Textos em Prosa Literariamente
Por tudo que tu destruiu
Por tudo que tu não cumpriu
Por tudo que tu não assumiu
Por tudo que tu consentiu
Por tudo que tu não assentiu
Por tudo que tu viu
Por tudo que tu substituiu
Por tudo que tu intuiu
Por tudo que tu deferiu
Por tudo que tu extraiu
Por tudo que tu concluiu
Por tudo que tu subtraiu
Por tudo que tu descobriu
Por tudo que tu traiu
Morra sem dar um piu
BARQUEIRO E CARTA
Lá vai ele... O barqueiro,
com pedaço de rapadura
com seu barco, e seu saco,
e dentada com boca dura
Sacode seu remo ao vento
empurra n'água o remar
segue adentrando no rio
com vontade de chegar.
Em seu estreito espinhaço
sobre o leito deslizando
na pose de cabra macho
barqueiro distanciando.
Como lamina sobre as águas
segue encurtando a viagem
cada curva do rio, lagrima
da saudade em visagem.
O que tu leva barqueiro
com tanta urgência assim,
não, não é o mundo inteiro
não diga isso p'ra mim...
_ Levo carta com saudade
do pulsar de um coração
sonhos alem das margens
sopitando de paixão.
Levo vontade do amor
como se fosse um tom
nota com muito fervor
tilintando sonho bom.
Levo também uma sina
de amar longe dos olhos
uma vida que não rima
oceanos sem abrolhos.
Levo aqui um horizonte
sem alvorecer do dia
miragem alem dos montes
um sonho de fantasia.
Por outro lado o amor
levo com suas vendas
amar de longe é dor
ô bom Deus, me defenda.
Não deixe esse sofrer
parar no meu coração
não quero esse viver
amar longe, não e não!
Quero amor perto de mim
todo dia e toda hora
com diadema de cores
no céu da minha aurora.
Quero pássaros no quintal
em notas do meu coração
chilreando o carnaval
farfalhando o meu quinhão.
Anoitecer, quero sorriso
da noite toda enluarada
estrela d'alva eu preciso
iluminando minha estrada.
_ Barqueiro o que você quer
sinto muito, também quero
mas o querer e o vier...
Pertence ao mundo dos cleros.
Antonio Montes
AZEDO E BOM
Oh meu limão, azedo e bom
me de o suco?
Que eu lhe dou meu adoçar.
Com minha jarra e essa farra
Vamos ouriçar?!
Essa saudade que amarra...
lembranças ao tempo e ao lugar
colocando a vida pra amargar.
E esse calor que faz o corpo
tombar ao gosto de espantar
eleva o humor a ficar pouco
e o louco a mudar de lugar.
Oh meu limão! Vamos tomar...
O doce da vida pra voar
e assim plainaremos na alegria
e todos os dias, vamos amar.
Antonio Montes
PINTALGADO
No dia solto de fado
a voz, ecoa pelo ar
ritmo produz o corpo
a ginga entorta o olhar.
A musica eleva a alma
nos braços intimo do ser
bailar irradia a calma...
O sentimento e renascer.
Dia de fado... Asas!
Paixão e amor... Voar!
A felicidade transborda
e vê alegria extravasar.
Sonhos vão para o além
deitar-se no berço futuro
nesse dia, obrigado, amem
pelo passos tão seguros.
Antonio Montes
SICÁRIO
Assina mão assina
assina aqui, sua sina
mão, a sina assassina
... Assassina a sua sina.
É você que faz a sina
sua sorte e sua rima
assassina, alto estima
por ser, mão assassina.
Assina mão, assina
as dividas de sua vida
elas serão sua sina
da sua vida atrevida.
Antonio Montes
Amantes em Liberdade
Sinto a liberdade no olhar dos amantes
Apaixonados e delirantes,
Sonhadores noturnos,
Em dias que se clareiam,
Em faces que se maquiam
Aos sons da poesia.
Vejo os amantes em liberdade
Que soltam em voos longos
Fundo mergulho, profundos gostos,
Em jardins a perfumar.
Tocando em violas,
Falando em prosa,
Pondo o coração em versos,
De quem sabe, oh Deus, amar!
E deles, libertos atos são feitos,
Em tons de regras impunes,
Vão-se enamorando...
Sem pecado e com ardor,
Encobertos de álibis e de presumes
Tirando de si, tudo que dentro sentia.
PERFAZER
No silencio da noite
ao som da intensa madorna
um suspiro propenso
mistura-se a ressonância do sonho
... Quintal de terra
bola de meia, peteca no ar,
menino deixe de brincadeira...
Venha cá?!
O pipa esta solta aos ventos
ao tempo, em seu momento...
Um olhar sob o horizonte do mar...
Menino venha cá?!
Vá correndo ao compadre
volte antes do cuspe secar
traga o fumo, traga a palha
que hoje eu quero pitar.
Freadas buzinas...
Furdunço com ambulância,
tempo pequeno, assina a sina
o sonho acaba
mais um fim de ressonância.
Antonio Montes
CONTE E FALE
Sim me diga, diga vai?!
Vai dizer, o que, que há?
Se não me diga, não diga!
Se vai dizer, então diga já.
Se ameaça em dizer...
então, vai ter que falar!
Se não que falar, não ameace
e guarde tudo pra você.
Hum! Resolveu, vai falar?!
Fale logo sem demora?!
Não enrole o blá, blá, blá
diga tudo e vá embora.
Essa hora ainda é tempo
de expor tudo que sabe
diga do seu sentimento
contando toda verdade.
Antonio Montes
TABUA DE CARNE
Tabua de carne...
Abre alas para o tempero da morte
A qual, todavia se oferece
para fazer dos seus adversários
seres tenebrosos e fortes.
Ali se debruçam em peças para serem
talhadas por golpes de pulsos firmes,
suados e sedentos de sangue...
Ali seres simples são cutilados pelo
poder da ganancia; insaciável dimensão
todavia despencando pelos mesmos poderes
Poderes que com suas laminas frias e afiadas...
semeiam suas mensagens terminais.
Tabuas de carne afago de, o penúltimo partir
ceifadeira de singelas vidas,
é uma peste seu empestear por aqui.
No ultimo tremor do momento final do existir
sobre aqueles mórbidos segundos,
o erro se enche de duvidas
dividindo a sepulcral partida
com os erros errados da vida.
Antonio Montes
TÉTRICO
Ações rasas embala...
Embalam, balas que não podem parar
Mas falam, falam quando dispara
... Falas e desconsolo que fazem chorar.
Tilintam na casa do desespero
em desterro por ter que enterrar
chuvas de mal gosto, ao mundo inteiro
aos gostos que podem exterminar.
Balas... Balas que ao falar cala
por dedos tesos, ao articular
depois demarcam, abscuro da cara
pra nunca mais poder voar.
São ela, pontos de toda uma vida
pesponto do dedal, magistral morte
balas, vão ao sul semeando lagrimas
aterrorizando o sol no amanhecer norte.
Antonio Montes
O CAROÇO
O caroço esta grosso
não cabe mais na panela.
O rango esta ensosso
a canjica cheia de osso
será que a culpa é d’ela?
São tantas as fomes sobre as mesas
que até falta prato e tigela.
Falta também alegria
e esta sobrando tristeza
e o requinte perdeu a beleza.
A moda agora é surrupiar
é rico roubando pobre
e pobre a se enterrar.
Isso sempre aconteceu
Deus acode o mundo teu
e se não for de mais, diga...
Quanto isso vai acabar?
Antonio Montes
REINAÇÃO
Enquanto o fole folheava a folia
o fado era sapateado pelos pés
a dança, demarcava n'aquele dia
o pulsar do coração em aranzel.
Musica, voava como asas no salão
flutuando, elevando o sentimento
era sola solada, pulsando coração
Era corpo trepidando o momento.
Enquanto o fole folheava o fado
a noite tremia e se fazia criança
para vontade, tudo era agrado
a imaginação, bolia a esperança.
O ritmo requebrava os lados
o peito seco arfava uma canção
o fole folheava folia com o fado
o fado a folia, vagava imensidão.
Antonio Montes
Amar
Quando um certo alguém desperta um sentimento,
penumbra, alarde, incerto momento.
Sem fuga, não ter pra onde ir,
tentar desvanecer, não conseguir fugir.
Ao longe perto se está, engana-se ao tentar enganar
Coração vicioso, confuso dispara.
Logo eu que sempre andei ao rumo de muitas veredas,
trocando o sossego de meu lar pelas ventanias da doce vagabundagem
sem saber se estava fugindo de algo, ou procurando por você.
Culpa
Afinal, o que acontece
Não me alegra, tão pouco entristece
Mas me intriga, causa insônia
É incólume porém é difícil,
Pois escolher é decidir
Estar livre de mim mesmo
E poder atribuir, desta culpa me encarnar
d’está, deixa assim mesmo como está
foi tudo minha escolha
Consequências, sim eu hei de encarar.
INTEMPÉRIE
temporal d'água
com muita chuva
encheu as luvas
de enxurrada.
Saiu arrastando
carros pelas ruas
alagou as casas
minha e sua.
Desceu asfalto
sem nem um zelo
encheu as bocas
de todos bueiro.
Temporal d'água
veio com ventos
molhou as éguas
e seu jumento.
Antonio montes
ROSA MULHER
Olhe a rosa?!
_ Mas que rosa?
_ A Rosa Maria
Mulher do vigia
Ela zanza à noite
Dorme durante o dia.
_ Mas que vigia?
_ O vigia José
Que trabalha, trabalha
E a Rosa, nem café...
Eita mulher que falha!
Outro dia ela saiu
Logo ao entardecer
Invisível ninguém viu
E ela só foi aparecer
Na aurora ao amanhecer.
Bateu o pé por ai
Desobedeceu se mandou
Depois começou a mentir
Disse que foi caçar pequi
E na verdade com outro
Ela foi fazer amor.
Saiu de carro um dia
Com um cara lá da feira
Não escolhe a quem vai
Diz que tudo é besteira...
Ontem saiu de bicicleta
De fininho por ai
Foi até a beira do rio
Em dia assim de estio
Vejam o que poderá vir.
Garra agarra ela brincou
A tarde toda com amor
Que a outro prometeu
De fininho ela voltou
Jurou para o seu senhor
E para a nossa senhora.
Valei-me meu Deus!
Leva a vida sempre assim
Nem ora e não sabe rezar
Na igreja ela não vai
Sempre zanza por ai
De cara com o satanás.
Antonio Montes
A MENINA POETISA
Mamãe eu vou ali, voltarei já, irei colher flores de maracujá... Eu posso ir mamãezinha?..
A senhora vai deixar?! _ Vá, mas volte logo filha minha não se esqueça de que você é a perola dessa família.Além do mais já é quase chegada a hora do almoço: meio dia, e depois eu não quero te ver envolvida com garotos.
_ Oh minha mãezinha!’ porque tanta ladainha assim! Eu também quero ter tempo para passar no jardim... Colher folhas de alecrim, E aqui aproveito a nossa prosa para te falar que das rosas eu colherei pétalas, para mim, e também trarei para ti pétalas de flores de todas as cores
lindas grenás como sabe, todas as rosas vermelhas esboçando os meigos amores.
_ Minha filha você também tem a lição escolar para fazer; meu sonho filha minha, e a minha paixão para quando você crescer e for uma médica sensível e cheia de mimo como você é,
e sempre será.
_ A mãezinha a senhora ainda não sabe que se estuda muito para ser médico, e assim com esse poder aquisitivo baixíssimo que nos possuímos, é claro que nunca serei uma médica.
Nessa via só sou menina pobre só sei brincar,
Brincar de boneca, pula corda ciranda, eu sei
rodar, gosto de bambolê pular sorrir e cantar
nasci para ser rainha do lar medica não serei!
Quem dera chegar lá?! Tenho estudado:
Anatomia, matemática socialismo e biologia
Para que desse modo de ser, pobre eu saia
um dia. Mas aqui, a vida é simples, sem stress
sem conta e sem processos, não tem carros
nem aglomeração os dias são meigos
e a esperança existe no coração.
A lua por aqui, a noite ainda se vê no céu
Ver também todas as estrelas... Sobre o sol,
se anda de chapéu observa-se as chuvas
as enxurradas a correr fazendo aranzel.
Ver também o vento farfalhar as folhas
O joão-de-barro revoando para lá e pra cá
fazendo a sua casinha e com a sua amada cantando a namorar, tenho visto o
tico-tico no terreiro bicando o fubá os
pássaros todos alegres a chilrear, o galo
no poleiro apresentado o seu cantar.
Mãe eu não sei se quero ser medica viver
sob quatro paredes não me agrada. Não me
agrada aprender tanto, tanto! Para depois
viver sobre tensão carregando um controlador
“bipe” e nunca mais da vida nada!’ poder degustar, sou mesmo uma pessoa simples,
admiro a saúde a paz e o amar, fico feliz
apenas com uma musica, um cantar.
Antonio Montes
EXPECTAÇÃO
A carta em cima da mesa
com palavras toda florida
contem frases de esperança
e pautas cheias de vida.
Relata, meigas saudades
atos de dóceis de carinhos
cita até certas vaidades
do tempo cheio de mimo...
A carta em cima da mesa
marca uma época de amor
rascunha ali uma certeza
que no amar, não existe dor.
O que existe é alegria
com sol límpido e preciso
um sonho a cada dia...
Alvorecer cheio de riso.
Antonio Montes
SOTURNO
Eu tenho criado mudo...
Mudo no quarto não fala
as vezes mudo do canto
mas nunca chega na sala.
Mudo sempre na casa
sem palavra ali, pronto
aonde guardo as cartas
e lagrimas desse pranto.
Já tentei falar com ele
ele... Sem fala não fala
silencio eu sei, é d'ele
as lembranças nos abala.
Criado mudo me ensina
viver sem nunca chorar,
padecer é minha sina...
porque choro no amar?
Antonio Montes 24/10/16
UTOPIA
Com laço d'essa saudade
amarrei minha paixão
na corda da felicidade
dei o nó no coração.
Fiquei sufocado ao ar
sem poder nem respirar
meu Deus quando eu voava
queria, tanto amar!
Hoje sem minhas asas
meu horizonte encolheu
meu voou, dentro de casa
meu sonho é eu mais eu.
Agora é dentro do sono
onde posso navegar
sentimentos tem dono
acabou-se o esticar.
Antonio Montes