Textos grandes
CONFISSÕES
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Para me aprofundar nas amizades com quem mais me cativa, o parágrafo único de minha lei é que tais pessoas sejam da mesma faixa etária que eu. Sendo assim, tenham boa visão do mundo e considerável grau de vivência; de compreensão das complexidades do ser humano. Sobretudo, condições de não confundir ou distorcer as minhas esquisitices.
Advogo em causa própria, pois tenho muitas esquisitices. Uma delas é a já citada classificação etária por natureza de relação e comportamento. Passei anos e anos tentando vencê-las, mas na verdade fui vencido por elas. E ao me permitir o aprofundamento nas amizades em questão, me torno confidente. Deixo de me obrigar certas composturas e confio plenamente no outro, como confio na confiança plena que o outro tem em mim.
Evidentemente, as tais amizades também têm seu parágrafo único: a opção de jamais se deixar aprofundar. Ou de retornar ao estágio comum; trivial. Sem maiores demonstrações de afeto, confiança, cumplicidade ou entrega. Só a leveza dos cumprimentos, das conversas breves, dos encontros ligeiros e casuais; a simpatia; o coleguismo.
A máxima de que é preciso saber viver passa por aí. É preciso saber com quem se lida; em quem se confia. Quem confia em nós, até quando e onde. Saber entrar, sair e transformar uma relação. Toda forma de amor e amizade vale a pena, se a nossa carência for seletiva, observadora, criteriosa e de brio.
PARA VIVER UM GRANDE AMOR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Com toda a liberdade que os filhos devem ter para brincar, fazer amigos, conviver com outras pessoas queridas, a presença dos pais deve ser a mais constante; a mais forte; mais significativa. Dar-se ao luxo do belo pleonasmo de ser a presença mais presente.
Filhos até se acomodam, mas não querem a liberdade extrema de quase não ver os pais. A tristonha liberdade – ou abandono - de ter em outros rostos os mais vistos. Em outras vozes as mais ouvidas. Em outros nomes, os mais chamados nas suas horas de angústias e dúvidas infantis.
O exercício da maternidade/paternidade exige tempo e presença. Contato constante. Evidentemente, o trabalho nos afasta um pouco desse contato, mas deve ser a única justificativa – não forjada – para não estarmos perto de nossos filhos. Melhor ainda, se os filhos tiverem a certeza de que um dos pais estará sempre com ele, na ausência do outro.
Todo filho, ao crescer, será muito mais feliz se tiver a lembrança de que foi educado pelos pais. Não por um monte de gente. A educação fragmentada deixa buracos irremediáveis na vida e no caráter do ser humano, e todo ser humano há de cobrar aos pais – ou a um deles - por esse buraco, e não há de ser das melhores formas de cobrança.
Exercite ao máximo sua maternidade, ou paternidade, no tempo de que dispõe, e procure dispor do máximo possível, de tempo. Pelo menos do seu tempo com os filhos. E se esses filhos têm sua guarda alternada, por questões de separação dos pais, a razão é mais forte ainda, para você aproveitar ao máximo esse tempo já dividido.
Quem se livra do filho, deixando-o constantemente aos cuidados de outros, mesmo nos casos em que dá para ficar com ele ou levá-lo em suas saídas, perde a chance de viver um grande amor. O maior amor de sua vida. A história mais bonita que poderia escrever.
EM NOME DA ÉTICA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Há um grande número de cidadãos focados especificamente no que a lei permite, proíbe ou manda. Isso é bom, porque muitos crimes, delitos e contravenções deixam de ser praticados, pela mera existência do temor da lei. Por existirem, ainda bem, essas pessoas temerosas das consequências diretas de seus atos, mesmo que lhes falte caráter para, no fundo, não desejarem praticar tais atos.
A realidade se complica, e muito, quando a ética está em jogo. Sendo ela o conjunto de posturas e atitudes que a lei não manda nem proíbe, muita gente boa, em princípio, porque não comete crime, abusa do atentado impune ao ser humano. Constrange, prejudica, passa para trás, engana, falta com a palavra, faz fofoca, dedura e até ganha pontos com quem lhe convém ou interessa agradar, mesmo que prejudique aquelas pessoas que não oferecem retorno, vantagem, promessa, ou das quais apenas não gosta.
Falta-se muito com a ética nos ambientes de trabalho, nas igrejas, agremiações e outros grupos, em troca de promoções, prestígio, atribuições, privilégios e cargos que pertencem a outros. Muitas vezes tão só para ficar bem aos olhos do líder, e ter a honra questionável de se tornar mais íntimo.
Também se falta muito com a ética em nome de um destaque na família... da disputa pela preferência geral. Nos dissídios e nas intrigas envolvendo proles. Algumas vezes, pela simples curiosidade ou desejo de cutucar desafetos do outro lado, por intermédio de alguém mais frágil, dependente ou ingênuo, que no fim das contas é igualmente prejudicado sem nem saber a razão.
São muitas as crueldades. Os atos perniciosos não previstos em lei. E a ética, intocável para o jugo da lei, em nome da graça, do arbítrio e da liberdade responsável do ser humano, fica seriamente comprometida. Uma sociedade sem lei é truculenta; brutal... sem ética, é hipócrita e nojenta.
TODO BEM DESTE MUNDO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
O que tenho que ter pra ser pleno e feliz
é um canto em que possa libertar meus textos,
um quintal todo verde bem maior que a casa
que não fiz pra servir de outdoor do que sou...
Tenho tudo que tenho que ter pra sorrir ;
duas filhas, irmãos, muita troca de amor,
a mulher que nasceu porque nasci pra ela,
feito flor que não vive num chão diferente...
Se não tenho valores pra comprar mais coisas,
tudo quanto mais quero já tenho de graça
numa praça de afetos que me fazem pleno...
Todo bem deste mundo enriquece meus bens
ao alcance dos olhos, dos passos, das mãos,
contra os nãos duma vida que nem ouço mais...
FORA DA LEI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Foi um grande gostar sem espera nenhuma;
sem desejos a mais do que podia ter;
um amor gestual, de silêncios passivos
que faziam viver do que jamais vivi...
Era só meu gostar, nenhum laivo do seu,
mas valia o meu sonho de me refletir,
de me ver nesses olhos que nunca me viram
e sentir solidão sem sentir que sentia...
Meu gostar se feriu de se avultar demais,
não caber nos limites de minha vitrine
ou da paz inquieta de minha censura...
Gostei mais do que pude, por isso calei,
pois a lei da verdade que nos formaliza
não gostava do gosto desse meu gostar...
FELICIDADE AGRESTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Céu bonito pra nós tem a cor do cimento;
dia lindo é de sombra generalizada;
ver a terra encharcada, os bichos recolhidos,
muitas poças de lama espalhadas aos pés...
Esses dias tristonhos tão raros pra nós
inauguram belezas dos dias à frente,
ressuscitam a voz do riacho antes mudo,
reverdecem as matas; resgatam as flores...
Nossa grande alegria é ouvir um trovão
que anuncia o começo do recomeçar;
o sermão natural; a promessa das águas...
Podem ser até dias e noites medonhos,
promissória de sonhos que não vêm de graça,
mas a graça da chuva só nos deixa gratos...
SER FELIZ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Ser feliz é receita que a gente varia;
põe orégano, açúcar, sal, tomate a gosto;
faz folia, não faz, escolhe de qual jeito,
mostra o rosto, camufla, se quiser desfaz...
Não tem forma nem fôrma, pode ser geoide,
mas não pode agredir quem difere ou discorda;
quem dá corda excessiva, quem se vela e castra
ou não pode; afinal, escolheu não poder...
Decidir quanto a isto é desenho abstrato;
cada um vê ou vive de modo só seu;
é um eu disponível pra todos os sonhos...
Só se dá por feliz quem se doa sem medo
a si mesmo, ao enredo que a vida compõe
para sua verdade tão somente sua...
TRANSFORMADOR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Ser feliz não me livra de certas tristezas;
não há como viver sem que a dor nos provoque;
nossa luz tem seus curtos e seus apagões,
energia dá choque por ser energia...
Encontrei equilíbrio no transformador
instalado em minh´alma desde que não sei;
meus espinhos têm flor como a flor tem espinhos;
essa lei dá seu tom em qualquer caminhada...
Apagar é da vida e terei minha hora,
mas agora não penso em desligar meus sonhos;
não me deixo cortar nem reclamo do preço...
Reativo as tomadas de querer seguir
e replugo esperanças toda vez que o mundo
faz um raio cair sobre minhas certezas...
DE UM GRANDE AFETO IMPROVÁVEL
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Quase nunca, mas ocorre uma pessoa ter tanto carinho, amizade – e respeito – por outra, quase sempre de outro gênero, que acabe se permitindo certos desprendimentos e confidências, e com real pureza de propósitos ou intenções. Isso pode ser um problema, se toda essa carga de sentimento e confiança não for correspondida com exatidão pela outra parte. Aí surge aquele pé atrás e vem o distanciamento sem prévio aviso, de quem não está preparado para tanta entrega e tamanha falta de noção resultante da certeza de uma recíproca irrestrita, o que justificaria essa cumplicidade.
Temos que ter freios e filtros, para não sermos tão seguros da igualdade afetiva do outro, pelo menos até que o outro dê sinais relevantes da mesma intensidade; a mesma entrega; os mesmos tons. A coincidência do exato afeto raro na extremidade oposta é ainda mais rara do que o próprio afeto. Poucos indivíduos têm estrutura para viver algo tão delicado, belo e ao mesmo tempo tão fácil de ser confundido na linha tênue que o separa do abuso. É compreensivelmente normal que tanta gente se arme contra sentimentos tão improváveis – e suas manifestações tão peculiares –, pela natureza misteriosa dessa raridade. De fato, muitas pessoas fingem essa pureza de alma e coração, para cometerem dissimuladamente certas improbidades pseudo-afetivas.
Finalmente aprendi que o encontro de duas almas tão similares e alheias a desejos comuns é um grande acontecimento. Mas temos que ter bom senso, muito critério e profunda observação do outro, para termos certeza de que o encontro é incontestável. Não sendo o caso, as nossas demonstrações intensas de amizade extrema podem gerar temor, conflito, aversão e, às vezes, alguma medida radical. Tenhamos inteira consciência da sociedade na qual vivemos, e sendo assim, respeitemos completamente o direito alheio à não recíproca ou à relutância em relação ao caráter de nossa entrega.
Sobretudo, saibamos reconhecer o equívoco de nossas expectativas e identificar a hora de retirar os excessos... tornar comum o que é especial... tirar do plano superior o que nutrimos sozinhos e assumir uma relação como qualquer outra. É inconcebível que o ser humano desperdice comida, tempo e afeto.
SENTIMENTOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Não forço amores e amizades
nem a manutenção dos amores
e das amizades que tenho.
Sentimentos não podem ser forçados,
ou logo secam as flores
e perdem todos os tons.
Amizade, amor, simpatia,
respeito admiração e afins:
Sentimentos bons
deveriam ser tão fáceis
quanto sentimentos ruins.
FANATISMO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quem se dá por feliz é porque se rendeu;
ficou cego pros fatos e ri de mesmo,
se vendeu pro cansaço das desilusões
quando viu que só via o que deixavam ver...
Ou se faz de rogado porque nada importa;
leva sua ilusão de privilégio e pódio;
tem um ódio de opostos às suas versões
e a porta fechada pra visão dos fatos...
Fanatismo injetado por um falso herói;
um amor doentio que já dói nos seus,
mas o seu sacrifício já não tem limite...
Só se dá por feliz ante a visão do caos,
com as perdas e os danos da própria nação,
quem é mau ou perdeu a noção de quem é...
FELIZ NATAL
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Tivemos o ano brasileiro da imbecilidade presidencial nas falas, nos atos institucionais e nas decisões "de orelhada". Tudo criteriosamente seguido e copiado pelos filhos, capangas ministeriais e ministérios da “fé” comprada pelas promessas de vantagens reais ou ilusórias à vista e a perder de vista. Não me refiro à fé legítima, sem aspas, que não visa essa espécie de sinal da besta; esse carimbo ideológico de prestígio e de postas abertas... ou não me refiro à exceção; falo apenas da maioria.
Destaque para a imbecilidade popular. Da mesma forma, não de toda a população; só de sessenta por cento. Um povo que aplaudiu cada palavra, gesto e decisão contra ele próprio. “Bateu palmas para maluco dançar”; pediu – e teve – a ditadura de volta. Ululou a favor do sucateamento definitivo da educação pública; da perseguição aos professores que promovem o pensamento crítico e a liberdade de expressão – e perseguiu junto.
Prestou ação de graças à quase extinção da ciência que busca, entre outros feitos, a cura para doenças e vírus graves. Enalteceu a destruição da natureza, o abuso oficial contra mulheres, estrangeiros e crianças, a ideia do trabalho infantil, do armamento em massa e do extermínio dos índios, pela devastação de suas reservas. Alegrou-se como antes nunca, pela segregação acentuada dos negros, dos membros de seitas e religiões de matriz africana e dos gêneros não convencionais ou obrigatórios.
Vimos uma massa ensandecida, que atuou sem saber por que razão, contra as artes e os artistas até então amados por suas histórias, posturas públicas, engajamentos em prol do livre arbítrio e do respeito às escolhas e orientações. Gritou-se aos ventos, cada um seguindo ao outro, todos submissos à vara e ao cajado do poder. Multidão cega, seguindo a multidão, sem ninguém se reconhecer no meio dela, por se tratar de uma hipnose.
Vim aqui desejar feliz natal. Aos oprimidos, opressores, e os que se julgam opressores, iludidos por vantagens passageiras. Um natal de reflexões pelo bom senso. Que os cristãos iludidos com o poder inquisitório e os profanos que se converteram à inquisição repensem o país. A nação livre, o estado laico, o justo discernimento entre questões espirituais e sociais, para o bem de todos os cidadãos em suas diferenças de classe, cultura, culto, não culto, gênero, etnia e tantas outras.
Que os políticos legislem e governem com justiça. Sem maldades. Buscando recursos nas fontes certas. Cortando gastos onde o tesouro se oculta e não na miséria ou escravidão popular, que tem sido a fonte de suas riquezas pessoais, entra governo sai governo. Sejamos povo com menos vocação para povo no sentido pejorativo da palavra e com mais vocação para gente; cidadãos; indivíduos pensantes; seres sociais.
NA SELVA DA ESTABILIDADE PRIVADA
Demétrio Sena - Magé
Há grande mérito em se prestar um concurso, ser aprovado e admitido em uma empresa pública. Dificilmente se conquista um emprego dessa natureza, sem empreender esforços admiráveis, muito estudo e disciplina. Infelizmente, muitos não repetem ao longo da carreira os méritos iniciais, conscientes de que o poder público não é muito criterioso com quem já ingressou na máquina pública e passou pelo período de aprovação. Com isso, os funcionários públicos competentes e trabalhadores permanecem, mas os incompetentes e alguns que até pasaram de formas inexplicáveis, também. A menos que cometam algo muito grave.
Na empresa privada, os empregos são escorregadios. As hierarquias ostensivas e permanentes testam a cada dia os nervos, a estabilidade emocional, a inteligência psíquica e a competência específica de cada funcionário, sempre com o sinal de alerta de que a vaga está na corda bamba. É como se houvesse um reconcurso diário, para reafirmação da garantia do emprego. A concorrência está sempre ao lado e a capacitação permanente que o próprio trabalhador se obriga, não é apenas para promoção. É para não ceder o seu lugar ou não ser incluído entre os passageiros do próximo navio de cortes para economias diversas.
Como existem alguns funcionários públicos inexplicavelmente aprovados, muitos funcionários da iniciativa privada não foram, inexplicavelmente, aprovados na máquina pública. São esses, os que só saem de seus empregos quando querem ou por falência das empresas. Pessoas que por inteligência psíquica; neural; por méritos diários, reincidentes, critérios e capacidade sem fim, conquistam a estabilidade que a lei não lhes assegura. Trabalhadores que se constroem ao longo da vida e ajudam a construir ou elevar "suas" empresas aos patamares que elas alcançam.
Minha total admiração aos funcionários públicos que fazem jus - mesmo estando seguros em suas vagas - aos empenhos e desempenhos que os efetivaram de uma vez por todas, lá no início. E de forma especial, minha total admiração a todos os que fazem de suas aposentadorias, cinturões de lutadores pesos pesados que lutaram a vida inteira, quase ao pé-da-letra, sem amparo definitivo nem trégua e sob os olhares constantes dos que podem, de uma hora para outra, dar um tombo frio e cruel em suas carreiras.
FELICIDADE
Demétrio Sena – Magé
Ser feliz tem seus preços infelizes;
alegrias nos cobram nos pesares;
nossas crises terminam num amém;
somos servos do velho que assim seja...
As vitórias nos causam hematomas,
o juízo é a perda da inocência,
paciência se faz de muita espera
e a morte premia o ter vivido...
Não espere a chegada sem cansaço
nem o passo que chegue leve ao alvo,
são e salvo; nenhuma cicatriz...
Mesmo assim tome o rumo dos anseios,
leve os sonhos às últimas instâncias,
pelos meios fiéis à consciência...
... ... ...
Respeite autorias. Isso é lei
MEUS ESTADOS
Demétrio Sena - Magé
Porto Alegre
do Rio Grande
do Sul,
não fique triste...
A Bahia
de Todos os Santos
nem existe
sem Salvador...
E o Rio
de Janeiro
rompe a força
d'aguas de março...
Além do mais,
há um Belo
Horizonte
pras Minas Gerais...
A Vitória
já é certa
pro Espírito Santo;
Ceará não seria
uma Fortaleza,
sem seu encanto...
Bato Palmas
para Tocantins
a cada conquista...
E Roraima
sempre terá
uma Boa Vista...
O ano inteiro
tem Natal
no Rio Grande
do Norte...
Sou Brasileiro
que o tempo todo
crê na sorte;
rompe os estados
que se acumulam...
e vai além...
Qualquer dia
me arrumo e parto
Pará Belém...
...
Respeite autorias. É lei
ONDE NASCE A SOCIEDADE
Demétrio Sena - Magé
Algumas famílias grandes que conheço formam sociedades formidáveis. Embora existam entre elas, escalas econômicas, escolares e culturais bem variadas, não há respeito maior pelos mais bem sucedidos social ou economicamente. Os que estudaram mais não são obrigatoriamente os mais admirados nem os que estudaram menos têm menos direito a voz. Aqueles que têm "menos posses" recebem os mesmos convites; frequentam os mesmos grupos... e os mais religiosos não são cultuados nem olham os menos ou não religiosos como insetos indignos. Confusões? Muitas. Todas as famílias têm. Mas nessas famílias bem resolvidas tudo se dirime a curto e médio prazos, utilizando esses critérios.
As intervenções em celeumas são todas muito cuidadosas, para que "a corda não se arrebente sempre do lado mais fraco" (figura de linguagem, porque, nesses clãs não há lado mais fraco). Perde quem é o mais teimoso e rabugento a cada celeuma. Não o mais "feio", mais pobre ou menos culto. E muitas vezes a confusão acaba em "zoação", sem ninguém achar que isso pode acabar em algo mais grave.
O que há em comum nas famílias bem resolvidas, é que são todos loucos; formidavelmente loucos, em níveis diferentes. Talvez seja esse, o motivo da igualdade que reina em seus ambientes. Acho que o simples fato de serem muitos, com tantos desníveis ou diferenças, prepara os membros consanguíneos dessas sociedades privadas para viverem na sociedade aberta; no mundo em torno. Na diversidade ampla, irrestrita, que precisa respeitar, além de todas as outras anteriormente citadas, as diferenças étnicas e de gêneros que já conhecemos e/ou viremos a conhecer. A sociedade, como um todo, deveria funcionar exatamente como funcionam determinadas famílias que tive a honra de conhecer ao longo da vida.
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#respeiteautorias É lei.
DAS PIEDADES DEFINITIVAS
Demétrio Sena - Magé
É de alguma grandeza quando saciamos, ainda que pontualmente, a fome de alguém... amenizamos o frio de uma pessoa que mora nas ruas. Grandeza, se não o fazemos pelo interesse na suposta multiplicação divina do que já temos, enquanto aquele continua não tendo nada... ou só a benção falsa de suportar, cotidianamente, os nossos olhos imponentes de piedade superior.
No entanto, há casos em que podemos ajudar alguém a nunca mais ter fome nem sentir frio, e não o fazemos. Não sei se tememos perder a "glória" diária de ouvir as palavras gratas do beneficiário das nossas migalhas... ou se o nosso foco em nós é tão imenso que jamais percebemos uma chance de ajudar um ser humano a nunca mais precisar das migalhas do outro.
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#respeiteautorias É lei.
O amor é algo sério,
Um grande pequeno mistério.
É um tesouro
Tão valioso quanto o outro
E maior que todos.
É uma mentira verdadeira,
Um carro sem freio em ladeira.
Algo que dói e arde
E dorme até tarde.
Quando acorda,
Pede uma corda
Pra tentar recuar
E sumir no ar
Até o próximo dia raiar.
Hoje acordei feliz,
E dormi tristonho.
Perdi o ponto,
Se achei, um tonto.
“Ninguém gosta de mim”,
Disse deitado na cama.
Falou gritando assim,
E, no fim, dormiu sem drama.
O perdão é uma escolha,
Que pode ser pedida.
Ou vem com o tempo,
Curando a ferida.
Rancor faz mal,
Corrói a vida.
Quanto mais leve,
Melhor a hora de minha ida.
Por isso vivo assim:
Não tenho mais nada a perder.
Se acho um vilão,
Sem mais nenhum herói pra deter,
E o Superman é a solidão.
Um dia fui triste,
Um dia fui feliz,
Mas, sendo triste ou feliz,
É no olhar escuro da moça preta que me perdi.
O brilho que reflete no seu olhar,
Carrega segredos que o tempo não pode calar.
Nos seus olhos, vejo histórias de dor e força,
Onde a beleza da vida e a luta se enroscam, se entrelaçam, se tornam nossa.
Fui feliz em momentos fugazes,
Mas, no olhar dela, há algo que me traz
Uma paz profunda, mas também um abismo,
Onde me perco, sem entender o ritmo.
A moça preta, com sua história e dor,
Carrega no olhar um mundo de amor.
E é ali, nesse instante, que tudo se dissolve,
Entre a felicidade e a tristeza que se envolvem.