Textos de grandes Pensadores
O que é bom? – Tudo o que eleva o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder no homem.
O que é mau? – Tudo o que vem da fraqueza.
O que é felicidade? – O sentimento de que o poder cresce, de que uma resistência é superada.
Não a satisfação, mas mais poder; sobretudo não a paz, mas a guerra; não a virtude, mas a capacidade (virtude à maneira da Renascença, virtù, virtude isenta de moralina).
Os fracos e malogrados devem perecer: primeiro princípio de nosso amor aos homens. E deve-se ajudá-los nisso.
O que é mais nocivo que qualquer vício? – A ativa compaixão por todos os malogrados e fracos – o cristianismo...
Amor e Justiça
Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? – Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos. O amor é estúpido e possui uma abundante cornucópia; dela retira e distribui seus dons a cada pessoa, ainda que ela não os mereça, nem sequer os agradeça. Ele é imparcial como a chuva, que, segundo a Bíblia e a experiência, molha até os ossos não apenas o injusto, mas ocasionalmente também o justo.
A solidão, para alguns, é abrigo do doente. Para outros, a solidão é o abrigo contra o doente.
Ainda que tenham me ouvido tritar e suspirar com o frio do inverno, todos esses pobres diabos de olhos turvos que me rodeiam, com tais arrepios e suspiros, fujo de seus quartos aquecidos.
Podem muito bem lastimar e ter dó de mim por causa de minhas frieiras e que me desprezam dizendo: "Acabará por se congelar com o gelo do seu conhecimento!"
Eu, entretanto, corro de cá para lá, com os pés quentes, sobre meu Monte das Oliveiras. No recanto ensolarado de meu monte de oliveiras canto e escarneço de toda compaixão.
Não queremos que os nossos inimigos nos tratem com indulgência, nem tão pouco aqueles a quem amamos de coração. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Irmãos na guerra! Amo-vos de todo o coração; eu sou e era vosso semelhante. Também sou vosso inimigo. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Conheço o ódio e a inveja do vosso coração. Não sois bastante grandes para não conhecer o ódio e a inveja. Sede, pois, bastante grandes para não vos envergonhardes disso!
E se não podeis ser os santos do conhecimento, sede ao menos os seus guerreiros. Eles são os companheiros e os precursores dessa entidade.
Vejo muitos soldados; oxalá possa ver muitos guerreiros. Chama-se “uniforme” o seu traje; não seja, porém, uniforme o que esse traje oculta!
Vós deveis ser daqueles cujos olhos procuram sempre um inimigo, o vosso inimigo. Em alguns de vós se descobre o ódio à primeira vista.
Vós deveis procurar o vosso inimigo e fazer a vossa guerra, uma guerra por vossos pensamentos. E se o vosso pensamento sucumbe, a vossa lealdade, contudo, deve cantar vitória.
Deveis amar a paz como um meio de novas guerras, e mais a curta paz do que a prolongada.
Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória!
Não é possível estar calado e permanecer tranqüilo senão quando se têm flechas no arco; a não ser assim questiona-se. Seja a vossa paz uma vitória!
Dizeis que a boa causa é a que santifica também a guerra? Eu vos digo: a boa guerra é a que santifica todas as coisas.
A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo. Não foi a vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos.
Que é bom? — perguntais. — Ser valente. Deixai as raparigas dizerem: “Bom é o bonito e o meigo”.
O pior inimigo, todavia, que poderá encontrar é tu mesmo. Nas cavernas e nos bosques és tu que te espreitas a ti mesmo.
Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E por teu caminho desfilam diante de ti tu mesmo e teus sete demônios.
Serás herege para ti mesmo, serás feiticeiro e adivinho, doido, incrédulo, ímpio e malvado.
É preciso que sintas a necessidade de consumir-te em tua própria chama. Como querias renascer sem primeiro te conduzires a cinzas?
A Sabedoria do Sofrimento
O sofrimento não tem menos sabedoria do que o prazer: tal como este, faz parte em elevado grau das forças que conservam a espécie. Porque se fosse de outra maneira há muito que esta teria desaparecido; o facto de ela fazer mal não é um argumento contra ela, é muito simplesmente a sua essência. Ouço nela a ordem do capitão: «Amainem as velas». O intrépido navegador homem deve treinar-se a dispor as suas de mil maneiras; de outro modo, não tardaria a desaparecer, o oceano havia de o engolir depressa. É preciso que saibamos viver também reduzindo a nossa energia; logo que o sofrimento dá o seu sinal, é chegado o momento; prepara-se um grande perigo, uma tempestade, e faremos bem em oferecer a menor «superfície» possível. Há homens, contudo, que, quando se aproxima o grande sofrimento, ouvem a ordem contrária e nunca têm ar mais altivo, mais belicoso, mais feliz do que quando a borrasca chega, que digo eu! E a própria tempestade que lhes dá os seus mais altos momentos! São os homens heróicos, os grandes «pescadores da dor», esses raros, esses excepcionais de que é necessário fazer a mesma apologia que se faz para a própria dor! Não lha podemos recusar! São conservadores da espécie, estimulantes de primeira qualidade, quando mais não seja porque resistem ao bem-estar e não escondem o seu desprezo por essa espécie de felicidade.
Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"
O artista dionisíaco apresentará
de modo imediatamente inteligível
a essência do fenômeno:
ele domina deveras sobre o caos da Vontade ainda não conformada
e pode, a partir dele, em cada momento criador,
engendrar um novo mundo – mas também o antigo,
conhecido como fenômeno.
Em sentido derradeiro, ele é músico trágico
Oração ao Deus desconhecido
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
O que é bom? Tudo o que aumenta no homem o sentimento do poder, a vontade de poder, o próprio poder.
O que é mau? Tudo o que nasce da fraqueza. (...)
Os fracos e os fracassados devem perecer: primeiro princípio da nossa caridade. E há mesmo que ajudá-los a desaparecer!
O que é mais nocivo do que todos os vícios? A compaixão da ação por todos os fracassados e fracos: o Cristianismo...
Virtudes Inconscientes
Todas as qualidades pessoais de que um homem tem consciência - sobretudo quando supõe que os que o rodeiam as vêem, que saltam aos olhos dos outros -, estão submetidas a leis da evolução completamente diferentes daquelas que regem as qualidades que ele conhece mal ou não conhece, as qualidades que a sua finura dissimula ao observador mais subtil e que parecem entrincheirar-se atrás da cortina do nada. Assim como a delicada gravura que esculpe a escama da serpente: seria um erro ver nela ou uma arma ou um ornamento, porque só é possível descobri-la ao microscópio, por consequência com um olho cuja potência é devida a tais artifícios que os animais para os quais ela teria por sua vez servido de arma ou de ornamento não possuem semelhante!
As nossas qualidade morais visíveis e, nomeadamente, aquelas que nós acreditamos serem tais, seguem o seu caminho; e as do mesmo nome que se não vêem, que não podem portanto servir-nos de arma ou de ornamento, seguem assim o seu caminho, provavelmente completamente diferente, decoradas de linhas, de finuras e de esculturas que poderiam talvez dar prazer a um deus munido com um microscópio divino. Eis por exemplo o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia: temo-los, toda a gente os conhece; mas não possuímos além disso o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia, escamas de réptil para as quais ainda se não encontrou nenhum microscópio? E eis os amigos da moralidade instintiva a gritar: «Bravo! Ao menos admite a possibilidade de virtudes instintivas!... Isso não basta!» Oh! como vos basta pouco!
Ao "Dia do Amigo" — Além da Passarela
Na relação com pessoas que têm pudor de seus sentimentos, temos que saber dissimular; elas têm ódio repentino àquele que as surpreende com um sentimento delicado, entusiasmado ou sublime, como se tivesse vislumbrado os seus segredos. Querendo fazer-lhes bem nesses instantes, é preciso fazê-las rir ou lhes dizer alguma fria e divertida maldade: — o seu sentimento se esfria então, e elas recobram o domínio de si. Mas estou fornecendo a moral antes da história. — Uma vez estivemos tão próximos na vida, que nada mais parecia tolher nossa amizade, e havia tão-só uma pequena passarela entre nós. Quando você ia pisá-la, perguntei-lhe: “Você quer cruzar a passarela para vir até mim?”. — Mas então você já não queria; e, quando solicitei novamente, você se calou. Desde então, montes e rios torrenciais, e tudo o que se separa e alheia, foram lançados entre nós, e, ainda que quiséssemos nos aproximar, já não poderíamos! E quando hoje você recorda aquela pequena passarela, não tem mais palavras — apenas soluços e assombro.
Se pudéssemos ter conhecimento exato e completo de todas as causas naturais de cada evento, constataríamos que cada acontecimento passado, presente e futuro ocorreu de forma necessária. O livre-arbítrio, o acaso, e o próprio passar do tempo são quimeras cabíveis a nossa interpretação limitada.
A única relação entre os seres que faz sentido ser trabalhada é a ética, e o caminho para a ética é a simplificação, não a complexificação. Nossa animalidade se estrutura bem em grupos restritos e isolados (ou conforme intuiu Epicuro, "em pequenos grupos de mesma opinião"). Essa possibilidade (como via geral) já se extinguiu há muitos séculos, e por mais que ignoremos, desde então nossa espécie se transformou numa praga fora de controle, progressivamente concentrada em urbes, consumindo recursos naturais num ritmo irrestituível, e causando sofrimento extremo e diário a bilhões de vertebrados, em escala industrial.
Em nosso progresso pessoal, algo se mostra tão produtivo no que tange a nossos semelhantes quanto todas as benfeitorias, incluindo os aprendizados: o tanto que conseguimos ser refratários à negatividade deles, e assim livres do fardo que ela representa. A mesma sensibilidade à aprovação alheia, tão benéfica nos primeiros anos de vida, logo precisará ser perdida pelo que nos faz incluir para nós tal negatividade.
Como se sabe, o conhecimento é bom aliado da inteligência, porém virtude distinta. Se assumirmos que configura um tipo de inteligência, por exemplo, compreender o comportamento (ou a condição específica) de um semelhante (ou de si próprio) no que mais lhe pesa, e lhe promover bens maiores do que o conhecimento sozinho poderia proporcionar, conclui-se que ela habita esfera mais ampla, a mesma que a ética, e demonstra-se capaz de transcender os limites da erudição, e limites de (desnecessário grandes análises) espécie biológica.
Convívio harmonioso. Para desfrutá-lo, as pessoas desejam pares que pensem como elas próprias. Mas encontrar essas pessoas, além de ser no máximo metade da solução, requer esforço. A outra metade da solução está em ser si próprio agradável, o que também requer esforço. Disso concluímos o que? Que a principal suspeita da desarmonia é a preguiça.
A hiperpopulação, aliada à era da informação trouxe à tona o caos de opiniões humanas. Hoje somos ratos furiosos apertados dentro de uma caixa. Diante disso, me parece bem mais sensato olhar com honestidade para minhas próprias atitudes do que tentar convencer os outros das minhas vãs opiniões.
Os novos líderes do século XXI e parecem ser resultado dessa turbina tecnológica para a mais ancestral tragédia da política: “uma minoria mal intencionada reúne mais recursos para influenciar uma maioria de influenciáveis”. Porque afinal, além das propagandas lícitas, essa minoria se utiliza das “outras formas”. Esse fator, sozinho, já explicaria o absurdo de tantos líderes nacionais medonhos.
Penso que o desafio em si do convívio é, no fim das contas, um só: um estar como quer (ou pode)... e o outro simplesmente aceitar. Porque esse é o direito (ou a possibilidade) de cada um... ainda que tal exercício faça mal ao outro.... exatamente como se fosse algo injusto ou proposital. Eis o absurdo sem solução dos relacionamentos.
O ódio é uma das mais potentes fontes de energia humana, herança direta da raiva animal contra aquilo que nos é nocivo. Suprimir o ódio seria um grave desperdício em todas as hipóteses, de energia se for possível suprimí-lo, e de tempo se for impossível. O mais útil é canalizá-lo contra os piores conceitos, ao invés de contra as piores pessoas.