Textos de Desilusão Amorosa
O tempo passa e as lembranças ficam. Muita coisa que deveria ter virado pó, mas que insiste em arrancar alguns sorrisos amanhã será apenas um motivo para seguir em frente, assim como toda tristeza será um porto seguro para se atracar. Perdoar e ser perdoado é árduo, mas não impossível. Só o simples fato de recostar a cabeça no travesseiro deveria trazer alguém de volta, mas não traz. É assim mesmo! Não adianta gritar para a saudade, ela é um silêncio que se desperta com o primeiro bocejo de bom dia.
É assim que me sinto. Depois de pensar que as pessoas estariam te abraçando, elas estavam lá numa festa, rindo, te abandonando. Ou sei lá, homens, mulheres, quantas vezes dizem que amam você e mais 10 pessoas junto? Eu não sei. As pessoas que enchem tua paciência porque você sequer diz bom dia são as mesmas que se esqueciam de dizer boa noite lá atrás. Esse amor que não dá pra suportar, tão falso que uma solidão junta do chão do quarto é a melhor coisa a se fazer.
Algumas pessoas vivem pedindo para que eu escreva sobre a felicidade e lá vou eu encontrar razões para expressar ou comprovar isso. Mas a dura verdade é que a paz não pode ser explicada, pois na maioria das vezes é um estado de espírito onde voltamos à estaca zero cravando adagas no coração. E sim, me referi à paz. O seu olhar é como um lar e a sua companhia uma dúbia realidade, talvez doce, talvez amarga. E é isso que na maioria das vezes ninguém percebe, não é preciso dizer eu te amo para provar que se ama, não é preciso sorrir para demonstrar algo que está explícito perante dois olhos. Felicidade verdadeira é como o inverno ou o verão, sempre vai ter um meio termo ou um oceano de dúvidas entre as emoções. Mas eu prefiro acreditar que ser feliz não depende de algo, pois nunca se sabe o que se soma ou some.
E então, já havia acontecido tanta coisa. Caído no fundo do poço, discutido com o vento, retornado do além do tempo, aberto um frasco de saudade, chorado para não se afogar. Tudo isso, coisas que de fato pareciam ser o ideal ou os ideais. Não havia muito mais a se fazer. Era uma guerra contra você, e no meio de um tiroteio a única alternativa era sair com os braços para cima, correndo para ser destrinchado ao seu lado.
Estou recluso, distante de pessoas e com poucas coisas. Sei bem o valor que os mais próximos possuem. Apenas me completam, animam e me fazem prosseguir. O caminho é meu, mas as marcas trilhadas não pertencem somente a mim. Confesso que enquanto admiro alguns de coração, gostaria de sair por ai despedaçando outros ou sei lá, mostrar para cada imbecil o quanto valemos à pena e que pessoas são únicas. Mas infelizmente, apenas existimos enquanto alguém precisa de nós.
A folha de papel insistia em ficar vazia, não existiam palavras para descrever o irretratável. Pior era com a vida, tudo fragmentado, indeciso, um novo dia que precisava ser consolado ou sentido. Era quase uma certeza, procurar por alguém, entender por alguém. Mas não era o suficiente, o mosaico era eu e as cinco mil peças de dúvidas eram minhas. Queria que estivesse aqui, mesmo não estando. E isso nem é algo tão bom assim. Vivo do indizível, do inimaginável, insistindo em bater na mesma porta que não se abre nunca.
Gosto de olhar as coisas com cautela, por mais que as dúvidas pareçam sufocar. É extraordinário isso, o completo nunca é por si só aquilo que esperamos. Todos os julgamentos caem diante do desespero de um eco silencioso, cuja autoestima é como um coma. Minhas emoções são semelhantes à um cubo mágico e somente quem é sóbrio o suficiente entende que as peças não se encaixam, mas faltam cores numa escala cinza e branca irretratável. Tenho medo de mim, que o amor não esteja à quilômetros de distância, mas à quilômetros do meu peito. É assim mesmo, quanto mais o tempo passa, mais os defeitos se tornam uma estupidez e as expectativas criam um câncer difícil de ser curado.
Não despeje dor em quem não se importa, por mais que isso pareça inexplicável. Todos carregam essas poças de medo onde pisam e acabam afundando na própria desgraça. Seus bons olhos podem compartilhar a felicidade, mas por que não devem compartilhar a tristeza? Cuidado ao se afogar sozinho, tudo que é guardado para si apodrece com o tempo. Explique-se com calma, sem chutes nem socos. É inegável que certas coisas doem pra caramba, mas sempre existe alguém disposto a desatar parte dos nós existenciais, jogando os cacos de agonia cortantes na lixeira.
Amanhã é um novo dia, e eu gostaria de congelar o tempo, inexistir por um pequeno momento. Não exatamente deixar de viver, mas mudar a rotina e sair das regras entediantes. Que aquilo que se ama pudesse ser feito em vez das obrigações, sem a necessidade de sofrer tanto por algo. E tudo bem, eu gostaria de alguém ao meu lado. Sinto-me vazio nessa questão de amar, sem dar nada de mim mesmo. Queria você aqui me abraçando, com o calor do corpo de fato. Esta noite, eu prefiro que as palavras saiam da sua boca e não de um livro sussurrando na minha mente.
Falar é fácil, difícil é ouvir. Somente quem se sente aprisionado sabe que a vitalidade se despedaça igual uma peça de porcelana. A solidão, a futilidade, o fracasso, o anonimato, é tão, tão grande que chega a ser insuportável. Vivemos numa caixa de vidro mental e física. Um sistema com permissões, normas e aceitação que molda tudo aquilo que não é dito e que caso se rebele, se torna apenas outra estatística num mundo que não irá parar para consertar o seu coração. Ao ler estas linhas, qual o tamanho da sua jaula? Cinquenta metros, cinquenta quilômetros, alguns centímetros? A limitação da sua mente? É isso? Uma caixa de Pandora que liberta de tudo, medos, tristeza, guerras, desprezo, menos a capacidade de ouvir. Cuidado com isso, ainda faltam alguns itens para saírem da imaginação. O que acontece quando você abre essa caixa e a esperança não está mais lá? Oras meu caro, a resposta é simples, a vida termina e não existe uma passagem de volta. É uma longa viagem num campo minado onde você caminha tentando sobreviver, ou melhor, apenas existir. Pontes deveriam ser uma bela travessia para admirar a paisagem, não um cemitério. Imagino a quantidade de pessoas que se sentem atordoadas, vazias, levando porradas da vida diariamente e aguentando para prosseguir até a luz do fim do túnel, uma luz que na verdade está apagada há muito tempo por falta de manutenção: aquele cuidado com o tesouro mais precioso que alguém poderia possuir.
Nada neste mundo é permanente. As pessoas se vão, as verdades mentem, o café esfria e os pensamentos mudam. Somente quem joga pilhas de rosas aos próprios pés conhece a realidade sufocante de tentar renascer sem estar morto. Em algum momento, começamos a limpar a consciência e tentamos enterrar o remorso. Se for preciso, eu acendo um fósforo e queimo minhas memórias à base de gasolina. Se for preciso, eu faço de tudo pra me livrar da tristeza de lembrar de alguém. Se for preciso, eu liberto meus amores da forma mais banal possível. Simples assim. Só por paz, só por liberdade.
Um dia além do dia, você entende que as pessoas conquistadas valem mais do que todos os bens perdidos e que mudanças são inevitáveis quando descobrimos que a vida exige coragem. Estar só não significa não amar a si mesmo, pois a solidão monótona não cabe numa única palavra. Um dia você entende que pode chover mais dentro de si do que numa tempestade lá fora e que não importa com quantas lágrimas você foi capaz de se reerguer, mas com quantas decepções você aprendeu a cair. Com o passar dos anos o seu corpo torna-se um refúgio e você descobre que as pessoas não são a sua pele, mas a cegueira da ignorância. Ame o que você possui nas piores situações, isso lhe ensinará sobre algo que o mundo nunca poderá lhe tirar, a sua esperança. Creia em algo, mesmo que seja em alguém, na arte, na escrita, na dança ou na vida. Nada vem de graça e o preço pode ser alto demais. Esteja disposto a pagar caro pelas pessoas que você possui. Companhia, amor e lealdade não se encontram na lata de lixo da próxima esquina da vida. Geralmente alguém tenta apanhá-las para ficar na melhor, quando na verdade o melhor é disputado e alguém sai ferido. Tiros de sinceridade não são para qualquer um. A munição é rara e os apoios pra lá de escassos. Amizades verdadeiras não crescem a longas distâncias, mas florescem dentro do peito e aguardam até a próxima primavera voltar. E de estação em estação, tudo termina, até que o tempo que lhe foi dado vire pó num adeus eterno.
Se existe algo que os erros não podem esconder é o inevitável. Por menor que seja, a luz estará sempre um passo atrás de você. Fugir do que os outros podem ou não gostar é como julgar a si mesmo. Esconde-se o que é verdadeiro, para demonstrar o dolorido cicatrizado no peito. Uma hora ou outra, o futuro que desconhecemos nos obrigará a reviver os mesmos defeitos sem um dia sequer sonhar, sequer vencer.
Penso com certo receio que minhas palavras são incompletas. Vou fazendo de conta que tudo está em ordem - meu quarto, minha vida amorosa, meus pensamentos. Mas que engano, meu coração deve ter uns mil anos de idade, uma pedra, um imã que atrai com fascínio pessoas indecisas. Sinto como se estivesse de mãos atadas, tentando assistir quarenta e quatro canais ao mesmo tempo. A luta e a confusão me encurralam. Não há como se esconder. Não há como ignorar.
As pessoas pensam dominar as outras de um jeito completamente inusitado. Pluralidade não é o meu forte, a minha vida sempre foi uma caixa selada por medo. Quanto menos as pessoas souberem o que eu faço, menor a probabilidade delas me derrubarem. Caio e me levanto com meus problemas, procuro ver se existe alguma graça em continuar. Sei que me aprisiono em minha mente, embora viajo para além dos portões densos da solidão. Abro-os perante minha própria vontade e dou o comando, fecho-os se achar necessário. Sua presença é bem vinda, embora esses apegos quase gritam adeus. Não é como uma simples saudade. Primeiro vou abrir todas as janelas e depois as portas. Vou deixá-la entrar, e então espero que você não derrube todas as paredes e arranque o telhado como um tornado. Essas tempestades que me provam até onde caímos e quebramos dentro de nós mesmos. O abismo não é real, mas somente alguém que me toque profundamente irá saber a imensidão dos penhascos que eu carrego. É inviável jogar as pedras e a ironia sobre as minhas costas, talvez elas rolem e te acertem no meio do caminho. Culpar alguém somente o fará responsável por algo que você não pode lidar.
Quem tenta entender segundas impressões cai na quebra da confiança e se despedaça, adoecendo na própria imunidade. Estive pensando, as pessoas buscam julgar aquilo que se assemelha muito a elas. Nossos defeitos aparentemente não são os nossos defeitos, são evidências nunca percebidas a sós diante de um espelho, como se a porta da sua alma fosse um universo paralelo. Ninguém entende quem é quem, infelizmente. Você será usado por você mesmo, tentando jogar a culpa do outro lado. A corda irá romper, criando uma fissão entre o mundo dos sonhos e da realidade. Pode parecer loucura, mas apenas quem sente o ódio e a fúria por muito tempo sabe como é explodir em outro alguém, blasfemando algumas verdades com tom de ironia para depois repensar nas respostas que poderia ter dado. Você pensa que as mágoas são dissolvidas no rio da saudade, mas não são. Você pensa que perdoou de tudo, mas não perdoa. Somente quem deseja esquecer o passado sabe que as impressões futuras despedaçam qualquer tentativa frustrada de mudar algo.
Desprendido, isso que eu penso sobre transformar algo ruim em apenas uma memória. Minhas preocupações não são mais as mesmas, estão seladas numa sepultura que resiste à anos sozinha perante a rejeição, a mentira e os julgamentos. Solidão incompleta, humanos abstratos, pessoas que pensam semear vento em uma tempestade para conquistarem o que mais precisam. Companhia. Um vulto de ar seco que se desfaz perante o último grito de ajuda. Todos partem e todos quebram, essa é a triste realidade. Acostume-se com isso, obter conforto com o aborrecimento, com o que se foi, tornou-se pálido ou virou pó em meio ao nada. É a vida me dizendo para prosseguir, sem ter motivos para recuar. Existe fé suficiente para sair do poço da ilusão escalando até o último degrau de agonia. Até mesmo as pancadas diárias da vida sentem a força com que batem, e apanham. Palavras possuem atitudes, mas quem disse que toda atitude dura para sempre? É o engano, o deplorável, o lado ridículo que todos tentam ocultar. Atitudes também são carregadas pelo vento num passe de mágica, simples assim. Nunca acreditei em mágica, aliás, nunca gostei de nada que faça meus olhos brilharem e depois desapareça sem entendimento algum.
Exausto, sem saber para onde ir. Mas nem é algo físico, é um cansaço, é ver que muito mais poderia ter sido feito, sem sequer pensar em como agir. Pode parecer que há algo errado, mas nunca conseguirá encaixar um retalho de alegria e outro de frustração. Tem uma caixa inteira de opções ao seu dispor, é só contar uma de cada vez. Pessoas, sentimentos, questionamentos. Sempre há um miserável, procurando nas cinzas o que sobrou das insistências nunca ditas. Sempre há um arrependido, preenchendo seu vazio existencial com as crises de negação. Dá vontade de cavar um túnel, e sair do outro lado da mente. Crescer com impaciência, não resolve. Olhar com sarcasmo, também não. As coisas possuem o seu tempo, uma lógica esquisita meio que forçando a barra, insinuando mil e uma maneiras de como destorcê-la. Viva um pouco, deixe o desespero de lado. Sempre existe esperança enquanto o sol nascer. Ao menos, sempre existirá vida enquanto você conseguir ver esse monstro de luz.
Talvez eu tenha perdido a vontade de falar com muita gente nos últimos tempos, talvez elas tenham se tornado apenas o repúdio que tanto julgavam em mim. Queimei pontes, e agora elas iluminam o meu caminho. Vou para além de toda essa porcaria que colocaram num cortiço de mágoas, e vejo a luz que me cega. Não importa quem você é, seu ego é apenas um maço de cigarros de marca, e você fuma suas atitudes até o fim. Ser popular não faz de você um artista, assim como ser rico não faz de você alguém importante. Mas ser honesto com o que você acredita pode torná-lo perigoso. As pessoas criam monstros, reinventam ilusões e despedaçam amores que secam como flores num deserto maldito e assombrado. E no fim, nunca aceitam receber das mesmas pancadas que doaram.
Eu tenho um lado bom e ingênuo. Um lado emotivo e amigo que confia nas pessoas, embora, nunca irá obtê-lo de primeira mão. Aprenda, mãos que acariciam também podem lhe roubar, e não é tão simples recuperar os pedaços dispersos de quem você é. Então, espere, não jogue a chave no primeiro abismo que encontrar, dificilmente alguém irá buscá-la por você. Não deixe que um segundo no inferno estrague alguns meses no paraíso.