Textos de Schopenhauer

Cerca de 118 textos de Schopenhauer

Portanto, para vivermos entre os homens, temos de deixar cada um existir como é, aceitando-o na sua individualidade ofertada pela natureza, não importando qual seja. Precisamos apenas de estar atentos para a utilizar de acordo com o permitido pelo seu gênero e pela sua condição, sem esperar que mude e sem condená-la pura e simplesmente pelo que ela é. Eis o verdadeiro sentido do provérbio: “Viver e deixar viver”.

Marchamos através da escuridão, impulsionados pela energia furiosa da vontade de viver e mergulhamos cada vez mais profundamente nas trevas do vício e do pecado, na morte e na aniquilação – até que, gradativamente, a fúria da vida se volta contra si mesma e nos damos conta de qual é o caminho que de fato tínhamos desejado seguir, até que, através do sofrimento, do horror e do espanto, chegamos a nós mesmos e é da dor que nasce o nosso melhor conhecimento.

O mundo como vontade e representação, propõe um sistema metafisico em que a vontade é vista como essência do universo e da existência. O prazer, assim, não seria mais do que a satisfação passageira do desejo,ou seja, a breve negação da vontade, que logo se recomporia e imporia de novo a dor da insatisfação. Por isso, a filosofia de Schopenhauer é considerada um modelo de pessimismo.

A vida humana, pois, passa-se toda em querer e em adquirir. O desejo, por sua natureza, é dor: sua realização traz rapidamente a saciedade: o objetivo não era mais que uma miragem; a posse mata todo encanto; o desejo ou a necessidade de novo se apresentam, sob nova forma: se não, é o nada, é o vazio, é o tédio que chega.

Se você se interessa muito por filosofia, prepare-se para ser motivo do riso e escárnio de todos. Se persistir em seu interesse, saiba que essas mesmas pessoas depois irão admirar você. (...) E que, se por acaso der atenção a fatos externos, para agradar a quem quer que seja, fique certo de que arruinará seu estilo de vida.

No espaço infinito, inumeráveis esferas brilhantes. Em torno de cada uma delas giram aproximadamente uma dúzia de outras esferas menores iluminadas pelas primeiras e que, quentes em seu interior, estão cobertas de uma crosta rígida e fria sobre a qual uma cobertura lodosa deu origem a seres vivos que pensam; – eis aí a verdade empírica, o real, o mundo.

Inserida por Nonsense

Quem vive no tumulto dos negócios ou dos prazeres sem ruminar o seu passado, só desnovelando a própria vida, perde a clareza de consciência. Sua mente torna-se um caos, e em seus pensamentos penetra uma certa confusão, testemunhada por uma conversação abrupta, fragmentária e, por assim dizer, picotada. Tal condição será tanto mais pronunciada quanto maior for a intranquilidade exterior e a quantidade das impressões, e menor a atividade interna do espírito.

Para viver com perfeita clareza de consciência e extrair da própria experiência toda instrução nela contida, é necessário pensar muito no passado e recapitular oque se vivenciou, fez, experimentou e, ao mesmo tempo, sentiu, e comparar o juízo de outrora com o atual, os projetos e as aspirações com o sucesso e a satisfação deles resultantes. É a repetição das aulas particulares que a experiência deu a cada um. Nossa experiência pessoal também pode ser vista como um texto, do qual reflexão e o conhecimento são o comentário.
Muita reflexão e conhecimento acompanhados de pouca experiência assemelham-se àquelas edições cujas páginas apresentam duas linhas de texto e quarenta de comentário. Muita experiência acompanhada de pouca reflexão e escasso conhecimento assemelha-se àquelas edições bipontinas, sem notas, que deixam muitas coisas incompreensíveis.
A regra de Pitágoras, de que toda noite, antes de dormir, devemos passar em revista o que fizemos durante o dia, está de acordo com a recomendação aqui dada.
Deve-se observar aqui que, após longo tempo e depois de terem desaparecido as relações e os ambientes que atuaram sobre nós, não conseguimos evocar nem renovar a disposição e a sensação outrora provocadas por eles; todavia, podemos muito bem recordar-nos das manifestações provocadas por eles na ocasião. Estas são seu resultado, sua expressão e sua medida. Desse modo, a memória ou o papel deveriam conservar cuidadosamente os momentos importantes da vida. Para tal fim, os diários são bastante úteis.

Arthur Schopenhauer
Schopenhauer - Bastar a si Mesmo

Parecemo-nos com carneiros a brincar na relva, enquanto o açougueiro, com os olhos, está a ESCOLHER alguns entre eles; pois nestes bons tempos não sabemos que INFELICIDADE precisamente AGORA o destino está nos preparando: doença, perseguição, empobrecimento, mutilação, cegueira, loucura, MORTE, etc
... por toda parte o homem encontra OPOSIÇÃO, vive continuamente em luta, e morre segurando suas ARMAS.

A Qualidade de Ensino e Aprendizado

Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado. É com esse objetivo que tal geração frequenta a universidade e se aferra aos livros, sempre aos mais recentes, os de sua época e próprios para sua idade. Só o que é breve e novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos.— Quanto aos estudos feitos simplesmente para ganhar o pão de cada dia, nem os levei em conta.

'IN' A ARTE DE ESCREVER

= Precaução e Indulgência =
Para sobreviver por este mundo afora, é conveniente levar consigo uma grande provisão de precaução e indulgência. Pela primeira seremos protegidos de danos e perdas, pela segunda, de disputas e querelas. Quem tem de viver entre os homens não deve condenar, de maneira incondicionada, individualidade alguma, nem mesmo a pior, a mais mesquinha ou a mais ridícula, pois ela foi definitivamente estabelecida e ofertada pela natureza. Deve-se, antes, tomá-la como algo imutável que, em virtude de um princípio eterno e metafísico, tem de ser como é. Quanto aos casos mais lamentáveis, deve-se pensar: “É preciso que haja também tais tipos no mundo.” Do contrário, comete-se uma injustiça e desafia-se o outro a uma guerra de vida ou morte, já que ninguém pode mudar a sua própria individualidade, isto é, o seu caráter moral, as suas faculdades de conhecimento, o seu temperamento, a sua fisionomia, etc. Ora, se condenarmos o outro em toda a sua essência, então nada lhe restará a não ser combater em nós um inimigo mortal, pois só lhe reconhecemos o direito de existir sob a condição de tornar-se uma pessoa diferente da que invariavelmente é.
Portanto, para vivermos entre os homens, temos de deixar cada um existir como é, aceitando-o na sua individualidade ofertada pela natureza, não importando qual seja. Precisamos apenas de estar atentos para a utilizar de acordo com o permitido pelo seu gênero e pela sua condição, sem esperar que mude e sem condená-la pura e simplesmente pelo que ela é. Eis o verdadeiro sentido do provérbio: “Viver e deixar viver”. A tarefa, contudo, não é tão fácil quanto justa; feliz é quem pode evitar para sempre certas individualidades. Para aprender a suportar os homens, deve-se praticar a própria paciência em relação a objetos inanimados, os quais, em virtude de uma necessidade mecânica ou de qualquer outra necessidade física, resistem tenazmente à nossa ação. Para tal exercício, há oportunidade diária.
(Aforismos para a sabedoria de vida)

Inserida por carlosmachado67

A jovialidade e a coragem da vida, características da juventude, devem-se em parte ao fato de estarmos a subir a colina, sem ver a morte situada no sopé do outro lado. Porém, ao transpormos o cume, avistamos de fato a morte, até então conhecida só de ouvir dizer. Ora, como ao mesmo tempo a força vital começa a diminuir, a coragem também decresce, de modo que, nesse momento, uma seriedade sombria reprime a audácia juvenil e estampa-se no nosso rosto. Enquanto somos jovens, digam o que quiserem, consideramos a vida como sem fim e usamos o nosso tempo com prodigalidade.

Contudo, quanto mais velhos ficamos, mais o economizamos. Na velhice, cada dia vivido desperta uma sensação semelhante à do delinquente ao dirigir-se ao julgamento. Do ponto de vista da juventude, a vida é um futuro infinitamente longo; do da velhice, é um passado bastante breve. Desse modo, o começo apresenta-se-nos como as coisas ao serem vistas pela lente objetiva do binóculo de ópera; o fim, entretanto, como se vistas pela ocular.

É preciso ter envelhecido, portanto ter vivido muito, para reconhecer como a vida é breve. O próprio tempo, na juventude, dá passos bem mais lentos. Por conseguinte, o primeiro quartel da vida é não só o mais feliz, mas também o mais longo, e deixa muito mais lembranças, sendo que cada um poderia contar muito mais coisas sobre ele do que sobre o segundo quartel.

Como na primavera do ano, também na da vida os dias acabam por tornarem-se incomodamente longos. No outono de ambos, tornam-se mais breves, porém mais serenos e constantes.

Arthur Schopenhauer
SCHOPENHAEUR, A., Aforismos sobre a Sabedoria da Vida
Inserida por EmOutrasPalavras

Alegria desmedida e dor muito violenta acometem sempre e apenas a mesma pessoa: pois ambas se condicionam reciprocamente e são também condicionadas juntas por uma grande vivacidade do espírito.

Ambas são causadas, não pelo simples presente, mas pela antecipação do futuro.

No entanto, visto que a dor é essencial à vida e, pelo seu grau, é também determinada pela natureza do sujeito - o que implica que, na realidade, modificações repentinas, sendo sempre externas, não podem mudar o seu grau -, na base do júbilo ou da dor excessivos há sempre um erro e uma falsa crença: por conseguinte, essas duas exaltações do espírito poderiam ser evitadas com o uso do juízo.
Schopenhauer, sobre a gangorra alegria e dor

Inserida por DavidFrancisco

Quem consegue manter o coração dentro de seus formosos limites quando o mundo o golpeia diretamente com seus punhos? Quanto mais nos combater o nada, quanto mais nos rodear com a boca hiante de um abismo, quanto mais dos dispersar com os milhares de picuinhas da realidade social e das atividades dos seres humanos, quanto mais nos perseguir sem conjunto, sem alma e sem amor, quanto mais procurar nos destruir, tanto mais apaixonada, robusta e violenta terá de ser a resistência de nossa parte.
Deste modo, a necessidade e a pobreza exteriores transformam a exuberância de teu coração em miséria e indigência.

Inserida por pandavonteesedois

A Difícil Quietude no Ócio

Durante as longas viagens de recreação, vemos quão perniciosa é a ausência de atividade metódica ou trabalho. Em tais viagens nos sentimos miseráveis porque, privados de toda ocupação real, nos encontramos fora de nosso elemento natural. Os esforços e as lutas contra as dificuldades são naturais para o homem como cavar é natural para uma toupeira. A estagnação que resulta da satisfação completa de um prazer permanente lhe seria intolerável. O verdadeiro prazer de sua existência consiste em superar obstáculos, que podem ser de natureza material, como nos negócios e nos assuntos pessoais, ou de natureza espiritual, como nos estudos e nas investigações. A luta e a vitória fazem o homem feliz. Se lhe falta a oportunidade, esse a cria como puder; segundo o impulso de sua individualidade, caçará ou jogará boliche; ou, arrastado pela inclinação inconsciente de sua natureza, tecerá intrigas, maquinará enganos ou qualquer outra vileza, simplesmente para poder dar fim ao estado de imobilidade que não pode suportar. Difficilis in otio quies [difícil é a quietude no ócio].

Inserida por pandavonteesedois

Como guia das nossas próprias aspirações não devemos tomar imagens da fantasia, mas conceitos. Geralmente ocorre o inverso. Na juventude, em especial, a meta da nossa felicidade fixa-se na forma de algumas imagens que se implantam na nossa mente, frequentemente pela vida inteira ou por metade dela, mas na realidade não passam de fantasmas que zombam de nós: pois, no momento em que as alcançamos, desfazem-se no nada, e vemos que não cumprem nada daquilo que prometem.
Enquadram-se aqui determinadas cenas da vida doméstica, citadina, campestre, imagens da casa, do ambiente, etc. Chaque fou a sa marotte [cada louco com sua mania]. É comum também fazer parte disso a imagem da amada. É natural que seja assim: pois o que é evidente, justamente por ser imediato, também age sobre a nossa vontade de modo mais direto do que o conceito, o pensamento abstrato, que fornece somente o universal, não o detalhe, e tem uma relação apenas indireta com a vontade. Em contrapartida, o conceito mantém a palavra. É ele que deve sempre guiar-nos e orientar-nos, embora seja certo que sempre necessitará da ilustração e da paráfrase por meio de imagens.

Arthur Schopenhauer
SCHOPENHAEUR, A., A Arte de Ser Feliz
Inserida por DavidFrancisco

*Toda a nação troça das outras e todas têm razão.

*A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.

*Na verdade, só existe prazer no uso e no sentimento das próprias forças, e a maior dor é a reconhecida falta de forças onde elas seriam necessárias.
Fonte:

Inserida por AdagioseAforismos

Em presença de um acontecimento desgraçado já ocorrido, no qual, por conseguinte, não se pode mudar nada, não devemos nos abandonar à ideia de que poderia ser de outra maneira; menos ainda refletir sobre o que poderia ter sido feito para que fosse diferente. Porque isso simplesmente intensifica a dor até o ponto em que se torna insuportável, e assim nos tornamos "aquele que atormenta a si próprio". Pelo contrário, devemos estalar os dedos e nunca mais pensar nisso. Aquele que não é bastante leve de intelecto para conduzir-se dessa maneira deve refugiar-se no fatalismo e convencer-se da verdade de que tudo que ocorre, ocorre necessariamente e, portanto, inevitavelmente.
Não obstante, essa regra só tem valor em um sentido. Em um caso de infortúnio, é útil para nos proporcionar alívio e consolo imediatos; porém, quando, como acontece muitas vezes, a culpa é de nossa própria negligência ou irreflexão, então a meditação repetida e dolorosa dos meios que poderiam ter impedido o acontecimento é uma autodisciplina saudável que nos serve como lição e aprendizado, isto é, para o futuro. Não devemos tentar desculpar, atenuar ou diminuir as faltas de que somos evidentemente responsáveis, mas confessá-las e trazê-las claramente ante nossos olhos em toda a sua extensão a fim de tomar a firme decisão de evitá-las futuramente. Temos, é verdade, de nos infligir o doloroso sentimento do descontentamento de si mesmos; entretanto, o homem não castigado, não aprende.

Arthur Schopenhauer
Aforismos para a sabedoria de vida. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.
Inserida por MarcioAAC

— Também não me ofendeu — disse Philip. — Você e Schopenhauer têm algo em comum quanto à religião. Ele achava que os líderes religiosos exploram a eterna necessidade que o homem tem do sobrenatural e tratam as pessoas como crianças deixando-as numa eterna ilusão, e não contam que escondem a verdade em alegorias.

Inserida por pandavonteese

... feliz é quem pode evitar para sempre certas individualidades. Para aprender a suportar os homens, deve-se praticar a própria paciência em relação a objetos inanimados, os quais, em virtude de uma necessidade mecânica ou de qualquer outra necessidade física, resistem tenazmente à nossa ação. Para tal exercício, há oportunidade diária.

Os reis deixam aqui suas coroas e cetros, os heróis abandonam suas armas, […] mas os grandes gênios que estiveram submetidos a eles, que orgulhosamente apenas contemplaram com um olhar casual, os grandes pensadores que não se importavam com as coisas externas, levaram consigo sua grandeza para o além, foram eles que levaram consigo tudo o que tinham.