Textos de Saudade

Cerca de 12080 textos de Saudade

É um equívoco atribuir a este ou aquele indivíduo total ausência de vaidade. O ser humano é vaidoso por natureza, embora nem sempre possa dar vazão, por motivos que incluem condições socioeconômicas, a todos os pormenores de sua vaidade.
Quem usa roupas rasgadas mesmo podendo vestir-se com apuro ou luxo, é porque vê nisso algum charme. Portanto, é vaidoso. Aliás, faz pouco tempo que a última moda eram as roupas deliberadamente rasgadas. Ainda há, com menos frequência, pessoas que usam essas roupas, bastante caras, com rasgões estilizados produzidos nas confecções. Quem não pode comprá-las, mas aprecia essa moda, produz o efeito em casa e certamente alcança o objetivo de estar em sintonia com o mundo moderno.
A vaidade está refletida nas roupas, nos carros, nas bicicletas, nos aparelhos de celular, nas casas e muito mais. Ela se configura quando aquilo que usamos ou obtemos não tem a única intenção de nos satisfazer, mas também de mostrar aos outros, de alguma forma clara ou velada, o que nos pertence. Não fosse assim, só teríamos telefone para fazer e receber chamadas. Carros e outros veículos, motorizados ou não, somente para nos locomover, sem importar os modelos. Verificaríamos quesitos como conforto, economia e desenvoltura, dentro das nossas possibilidades, mas abriríamos mão daqueles que visam muito mais impressionar o outro.
Pode-se afirmar o mesmo da ambição. Ninguém é verdadeiro quando se diz não ambicioso. Tal pessoa terá, no mínimo, a ambição de não ter ambição, com o objetivo específico (e ambicioso) de alcançar a paz espiritual, por exemplo. Há quem abra mão de qualquer conforto material, para se dedicar ao acúmulo de conhecimentos. Outros querem fazer contatos com alienígenas e tantos não querem nada, mas ainda assim, com vistas à libertação total do ser, para fugir do peso e do cansaço de uma vida vertiginosa.
Jamais afirme para si mesmo que uma pessoa é modesta e absolutamente sem apego. Trabalhar menos para dar aos filhos mais atenção e presença, já não podendo lhes dar tantos presentes, é um belo exemplo de ambição humana.

Inserida por demetriosena

SAUDADES DE CHICO ANYSIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Dia destes, adormeci assistindo à novela Império, da Rede Globo. Despertei em plena Zorra Total, programa que abomino pelo mau gosto e a falta de criatividade, além do bullyng constante contra pobres, desdentados, negros, gays e obesos. Imediatamente veio à memória o Chico Anysio. Tive saudades de todas as versões do seu humor elegante, respeitoso, criativo e de gosto apurado, que valorizava os antigos bons horários da emissora para os bons programas.
É uma pena que o Brasil tenha decaído a tal ponto neste quesito. Não há mais um programa humorístico, realmente humorístico, relevante. O que mais se vê na televisão brasileira são esses programas que tentam arrancar o riso com tons de voz e gestos excessivos e a ridicularização das massas. Da maioria do povo brasileiro, composta por essa gente já muito ridicularizada no dia a dia. Não precisava ser também por esses humoristas forjados que se acotovelam nas emissoras, sabedores de que logo serão substituídos, pois não são duradouros. No mais, restam os seriados simpáticos; as comédias românticas capituladas, razoáveis até, mas na cola dos seriados norte-americanos, que por serem originais, são bem melhores. Mesmo assim, os horários são impraticáveis para quem trabalha.
No tempo de Chico Anysio, também do Jô Sares humorista, mas hoje falo do Chico, as emissoras eram mais independentes. Não precisavam puxar tanto o saco do poder público, e por isso, as boas piadas às custas dos políticos, que são de fato merecedores disto, rendiam risadas generosas e ainda faziam refletir. Não era necessário apelar para os bordões, na tentativa de grudá-los em nossos ouvidos e dar a impressão de um sucesso que só é mesmo dos bordões; não dos programas, exatamente. E para o povo, essa era a única e boa vingança saudável contra a classe política, pelos sofrimentos impostos ao país, entra século sai século. Rir dos políticos, graças ao Chico Anysio, era nosso programa predileto.
Hoje, com o medo que as emissoras têm do poder público, seu maior patrocinador, o povo está sendo obrigado a rir de si mesmo. Além de ser simplesmente obrigado a rir, com as piadas exageradas, preconceituosas, desinteligentes e de mau gosto empurradas olhos e ouvidos adentro. Mais uma vez recordo o Chico Anysio, que quando encarnava personagens populares, essas personagens eram caricaturas simpáticas, respeitosas, e sempre soavam como homenagens. Ele homenageava; não praticava bulliyng contra o povo brasileiro simples e sofredor...
...Chico Anysio foi foi o grande humor de nossa vida.

Inserida por demetriosena

SAUDADE PRECOCE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Bastará seu silêncio como despedida;
vestirei esse flanco perfeito pra mim;
seu olhar delineia o começo do fim,
mas não posso entendê-lo como fim da vida...

Se terá que ser não, responderei que sim;
já me parte a certeza de sua partida;
caio nesta saudade que não tem saída,
numa dor de quem quebra uma rocha no rim...

Calarei o que sinto e seguirei sem drama;
ruminar as vivências em tristes lembranças
é a sina indelével daquele que ama...

Solidão é meu mundo sem teto nem chão;
velhas asas me chamam pra outras andanças
onde os pés buscam sonho de nova paixão...

Inserida por demetriosena

SAUDADE PERDIDA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quando amei quem pensava que tu eras,
fui feliz pela minha ingenuidade;
tive a doce verdade sonhadora
que pertence aos romances naturais...
Ao amar uma farsa fiz meu mito;
uma história que sempre quis viver;
pude ser um amante legendário
na medida ideal da fantasia...
Pelas águas de minha ficção,
fui bem fundo e pesquei as emoções
que me deram razão de prosseguir...
A pessoa que amei em quem não és,
já não pousa na tua identidade;
não encontro saudade pra sentir...

Inserida por demetriosena

O ABISMO DA SAUDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Hoje volto a sentir aquela falta
mais intensa, profunda e consistente,
minha mente vai lá pro coração
e deságua o volume das lembranças...
Um vazio se alastra na garganta,
vem a lágrima e finjo que não vem,
mesmo estando em completa solidão,
muito aquém do que podem me flagrar...
Fico meio abstrato e sem contorno,
desintegro a visão d que se vê,
meu entorno me solta e deixa vir...
Acordei entre teias de saudades
quase físicas, quase de argamassa,
numa praça de sonho e nostalgia...

Inserida por demetriosena

PRAÇA

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Dou-lhe tempo e distância pra sentir saudade
ou querer mais distância, mais ausência e vácuo,
pra saber a verdade sobre a falta ou não
que lhe faz meu afeto extremado e carente...
Cedo espaço e dilato as paredes do mundo,
vou pros lados opostos a sua incerteza,
caio fundo no abismo e lhe deixo à vontade,
sem olhares; boletos; cartas de cobrança...
É que tanta procura já se tornou caça;
uma praça de sonhos que abato e conservo;
esperanças no sótão de minhas ruínas...
Guardo as armas e a voz do silêncio de assalto,
pra você me querer por arbítrio e de graça
ou deixar minha praça renovar os sonhos...

Inserida por demetriosena

SOLITÁRIA SAUDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sobrevivo ao silêncio, mas dói nos ouvidos;
a distância não mata; só pesa em meus ombros;
é tão sólida e próxima da solidão
que povoa os escombros em todo meu ser...
Você nunca se foi; desde quando se foi,
cada dia me habita mais fundo e presente;
minha mente, minh´alma e meu corpo a revolvem
nas caladas do sonho de voltar no tempo...
Recomponho a quimera que já foi verdade,
porque tenho saudade, a saudade me tem
sob todos os panos do que só eu sei...
Eu a conto pra mim em segredo constante,
sou estante que abriga uma história vencida
que descansa na paz do conflito só meu...

Inserida por demetriosena

SOLITÁRIA SAUDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quando vejo a saudade que não sentes,
ou a tua nenhuma nostalgia,
minha mente reage ao coração
e resfria os sentidos do meu ser...
Mas a falsa frieza não perdura,
pois o sol do que sinto atinge a neve;
faz a greve do afeto em desalinho
derreter os chavões de minha mágoa...
Eternizo a saudade solitária,
meus ensaios de orgulho são só fases,
frágeis quases que nunca se completam...
Restituo meus olhos pro vazio;
fio bamba da fé na eternidade;
linha tênue de horizonte sem luz...

Inserida por demetriosena

REENCONTRO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Foi um tanto confusa pra minha saudade
a mornura do encontro que tanto esperei;
houve grade, fronteira, sinal de limite
ou alarme velado entre tênues lacunas...
Foste branda e polida, puseste adoçante
onde nunca faltava o excesso de açúcar,
teu afeto distante frustrou a presença
e fiquei constrangido com a simpatia...
Não há como sentir dessa forma contida
o que a vida curtiu tão profundo em meu ser
ou deixar decair o que voou tão alto...
Nem te quero comum, reticente, formal,
no formol, na vitrine, com tal reverência
de museu; catedral; conferência; consulta...

Inserida por demetriosena

DOR DE NÃO DOER

Demétrio Sena, Magé - RJ.

No lugar da saudade não sentida
um abismo de sonhos defasados,
uma vida sem nada pra lembrar
do passado que nunca foi presente...
A saudade que tenho é da saudade
que jamais alcançou meu coração,
é daquela emoção que faz chorar
pelas voltas em tempos bem vividos...
Fico triste porque faltam tristezas,
dói sentir que não há por que sentir
que a beleza de outrora está no vento...
Não há como viver sem a magia
de se ter nostalgia pra voar
lá nos tempos que a vida fez valer...

Inserida por demetriosena

A BOLHA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tive muitas saudades de passados,
isso é bom porque tive meus presentes,
minha história, meus entes, umas vidas
numa vida que até valeu a pena...
Chego ao ponto em que chega de lembrar,
pois o mundo comeu as próprias tripas,
ficou oco em redor dos meus sentidos,
feito pipa que há muito está sem vinho...
Houve um rio de límpida esperança,
uma doce criança envelhecida
numa bolha de simples boa fé...
Hoje tenho saudades de saudades,
cada vez que me lembro do futuro
das verdades que o sonho não manteve...

Inserida por demetriosena

NA LINHA DOS OMBROS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Peneirei os afetos e vi quem merece
a saudade, a lembrança, e por isso a procura;
percebi de quais faltas obtenho a cura,
sem vigília; jejum; agonia de prece...

Os afetos restantes levei à fervura,
pra saber o que sobe, o que gruda, o que desce,
sobrevive à distância, resfria ou aquece
ante meu equilíbrio e meu lado loucura...

Dei ação ao sensor de mentira e verdade,
preferi ter bem menos para ter além
em sentido e certeza da sinceridade...

Foi assim que me achei entre tantos escombros;
só o tempo revela quem de fato é quem;
coração tem legenda na linha dos ombros...

Inserida por demetriosena

S.O.S. SAUDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Faça uma experiência: deixe de procurar, por um bom espaço de tempo, aquelas pessoas queridas que durante anos o aguardaram, receberam bem, mas nunca o procuraram. Você verá que bem poucas - talvez nenhuma - o procurarão para saber o que ocorreu, se você está bem, como vai sua vida. No máximo, aproveitarão encontros causais para perguntas evasivas e desculpas sobre compromissos; falta irremediável de tempo; muita ocupação.
Não se desespere. Ninguém perde o que nunca teve. Perde apenas a ilusão de que teve algo, alguém, uma resposta real ao sentimento exposto. Quem ama se preocupa com o afastamento de quem sempre foi presente. Quem aprecia o que tem não quer perder, e a sensação de perda o faz reagir, para preservar. Desta forma, você apenas abrirá os olhos, e assim sendo, perceberá que o melhor é abrir mão do que na verdade nunca esteve à mão.
No entanto, se uma só pessoa for ao seu encontro, fique muito feliz, e valorize muito essa chance de constatar a reciprocidade surpreendente para os nossos dias. Tempos frios, nos quais as coisas a serem conquistadas ou mantidas valem mais do que laços de amizade. Quiçá de consanguinidade. Valem tanto, que não julgamos valer a pena furtar um instante para uma ligação telefônica, uns passos ligeiros em direção às pessoas ao nosso alcance.
O que ora escrevo serve para mim. Serve para todos. Existe alguém que nunca deixou de nos procurar; sempre fez questão de ser presente, mas um dia cansou da não recíproca. E o que fizemos foi deixar para lá, respaldados em nossas ocupações e prioridades. Cegos para enxergar que tempo é também amor, amizade, resgate afetivo, endossamos a máxima cruel de que tempo é dinheiro, só dinheiro, e ficamos insensíveis ao S.O.S. saudade.

Inserida por demetriosena

SAUDADES

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Nunca fui de não ter um momento sequer
pra pensar em quem amo e vai longe do alcance,
garimpar entre os dias a chance mais rara
de rever; reouvir; reatar algum fio...
Não entendo o sem tempo de romper as grades
e tentar um desvão na soberba das horas,
enfrentar as verdades em redor do sonho
de sentir novamente o prazer da presença...
Um amor verdadeiro conhece os caminhos,
podem ser os remotos, até virtuais,
quando mais não se pode querer da distância...
Só não dá pra não dar importância nenhuma
pros afetos guardados em nossos arquivos;
quem é vivo precisa morrer de saudades...

Inserida por demetriosena

SAUDADE VAI E VEM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

A saudade que tenho de você
não é bomba de gás lacrimogêneo;
não é gênio do choro obrigatório;
o velório de quem nunca morreu...
É um trauma que torno brando e bom
pra seguir e saber que o mundo pulsa;
vem no tom da vontade de viver
o presente, apesar do meu passado...
O presente, apesar do meu passado
vem no tom da vontade de viver
pra seguir e saber que o mundo pulsa;
é um trauma que torno brando e bom...
O velório por quem nunca morreu
não é gênio do choro obrigatório;
não é bomba de gás lacrimogêneo
a saudade que tenho de você.

Inserida por demetriosena

EM NOME DA SAUDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tenho fé na saudade que sentirás de mim, pois insisto em saber o que fomos e creio que ainda somos para nós. Bem lá no fim desse túnel que atravessa o sonho certamente só meu, parece que uma voz me promete que reviveremos nosso passado.
O fato é que a minha saudade nunca foi bastante para resolver essa questão afetiva. Nunca foi te buscar com o devido sucesso e amargou cada instante frustrado. Cada flanco e deserto em que forcei as reprises que trago no peito. Reprises minhas, mas com a velha impressão de partilhar contigo, sendo que não sabes.
Hoje treino esperanças. Alimento essa fé. Ponho todas as cartas de que disponho na mesa dessas tuas lembranças enrustidas. Na chama que o tempo, segundo meus cálculos emocionais, ainda reacenderá em ti.
Quando nada mais resta, recorro a tudo que resta desse nada e me sustento assim. Caio em mim para voar mais alto na ilusão de sentir – além da saudade que sinto – que tens saudade. Que ainda sentirás bem profundo, a saudade que tens.

Inserida por demetriosena

SEM ECO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Nem saudade resiste ao menosprezo;
ela morre por falta de respostas;
quem a nutre sozinho sente o peso
do silêncio de cruz em suas costas...

As lembranças despencam das encostas,
quando escalam com sonhos indefesos,
onde havia esperanças restam crostas
de sentidos que agora estão obesos...

O que houve de bom fica sem chão,
feito bicho de brejo no sertão,
como rio que um dia ficou seco...

Foi assim que murchou meu sentimento;
minha massa incruou sem seu fermento,
pois a minha emoção ficou sem eco...

Inserida por demetriosena

PARA NOVAS SAUDADES

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Outra peça de amor será bem vinda
numa vida que agora está vazia;
uma farsa bem doce, aconchegante,
fantasia de todos os desvelos...
Outro alguém pra fingir que bem me quer,
ser capaz de qualquer desdobramento
pra sarar minhas mágoas com carícias;
bons momentos de falsa eternidade...
Já me cansam sinceros bons humores,
os amores azedos de franqueza
de quem faz o dueto ser duelo...
Quero a luz da ribalta passional;
emoções, alegrias de festim,
mais um fim de saudosas ilusões...

Inserida por demetriosena

SAUDADE FURTIVA

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Fui seu algo acessível por faltar alguém;
um amor provisório, improviso afetivo;
fiz um bem quando a vida lhe fazia mal,
dei motivo e sentido pro seu prosseguir...
A carência me achou e me adequou à sua
que me teve nos flancos dessa solidão,
dei a lua que a noite pedia em su´alma
e servi a paixão que seu corpo queria...
Fomos algo arranjado por nosso destino;
uma data festiva que se fez cumprir,
um abrir qualquer chão e semear momentos...
Você foi o que fui, mas com menos verdade,
tanto foi que a saudade me viu por aqui,
numa hora improvável pra me torturar...

Inserida por demetriosena

SOLIDEZ DE SOLIDÃO

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Percebi que a saudade só é minha,
só meu peito está dentro desse abismo,
sou mais só do que a linha do horizonte
ou a ponte que acaba sobre o nada...
Tenho a calma tristonha do leão
numa jaula de circo clandestino,
solidão é tão sólida que a tomo
e me faço menino em seu regaço...
Recolhi as lembranças para mim,
foi assim que arquivei as esperanças
nas estantes do sonho que morreu...
O amor foi só meu desde o começo,
foi o preço de crer nos olhos vagos
de quem nunca os usou num “eu te amo”...

Inserida por demetriosena