Textos inteligentes
Já se disse que as grandes idéias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.
Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores virtudes, e os que andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam.
Será que eu queria continuar vivendo em meu filho? Numa personalidade ainda mais fraca, insegura e medrosa do que a minha? Cego e pueril engano! O que meu filho pode fazer por mim? Onde estarei depois de morto? Ah, é tão brilhantemente claro. Estarei em todos aqueles que já disseram, dizem ou dirão "eu", principalmente naqueles que dizem com mais segurança, mais força e alegria! (...) Será que alguma vez detestei a vida, esta pura, forte e implacável vida? Loucura e engano! Detestei apenas a mim mesmo por não conseguir suportá-la. Amo vocês todos, abençoados, e logo, logo, deixarei de estar separado de vocês por um cárcere apertado; dentro em breve, aquela parte de mim que os ama se libertará e estará com vocês e em vocês.
Ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já é uma grande felicidade, porque quase todo o sofrimento provém justamente da sociedade, e a tranquilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial da nossa felicidade, é ameaçada por ela e, portanto, não pode subsistir sem uma dose significativa de solidão.
Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. - Acho que tudo está bem-, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.
O Tempo e a transitoriedade de todas as coisas são apenas a forma sob a qual o desejo de viver – que, como coisa-em-si, é imperecível – revelou ao Tempo a futilidade de seus esforços; é o agente pelo qual, a todo o momento, todas as coisas em nossas mãos tornam-se nada e, portanto, perdem todo seu verdadeiro valor.
Minha fórmula para a grandeza no homem é Amor Fati: não querer nada de diferente, nem para frente, nem para trás, por toda a eternidade. Não apenas suportar aquilo que é necessário, muito menos dissimulá-lo - todo o idealismo é falsidade diante daquilo que é necessário -, mas sim amá-lo...
Sempre quis morrer rápido, pois quem viveu só a vida inteira saberá avaliar melhor esse tema solitário. Em vez de sumir em meio às tolices e bufonerias preparadas para os lastimáveis bípedes humanos, vou terminar feliz, consciente de estar voltando para onde vim (...) e de ter cumprido minha missão.
Morrer é uma destas duas coisas: ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa nenhuma; ou, então, como se costuma dizer, trata-se duma mudança, uma emigração da alma, do lugar deste mundo para outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que o adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morte!
Só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que se podem tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o cepticismo, que são sobretudo perigosos para as escolas e dificilmente se propagam no público.
“Deus”, “imortalidade da alma”, “redenção”, “além”, todos esses são conceitos que nunca levei em conta; nunca com eles sacrifiquei meu tempo, nem mesmo em criança; talvez nunca fosse bastante ingênuo para fazê-lo? Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto. Sou bastante curioso, suficientemente incrédulo, demasiado insolente para contentarme com uma resposta tão grosseira. Deus é uma resposta rude, uma indelicadeza contra nós, pensadores; antes, dizendo-se a verdade, não é senão um tosco empecilho contra nós mesmos: não deveis cogitar dele!
Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta: Que é a verdade? A verdade já foi posta de cabeça para baixo quando o advogado do nada foi confundido com o representante da verdade.
A felicidade é o fim que natureza humana visa. E, a felicidade é uma atividade, pois não está acessível àqueles que passam sua vida adormecidos. Ela não é uma disposição. À felicidade nada falta, ela é completamente auto-suficiente. É uma atividade que não visa a mais nada a não ser a si mesma. O homem feliz, basta a si mesmo.
Aqueles que, no sentido preciso do termo cuidam do filosofar, permanecem afastados de todos os desejos corporais sem exceção, mantendo uma atitude inflexível e não concedendo às paixões. A perda de patrimônios, a pobreza, não lhes causa medo, como acontece com a multidão dos amigos da riqueza; e nem a existência sem honrarias e sem glória que o infortúnio proporciona não é de molde a intimidá-los como acontece com aqueles que amam o poder e as honrarias. E, desse modo, eles se mantêm afastados dessas espécies de desejos.
Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!
Mostrar cólera e ódio nas palavras ou no semblante é inútil, perigoso, imprudente, ridículo e comum. Não devemos mostrar a nossa cólera ou o nosso ódio senão por meio de atos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Os animais de sangue frio são os únicos que têm veneno.
O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em um ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável; e até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores do intelecto não passam de pecados, desvios, 'tentações'. O mais lamentável exemplo: a concepção de Pascal, que julgava estar a sua razão corrompida pelo pecado original; estava corrompida sim, mas apenas pelo seu cristianismo!.
Usar de polidez é uma tarefa difícil, pois exige que testemunhemos grande consideração por todas as pessoas, enquanto a maior parte delas não merece nenhuma; ademais, precisamos simular o mais vivo interesse por elas, quando em verdade temos de estar contentes por não o sentirmos. Unir polidez com orgulho é uma obra-prima.
Métodos Racionais
O primeiro consistia em nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal; isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; não incluir nos meus juízos nada que se não apresentasse tão clara e tão distintamente ao meu espírito, que não tivesse nenhuma ocasião para o pôr em dúvida.
O segundo, dividir cada uma das dificuldades que tivesse de abordar no maior número possível de parcelas que fossem necessárias para melhor as resolver.
O terceiro, conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até ao conhecimento dos mais compostos; e admitindo mesmo certa ordem entre aqueles que não se precedem naturalmente uns aos outros.
O quarto método era o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.
" - Cá estais vós, amigos! - Ah, todavia não sou eu,
Quem queríeis vós?
Hesitais, pasmai - ai, melhor seria se sentísseis rancor!
Eu - não sou mais eu? Estão diferentes a mão, o andar, o Eis rosto?
E o que eu sou, não sou mais - para vós amigos?
Vós ireis? - Ó coração, tu suportaste bem,
Forte ficou a tua esperança:
Mantém tuas portas abertas a novos amigos!
Deixa os velhos! Deixa a recordação!
Se já foste jovem, agora - és jovem de um modo melhor!
Ó saudade da juventude que não compreendeu a si mesma!
Aqueles por quem eu aguardava,
Que eu julgava transformados tal como eu,
O fato de terem envelhecido afastou-os:
Só o que se transforma continua meu amigo.
Ó meio-dia da vida! Segunda juventude!
Ó jardim de verão!
Inquieta ventura no estar perscrutando e esperando!
Espero os amigos, noite e dia disposto,
Os novos amigos! Vinde! É tempo! É tempo! "