar empolgado com o Natal, considerado pela maioria das pessoas, importantíssimo. Mas sempre fui de participar e contribuir de alguma forma para as reuniões da família todos os anos. Olhando de alguns ângulos, cheguei a conclusão de que esse ano eu não quero Confraternizações Natalinas! As pessoas não estão preparadas para tal, sequer sabem seu real significado.
O Natal teria de ser um ponto de partida para a mudança individual e coletiva. Reflexões à cerca dos nossos atos como seres humanos. Apertos de mãos e abraços sinceros. Se bem que esses pequenos [grandes] detalhes deveria acontecer constantemente e não apenas na data prevista. Mas o Natal proporciona essa reunião familiar tão querida, que às vezes pode demorar anos para acontecer, mas que de um modo geral, é apenas mais uma 'reuniãozinha qualquer de alguns parentes distantes ou próximos.'
Por falar em proximidade, há aqueles que moram tão próximos (dos parentes) que são verdadeiros ausentes; irmãos que não se respeitam; outros, literalmente abandonam os pais e só servem para criticar; outros são ardilosos em enganar sua prole sem quaisquer escrúpulos. A irrelevância é uma barbárie diária nas famílias. Não quero o Natal! Não pelo fato de ser uma Festa Capitalista ou uma estratégia antiga da Igreja Católica que deu certo, mas pela simbiose que não existe entre as pessoas; pela demasiada falta de respeito que à antecedem; e pelos tantos panos negativos estampados à nossa frente na maioria das famílias falidas.
Há um trecho da bíblia que relata: 'chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.' Natal é sinônimo de humildade, simplicidade e celebrações verdadeiras. Nada de pompas ou desavenças familiares. O espírito natalino tão falado, caiu em desuso. Não mais existe! As pessoas extinguiram a transformação que teria de começar de dentro para fora, mas que sempre é o contrário, não fazendo nenhum sentido fazê-lo.
'VOCÊ II'
Arrumas o cabelo,
ondulados percorrendo em mim,
assim como os mares,
nas correntezas da primavera.
Inunda-me de abraços,
beijos,
costelas!
Gesticulosa e salinizada,
quero-te inesperada!
Prendendo-me com teu cabelo negro e esbanjador.
Suaviza-me a dor,
enche-me de cores,
teus mares,
borboletas...
Ás vezes eu paro e penso: - Qual o verdadeiro sentido da vida ?
Perder um ente querido é terrível, penso também no dia em que eu tiver que passar pelo sofrimento da dor e da morte. Morrer deve ser tão doloroso e assustador, a existência e realidade cotidiana por si só já é tenebrosa.
Muitas pessoas podem dizer: Mas você tem que aproveitar os momentos aqui na vida, fazer o bem e ajudar o próximo. Exatamente. Mas, e depois que tudo isso acabar?
'DEUS'
Deus é 'interpessoal'.
Arquétipo imprescindível aos homens.
Arquiteto nos jardins privados.
Moldando passagens,
ínfimo na sua pomposa majestade...
Deus é 'gabarito'.
Flutuando com suas respostas.
Ritos e arritmias criando vastos monumentos.
Energia em versos,
sentimentos...
Deus é 'vereda',
inesperado.
Folhas que caem despercebidas.
Terra prometida,
chuvas ácidas...
Deus é 'humanitário',
plantando bondade nos corações dos homens.
E os homens,
com definições patéticas,
criando desaires...
Deus é o 'mundo'!
onde tudo caminha para guerras,
Invólucros homens corruptos,
corações de pedras,
microscópio...
Deus é 'criação dos homens'.
Latifundiário.
Comandando cenários.
Literário quando o assunto é,
salvação...
Deus é 'humano',
sicrano desmedido.
Inevitável no hora da morte,
no amanhecer.
Sublime quando o objeto é remissão...
Deus é 'interior',
pintado nas galerias presumidas.
Sabor imanente,
hermético.
Prognóstico dos homens...
'O RIO SEMPRE CORRE'
Os rios sempre correm,
nos olhos correntezas tropeçam.
Pupilas pequenas,
peixes artificiais.
Puro 'eu' no espectro da cena...
Canoas enferrujadas,
abotoadas no leito caído.
No remanso,
limbo de abelhas,
insetos praguejando tormentos...
Da janela,
carnificinas estilhaçam o peito amarroado.
Sou agora fúlgidos ferimentos,
perdas no espaço,
loucos sentimentos...
Curvas infinitas,
nas ilusões deixadas nas noites.
Rios permearão,
nas pernoites passadoras,
nas auroras de essências deixadas p'ra trás...
Sonho carnes cruas e mera existência,
sequelas jogadas nas ruas.
Sons nas madrugadas digerindo utopias.
Tudo se foi com os ventos,
deveria!
Reflito à montanha calado,
presente gladiador em revoltas,
águas revoltas nas nuvens.
Serei contornos sem inspiração,
ausência de rotas no alvorecer...
'DIFERENTE'
Tudo ficou diferente,
após o aluvião.
Aos doze,
cicatrizes se abraçam.
Turbilhão de andorinhas,
voando sem direção...
Obstante,
a semelhança é vil.
Raios solares duplicados,
os ares são os mesmos navegando bordões.
O tudo vira nada.
A sacada são rodas dentadas...
Ambíguo o empírico,
a diferença está nos sonhos.
Olhos recíprocos!
Nas mãos olhando p'ra cima.
A diferença está na breve humildade,
no simples homem despojado...
'O TEMPO DO MUNDO'
Acordo às seis da manhã,
e quando olho p'ro mundo,
já é madrugada nas horas que passam...
O relógio pouco importa.
Raios já ultrapassaram-me.
Estou sem cordas vocais...
Sempre pela manhã.
Dou um abraço no filho pródigo p'ra que ele não se perca nas veredas.
O abraço ficara pendurado no caminho...
Olho para os lados,
e sempre vejo ela,
cabelos brancos no tempo...
E a vontade é sempre abraçá-la.
E falar-lhe do amor que explode na alma.
Mas não tenho...
Sou arte mal acabada.
Que pragueja as rotinas que vêem ao despertar.
E o grito sempre ecoa calado...
No rio o grito abafado.
Com suas tralhas penduradas.
Sem peixes para alegrar o sorriso...
Apaguei os fogos que surgira.
E adociquei a salada de alecrim.
Com certa pitada de paixão...
Mas o tempo escorrega pelas mãos.
Como o rio inerte passando à minha frente.
O mundo vai ficando propenso...
Desmedido quando a vontade é amá-lo.
Desbrotar-lo-ei ao extremo.
Se seguir estrelas vãs...
Temos todo o tempo do mundo.
Mas a vida é passageira.
Tinha dez anos e agora sessenta...
Nem tudo se sustenta como desejamos.
Tínhamos tantos planos.
E um amor na janela...
E agora só dores sequelas.
A porta sempre aberta.
O vento trazendo as cinzas...
Lembrei-me quando menino.
Subindo montanhas.
Pegando pescados...
Sem medo dos rios.
Ou do tempo distante.
Sendo abraçado por todos os lados pela mãe...
As esperanças terminam.
Como as relvas queimadas.
Não há brotos nas terras disfarçadas...
Apenas o tempo que se perdeu.
Não se sabe como.
Talvez na escassez...
Ou na breve lucidez de se tornar imortal.
Na falta do pão para alimentar a alma.
Nas palavras não ditas ficadas p'ra trás...
O amanhã será passado.
Perdido na criança que se alegra.
Serei pó nos nascimentos que virão...
Imortalizado nos filhos.
Não mais a figura que poucos viram.
Talvez a roda não deveria ser dentada...
Espalhando águas.
Jorradas pela manhã.
Nessa ilusão que um dia morrerá...
'CERTO DIA'
No fim das contas ela sabia de tudo! Sabia que iria para um lugar que ninguém sonha. Lugar de pessoas medonhas. Ninguém se importam muito umas com as outras. Estão muito ocupadas para isso. Quando se tem tempo, gasta-se como quer, plantando e espalhando cicatrizes paradoxas...
Não dá para ignorar os infortúnios da vida! Eles veem quando menos esperamos. Logo ela que, creio, não merecia! Lavou, passou, fazia comidas das mais agradáveis quando pudia. Era atenciosa com o homem da casa. Sem perceber, as doenças lhe atacara. Tinha vida pacata, exceto por um vício que nunca deixara...
Todo mundo tem vícios, pensara! Pelo menos um deve-se ter nesse corre corre contemporâneo. Homem sem vícios parece não ter muito sentido. Não teve filhos como a maioria das mulheres. Não sei se, seu futuro rebento agradeceria-lhe, mas confessou-me algum dia: falta ou diferença pouco fazia. Colocar filho no mundo e tentar moldar-lhe não é tarefa fácil...
Já cuidara de crianças de outros pais e dera muito amor de mãe. Seus caminhos findaram como a água de poço no verão. Sua face não esbanjava felicidade. Isso soa meio clichê, talvez constrangido. Não se fala de algo que parece tão distante dos olhos. Ela sorria feito criança, brincara nas calçadas da vida. Sempre próxima, parecia distante...
Dia atrás, o mundo virou-lhe às costas. Não parecia ser grande problema. O emblema é que: o mundo sempre deixa-nos à ver navios. Isso acontecerá com todos, sempre dissera! Apenas acho que ela não teve muita sorte com o tempo. Bem, ela poderia estar entre os sortudos. Desses que apostam tudo, e não têm medo das consequências...
Certo dia seus olhos fecharam de vez e hoje, depois de algum tempo, não é muito lembrada. Talvez isso faça ou não faça alguma diferença. A receita para vida se aprende em pouco tempo. O amanhã é coisa que não nos pertence. Os aprendizados tornam-se palavra de bolso, sem muita praticidade. Mas a verdade é que, o vilão sempre será o tempo, correndo nas mãos...
Tentara de tudo, desde jogar as pedras que tinha nas mangas e beijar o infinito, mas não foi mais possível. Deitada, descobrira que seus ciúmes fora em vão. Que suas raivas não tinham sentidos. O seu lar ainda esconde imenso aprendizado, não ensinados em faculdades. Perdeu todas as arrogâncias e os bens que planejou. Seus pés não mais tocam os chãos, e os seus braços não abraçam. Perdera àquilo que nunca ganhou...
Mas as frase de bolso ainda perduram em alguns corações. A vida parece tão, mas tão pequena! Um dia sentiremos falta dos amores que nunca tivemos e da essência das flores que não cheiramos. Falta dos abraços das crianças ainda vivas no peito. Falta da vida, dessa que sempre sonhamos. O hoje será esquecimento. Amor findo. Brisa leve jorrando solidão. Algo nada inspirador no escurecer...
'POBRE CRIANÇA'
O destino abraçara o pesar.
Filme à céu aberto,
estampando o prato bestial do meio dia.
Mãe à tiracolo,
sem colo para aquecer o frio matinal.
No ônibus milhares de fúteis paisagens.
Quatro da manhã e sete anos de pura espontaneidade,
sem tantas respostas,
o garoto fez-se homem de idade.
Não decorou ruas paralelas,
nem fadas.
O menino nascera do nada,
criança prodígio...
A vida era-lhe autêntica,
miragens.
Hoje microfilmes.
Turvos dias apenas!
O estômago embrulhara os ecos.
Risos soltos - projeções -,
sem foco,
reflexos.
Infância corroída nos aluviões,
perdido como pedras nos rios profundos.
Os dias não tinham porquês,
longe as expectativas,
tudo vinha meio sei lá pra quê...
Casa de palha.
Entulhos e panos ao redor de uma vida baldia.
Que chatice!
Hoje tem escola.
Mas a barriga ainda ronca.
Vazia de futuro
uma,
duas horas.
Sou mais meus carrinhos de latas!
Fico a Imaginar outros meninos,
fortes e fartos à vontade.
Fazendo trajetória,
futuro promissor...
Histórias sem leitores.
Quase nada mudou!
Apenas retrocesso,
do processo circular estagnando e definhando pessoas.
Sou da lama,
quem se importa?
Trilha sonora nas mãos,
faço lúdica às minhas memórias.
Atual leitor de um mundo melhor.
Ainda inventor,
correndo nas chuvas.
Íngreme em chamas,
utopizante em vitórias...