Textos de Lua
Serenata
Horas altas da madrugada, a lua lá fora
Vertendo nostalgia, sussurrando agonia
Na imensidão do azul do céu, vem o dia
Que entre o silêncio, o rumor, faz a hora
Sinto a solidão que de cadência fantasia
Uma harmonia de recordação de outrora
Tal suspiros de violão que d’alma implora
E, que no amanhecer é prostrada poesia
Esta melodia, inquieta, enfada, peregrina
Cheia de sentimento e sensação em ruína
Aperta, invoca e, sufoca toda a suavidade
Então, passa a gemer o sossego, tão aflito
No espírito da noite, num cortante grito...
Numa serenata triste... chora a saudade!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
09/10/2023, 04”48” – Araguari, MG
SONETO NA MADRUGADA FRIA
Madrugada fria, no cerrado, lua no céu
Confidente, luzente, criando imaginação
Que faz do vazio, menestrel desta solidão
Nostálgica, que rascunha pesar no papel
Com duas estrelas ali caídas ao chão
Uma pulsando a saudade ao peito fiel
A outra querendo memorar feliz cordel
E assim, as duas, ditando a sua versão
Então, nas linhas, somente verso infiel
Chorando dos dedos, suspiros em vão
Já no tempo, perdidos, em veloz tropel
Oh, madrugada fria, consinta a emoção
Sair desta letargia de estar aqui ao léu
E dê ao versejar doce e leve inspiração
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO MINGUANTE
Procurei por ti, ó lua, neste anoitecer
E tu estava sem sair à rua, silente
Nenhuma estrela estava reluzente
Tal qual a solidão aqui no meu viver
Noite de inverno, um vazio ingente
Cerrado seco, melancolia a verter
O silêncio no quarto a transcender
E a saudade ousando ser confidente
Escuto o vento na vidraça a bater
Querendo vir me abraçar contente
Se possível fosse sua privança ter
Neste minguante sentimento poente
Nas lembranças eu tento me aquecer
Pois, até a ilusão de mim está ausente
Luciano Spagnol
Julho, 23 de 2016
Cerrado goiano
Ronda (soneto)
Esta noite com a lua vou confidenciar
As minhas lembranças mais secretas
Numa vigia nas memórias prediletas
Que na vida me fizeram assim sonhar
Nestes eflúvios aos sons de trombetas
Do crepúsculo do cerrado, quero poetar
Nos braços da emoção, então devanear
Em suspiros, delírios em cores violetas
Sim, serão sensações na alma a enlear
De um amar nos jardins das borboletas
Das ilusões, assim, ter vontade de voltar
E aí, então, neste cenário de profetas
Quero nesta ronda poder eternizar
O soneto: em linhas, curvas e retas
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
LAMPADÁRIO
No breu do céu, ilustre lampadário
A lua, cingida de estrelas lucilando
Conforme a uma princesa levitando
Se orna de fulgor num alvo aquário
Como nas mãos da arte pintando
O belo e o encantado, num cenário
De esplendor, e num painel solitário
A dama da noite, vai coruscando
Eis a lua, rúbea nudez, e inconstante
Que traz devaneios por ela vigilante
Ora cheia, ora minguante, ali rimando
É o lustre celeste de olhar radiante
Que se pendura os segredos dante
E os oculta nos sonhos tão sonhado
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
SONETO DO AMOR EXATO
Da ventura, terá sempre o invejoso
Por não ter a lua amasia tão divina
E uma paixão tão pouco peregrina
No coração eleito no olhar amoroso
Amor, será sempre suspiro glorioso
Regado de adulação pura e cristalina
Vermelhas rosas, e emoção inquilina
Um gesto, revelado um tanto airoso
É harmonia que nos amestra, contina
Não emulando, e sim no afeto ditoso
O sentimento no espírito, lamparina
Que então, não seja o ter ambicioso
Que o mal que queira o bem ensina
Pra no amor não ter amor enganoso
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 2017
Cerrado goiano
SONETO DA PARTIDA
Ao despedir do cerrado, central sertão
na noite, eu deixarei a luz da lua acesa
a minha admiração posta, fica na mesa
e as lembranças largadas no árido chão
Os cuidados, ao pai, deixo minha certeza
que o bem é mais, mais que a ingratidão
que a vida com amor é repleta de razão
e que o sono só descansa com nobreza
Talvez sinta falta ou talvez só indagação
o que importa foi a história com clareza
e paz que carrego no adeus com emoção
E nesta canção de laço e fé no coração
a esperança na bagagem, única riqueza
se parto, também, fica a minha gratidão
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
Soneto nostálgico
Solitário passei a falar com a solidão
A lua passou a me ver amanhecer
E o brilho do sol a me ver anoitecer
Então o repesar instalou no coração
Via a noite, as estrela e a escuridão
Na comitiva o ontem, hoje o porvir
Tentando comigo alvos para sentir
E nos cochichos nenhuma questão
As lágrimas não mais querem falar
Para que chorar, naquele momento
O vazio é quem veio em mim poetar
E neste total silêncio do pensamento
A viga do tempo e que veio escorar
A saudade, pois o fado é seguimento
Luciano Spagnol
Serenata pra lua
Ó lua que me vê aí do céu
A cada face nova fase surge
Nos braços me faz de réu
Dos amores que no peito ruge
Segredados a ti no apogeu
Das lágrimas que o tempo urge
Em poemas de chegadas e adeus
Com travas rimas que a vida tuge
No ritmo dos versos de saudade
Desenhadas nas ondas de bafuge
Que refresca a doce felicidade
Ó lua que no céu desponta!
Crava na parceria fidelidade
E nos sigilos a fiel desmonta
Guardando contigo na eternidade
É noite no cerrado
Cai a noite no cerrado
E o silêncio floresce
Estrelas lado a lado
Da lua que se oferece
Junto vem a melancolia
Inundando o imaginário
De sonolenta monotonia
No poetar de um solitário
Já não se ouve a vereda
Comigo o breu algemado
O sono na inação enreda
Na noite que cai no cerrado
Luciano Spagnol
Fim de maio, 2016
Cerrado goiano
HORAS TANTAS
Horas tantas, aterrado e um tanto aflito
Confidenciei para a lua o meu detrimento
Do acaso, que com as desditas foi escrito
E se a fito, ainda o sinto no pensamento
Atroa, n'alma um pávido e nuvioso grito
Titilando dores em um amofino violento
Arremessando os anseios para o infinito
Tal o choro do cerrado aflado pelo vento
Clemente lua, que o meu azar sentiste!
No firmamento confessei o meu pranto
Enfardado pelas nuvens transparentes
E no meu peito, uma solidão tão triste
Onde o poetar a soluçar em um canto
Escorre silenciosas lágrimas ardentes
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de julho de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
pôr de lua
estou na tal fase
do luxo da alma nua
de ignorar o tino da frase
escapa-me a percepção
o verso, a rima, a inspiração
a emoção já não me pertence
foge-me o suspense
sou apenas rumo
resumo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/09/2019
Araguari, Triângulo Mineiro
DENTRO DA NOITE (soneto)
A luz da lua no quarto me banha
No canto do sonho a noite palpita
As estrelas, no céu no breu agita
O silêncio na escuridão entranha
O cerrado se cala, a treva vomita
Quimeras na imaginação, manha
No ouvido e no olhar, e barganha
Com as ilusões, vestida de chita
E a sombra continua a jornada
Como que, o sossego que canta
A caminho da alta madrugada...
Baralha, mistura na cor prateada
Encantada, que então se agiganta
Dentro da noite, a lua enamorada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Exilado
A lua me exilou na noite solitária
Me jogando em um isolamento
Onde a alma se sente precária
No ter e não ter o sentimento
O que alegra, fascina, motiva
Que traz sentido e movimento
Sem que se tenha expectativa
Pois o amor não é sofrimento
Nem exílio, é afeto, iniciativa
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
Mesmo com a mais negra noite (sem lua ou estrelas) podemos seguir caminhando, tendo a luz da esperança como farol a nortear nossos passos.
Mesmo no mais profundo dos abismos sempre a fé nos impulsionará a subir pelas escarpas.
Mesmo que os grandes amores tenham naufragados no mar da vida, mesmo que o farol tenha a luz queimada, mesmo que a escarpa seja íngreme demais, sempre são os amigos que procedem ao resgate.
abajur
mesmo estando escuro
havia aquele abajur
mesmo sem poesia
havia o lusco fusco da lua
iluminando o teu olhar que luzia
na inspiração, com rima nua
poetando o que não dizia
a paixão... e onde era sua
a minha vontade, o meu amor
hoje, solitário pela rua
os meus versos sem sabor
vai... chora... calado
por onde for
e o abajur apagado...
aí que dor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/05/2020, Triângulo Mineiro
AO PÉ DO OUVIDO
Eu fui confidenciar, lôbrego, o meu pesar
À velha lua, branca e nua, no céu viçosa
Na noite acordada, supondo que ao falar
Teria o trovar solto duma queixa amorosa
Não quis sequer atenção, então, prestar
No celeste ali estava e, ali ficava gloriosa
Mas, pouco a pouco, num súbito quedar
Vendo um ciciar, pôs a me ouvir cautelosa:
Entre soluços e suspiros eu narrava tudo
Ela comovida, pois, poética e apaixonada
Tal como é, romanceou o duro conteúdo
Com os olhos cheios d’água, sonhadora
Compadecida desta sofrida derrocada
Então, chorou comigo pela noite afora
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 de agosto de 2020- Triângulo Mineiro
paráfrase Pe. Antônio Tomás
SEDUÇÃO ...
A luz lívida da cândida lua incidia
tingindo a face, que do amor vejo
nas cores do matiz do raro desejo
fomentando o agrado que trazia
Numa impulsiva e lassa ousadia
me vi caído no arrebatado ensejo
de dois amores num mesmo pejo
querendo estar na mesma euforia
Ó lua confidente, deixai aparente
a sedução. Me reitero no lamento
antes que vá na penumbra poente
Tão bom perceber o vulto, alento
ao coração, fascínio inteiramente
que arde por total o pensamento...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/03/2021, 20’53” – Araguari, MG
NOITE DE INSÔNIA
Sob a rútila luz da lua no cerrado
Nesta noite de primavera, e fria
Meu tratear, sentinela acoimado
Provoca, acossa e ao sono arrepia
Pende do pensamento um passado
Memória, sussurros e louca utopia
Tal um desalento nuvioso e velado
É está minha sensação, de ti vazia
Na janela o vento na fresta, ali chia
Um perfume seco irrompe o quarto
E cá, um aperto, me faz companhia
E a tua lembrança não fala, se cala
Para um trovador que o amor sentia
Noite de insônia e a saudade entala!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 novembro 2021, 05'08" – Araguari, MG
Busco meu sorriso,como pássaro à procura de abrigo, como sol a procura da lua e as estrelas à procura do infinito.
Enquanto o melô da minha canção vem como nota desafinada de um violão, o meu amor não passa de uma noite mal dormida. Então, fico a procurar, esse sorriso que ficou preso no ar, em uma dessas noites que eu dormi sem sonhar.