Textos Maes Carlos Drummond

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O CAFÉ SABOROSO DO ZITO


De uns tempos pra cá adquiri o prazer de um bom cafezinho. E não foi depois de ter ouvido que café faz bem para o coração. Para preservar a saúde tenho outros meios melhores.
Estou tomando o meu cafezinho diário. E não é aquele do trabalho, politicamente correto, mas sem poesia.
Meu café é um café transcendental, razão pela qual, quando posso, vou até os “cafés” tradicionais da cidade para saborear um bom expresso.
Ao contrário do cafezinho do trabalho, sempre funcional, este outro tem uma evocação especial: as lembranças de meu pai.
Como o pai gostava de um saboroso café!!! Ele mesmo comprava a sua marca predileta. Ele mesmo o preparava do seu jeito e o saboreava na sua caneca favorita.
Tenho bebido um bom cafezinho todos os dias. E com o café, as memórias de meu bom pai e suas histórias saborosas.


Carlos Alberto Rodrigues Alves

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SUELY DO ZITO

“Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.” M. Quintana
Meu pai:
Como o Senhor sabe, a Suely foi embora também. Pouco depois do pai. Ela não agüentou a “maldita”.
Tentamos de todas as maneiras deixá-la em pé. Valeu a presença dos médicos, dos pastores, das famílias…Mas não deu! O pai tinha razão, ela estava com os dias contados.
Uma vez eu disse pra Suely: “ O pai vai partir antes da mãe”. Acertei! Mas errei ao ignorar que ela iria, de imediato, acompanhar o pai.
Há um ano dei-lhe de presente um belo chapéu francês. A idéia era encobrir as marcas anti-estéticas do seu tratamento. Quando mais jovem ela era tão vaidosa!
Deixo gravadas as imagens de nós três: o apelido carinhoso de “Chó” que o pai lhe deu quando criança, as músicas que a gente tocava para ela e a “visita saideira” em sua casa, quando, sabiamente o senhor lhe disse “ Adeus”.
A exemplo do que fiz em relação ao pai, agradeço a Deus sua partida. Difícil estava sendo vê-la sofrer. A Suely em seu estágio final era o retrato da tristeza.
Agora, livre da dor, ela mora em nossa saudade, com as imagens mais bonitas da vida.
Nadir, Felipe, Taís e Aline, vamos inventar juntos, esperanças pra viver!…


Carlos Alberto Rodrigues Alves

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JONAS DE ARAGUARI

Poetas, seresteiros, namorados...
Todos vós que assentais junto ao rio Jordão...
Vós todos que salmodiai na embaixada dos papagaios...

Peço-vos licença para algumas coisas:

Primeiramente, para pontear na viola um canto de paz pela vida. Acontece senhores, que nesse primeiro-de-ano que se aproxima, como ocorre há 75 janeiros, um homem-de- bem e que traz em seu nome o sentido da paz, verá mais uma vez seu povo congregado para celebrindar a vida-que-lhe-renasce-todos-os-dias. Por isso peço-vos que anuncieis nos sinos das catedrais que vai rolar a festa na casa da dona Waldete.

“O povo do gueto mandou avisar
Pode vir, pode chegar
Misturando o mundo inteiro
Vamos ver no que é que dá
Tem gente de toda cor
Tem raça de toda fé”


Peço-vos licença também , para registrar no cyberespaço que ele é meu amigo. E isto não por causa da cor da pele, não por causa do tempo que passamos jogando conversa fora e nem tampouco pelas nossas afinidades futebolísticas. Nossa amizade é coisa gratuita, coisa além do tempo e do espaço... A ele lhe cai bem o poema de Oscar Wilde:

“Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto
e velhos, para que nunca tenham pressa”.

Finalmente, peço-vos licença para agradecer a esse devoto-do-divino, os belos retratos de sua sagrada família, fotografados pelas suas lentes-do-amor na página do Orkut e sintetizadas na auto apresentação desse poeta-profeta:

“Jonas Alves da Silva, brasileiro, casado, advogado.
Tenho dois filhos casados, dois netos, uma neta e um bisneto.
Minha esposa há 50 anos e para sempre,
Waldete Tilmann Ribeiro da Silva
(Bodas de Ouro - 2 de maio)”

Isso é uma declaração de amor! E como diz seu conterrâneo Drumond, nas suas maravilhosas sem-razões do amor:

“Amor é dado de graça
com amor não se paga
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse...”

Por isso mesmo Marcão!... No descortinar da próxima quinta-feira, deixe um pouco de lado seu Vademecum! Marcinha!... Manda preparar os pãezinhos de queijo! Pedroca!... Aperte o agogô e afrouxe o afoxé! Você Guilherme!... Libere seus colares coloridos! Enfim... Poetas, seresteiros, namorados de Araguari:

“Esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros
que nós queremos sambar”

É chegada a hora de escrever e celebrar o ano novo que “cochila e espera sempre” no coração menino-e-valente do mestre Jonas.
Parabéns mano velho! Para você a benção dos celtas:

"Que a sorte das colinas te abrace.
Que teus bolsos estejam pesados e teu coração leve.
Que a boa sorte te persiga,
e a cada dia e cada noite tenhas muros contra o vento,
um teto para a chuva, bebidas junto ao fogo,
risadas que consolem aqueles a quem amas,
e que teu coração se preencha com tudo o que desejas".



(Homenagem da família ao amigo nascido no mesmo ano em que nasceram Rubem Alves, Eva Wilma, Lourenço Diaféria e Garrincha)

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SOBRE O ANO NOVO

Ano velho vai, ano novo vem... O eterno ciclo da natureza, fiel ao seu moto contínuo, mais uma vez deixa nos calendários a marca dos dias que já não existem mais.

E mais uma vez estamos a rodopiar, como um Bolero de Ravel, fazendo variações sobre o mesmo tema que nos é dado todo dia, a toda hora, a todo instante...

Por um instante sou tentado a pensar no tempo como uma cravejante navalha que sulcra e espalha, impiedosamente, marcas desalmadas pelo meu corpo. Mas depois, sou consolado de modo benfazejo, por um dos meus poetas favoritos:

“ Nossos dias são preciosos,
e com alegria os vemos passando
se no seu lugar encontramos
uma coisa mais preciosa crescendo:
uma planta rara e exótica,
deleite de um coração jardineiro,
uma criança que estamos ensinando
um livrinho que estamos escrevendo... ”

Depois me convenço que um ano novo só é novo se o dia que se chama HOJE for novo também. Arrisco, então, umas notas no meu pinho e peço ao Senhor do Tempo que todos possamos ter um feliz ano novo para veranear os invernos dos nossos outonos.

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BOM PRINCÍPIO

Passei o “ bom princípio” no meio do mato, com o cheiro do capim-limão, nas barrancas do Paranapanema. Sem foguetórios, sem TV, sem comilança!
Era-me necessário fazer, sem nenhuma bravata, um poético e silencioso protesto contra o inferno-nosso-de-cada-dia;

Passei o “ bom princípio”, no meio dos sapos, dos martins-pescadores e dos pirilampos. Sem músicas breganejas, sem novelas e sem arruaças!
Era-me necessário fazer, sem nenhuma piequice, uma saudação à família, à natureza e à minha viola;

Passei o “ bom princípio” no meio do vale, com o sussurro das águas, envolto aos devaneios dos sacis-pererês. Sem relatórios piedosos, sem sacerdotes por perto, sem salamaleques!
Era-me necessário fazer, sem nenhuma igrejice, uma confissão-de-fé-diferente para o ano novo.

Por isso cantarolei, sob os acordes da viola caipira e com a alegria luxuosa dos compadres que conheci, meu salmo-caboclo, em altíssimo astral:

SARMO VINTE E TREIS

O sinhô é meu pastô e nada há de me fartá
Ele me faiz caminhá pelos verde capinzá
Ele tamém me leva pros córgos de águas carmas
Inda que eu tenha que andá
nos buraco assombrado
lá pelas encruzinhadas do capeta
não careço tê medo de nada
a-modo-de-quê Ele é mais forte que o “coisa-ruim”
Ele sempre nos aprepara uma boa bóia
na frente de tudo quanto é maracutaia
E é assim que um dia
quando a gente tivé mais-prá-lá-do-que-prá-cá
nóis vai morá no rancho do sinhô
pra inté nunca mais se acabá...

Êêêêêêtttttta sarmo bão sô!!!

Vi então que o sertão compreendeu e o ano novo amanheceu em paz...

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SOBRE O ANJO DA MORTE QUE ME RONDOU

O filósofo-educador Edgar Morin, autor de "O homem e a morte", lembra que a ciência que pesou o sol, continuou como que intimidada e trêmula diante do outro sol, a morte.

Não é o meu caso! Tenho uma hiper-consciência de minha finitude. Por isso não tenho medo da morte! Aprendi isso com meu pai que, antes de morrer me pediu , enfaticamente: “ Meu filho, coloque no meu túmulo esta frase ‘ aqui jaz alguém muito a contra gosto’”.

Digo isso como prelúdio a uma informação a meus amigos. Fui visitado esta semana pelo anjo da morte. Não morri como prova esta página que estou escrevendo!
Mas estive quatro dias nos porões do Hades, na UTI. Suspeita de enfarto, angina, veia entupida, seja lá o que for, problema cardíaco enfim!

Que cenário dantesco vivenciei! De um lado um irmão canceroso, de outro lado um irmão aidético. Ambos terminais! Eu no meio, como Jesus na cruz.
Com uma diferença: O da minha esquerda e o da minha direita já estão no paraíso!
Depois de minha infernal-purgação no hospital, com aparelhos-de-alta-técnica-e-alta-violação-a-este-vil-pecador, com mapeamentos-invasores-de-todas-minhas-intimidades, com exercícios-hercúleos-a-moda-do-Sísifo, o referido anjo resolveu me poupar. E me passou algumas lições:

Primeira delas:
- Amor e humor acima de tudo!
Obrigado meu alegre anjo, mas você sabe que isso faço com sucesso. Que o digam minha família, meus amigos de fé, meus camaradas!
Até aí estou aprovado! Conforme orientação de meus médicos este foi um dos segredos deste brasileiro-estatura-mediana-rubro-negro-de-coração, ainda estar vivo e ativo no planeta terra!

Segunda lição:
- Já que a vida é curta, curta cada momento da vida!
Sabedoria de Hipócrates: “Breve é a vida, longa a arte! Fugidio é o momento, difícil a decisão, sábia a escolha”!
Também sei disso meu sábio anjo! Vivo isso como filosofia de vida. Até aqui tenho nota dez!

Terceira lição:
- Trabalhe menos! Você não vai ficar rico! Faça só o que você gosta!
Esta lição ainda não aprendi meu prudente anjo! Estou reprovado!
Há muito tempo que não quero ficar rico, mas preciso pagar o de ontem! Que fazer?
Devo evocar Vinícius de Moraes?

“Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe o nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar”

Ou devo procurar ajuda de meus irmãos-de-fé-camaradas-de-vida-boa-sem-stress-sem-conta-pra-pagar???
Oh! Meus-gnomos-meus-elfos-meus-emos-meus-alquimistas-devotos-de-Onã-o-bárbaro:
Marcão, Reginaldo, Edmar, Alessandro, Jaime, Dr. Luiz Antonio, Mânfio, queiram me dar a fórmula...

Acho que nem vocês vão me ajudar!
O jeito é continuar driblando a morte!
Por enquanto, estou tendo sucesso!
Enquanto ela não me encontra, vou zombando dela.
Quando ela chegar, com suas carrancas, lembrarei do Tagore:

"No dia em que a morte bater a tua porta que lhe oferecerás?
Porei diante de minha hóspede
o vaso cheio de minha vida.
Não a deixarei ir de mãos vazias...'”


Anjo da morte!
Fique tranquilo, ainda não é chegada a minha hora!
Quero viver mais 200 anos...

(Aos amigos que torceram para que eu ficasse por aqui mesmo)

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SOBRE TEOLOGIA

“Teologia é o caminho mais longo para se chegar a Deus”. Mario Quintana

Sou visionário de um tempo em que as palavras sobre o indizível deixarão de se transformar em mortalhas para embalsamar Aquele cujo nome é impronunciável.

Até lá procuro tecer com outros irmãos, também exilados, uma rede de balanço onde as palavras se espalhem musicalmente pelo vento e anunciem aos quatro cantos da terra que o mundo ainda tem jeito apesar do que os donos da religião têm feito.

Sonho com um novo tempo em que a beleza, em suas multiculturais cores, substituirá as doutrinas-fossilizadas, os musicultos bregas e as pregações-burocráticas cada vez mais caducas de nossas comunidades.

Irei cantar e fazer parte do cordão do irmão-poeta-profeta Rubem Alves:

"Hoje faria tudo diferente.
Começaria por informar meus leitores de que teologia é uma brincadeira,
parecida com o jogo encantado das contas de vidro que Hermann Hesse descreveu,
algo que se faz por puro prazer,
sabendo que Deus está muito além de nossas tramas verbais.
Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas,
porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar...
Teologia é rede que tecemos para nós mesmos,
para nela deitar nosso corpo.
Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus
(seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade);
ela vale pelo bem que faz à nossa carne".

Quando estiver próximo este tempo se cumprirá a profecia do Apocalipse:

"E não vi ali templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso".

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A PORTEIRA DO SÍTIO DO ANGELIM

“ O real da vida se dá, nem no princípio e nem no final. Ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” . Guimarães Rosa
Prezado compadre Angelim:

Quem chegar ao teu sítio verá, deslumbrado, que ali existe uma porteira que esconde segredos aos olhos normais. Impossível tentar comprendê-la apenas pelas leis da física.

O poeta que a fotografou , emoldurou-a numa pintura em-preto-e-branco! Posso entender suas razões! Uma foto colorida é muito explícita , não dá a quem olha a possibilidade de fazer voar o pensamento. Já um retrato preto e branco sugere coisas, estimula a criatividade e dá asas à imaginação. É mais que uma cópia do original.

“ O essencial é invisível aos olhos”, dizia “ 'Zé Perri'”! Somente quem possui a arte de ver com a alma é que pode usufruir da magia de ver além-das-coisas. Para Drumond, uma pedra no caminho é mais que uma pedra. Para Neruda, uma cebola é uma catedral.

Assim também quem tiver olhos-além-das-leis-físicas, verá que a porteira que dá identidade ao teu recanto sagrado , tem uma mística, um ar transcendental, um feitiço que somente poetas-cantadores-do-sertão poderão entender. Parece tão fechada que por ela é impossível passar os burocratas, os teóricos racionalistas, os religiosos fundamentalistas. Parece tão mansa que é um convite escancarado para quem quiser adentrar a um universo habitado por coisas-de-outro-mundo.

Dizem que a gente vê o que a gente é. Talvez isso explique o porquê deste singelo-aprendiz-de-violeiro ter sido seduzido pela magia que adorna a paisagem bela e bucólica do teu sítio. Eu pelo menos, toda vez que fico visualizando a onírica porteira , vejo nela satíricos sacis fazendo algazarras, fantasmagóricas almas-penadas fazendo ranger suas enferrujadas dobradiças, além de amantes-de-veredas-tortuosas vindo ali em noites-de-lua para reafirmar seus votos ou chorar suas despedidas. Tudo isso ao som de violeiros ponteando variações sobre a vida-e-a-morte. Fantástico retrato pintado com o tom dos personagens místicos do Guimarães Rosa, sempre inspirados por “um vaga-lume lanterneiro que riscou um psiu de luz”!

A quem estiver lendo minha carta endereçada ao compadre Angelim, e quiser certificar se tudo o que estou dizendo é verdade, basta apear no endereço http://www.angelim.mus.br/. Fique olhando a porteira! Quem conseguir ver outros mil personagens dali saindo, não pense que está ficando doido. É apenas um sinal de que está adquirindo olhos de um poeta-violeiro.

Agora, quem adentrar propriamente no sítio do meu compadre, com certeza , não vai querer mais voltar para o lado de cá. Mas isso já é outra história...
Viva Miguelim!

Abraço do compadre

Carlos Alberto

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OCHELCIS AGUIAR LAUREANO


Foi na nossa igrejinha de tantas histórias...Meados dos anos 80.

Lembro-me que era uma noite bem curitibana. Quarta-feira , chuva fina e fria. Pouquíssimas pessoas a ouvir minha mensagem pastoral.

Ao final do culto, quando os abraços da despedida sacramentavam a beleza da amizade, pedi ao único visitante para ficar em pé e se apresentar.

Um senhor de cabelos prateados, extremamente simpático, levanta-se do último banco, caminha até o pequeno púlpito, me abraça e diz:

- “Seu pastor, que bom ouvir o senhor! A gente quanto mais velho mais vai aprendendo coisas”.

Os fiéis, atentos àquele irmão estradeiro, passa então a ouvir algumas saudações carinhosas que culminam com sua auto apresentação em tom de "barítono-alegro-com-brio":

- “Sou um estudioso do folclore brasileiro. Digamos...um poeta sertanejo! Fui aluno e amigo de Villa-Lobos. Mas o que eu gosto mesmo é de gente alegre!”

E continuou serenamente:

- “Talvez pelo meu nome os senhores não me conheçam. Mas tenho certeza que já cantaram minha música! É uma das canções mais conhecidas no Brasil! Posso dizer que abaixo de nosso Senhor, que me deu inspiração, vivo dela! Eu sou Ochelcis Aguiar”!

Nossos fiéis ficaram na mesma! Ouvi o forte silêncio do suspense que só foi quebrado depois que ele completou !

- "Sou Ochelcis Aguiar, mais conhecido como Laureano, e mais conhecido ainda, como o autor da música “Marvada Pinga”.

Depois dos risos e muitas palmas , eu e meus fiéis, até então preparados para ir embora, pegamos pelo braço esse gigante da nossa cultura e o levamos para o salão social da Igreja.

Ninguém quis lhe dar sermão pela controvertida e imortalizada letra. Ao contrário! Uma improvisada noite lítero-musical foi até mais tarde, com os fiéis sobriamente-embriagados.

E assim saudamos a cultura do nosso chão preto, chão menino, chão do coração...E assim saudamos o compadre Laureano.

Quem quiser saber mais sobre o saudoso Laureano, há muita coisa por aí...

Sobre essa história que vivenciei... só aqui!

A ele, portanto, um brinde com sabor de sassafraz...!

Carlos Alberto

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SOBRE DARWIN E OS FUNDAMENTALISTAS


No dia em que Darwin faria 200 anos:

Os fundamentalistas continuam perdendo a oportunidade de se conscientizar que toda a verdade vem de Deus, independende de quem a pronuncia. A eles o princípio sempre evolutivo do Evangelho “ Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

No dia em que Darwin faria 200 anos:
Os fundamentalistas continuam perdendo a oportunidade de acreditar na Bíblia como um livro vivo-inacabado-e-sempre-aberto-para-a-vida, para fazer dela o papa-de-papel. Para eles a canção que canta a evolução e revolução da história:

“A História é um carro alegre
cheio de um povo contente
que atropela indiferente todo aquele que a negue
É um trem riscando trilhos abrindo novos espaços
Acenando muitos braços balançando nossos filhos”

No dia em que Darwin faria 200 anos:

Os fundamentalistas continuam perdendo a a oportunidade de estabelecer um diálogo profícuo entre fé e ciência. A eles o pensamento evolucionista do cientista Pasteur "Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima."

No dia em que Darwin faria 200 anos:

Os fundamentalistas continuam acreditando na literalidade do relato de Adão e Eva, e portanto, continuam perdendo a oportunidade de entender que este texto sagrado tem por finalidade formar e não informar o ser humano. A eles a essência da beleza presente no Gênesis, que sempre deve evoluir no ser humano:

Homem,
cuida-te muito em não fazer chorar uma mulher,
pois Deus conta-lhes suas lágrimas.
A mulher foi feita do lado do homem,
não dos pés para ser pisoteada,
nem da cabeça para ser superior
mas, sim, do lado para ser igual....
debaixo do braço para ser protegida
e do lado do coração para ser amada".

A todos que sabem que fé e ciência podem e devem andar de mãos dadas, meu profundo respeito e a certeza de que Fernando Pessoa está correto quando escreve:

"Sou contra os tres maiores inimigos da humanidade: a ignorância, a pobreza e a intolerância".

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UM ANJO CHAMADO FABRÍCIA
Estória que me contaram:

Num desses domingos de manhã, depois de um longo peregrinar pelas praças e catedrais, Jô e Régis bateram na porta do céu em busca do sonho maior.

Na agenda do casal havia uma solicitação especial: “Senhor! Queremos um anjo para morar conosco! “

Um dos querubins ali presentes, responsável pelo controle de qualidade do paraíso, sussurrou aos seus ouvidos:

“Parece...Parece...que é um sonho impossível! Vocês são muito exigentes!
Terão que esperar mais um pouco, saber que aço bom agüenta altas temperaturas e entender que ouro bom tem que passar pelo fogo”.

Nesse momento, com uma calorosa recepção, olhar manso e bom, o criador estendendo os tapetes com as cores paranistas, interveio na conversa e lhes disse:

“Não se preocupem! Tenho este presente especial para vocês. Só que ainda não está pronto! Coisas especiais, vocês sabem, realmente ficam próximas das coisas impossíveis. Mas é do impossível que faço as coisas mais belas”.

E para atender o difícil pedido o criador foi buscar matérias-primas que não existem no céu:
a alegria dos raios do sol
o dengoso olhar de um cãozinho fiel
as gotas do choro das nuvens
o perfume da jabuticabeira
e o terno cantar do cuitelinho

Tempos depois, veio o bom Deus com sua obra primorosa e entregou ao casal .

Ao receber tão rico presente, ainda sem acreditar, Jô e Régis olharam para o Criador, agradeceram-lhe efusivamente e passaram a sorrir que nem dois bobos pelas ruas da cidade.
Quem encontrar os dois por aí, vendo borboletas por todo lado, não se assustem! Saibam que são meus compadres. É fácil de identificá-los. Eles vivem sempre de mãos dadas com um belíssimo anjo que atende pelo nome de Fabrícia.

(Beijos do Carlos Alberto, Lu, Kauan , Giulia e Giovani ... amigos e compadres)

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SOBRE MINHA PARÓQUIA

Alguns amigos que me vêem pastoreando a cidade durante a semana, perguntam-me constantemente, sobre minha paróquia, pois querem ir lá no domingo. Digo-lhes sempre que "O mundo é minha paróquia". Como eles insistem e me pedem carinhosamente mais detalhes sobre minha Pastoral, cito-lhes o poema-teológico de Emily Dickinson:

“Alguns guardam o domingo indo à Igreja,
eu o guardo ficando em casa
tendo um sabiá como cantor e um pomar por santuário.
Alguns guardam o domingo em vestes brancas,
mas eu só uso minhas asas.
E ao invés do repicar dos sinos na Igreja,
nosso pássaro canta na palmeira.
É Deus que está pregando, pregador admirável!
E o seu sermão é sempre curto.
Assim, ao invés de chegar ao céu, só no final,
eu o encontro o tempo todo no quintal.”

Quando eu termino de recitar este catecismo, alguns desses irmãos repetem felizes e com devoção: Amém, estamos salvos!

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SOBRE O CHORINHO , MEU AVÔ E EU

O meu avô era um chorão.
Para quem não sabe, chorão é tocador de chorinho, esse gênero musical genuinamente brasileiro.
Herdei geneticamente de meu avô, a quem não conheci pessoalmente, um carinho especial pelo “Brasileirinho”, pelo “Assanhado”, pelas “Noites cariocas”, pelo “Carinhoso” e por tantas outras peças geniais. Aliás, até me arrisco de vez em quando e humildemente, a tocar essas músicas.
Já disserem que o nosso chorinho equivale, em riqueza musical , ao Jazz de Nova Orleans. Discordo!
É bem superior! Tanto na melodia, quanto no ritmo e na harmonia! Isso, sem contar as letras que sempre tem o toque do romantismo, da sátira e da alegria que só o brasileiro tem. Coisas que só um chorão pode entender... !
Voltando a meu avô, sei pelo meu pai, que ele foi para o interior paulista afim de fugir da polícia getulista. Lá ele ajudou espalhar , com seu regional e com seu virtuosismo, as variações-da-beleza e os improvisos-entusiasmadores de seu cavaquinho.
Passados mais de sessenta anos esse seu neto-da-resistência-cultural, também vive fugindo de outra polícia, a do comando-de-caça-aos-hereges. Mas aí eu não fico triste não!... Ao contrário, evoco o choro mais alegre de Waldir Azevedo:

O brasileiro quando é do choro
É entusiasmado quando cai no samba,
Não fica abafado e é um desacato
Quando chega no salão.

Não há quem possa resistir
Quando o chorinho brasileiro faz sentir,
Ainda mais de cavaquinho,
Com um pandeiro e um violão
Na marcação.

Para Giovani e Kauan, meus filhos...amáveis chorões.

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MEU PROGRAMA NESTE DIA DO INDIO

Neste domingo, dia do índio , eu que sou tataraneto de um deles, quero fazer uma homenagem a mim mesmo e a minha família.
Vamos esquecer os trabalhos , descer a serra do mar e subir a um paraíso musical onde cantam pintassilgos , pintaroxos, melros, engole-ventos, saíras, inhambus, patativas, tordos, tujus, tuins , tiés-sangue, tiés-fogo , rouxinóis, coleiras , trigueiros , colibris , macucos e outros pássaros da orquestra sinfônica de Passaredo, bela música de Chico Buarque e Francis Hime.

Deste autêntico-programa-de-índio , além da pajelança neo-ortodoxa, do cachimbo da paz e da rodada de chá-de-cana, consta que faremos uma meditação sobre um texto sagrado escrito pelo chefe índio Seatle e endereçado ao presidente dos EUA.
Ei-lo ecologicamente correto, belo e romântico, como almeja nossa alma indígena:

Não há um lugar calmo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar para escutar o desabrochar das flores na primavera ou o bater das asas de um inseto.
E o que resta da vida se um homem não pode escutar o choro solitário de um pássaro ou o coaxar dos sapos à volta de uma lagoa à noite?
O índio prefere o suave murmúrio do vento, encrespando a face do lago e o próprio aroma do vento levado pela chuva ou perfumado pelos pinheiros.

Quando retornar para a cidade, quero de novo, estar sintonizado com as batidas do meu coração. E com minha pressão arterial no compasso da mãe natureza: calma, serena e tranquila! O grande Senhor do sol, da lua, das montanhas, dos ventos , das águas, dos passarinhos e de todos os peles-vermelhas me ajudará na bela empreitada.

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GIOVANI: VINTE ANOS EM DEZ CENAS

1-Seu nascimento: 15/04/09 – Paguei polenta e vinho para todos os que estavam no restaurante. Era preciso celebrar a data histórica;
2- Comício político - aos seis meses, você já tinha ouvido ao vivo Lula e Brizola;
3- Dezembro de 1989 - Desde cedo, você já sabia que teu pai e mãe seguiriam caminhos diferentes;
4- Escola e Igreja - Vou com você à escola, antes porém, vamos à quadra da Igreja, jogar futebol;
5- Marcão - Diz Dr. Marcos para mim, lá no México: "Nossos filhos crescerão juntos”. Acertou em cheio!
6- Itatinga, vô Zito e Família - Som da viola , futebol atleticano e muito truco! Levamos alegria à cidade!
7- Com Luciana em Foz do Iguaçu - Enquanto eu trabalho, vocês vão às compras gastar o que eu ganho! Tudo bem!
8- Você vai ao nosso casamento - Lê o salmo vinte e três. Nasce Kauan, depois a Giulia, seus irmãos. Você é o melhor amigo dos dois. E da Lu também!
9- Você está na Universidade Federal - É líder, é humanista, é progressista!
10- Você ama Renata - Como diz Reginaldo: “Estou ficando velho. Estou fora do processo”! Valeu a pena!

Hoje é teu aniversário. Te amo filho! Parabéns! Que felicidade! Deus te abençoe!
Abraços da Lu, do Kauan, da Giulia e do teu velho pai. A Mariza , os pais da Lu e o pessoal de Itatinga também te mandam abraços!

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ANGELIM, UM VIOLEIRO APAIXONADO

Angelim, meu compadre e menestrel dos violeiros, está apaixonado.
Coisa boa!
Estar apaixonado é estar acometido de uma doença para a qual não se quer cura.
Ele vai se casar. E casamento de violeiro não é como outro qualquer. Não há promessas, há confissões de amor e desejos... Quem gosta de promessas é político! Violeiro gosta é de cantar a vida que brota dos sonhos e saudades... Por isso ele é sincero!
Sua princesa já terá lido a oração das mulheres celtas:

Ama teu homem e segue-o,
Mas somente se ambos representarem um para o outro
O que a Deusa mãe ensinou: amor, companheirismo e amizade.

Ele, por sua vez já terá cantado para sua amada a oração de Renato Teixeira e Almir Sater:

Quando o amor começa, nossa alegria chama,
e um violeiro toca em nossa cama ...
(...)Tudo é sertão, tudo é paixão, se o violeiro toca
A viola, o violeiro e o amor se tocam...

Por ambos saberem que “ são demais os perigos desta vida pra quem tem paixão” farão tudo para que possam viver um grande amor.

Portanto amigos, a mim me resta apenas abençoá-los assim:

Que vocês se abracem sempre, sem se sufocarem
Que vocês se ajudem sempre, sem se anularem
Que vocês se aproximem sempre, sem invadir o espaço do outro
Que vocês se amem não apenas "POR CAUSA" , mas "APESAR DE..."

Isso mesmo compadres! A mim me resta apenas pedir ao bom Deus que vocês sejam mais que marido e mulher! Que vocês sejam amigos, amantes, filhos-de-Deus, filhos-da-liberdade, filhos-da-vida, filhos-da-felicidade...

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Para quem não acredita no jardim do Éden, eu garanto: ele existe! Fica no Santuário de Nhundiaquara, bem no sopé do pico Marumbi, Serra do mar. Foi ali que, sábado passado, celebrei o casamento de meus amigos médicos Arthur e Luciana. O sermão foi baseado no poema de Mario Quintana:

“O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar,
não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você!"
UM CASAMENTO NO ÉDEN

E a minha prece foi para que os noivos fizessem daquele jardim uma parábola de um jardim ainda mais belo... Jardim que deve sempre ser cuidado no coração dos noivos. Afinal, como cantam os poetas-seresteiros," quem ama cuida!!!" Eles concordariam com os místicos medievais que diziam: “Se, no teu centro um Paraíso não puderes encontrar, não existe chance alguma de, algum dia, nele entrar”.

Inserida por CARLOSALVES17

CASAR PODE DAR CERTO

O bar do alemão é um dos pontos turísticos mais oníricos de Curitiba.
Dia desses eu estava lá com o Quinha e o Sérgio, amigos de copo e de cruz.
O garçom me trouxe um torpedo com palavras-em-alto-astral:

“Reverendo: Tome um chopp em nossa homenagem.
Há 17 anos o senhor realizou nosso casamento”.
Ass: Viviane e Cristian.

Guardei o guardanapo com carinho, atendi ao pedido do casal e fiquei feliz ao lembrar que casar pode dar certo.
Depois, compartilhei com os amigos as palavras que pronunciei na cerimônia. Eram mais ou menos assim:

Que os beijos de vocês, namorados, jamais fiquem secos
Que os abraços de vocês, amantes, jamais fiquem frouxos
Que os pés de vocês, andarilhos da ternura, encontrem-se à noite
Que os olhos de vocês, cúmplices, vejam-se o dia todo
Que as palavras de vocês, poetas, sejam sempre leves
Que os lábios de vocês, filhos da felicidade, sejam sempre doces ao coração
E que vocês, bailarinos da vida, dancem sempre a dança mágica do amor.

Como disse, casar pode dar certo! Portanto, um brinde para quem conquistou tal façanha!

Rev. Carlos Alberto Rodrigues Alves

Inserida por CARLOSALVES17

O DESERTO PODE SER BELO OU A DEUSA DIANA PEQUENO

Somos seres imersos num caleidoscópio multicolorido e traspassado pelo sol da vida. Ali protagonizamos cenas múltiplas. Algumas , acompanhadas de pavor, outras, carregadas de arrepios alegres.

As cenas tristes queremos que sejam exorcizadas pois elas nos são metáforas de masmorras e cálices-de-fel. As cenas alegres almejamos que sejam eternas pois sua beleza nos comprova que temos uma fagulha de Deus dentro de nós. Estas cenas nos apontam para o fogo-apolínico e o vinho-dionisíaco da vida.

Em tempos de um grande deserto, lá pelos duros anos de chumbo, eu ouvia Diana Pequeno, mulher linda cuja voz me dava a impressão de que um anjo tinha fugido do céu.
Sua missão: lembrar que o deserto podia ser belo.

A geração moderna-sem-estética não a conhece. Ela me era a voz do vento de um novo dia que iria chegar. Ela me era o cheiro do bom perfume do amanhã. Ela me era o prelúdio da sinfonia que ainda vou compor cujo nome é "Pelos Poros da Paixão".
Não sei por onde anda essa deusa mas sua voz continua a sussurrar nos meus ouvidos.

Evocando as cenas de nossos desertos que ainda vão florescer, resgatei-a nessa outra modernidade chamada youtube. Veja e ouça se não tenho razão:

http://www.youtube.com/watch?v=FYHF5TQGjEA

Inserida por CARLOSALVES17

Pra mim, você era tanto
Que não podia alcançar.
É como uma estrela no canto
Do céu de qualquer lugar.

Sendo assim inatingível,
Eu deveria evitar
Esse amor tão impossível,
Tão distante a cintilar.

Mas, se o coração reclama.
Eu me ponho a imaginar
Que dorme em minha cama
E fico assim a sonhar.

Acaricio a roupa
Que trouxe pra se deitar.
Não sei se é você a louca,
Se sou eu a delirar.
Só sei que te vejo ardente
Querendo se entregar.
Ou vira estrela cadente,
Ou eu aprendo a voar.

(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)

Inserida por moringa