Textos de Sofrimento
O figurante
O passado me mata, constantemente, me massacra. E por que? Seria fácil falar que é por causa de um amor, mas é muito mais complexo que isso. Quando você ama alguém, você se entrega. Você não se coloca em primeiro lugar. Você deixa aquela pessoa ver cada linha sua. A vulnerabilidade, As dores, Tudo. Tudo o que você pode ou não oferecer e ser rejeitado é normal, mas ser rejeitado por todos a vida toda, te coloca em um mar de inferioridade gigantesco como se somente por você nascer, você já está errado. Você se vê perdido, como se realmente todo mundo mente pra você, como se você realmente não existisse e é só parte de uma novela, onde você é o figurante, sabe? Ninguém liga pro figurante, ninguém leva a sério o figurante, ninguém se importa com o figurante.
A minha racionalidade é irracional, meu pensamento é tão acelerado que faço vários mundos em segundos, vejo todos os erros em milissegundos para que tudo seja perfeito, mas meu pensar não analisa suas vontades, desejos e sentimentos, só idealiza o meu mundo psicótico, esqueço que diferimos, que não temos as mesmas dores, que vivemos e pensamos diferente.
Na minha psicose de querer amar-lhe, vejo o quanto sou inseguro, é o medo em lhe perder.
Deserto
Perdido no deserto, carrego minha cegueira,
onde a solidão se expande em cada grão,
e as miragens dançam como oásis,
promessas escuto com anseio,
tecendo a mente em redes de delírio.
O chão arde sob meus pés, cada passo é um fardo,
a verdade oculta se revela, queimando os olhos,
ao enxergar além, tropeço no desespero;
a liberdade resplandece, mas a esperança se evapora,
como a carta funesta que ela deixou.
Caminho por este deserto de ilusões,
traços de luz que acentuam a dor.
E, ao final, pergunto-me com pesar:
sou eu o autor da minha narrativa,
ou mero espectador, à mercê de um show de Truman,
aprisionado na cena de uma vida encenada?
Estresse.
Estresse é algo tão comum entre a humanidade quanto imaginam. Nos estressamos todos os dias, pode ser com os pais, com os amigos, com o namorado, com um trabalho, até mesmo com si mesmo. Há variações de estresse. Há o estresse onde você deixa seu anel cair e o mesmo ir para debaixo de algum móvel, mas ainda consegue ser moderado. Há o estresse com os pais que vivem te cobrando algo que claramente não consegue e não quer. Há aquele pequeno estresse de quando deixa o celular cair no rosto porque está quase dormindo, e há aquele estresse que você perde o controle e sai quebrando tudo dentro de casa, até mesmo bate em sua mulher ou seus filhos.
Esse não é o meu caso.
Meu estresse parece ser diferente do estresse dos outros. Sempre muito intenso. Acho que aquela angústia que sinto tem uma pontada de culpa.
Sabe quando você está acumulando tanta coisa há tanto tempo? Quando você vai para escola e consegue ouvir as garotas murmurando ao seu respeito? Quando os garotos ficam te zoando o ano inteiro dizendo que você é feia? Quando você não fica de recuperação em matemática mas os outros sim e uma pessoa em específico fala para os outros que você tá dando para o professor? Quando você tenta ser gentil emprestando sua única caneta preta assim que pedem e na sua vez de pedir não recebe nada em troca além de julgamentos? Quando você chega em casa e vê seu pai e sua madrasta brigando por causa dos diversos vícios que ele tem? Quando você quer se enturmar naquele grupo de amigos em específico mas não sabe sobre o que eles falam e fica com medo de dizer algo estúpido?
Parece ser bobo, do cotidiano de qualquer adolescente, contudo, isso tudo vira um estresse excessivo. Um estresse que quando chega no seu dormitório ou na casa do seu pai, a única coisa que quer é simplesmente deitar e ficar quieta, aproveitando do silêncio ou da música que toca em seus fones. Só que vai chegar uma hora que esse estresse vai transbordar para todos os lados e ninguém mais vai segurar você.
Por enquanto, quando deito minha cabeça no travesseiro, as lágrimas são as únicas a se manifestarem. Penso no estresse diário, na angústia diária, e elas se libertam sem mais, nem menos. Encharcam a fronha do meu travesseiro e escorrem até minha boca, onde sinto nitidamente não apenas o gosto do sódio, mas a pólvora.
Ninguém me vê chorando. Ninguém apresta a atenção o suficiente em mim para ver que isso está virando um problema cada vez maior.
Preciso de um abraço, mas não quero pedir. Preciso conversar, mas não quero pedir. Preciso de companhia
E nunca quero pedir.
Sabe por quê? Porque vão dizer que quero atenção, e vão me confundir com aquelas garotas que inventam problemas e dizem que vão se matar.
Assim que eu abri meu armário, bem no final das aulas, todos os meus livros caíram, até mesmo o que estavam em meu braço. Talvez porque os coitados estivessem todos espremidos ali dentro e eu estivesse com duas mochilas, uma com minhas coisas esportivas e outra com os materiais. Só que isso não importa. A culpa não foram deles. Foram minha.
Eu sei que se não houvesse ninguém naquele corredor, com toda certeza eu estaria chorando de soluçar. Poderia ter feito algo para impedir, para não os deixarem cair, para não amassar as capas com cores vivas e neons e tudo virar preto e branco. Mas não. Sou uma inútil, que nem segurar os livros consegue. Sou a inútil que não consegue se equilibrar por estar com dois pedaços de pano nas costas. Sou inútil por não conseguir ser mais bonita, por não conseguir tirar notas baixas e ficar de recuperação, por ser gentil demais, por não abrir a boca quando ouço falarem de mim, por não ter impedido do meu pai se afundar em um poço obscuro e sem volta, por ficar com medo de errar, por estar com medo de pedir um mínimo de atenção para os meus problemas porque simplesmente, por mais que eu tente, não consigo segurar mais o que sinto.
O relógio faz tic tac
O pavio sobre minha cabeça está queimando
E ninguém se liga no perigo que será quando essa bomba estourar em todos
Sofrer de tudo
Os abraços que não dei mais cedo
E que ficaram num passado proibido
Na ânsia de um amor não vivido
Mataram-me hoje um pouco mais.
A lembrança que vai opalescendo
Pelo dúbio amor que me divide
Refresca meu sentido que insiste
Em ocultar um lume no seu tempo.
E na falta, coisa má e soberba,
Teço fé, vontade e pecado
Na trama de quem também é amado
Em segredo, no sutil sofrer de tudo.
Era uma menina extraordinária, com dons acima do normal.
Era boa com sua escrita, porém, não era boa com as palavras.
Podia curar a todos, mas jamais se curaria sozinha.
Esperava que alguém pudesse fazer isso por ela, mas também sabia que ninguém jamais faria por ela, oque ela fazia pelos outros.
Então ela só se calava e guardava tudo para si, enquanto sofria e ria do seu próprio sofrimento.
ANJO CAÍDO
"Ele treina, guerreia, cai e se levanta.
Pobre anjo caído, erga-se.
Eles dizem: "treine mais, faça mais, seja mais" e ele se afoga em sua perfeita imperfeição.
Eles dizem: "Não se cobre tanto criança, anjos caem."
Pobre anjo caído, treine mais, faça mais, seja mais.
Está sentindo o sangue, escorrendo dos seus ossos? consegue ver a miséria e se contentar com isso?
É como se meu espírito fosse implodir, arremessando todo o caos aqui de dentro.
Pobre anjo caído, erga-se.
Você ainda tem guerras aqui fora, ainda amam você, precisam de você. Um dia tudo isso terá fim, mas ainda não."
JUVENTUDE TRISTONHA
Nas sombras da juventude, o drama floresce,
Em corações jovens, o peso do fardo.
Palavras poéticas, um grito na escuridão,
Expressões vívidas de dor e paixão.
Em versos carregados, ecoa a aflição,
Reflexos das lutas, da busca da redenção.
Um encontro com a alma, em cada linha traçada,
Um convite ao entendimento, numa jornada marcada.
Os dramas da vida, em cada estrofe se entrelaçam,
As lágrimas derramadas, em rimas se disfarçam.
Na poesia, um refúgio, um lugar de compreensão,
Onde a dor encontra voz, e se transforma em canção.
Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
— O gesso muito branco, as linhas muito puras —
Mal sugeria imagem de vida
(Embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina amarelo-suja.
Os meus olhos, de tanto a olharem,
Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico.
Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo mordente da pátina...
Hoje este gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
Quase indizível o experimento histórico,
porque o mês é setembro,
o ano, o de 2011
e às três da manhã me percebo acordada
me equilibrando à beira de um buraco
de que só agora meço o fundo e escuto
a radiação contínua de uma dor
por anos de distração ignorada.
Quem pode me consolar
a não ser Vós, face desfigurada de solidão e tormento?
Que fiz eu, desatenta a vida inteira?
Com que ocupava as horas
quando, à minha frente, muda
levantáveis os olhos para mim
esperando mais que migalhas?
Chorem comigo, céus,
para que o desvão transborde.
Me socorre, pai, mãe, me socorre,
irmãos meus, ancestrais, pecadores todos.
Quem viu o que vejo
venha me socorrer.
Sempre quis ver Jesus
e Ele esteve comigo o tempo todo.
Só era preciso um olhar,
um olhar atento meu.
Era só ficar junto e de modo perfeito
tudo estaria bem, de modo miraculoso.
Ó Vós que me fizestes,
bendigo-Vos pela cruz
da qual ainda viva me desprendes.
Eu não preciso mais acreditar.
Na minha carne eu sei que sois o amor
e é dele que renasço
e posso voltar a dormir.
Ansiar,
Conter,
Sofrer.
No limiar do querer,
ainda que sofrer seja ao acaso,
sem destino definido, indeterminado,
em minha mente ocupa-se um pensamento.
Destinados ao prazer,
ao não receber, em mil maneiras de desenvolver,
não conseguir romper a linha do exercer,
de fato não solucionar nada.
Sofrer,
Conter,
Ansiar.
Para tempos de crise
Isso passa
Neste momento parece que não
Coração acelera, chega tremer a mão
Mas isso passa
Isso passa
As coisas ficaram assim
É uma angústia que não tem fim
Parece que nunca vai sair de mim
Mas isso passa
Isso passa
Eu sei que é difícil acreditar
A ansiedade começa a dominar
E o peito aperta muito forte
Vem aquela sensação de morte
Mas isso vai passar
Isso passa
A sensação é de um labirinto
E não existe saída, é o que sinto
Apenas angústia sem esperança
Me sinto como uma criança
Uma criança perdida em qualquer lugar
Mas isso vai passar
Isso passa
Eu já não sei o que faço
Procurando pedaço por pedaço
Temendo não ficar inteiro
E é isso o dia inteiro
Esperando que seja apenas uma fase
Esperança que gera desgaste
Eu espero que isso passe
Isso ta passando
O que resta é resistir
Confiar que tudo isso faz parte
Até porque viver é uma arte
Arte feita de todos os tipos
Comédia, tragédia,suspense, mitos
Tudo tem seu momento
Neste meu, estou sofrendo
Mas entendi, que isso vai passar.
Esperava arrependimento
mas o que veio foi
um ego em riste,
perfurando meu discernimento.
Consegue-me encher de culpa
por eu não ser o que você queria,
e em outras vias foste se aventurar de fato,
sem nenhum constrangimento.
Confessas com naturalidade
e eu, agressivamente passivo,
relevante, relativizo compreendendo.
Imaginar me corta ao meio,
rouba-me o sono e traz anseio;
a calma escorre pelas mãos,
e meu coração lentamente
vai se dissolvendo.
O que eu faço agora?
Pra onde vais agora?
Dilacerado, sigo lento e sem rumo,
digerindo o sofrimento,
pensando no que Será
juntando os cacos de uma alma despedaçada,
que pela madrugada tenta compreender
por que isso está acontecendo.
Oh, solidão acerba
Que, em mares desconhecidos,
Navega rumo à mansidão do infinito
Buscando um horizonte perdido
Através de espelhos d'água
Que se confundem com reflexões
Profundas como o mais vasto oceano
Que abraça cada pedaço de saudade
De quem, só, sofre calado.
Pensamentos que afogam
Embaraçam, pressionam.
Só te arrosta quem amou
E quem ama em vastidão
Outro coração, outros corações
Em distante escalada.
Eis o que move a vida:
Aprender a dançar
A dança da Solidão.
Alfétena V - Nebulocognição
Cada tentativa de compreensão resvala em um silêncio denso, um mutismo que pulsa com um desconforto primordial, quase tangível, como se a essência própria da verdade se relacionasse naquilo que não pode ser dito, mas apenas sentido. Pois é no silêncio que a alma encontra sua voz mais verdadeira, e sem desconforto, a chama da consciência arde mais intensa. Cada palavra proferida é uma traição ao mistério, uma sombra do seu real significado, uma nebulocognição.
A dor do não dito
Paixão, afeto,
Não sei ao certo,
Só sei que o que sinto,
Não está escrito.
O peso que carrego,
Ou o medo de ser arrastado por ele.
É um nó que sufoca o peito,
Em tudo que lhe diz respeito.
Que machuca no fundo do ser,
Por não encontrar palavras, que se façam entender,
O tanto que eu gosto de você.
É sobre esconder,
O que minh'alma implora.
É sobre amar,
Sem poder se entregar.
É como se isso fosse me matar,
Mas se eu gritar,
O que será de mim?
Um louco? Um tolo?
Ou apenas alguém perdido em seus próprios sentimentos?
E ainda assim, estando contigo, posso ser eu mesmo...
Só sei que, se isso continuar,
Eu não irei aguentar.
Mas sei,
Que meu ser é um eco vazio,
Um reflexo que se desvanece,
E se perde,
Na névoa do que sou.
Poema
Memórias e Arrependimentos
Nunca vou esquecer de como,
Arrependi-me das minhas escolhas.
Nunca vou esquecer de como,
Vivi para os outros, sem forças.
Nunca vou esquecer, quando mais precisei,
Não tive apoio, fiquei sem amparo.
Nunca vou esquecer que as pessoas
Só veem a utilidade, sem reparo.
Nunca vou esquecer de quando precisei
De ajuda com algo importante.
Nunca posso ser ajudado,
Sigo só, cada instante.
Arrependo-me por ter escolhido
Viver dessa forma, sem alegria.
Hoje, minha vida é um lamento,
De outrora, só nostalgia.
As vezes as pessoas morrem de causa natural
As vezes morrem de acidente
As vezes morrem por estarem no local e hora errados
As vezes por descuido
As vezes injustamente
As vezes por ultrapassarem limites
Mas, quase sempre, elas morrem dentro de nós
Por conta do desinteresse e do descuido
Por conta da ganância
Por conta da falta de amor ao próximo
Não queira sentir a sensação de morrer para outra pessoa
É a pior das torturas
Você simplesmente deixa de existir
Todas as lembranças se tornam um pesadelo
Desistem e esquecem
Pronto, você não existe mais.
Hoje eu queria escrever algo criativo
Algo que pudesse te saltar os olhos e aquecer o coração
Mas aí eu lembro que só sei escrever sobre as minhas experiências
E elas não são tão boas
Momentos de alegria, tenho com certeza
Mas felicidade?
É uma palavra muito forte pra mim
Talvez nós todos devessemos dar as mãos e ajudar uns aos outros
Cada um deveria completar seu álbum de figurinhas da vida, compartilhando uns com os outros
Mas o ego não deixa que a gente faça isso
É revoltante imaginar que eu poderia me sentir melhor falando com um alguém e lembrar que esse alguém não está nem aí
Deus me livre de um dia você precisar de mim
Sim 'me livre'
Porque eu não sei abandonar ninguém
Darei meu sangue
Eu simplesmente não sei deixar o meu remorso ser maior que o meu amor por você
De mim para você, seja lá onde esteja.
A vida é muito louca, sabe?
Às vezes me pergunto o sentido
De viver, existir, sonhar
São muitos infinitivos
Que muitas vezes não nos levam a lugar algum
A vaidade corrói os nossos ossos
Uma competitividade sem fim
Nos tira noites e noites de sono
Tempo precioso com a família e amigos
Tempo que não voltará nem por todo o dinheiro adquirido
Trocamos tempo de vida por dinheiro, dinheiro muitas vezes por vaidades que nunca nos satisfarão
Um ciclo infinito e desgastante
Viver é bom, quando se encontra sentido
Espero encontrar o meu algum dia.