Textos de Filosofia
"Chorar é Lindo" -
Eu sinto muito por aqueles
que são frios demais,
calculistas demais,
vazios demais.
Os que se autodenominam:
bem resolvidos.
Estão sempre muito seguros
de si mesmos e tão inseguros com o outro.
Negam sentimentos, evitam profundidades, delicadezas.
Não se permitem chorar,
errar, ter medo,
dúvidas...
Sentem-se superiores, intocáveis - donos de tudo.
Eu parto do nada: sou
pequeno e infinito.
Não sei bem
qual o proposito,
qual a graça
da vida.
Mas, entregar-se
intensamente as coisas
- as paixões -
que cativam-nos é,
a meu ver, o essencial.
Sofremos em busca de
alegrias, de sorrisos.
Mas, como bem disse o poeta
das coisas simples:
Chorar é lindo!
Repetidas e Limitadas -
A quantidade de pessoas
repetidas e limitadas
que eu encontro por aí,
é absurda.
É tão difícil cruzar uma alma
elevada, profunda, especial
quanto aceitar essa
realidade.
Uma vez ou outra (no calor do encontro),
eu pensoque encontrei,
mas não.
É só mais uma pessoa
legal,
com alguma coisa
legal.
Ainda assim,
cópia da cópia da cópia
(claro, com suas particularidades).
E não importa se são magras,
bem-sucedidas, atléticas,
baixas, gordas, amarelas,
fortes, diplomadas.
Se julgam-se espertas,
inteligentes, superiores,
felizes.
Se frequentam igrejas
ou não;
academias ou não;
baladas ou
não.
E não importa o quanto são
justas e honestas e
solidárias.
O quanto amam coisas
como:
animais e crianças e flores
ou o quanto adoram praticar esportes
e ouvir música...
não importa.
Superficialidade e mediocridadejuntas,
em estado funcional,
denunciam: trata-se de uma
pessoa "normal"
(fora os defeitos e
virtudes).
E no fim,
são todas iguais.
Assim sendo,
nada mais de especial
acontece.
O mundo moderno trouxe o que há de pior no homem e na informação, regurgito de regras seletivas, morais ainda mais flexíveis, aumento brutal no repasse de informação não confiável e o pior de tudo, tornou as convicções humanas ainda mais fortes e quanto a este último hora isto é bom e hora isto é um declínio evolutivo. Se alguém tinha alguma dúvida sobre algo, agora se encontra com uma sólida certeza, certeza incorruptível, intangível. Num mundo onde não existem certezas aparentes o homem afirma saber de tudo e afirma tudo. A terra é plana diz o homem convicto, vacinas matam, os Illuminati eles dizem. O diálogo está morto e o conhecimento se tornou seletivo. E como sempre dá pra piorar, aqueles que detém o real conhecimento sobre o mundo, aqueles que respeitam os limites de suas afirmações, perderam a paciência para a dialética e para a didática. Vos digo então, um dia todos os sábios abandonarão a espécie humana, todos os técnicos, estudiosos, filósofos pularão do barco, nem mesmo o homem mais resiliente ficará firme em seu lugar. Cansados de tantas falácias e hipocrisia, cansados de sentirem náusea toda vez que os "sábios modernos" começam a argumentar. Será a extinção do conhecimento e o nascimento da idiocracia.
Neste dia o homem deixará de ser e o nada o abraçará, justificando o que ele sempre foi, um breve delírio do universo.
Talvez o melhor a se fazer seja deixar quieto e deixar o outro se afogar em seu abismo. Talvez, o melhor a se fazer seja deixar a ignorância abraçar a melancolia dos condenados. Talvez o mundo seja deles, dos tolos, dos que precisam das muletas morais pra se afirmar, dos que tem seu conhecimento baseado em livros esotéricos. Talvez seja melhor se entregar ao silêncio e a indiferença, assistir os bonecos conduzirem o espetáculo ao seu ápice final, ápice desastroso, indigno, melancólico e deprimente. O mundo e a verdade pertencem aos primatas desnudos. Os filhos de Sócrates desejam reinar, deixem-os brincar, brincar de matar e destruir, brincar de saber e de pensar, brincar de criar e usurpar. A eles pertence o mundo e o tal conhecimento.
Aos adoradores do abismo eu digo, bebam de sua histeria e levem este lugar com vocês de volta aos portões de Hades, lugar de onde nunca deveriam ter saído. Tão podre quanto um morto é o fraco que caminha sob a pele de um vivo. Eis o homem, átomos girando em delírios descontrolados e eis o fim, o devaneio de primatas sentados em seus tronos irreais.
Brindo então aos portões, brindo então aos pequenos, um brinde aos tolos e aos homens de boa fé. Lhes entrego o silêncio, que talvez seja a única coisa que saibam verdadeiramente digerir.
Os Cães Presos -
A liberdade é algo,
humanamente, muito mais
interior.
As prisões também.
Os cães presos costumam
ser mais agressivos
que os soltos.
Os cães presos
são as pessoas amarguradas,
feridas, ressentidas,
que vivem acorrentadas em submundos,
prisões interiores (frias e
solitárias),
construidas à base de desejos
e sentimentos reprimidos
(rejeitados);
De histórias e planos,
drasticamente, interrompidos;
De confiança e sonhos, cruelmente, destruídos por pessoas (antes,
seus mundos),
irresponsavelmente livres
e inconsequentes - perigosas
demais para estarem soltas
para laços e afetos
verdadeiros.
Não Me Deixa Te Esquecer Completamente -
Olha,
tenta fazer o que for preciso
paraque eu caia na real e,
de alguma maneira,
te esqueça.
(Me mostra o quanto fica
bem sem mim,
o quanto é capaz de sorrir
com outras pessoas...
Sei lá,
posa ao lado do seu novo
amor).
Mas não exagera
muito!
Deixa sempre alguns dedos
seus encostados em
minha pele;
Deixa alguma pétala caída
em algum caminho por onde
eu possa passar;
Distraída,
finge esquecer alguma
coisa sua aqui em casa,
para que possa voltar;
Sem querer...
deixa um pouquinho
do seu cheiro em algum
objeto meu;
Permita que o brilho da lua,
vez ou outra,
entre pela fresta da
minha janela,
numa madrugada qualquer;
Timidamente,
de vez em quando,
canta, baixinho,
algo da
gente...
Mas não me deixa te
esquecer completamente.
Foi o Tempo que nos
apresentou quando tudo
parecia impossível de
acontecer.
E enquanto houver vida,
haverá tempo para o
impossível acontecer de
novo,
e talvez então, bem maior,
mais seguro emuito
maisbonito.
Namorados -
Definitivamente,
é a palavra mais bonita
que eu encontro.
Observem a escrita, a forma,
o som...
NAMORADOS.
Além do que, dentro dela
há a palavra Amor.
Pra mim, ela traz a essencial
dúvida de quando se é
adolescente,
aprendiz.
Pois assim,
mantém-se uma certa
malícia com alguma
ingenuidade.
Ela carrega algo de saudade,
de recordação, de nostalgia.
Traduz a poesia de uma
fotografia antiga.
E,
ao mesmo
tempo,
é de onde se sonha
um futuro a dois
para mais.
Traz o compromisso onde
nada é tão sério
e tudo tão necessário.
(Porque depois,
tudo torna-se tão sério
e nada mais, equivocadamente,
tão necessário).
Ela é o que encontramos
nos intervalos do
colégio e nas séries de TV
no sofá de casa.
Ela tem o encanto dos fins
de tarde dos sábados e
das viagens com os
amigos.
A dois,
é como caminhar de mãos
dadas até um jardim
secreto,
cheio de sonhos e
fantasias,
com muitas flores,
alguns animais mitológicos
e uma bela cachoeira.
Ok! Ok! Ok!
Te assusto, né?!
Pareço romântico demais,
sentimental demais,
sonhador demais?
Ora, certamente
porquesou!
Há,
de certo modo,
um jardim assim dentro
de mim.
E
sair,
definitivamente
desse jardim
édesbotar.
É Isto -
A vida,
quase sempre,
é isto:
algo comum - um
cumprimento, um banho,
uma dúvida.
Uma troca de mensagens,
de roupa, de calçada.
Uma olhada no relógio,
no espelho, na tela.
Um beijo, uma lágrima,
uma despedida.
Uma vontade, uma saudade,
um esquecimento.
E o que se nota
é,
ironicamente,
sempre o que mais
nos falta
ou
o que sobra do que a
gente complica.
Tudo que é calmo,
tranquilo,
sereno...
perde a graça, esfria,
desinteressa.
Porque a vida,
me parece,
é isto:
o barulho das coisas
caladas;
a presença do que
está ausente;
a saudade do que não
foi vivido...
A vida é, então:
desordem, drama, descontentamento.
É Tão Fácil Escrever -
Saiba que não há
aqui,
com isto de:
"é tão fácil escrever",
um descaso ou desdenhe
com a escrita.
E sim,
um louvor, uma devoção
entusiasmada com o
sentimento.
Digo,
distribuir palavras
no branco do papel,
ainda imaculado.
Despejar metáforas,
anáforas, ironias,
afim de alimentar desejos;
afim de iluminar sonhos;
afim de enxuguar lágrimas
ou chorá-las mais e
mais em versos:
celebrar!
Ganho, com isto,
coragem para confessar
aqui um caso,
quase um romance
com os advérbios.
Indubitavelmente eles
me acolhem,
me protegem,
me apontam para novos
sentidos, para novos rumos,
para novas direções.
É difícil viver num mundo
onde precisamos,
a todo custo, a todo
momento,
explicar, justificar
adjetivos.
(Que as interjeições não
me ouçam sobre os
advérbios: as quero
também).
Mas, neste
"caos-linguístico-poético",
difinitivamente,
não sou criatividade
em Pessoa
nem tenho a fineza
do corte preciso de
um Machado
nem mesmo a essência
disfarçada de Pássaro
Azul ou Corvo,
encoberta por uma
melancolia crônica
de escritores (genialmente
malditos), do
submundo.
(São as dúvidas que me
dominam e por elas
eu também escrevo).
Em certos dias,
tudo flui de maneira
orgânica, natural.
(Quase não procuro,
com tanto esforço,
as palavras, os
encontros).
Agora mesmo elas me
acham e eu não
tenho muito a
escolher,
a não ser sê-las.
Mas há dias que eu
perco a fala,
a ideia,
o pensamento.
Há dias em que sou
esquecido pelos deuses
ou pelo diabo,
não sei.
Há dias tão vazios,
ocos,
que nem a Poesia
me alcança.
Dias em que eu fico
por dizer, entalado,
sufocado...
pois, difícil mesmo,
extremamente complicado é,
com tanta coisa
por gritar:
calar-se - silenciar,
emudecer.
A sociedade em que vivemos hj está cheia de armadilhas das quais são provocadas por falta de informação, julgamentos injustos, falta de compreenções e milhares de outras coisas. Sobre isso tudo que nos rodeia,creio que a filosofia de vida,por mais que incompreendida por outros que estão de fora,seja a única esperança para estabelecer barreiras de proteção e ao mesmo tempo ultrapassar fronteiras para uma vida de sabedoria e sobretudo de felicidade.
Ramon Ferreira.
Aos Trinta -
Agora
que já estou em meio
aos trinta
(considerando que sou um
tardio leitor),
quero ler pouca coisa,
pouquíssimas,
só alguns poucos
e decentes autores.
Não quero me compromissar
com tantas gente
assim.
É sempre um peso,
uma responsabilidade
submeter-se aos grandes
filósofos, poetas, escritores
da história.
Não, não quero!
Não quero ser influenciado
por mais gente além de
Pessoa,
Saramago
e Bukowski.
Talvez
um pouco de Clarice,
Gullar e Drummond.
Não muito,
só um pouco.
Ou alguma coisa de Neruda,
Bauman, Kant, Kafka ou Poe.
Nunca li Shakespeare,
nem Quintana,
nem mesmo Machado
ou Camões.
Nem seres como
Dostoiévski, Aristóteles,
Sócrates e Platão.
E Nietzsche e Shoepenhauer
eu desisti no primeiro
livro.
Não,
não quero conhecer a
essência do céu
ou do inferno
dessas grandes
mentes.
(Fragmentos,
aforismos:
isso me basta).
Não quero mais que
isso!
Há,
assim,
uma espécie de alívio,
uma certa paz
ou talvez liberdade
ou... sei lá o quê,
qualquer coisa assim...
menos a resposta.
Nada Mais Será Seu -
É tão difícil não poder dizer
o que se quer
gritar.
Ter que observar calado,
seu pequeno grande
mundo - coração -
escapando por aí,
mundão afora.
E você distante, incapaz,
inseguro,
sabendo que mais cedo
ou tarde nada,
nada mais será seu.
(Ora,
mas afinal,
quando é que foi?).
Um ponto diz tanto que, por ele, passam infinitas linhas retas e infinitos planos. Já dois pontos, dizem menos, pois , por eles só passa uma linha reta, no entanto, continuam passando infinitos planos. Por outro lado, três pontos não colineares dizem menos ainda, pois, por eles não passa nenhuma linha reta e somente um plano. Portanto, basta você conseguir ligar três pontos não alinhados para compreender o plano.
Justificativa, nos diz o motivo; Metodologia, nos faz imaginar como desenvolver ; Aplicação, a partir da metodologia nos faz sair do papel. Esses três pontos: justificativa, metodologia e aplicação; são os pilares de um plano perfeito.
Suavemente eu fui sedendo
A maneira mais produtiva
De tocar o barco a frente
Atravessei a parede da incerteza
E dei de cara com a sobriedade, protagonista da vida saudável.
...em alegria suspiro a vida
Talvez esse é meu problema,
Pensar demais e perder a hora certa de quase tudo. Distância é segurança, segurança é essencial.
Num Só Peito -
Mais cedo ou mais tarde
chega um momento
na vida
que é preciso sossegar
num só peito.
De cheiros e gostos
repetidos;
de manhas e manias
repetitivas.
Então,
quando o sentimento se faz
maior que a própria
vontade (se tornando a
própria vontade),
chegou a hora de largar
mão de aventuras
passageiras e fugazes
e, no afeto,
garantir o melhor e
mais seguro abraço
do mundo:
o da volta pra casa.
O homem deveria ter continuado na selva conforme os demais animais.
Civilização atrai pecados como luxuria e ganância, ainda mais quando esta no poder quem só quer estar lá por ego.
Vai acontecer de novo, podem zerar o ano novamente a lançar a Bíblia Vol. 2 para vender por aí com mais uma página explicando que devem pagar para ter um lugar bom quando esta vida chegar ao fim, tornando tudo em vão novamente.
O homem em conjunto prolifera desejos desnecessários que os levam a morte antes dela acontecer.
Esquece e faz esquecer que existimos desde sempre e sempre vamos existir.
Nada deste momento existe no infinito, isso é só o agora sendo interpretado pela consciência (vida).
Nossa relação com o tempo é uma luta
e nossa luta pela sobrevivência,
é mais o medo do que irão pensar
se não acompanharmos
o sucesso material dos outros,
que achamos ter relação com o Atemporal,
na medida em que imaginamos um deus servo,
que cede às nossas chantagens,
acata nossas promessas e elogios,
compreende nossa ambição,
e se compadece com essas lágrimas de um "coitadinho".
Acabará Logo Ali -
Vai acabar logo,
não tem jeito.
De maneira natural,
tudo acabará
logo ali.
E se algo der errado:
antes,
sem nenhuma
chance.
Entre uma gripe
e outra,
entre um arranhão
e outro,
entre uma diversão
e outra,
enquanto brincávamos
a infância se foi.
Entre uma dúvida
e outra,
entre um medo
e outro,
entre amigos, namoros,
corações partidos,
experimentos e
aventuras,
sem que percebêssemos,
lá se foi a adolescência.
Entre um boleto
e outro,
entre aniversários e
filhos e sexo
e brigas
a vida vai se desgastando
calada (com todo seu
barulho),de sonhos
edesilusões,
misteriosa,
ligeira e
finita.
(O último apaga
a luz).
Um Poema -
A frase que nenhum poeta
ousou escrever é que:
ninguém escapa sem poesia.
E que essa minha inicial
(um tanto quanto pretensiosa
e,
em parte,
equivocada),
é só um artifício poético
para se começar um poema
que (se não protege
o poeta),
sempre acolhe alguém.
Sempre.
Dezembro -
E muda-se o mês:
muda-se o sentido.
O ar parece mais leve,
a brisa mais calma,
a vida mais rara:
breve.
Logo,
refletimos mais,
sonhamos mais,
nos olhamos nos olhos - nos voltamos para dentro:
enxergamos a alma.
Tudo agora faz mais sentido:
é o fim...
para um novo recomeço.
Por sorte, obrigado!