Textos e poemas
" Loucos "
Caminho na estrada escura
No caminho da estrada
Na estrada sem chão
No silencio barulhento
O cego viu o vento
O mudo me falou
Que o quente está frio
Que o molhado é seco
E o reto é torto
O distante está perto
O perto está longe
Na Aguá seca
O aleijado andou
Na rua flutuante
E no mundo alucinante
Se amo você.
Como eu queria
Poder tê-la aqui
Mas sei que estaria
Bem longe daqui
Como eu gostaria
De ir até aí
Mas não o faria
Você mais sorrir
Mantenho em segredo
Aquilo que vivi
Mas tenho o desejo
De irresistir
Contar ao mundo
O que eu senti
Disfarçado conjunto
Que amiúde teci
Em uma só noite
Onde descobri
Que, se amo você
Tenho que partir
O ÚLTIMO BEIJO
O último beijo
Sendo um beijo qualquer
Na esperança de mais beijos
O beijo da amargura
Das lembranças dolorosas
Que queima o peito sozinho
O último beijo
Se eu soubesse, beijaria pela última vez
Sendo a primeira vez
As mágoas das lembranças me consomem
Infelizmente isso é insensatez
Se eu pudesse, beijaria melhor
Melhor eu faria aquele beijo
Sem esperança, sem alegria
De novo, eu não o faria
O último beijo
Das tristezas e do fim
Das cruzadas entre duas almas perdidas
Na pressa em chegar ao destino pretendido
Um rápido toque dos lábios melódicos
Mal sabia eu, que era um adeus
Se eu soubesse, beijaria como fosse a minha primeira vez
De outras muitas vezes
A saborear aquele mel gostoso
O beijo das tristezas, o meu último beijo.
Ventura
O que há de mais profundo no seu olhar,
não se encontra em qualquer lugar.
Num lindo céu azul,
te encontro num lugar comum.
Sem saber o que fazer,
ainda espero te reencontrar.
Sem nada a temer,
espero te abraçar.
Sem palavras para expressar,
me assegura com um sorriso
e alivia o pessimismo.
Com você encontro o sol,
sendo a luz de um só destino...
AMANHÃ
Amanhã a felicidade vai sorrir
Com sua boca banguela de criança arteira.
O metrô será um coração de mãe
E a Radial Leste estará livre como um tapete mágico.
Amanhã a alegria será um touro rosa correndo pelas ruas,
Lambuzando de cores os olhos de pedra da cidade
E colorindo cabeças e janelas.
Amanhã Criolo vai dar canja,
Marco vai captar o momento exato,
E Casulo vai construir uma peça lotada de gargalhadas.
Amanhã todos os faróis estarão piscando VERDE,
Na Casa das Rosas vai ter sarau,
Mariana vai parir um poema azul,
E Helô vai preparar o pão dos Elfos.
Amanhã vai ter samba na Santa,
Será meu dia de folga
E Deus vai dormir numa rede de mariscos.
Amanhã é dia de pastel na feira,
Nina vai botar uns pingos nos is,
A Paulista será só para os sapatos
E o Messias encantará um cordel.
Amanhã a felicidade banguela vai sorrir,
Porque hoje eu acordei mordido de alegria
E com um vontade infantil de acreditar.
BELCHIOR
Eu sou Belchior,
E meu coração jaz esquecido num estacionamento de
aeroporto.
Eu estou Belchior.
Pior que Belchior.
Pedi emprestado, não paguei.
Andei a pé do Centro à Vila Ré.
Morei de favor.
Amei de favor.
Fiz piada com a tristeza
E neguei 7 vezes o meu nome.
Eu jantei com a fome.
Eu quase fui Antônio Carlos.
Meu pai errou e me chamou de José.
POEMAS
Vida: tudo ou nada?
Eu sou tudo e nada.
Sou corpo, mente e alma.
Sou além do que se pode ver.
Às vezes nem só eu mesma consigo enxergar.
Veja através dos olhos.
Veja além da carne.
Sinta com o coração.
Eu sou tudo e nada.
Em um instante calmaria, em outro, furacão.
Num momento ventania, no outro, erupção.
Eu sou tudo e nada.
Corpo, mente, alma e coração.
Eu sou barco a velejar.
Não sabe que caminho seguir
Não sabe aonde chegar
Às vezes pega tempestade
E pensa que vai afundar.
Eu sou tudo e nada.
Em um instante posso estar aqui, em outro posso acabar indo para outra dimensão.
Eu sou corpo, mente, alma e coração.
Talvez alguém um dia alguém possa me entender
Ou talvez eu venha a não ser compreendida e morrer.
Talvez nem eu mesma um dia consiga totalmente me compreender.
Somos filhos da incerteza, da dúvida e do mistério.
O que temos é apenas a vida, simples, não precisa ser levada a sério.
Ou precisa?
Somos tudo e nada.
Vidas curtas ou longas.
Mornas ou intensas.
Num instante estamos aqui, no outro em outra dimensão.
Somos corpo, mente, alma e coração.
Manu
Manu ,que contradição!
Você é movimento
Mas se pudesse seria estátua
Você é fogo e água
Quer está rodeada de pessoas
Quer está só
È falante e calada
Parece tranquila
Mas é inconstante
É Séria, exigente, decidida.
Mas também
È compreensiva, rebelde, insegura.
E vive de ironias
Não sei, talvez eu esteja apaixonado.
As vezes penso se é melhor investir ou deixar de lado.
As vezes tô andando na rua e penso naqueles cabelos cacheados.
Lembro daquele abraço dela que eu fico encantado.
Mas não sei, perto dela eu fico sem assunto,
Não consigo perder a vergonha como eu faço com todo mundo.
Estar perto dela é diferente, é maravilhoso.
E esse sentimento pendente que é perigoso.
Hoje ela não faz ideia do que eu sinto por ela,
Ela deve imaginar que eu só quero ser amigo dela.
De cabelos bem cuidados e de pele branca,
Só de pensar minha consciência já balança.
Só queria que ela lesse e entendesse que esse poema é pra ela.
Que pra mim ela não é um problema, e sim uma princesa mais perfeita que a cinderela.
Te amar
Te amar é pecado?
Te amar foi um erro meu?
Será que um dia serei amado?
Seu eu for, quero que o amor seja o seu.
Fiquei dias te olhando,
E eu sempre vivo a sonhar,
Passei dias chorando,
Porque você estava a me humilhar.
Você não estava ligando para meu amor,
Mas eu apanhava e chorava por você,
E esse era meu maior terror,
E por causa desse amor eu sempre vou sofrer.
Te amar com certeza foi um erro,
Me machucar por amor sempre foi meu medo,
Sofri,chorei e me machuquei,
Mas para sempre viverei.
TEMPORAIS
Toda vez que perco o horizonte
Creio haver um mar a minha frente
Tão longe de mim equidistante
Como as rosas de um jardim
Ou uma nuvem passante
Que se desmancha insana
Por entre respingos de lama
Ou alvas fronhas de algodão
São aguas verdes revoltas
Remexidas pelos mesmos ventos
Que soltos conduzem minhas barcas
Serenas cada uma a seu porto
E as nuvens aos seus tantos
Destinos e encantos
Revestindo travesseiros
Sobre as camas da paixão
Todos esses travessos romances
Atravessam-me intensos
Ainda que de mim jamais saibam
Porque nunca mais retornam
Porque se tornarão propensos
A viajar outros céus e mares
Esculpindo suas torres imensas
Apesar dos temporais
A perda
Que dor e essa;
Que vem de dentro; Começa e não sessa; Vivo muito sedento;
Estamos sozinhos;
Sem ninguém pra nós ajudar; Saímos de fininho;
Pra ninguém escuta;
A noite calma;
Tristeza no ar;
De quem perdeu a alma; Por tanto te amar;
Tanta dor;
Muita decepção; Sinto o odor;
Da putrefação;
Minha alma chora; Pelo fim da solidão; Que aumenta a dor; Dentro do coração;
Coração machucado; Coração doente; Onde foi pisado;
E está carente;
Triste para mim;
Dizer que este é o fim; Que meu caminho; Agora é viver sozinho...
Você lembra...
Daquela noite escura...
Após as doses de rum...
Lembra da faísca...
Do quarto em chamas...
Da febre delirante...
Dos nossos corpos ardendo como magma...
Lembra da nossa dança...
Lembra do ápice...
Dos gritos...
Que acordaram o quarteirão...
Dos nossos corpos fracos...
Como se não tivéssemos ossos...
Você me fez acreditar no sobrenatural...
Pela primeira vez...
Naquela noite escura...
De odores almíscarados...
LILIUM
De longe a observo...
Tão quieta...
Parece distante...
Quero dizer-te:
Tu és meu fascínio
Deleito-me por ti
Oh! Menina colírio!
Vou roubar tu, meu lírio
Para um antídoto
E de ti, fazer uso contínuo
Oh! Menina delírio!
Aproxime-se...
Deste lado também nasce o sol
E corre o rio
Há noite, há plantio
Surgem vaga-lumes, cantam os passarinhos
Venha, minha flor!
Não deixarei te faltar suspiro
Pule a cerca, desvie-se dos espinhos
Só depende de tu teu caminho
Oh! Lindo lilium!
Custa-me sonhar?
Um dia atracarei
Mas... Daqui até lá
Vivo a te esperar
É o que me resta...
Pois não posso te obrigar a me amar
Oh! Pequena flor!
Deixe-me sentir teu calor?
“Baixem as velas!”
Berraria o capitão ao ver teu navio prestes a afundar
Do contrário, com os dedos cruzados
Pobre marinheiro...
Naufragou em auto-mar
Pois do amor, não soube desfrutar
Deixando-te morrer por uma flor
Que não sabes desabrochar.
POESIA
Esse é meu jeito de fazer poesia
as vezes com, outras sem rima
sem pontuação, às vezes com vírgula
sem perder a razão, uso a emoção
Escrevendo sério, às vezes brinco
sendo sincero, às vezes minto
Falando de amor ou de mazela
minh'alma está contida no âmago dela...
a poesia.
(publicada no livro: Antologia V - CAPOCAM Casa do Poeta Camaquense - 2019)
A RODA
Bendita invenção que nos conduz
por caminhos premeditados
a destinos tão desejados
nos leva com pressa
para cumprir um dever
sem pressa
para cumprir um prazer
bendita é a roda
que tanto roda…
(publicada no livro: Antologia V - CAPOCAM Casa do Poeta Camaquense - 2019)
ÁRVORE
O vento afaga tua infinita beleza
entre sussurros, acenas com leveza
Noite e dia cresces sem parar
Quantos em teu seio
conseguistes abrigar?
Este estar sempre no mesmo lugar
te faz sorrir e te faz chorar
Meus olhos não querem parar de te olhar…
Quem te plantou neste lugar?
DESDE JÁ
Um dia desses quando eu partir
não quero tristeza
e se quiserem chorar
chorem com leveza
Não perturbem minha paz
entendam…
estarei ocupado
escrevendo a derradeira página
da poesia de minha vida
Partirei tranquilo
não sintam pena
minha vida foi plena
Sorriam…
deixem minha alma partir serena.
(publicada no livro: Antologia V - CAPOCAM Casa do Poeta Camaquense - 2019)
EU
Eu...
no verde da mata
no topo da serra
no campo da várzea
na água do rio que vai
Eu…
no sol que ilumina
na sombra da noite
na brisa serena
na lua que sai
Eu…
no canto do pássaro
no vento que sopra
no sorriso da alma
no orvalho que cai
Eu…
poeta que sou
que canta em versos
a musa que encanta
Eu…
poesia que sou.
UM POUCO MAIS DE HOJE
Ainda tem um pouco mais de hoje
Antes que a manhã volte e amanheça
São as artes das horas ocultas
Que se mostram em partes
Assim se torna mais precioso o que se aprecia
Intenso e evidente seu claro
Mansa e macia essa espera arredia
E ainda que soubesse que partisse
Passaria a vida nessa plataforma imensa
Seguindo essa roda sem freio e sem guia
Contemplando-a por nada e não quisesse
Minha teimosa tolice insana e insistente
A esperaria