Textos de Coração

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ESPERA
(18/03/2007)

Tenho agora o meu coração em ebulição.
Penso, penso, penso...
Nada mais posso fazer que pensar,
Além de sonhar...
E, sonho tanto,
Mas, felizmente, os sonhos têm se desviado
E os meus pensamentos expirado.
Mesmo assim, é ainda enorme o seu espaço.
Incomoda a cabeça, incomoda todo mundo
E, às vezes, eu não sei o que fazer,
Além de esperar, esperar, esperar...
Tem dado certo, visto que sua imagem tem se desfeito
Na íris dos meus olhos castanhos.
E eu vejo a solidão e vejo o medo chegar bem pertinho...
Ah, tão difícil é enganar um coração!

As aparências com certeza enganam... principalmente quando nosso coração teima em querer amar uma pessoa que não merece o nosso amor!
Mas todos nós temos que passar por certos momentos, sentimentos, para termos experiência e não errarmos mais. Fico triste com certas atitudes que nos fazem perceber o contrário daquilo que o coração quer acreditar!
Não vou lamentar nenhum momento em que gostei... em que amei... mesmo não sendo correspondida... mas irei lamentar profundamente se a vida me mostrar que o presente estava certo e que a realidade estava sendo ofuscada pelo brilho de um sonho. Sonho este que idealizei e fiz dele a minha realidade, o meu presente e futuro, mas que se acabou com o desencanto da mágoa por uma frase proferida por seus lábios. Mas se é para ser assim que seja, pois prefiro o brilho da presença do Senhor na minha vida do que as estrelas de um caminho obscuro e sem volta.
Sei que um dia você ainda irá se arrepender, porque sou e sempre serei a MENINA DOS OLHOS DE DEUS e que anda segundo o coração do Pai. O que tenho por você é algo sincero, mas que nas ondas deste mar da vida sei que uma hora irá se quebrar na praia e morrer. Vou esperar e sei que não vai demorar, e você vai se lamentar ao ver outro me abraçar, porque você ainda irá se perguntar por que não foi você no lugar daquele que se dispôs a me amar.
E que as lágrimas rolem pelo teu rosto para que você possa sentir o que nesse momento meu coração grita, e minhas lágrimas demonstram. Porque então perceberás que eu fui a pessoa que mais te amou e que você desprezou pela simples fascinação de um mundinho ínfimo e desprezível do qual pessoas que não te amam lhe colocou para viver um momento, enquanto eu lhe esperava para te dar uma vida.
Vou pedir a Deus para que você seja muito feliz e que esse sentimento seja morto da mesma maneira que nasceu... porque não quero guardar comigo um sentimento do qual você nunca mereceu!

Eu levo o teu coraçao junto ao meu....
...Eu levo no meu coração eu nunca estou sem ele,
onde quer que eu vá você irá...
Minha querida e o que é feito só por mim é seu feito, minha amada...
nao temo o destino pois vc é meu destino, meu encanto...
nao quero o mundo, pela beleza de você ser meu mundo, minha verdade
e você é tudo que um sol irá louvar será você...
eis o maior segredo que ninguém conhece
eis a raiz da raiz e o broto do broto
e o céu do céu de uma arvoré chamada vida,
que cresce além do que a alma sonharia
ou a mente poderia esconder
e este é o milagre que mantém as estrela afastadas
eu levo o seu coração
eu levo no meu coração....

Te procuro aonde quer que eu vá
Mas dentro de meu coração você está
Eu sigo as suas marcas
Deixadas pelo anjo do amor
No sonho uma paixão que machuca o coração
Palavras de ternura que soam doces como o mel
Saudades do teu toque, de tua pele,
De teu olhar invadindo me

Para onde eu olhar quero ver você
Na luz de cada amanhecer
Teu olhar eu procuro
No escuro do anoitecer
Meu amor eu te juro
Tudo me lembra você

Sinto o vazio de tua falta
Quero me entregar aos teus braços
Mas aonde você está agora?
Resgate-me da solidão
É impossível te esquecer
Me invade um sentimento
Tão grande que não há como explicar

Sei que estou
na estrada perdida
Sem você
E no fim do caminho
Quero te encontrar me esperando
Para me levar a felicidade de te amar

Música do Dragon Ball GT

♫ .Seu sorriso é tão resplandecente
Que deixou meu coração alegre
Me de a mão pra fugir desta terrível escuridão
Desde o dia em que eu te reencontrei,me lembrei daquele lindo
Lugar.
Que na minha infância era especial para mim.
Quero saber se comigo você quer vir dançar.
Se me der a mão eu te levarei por um caminho cheios de sombras e
De luz.
Você pode até não perceber, mas o meu coração se amarrou em você
E precisa de alguém pra te mostrar o amor e o mundo te dá.
Meu alegre coração palpita por um universo de esperança.
Me de a mão a magia nos espera.
Vou te amar por toda minha vida.
Vem comigo por este caminho.
Me de a mão pra fugir desta terrível escuridão.

Ele: Porque não segue seu coração?
Ela: Porque ele está quebrado.
Ele: Quem o quebrou?
Ela: Você.
Ele: Como assim? Eu não fiz nada.
Ela: Por isso, mesmo.
Ele: Me desculpe.
Ela: Não posso.
Ele: Porque?
Ela: Tenho medo.
Ele: De que?
Ela: Me envolver de novo, me aproximar mais de você.
Ele: E aí?
Ela: Eaí, meu coração vai se quebrar mais ainda e talvez eu não consiga mais conserta-lo.

Coisas do coração ?
Um coração partido dura anos, um coração roubado dura outros tantos ...um coração fechado tem dias, um coração " de pé atrás" também pode durar muito , um coração que não bate por amor ou por paixão pode durar ainda mais...
Corações…Tenho um bocado de medo dessa figura. Desse desenho. Tenho quase sempre medo de ver o meu. Nunca sei ao certo o estado dele. Já o tive despedaçado, perdido, apertado, e até esborrachado...
Não te sei dizer qual a pior sensação. Talvez a ...de não o ter, ou de o sentir espatifado contra uma parede que eu própria não soube derrubar.
Coisas do coração? Queria eu saber cura-las...ou ameniza-las...ou fazer de conta que elas não estão em mim. Mas não. Eu não sei. É tudo em vão. Ele mostra-me sempre onde está...mesmo que...reticente...mesmo que viva na pele de outra pessoa.

É perceber que talvez amar seja outra coisa. É sentir-se leve e livre. É saber que o coração dos outros não lhe é devido, não lhe pertence, não lhe cabe por contrato. A cada dia você deve merecê-lo. E dizê-lo. E dizer a ele. E compreender pelas respostas que talvez seja necessário mudar. É necessário mudar. É necessário ir embora pra reencontrar o caminho. Fabio que me olha bravo, de pé diante do portão.
E diz que não, que estou errada, que somos felizes juntos. Agarra meu braço e aperta com força. Porque, quando alguém que você deseja se vai, você tenta mantê-lo com as mãos e espera assim prender também seu coração. E não é assim. O coração tem pernas que você não vê. E Fabio vai embora dizendo você vai me pagar, mas o amor não é divida a ser liquidada, não dá créditos, não aceita descontos.

vozes que sai do coração...

Te amo, não porque você me ama, mas te amo porque me faz bem esse sentimento, porque o que eu sinto por você é mais forte que qualquer coisa na vida. Amo ver você sorrindo sempre que alguma coisa engraçada acontece você dizer que nunca tinha sentido isso por ninguém, eu sempre acredito, pois você demonstra que é verdade, toda vez que você diz, “minha vida só tem sentido, quando estou com você...”, eu me sinto uma rainha.

Eu nunca pensei que um dia eu iria ficar assim, o amor me chamou e eu fui como um cachorrinho abanando o rabinho, mas coroada como uma rainha, e toda vez que o amor me chamar eu vou, pois prefiro ir, do que nunca sentir isso, eu digo sempre SIM para o amor, pois é o sentimento mais puro que Deus criou!

Amo o seu sorriso, sempre que eu conto uma piada, amo seu olhar quando você olha para mim, amo a sua boca quando ela esta próxima a minha, te amo tanto que ate eu mesma duvido desse amor, pois um amor enorme assim é possível? Eu digo que SIM, pois para o amor nada é impossível. Quero poder envelhecer ao seu lado, ver o brilho das estrelas toda noite, sentir que posso contar sempre contigo, cada dia que passa me dou conta que sem você a vida perde a graça, o sentido e a vontade de viver.

Dor da Saudade

Faz tempo, sim faz um tempo que você partiu, meu coração bate forte toda vez que lembro dos momentos de outrora, que a tinha em meus braços, olho para o sol e tento buscar o brilho dos teus olhos, olho para a chuva e tento separar a lágrima de que cai com a água da chuva que desce do céu, o céu parece que chora comigo e as estrelas perdem seu brilho, não ouço mais sua voz nem sinto teu abraço que antes me apertava, sua boca quando sussurrava dizendo..."O dia amanhã é confuso demais para o que sentimos hoje, me agarro aos portões da velha rodoviária tentando decifrar qual foi o seu destino, sei que em algum lugar estar, e sei que talvez um dia eu irei te reencontrar por que a dor da saudade, ela eterniza a presença dos que aqui estiveram.

Que a vida seja leve como uma pluma.
Leveza de alma, pensamento e coração.
Um dia você percebe que a sua felicidade depende exclusivamente de você e que ninguém poderá fazer você feliz de fato, porque esse papel É SEU!
Aos poucos tudo se torna mais leve, ganha valor e a simplicidade invade.
Contemplando a beleza do sol e questionando porque ele brilha mesmo depois dos dias cinzentos. É aí que a mágica acontece! O sol brilha, as nuvens chegam escurecendo o céu, logo vem a chuva lavando tudo e um outro dia sempre nasce com um novo amanhecer.

O segredo é brilhar sempre!
Que venham os dias cinzentos, a chuva fazendo a limpeza e o sol sempre lá nos presentando com o seu mais intenso brilho.
Estaremos mais fortes, de alma lavada e irradiando luz.

Amor-primavera

Amor, a linda flor na primavera.
Calor, chamas que agora invadem o meu coração.
Flor, a que eu roubei para você em um lindo jardim.
Feliz, é o que existe quando vejo cada sorriso seu.
Seu, é o que sou por toda a eternidade.
Minha, é a alegria de fazer você feliz a cada dia.
Alma, é a minha que se completa ao seu lado.
Verdade, é o que meus olhos te dizem ao te ver.
Sentimento, o mais puro e perfeito amor.

(César Jardim)

Feliz Páscoa!
Que esta data e significado ecoe em seu coração
proporcionando vibração perene
e comunhão com os mistérios que o Criador
fez chegar a todos nós.
Que a renovação e renascimento a que o momento se propõe
rompam elos com um passado de falhas ou erros,
e nos conduzam à plena justiça e verdade.
Que assim seja...

Geralmente nos entendemos facilmente, quando isso não acontece eu sinto o meu coração apertando mais a cada segundo, eu não estaria pronta para viver sem você na minha vida, eu não seria capaz de fazer tudo o que eu faço, se eu soubesse que você não estaria aqui para sentir orgulho de mim.
Eu vejo o meu futuro em todas as suas palavras, nos seus atos, e espero ansiosamente o dia em que poderei ver o seu amor apenas olhando nos seus olhos.
Eu gostaria de saber de onde vem tanta confiança, queria saber o porque de tanto amor, eu me pergunto como foi que eu deixei que isso acontecesse, mas o fato é que eu simplesmente não deixei que nada disso acontecesse, as coisas só... aconteceram. Pode ser estranho sentir saudade do olhar que eu nunca vi, dos beijos e dos carinhos que nunca senti, mas o comum não nos atrai, é por isso que nos amamos.
Eu quero e preciso ter você por perto o mais rápido possível, e que seja para sempre. Sei que devo ser paciente, e eu realmente tento ser, mas a falta que você faz a cada minuto que fica ausente é absurda. "O que seria do amor sem a saudade", de certa forma eu até concordo, mas eu prefiro ter seu carinho o tempo todo.
Meu amor, eu quero que você saiba que diante de qualquer circunstância, qualquer obstáculo, qualquer pessoa e qualquer motivo, eu sempre vou amar você. Quero que saiba que você é o que eu quero pra minha vida, para o meu sempre, eu sinto tanto medo de perdê-lo e rezo para que isso jamais aconteça.
Você é o anjo da minha vida, você é a minha felicidade, você é o dono de todo o meu amor mais puro, mais inocente, mais verdadeiro que possa existir.

Ainda que nos decepcionamos,por algum motivo
Ainda que provaçoes nos espanquem o coraçao
Ainda que nos atiramos ao limbo
Ainda sim...Ainda sim levantamos mais fortes,
e por alguma razao nao nos damos conta
que a verdadeira importacia nao e quantas
vezes caimos ou levantamos,mas sim da maneira que levantamos...

Eu, quero me afastar...
Meu coração, se aproximar.
Eu, quero esquecer...
Meu coração se lembrar.
Eu, quero a lucidez...
Meu coração a loucura.
Eu, quero viver...
Meu coração morre por você.
Eu, quero a realidade...
Meu coração vive a sonhar
com o dia em que você virá
E dirá entre um sorriso:
Também te amo, meu amor...

Passagem das Horas

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde,
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente
Yat-iô--ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô ... Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade
A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol
Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
Tempestades em torno ao Guardaful...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?

Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.

Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...

Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e solícito.
Só humanitariamente é que se pode viver.
Só amando os homens, as ações, a banalidade dos trabalhos,
Só assim - ai de mim! -, só assim se pode viver.
Só assim, o noite, e eu nunca poderei ser assim!

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.

Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida...

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Unia razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.

Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila...
Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,
Tu que não existes, que és só a ausência da luz,
Tu que não és uma coisa, rim lugar, uma essência, uma vida,
Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão,
Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,
Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,
E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte...
'Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva...
Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem...

Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens.
Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.
Estreito ao meu peito arfante, num abraço comovido,
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria,
E o matricida, o fratricida, o incestuoso, o violador de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras, a sombra que espera nas vielas —
Todos são a minha amante predileta pelo menos um momento na vida.

Beijo na boca todas as prostitutas,
Beijo sobre os olhos todos os souteneurs,
A minha passividade jaz aos pés de todos os assassinos
E a minha capa à espanhola esconde a retirada a todos os ladrões.
Tudo é a razão de ser da minha vida.

Cometi todos os crimes,
Vivi dentro de todos os crimes
(Eu próprio fui, não um nem o outro no vicio,
Mas o próprio vício-pessoa praticado entre eles,
E dessas são as horas mais arco-de-triunfo da minha vida).

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.

Os braços de todos os atletas apertaram-me subitamente feminino,
E eu só de pensar nisso desmaiei entre músculos supostos.

Foram dados na minha boca os beijos de todos os encontros,
Acenaram no meu coração os lenços de todas as despedidas,
Todos os chamamentos obscenos de gesto e olhares
Batem-me em cheio em todo o corpo com sede nos centros sexuais.
Fui todos os ascetas, todos os postos-de-parte, todos os como que esquecidos,
E todos os pederastas - absolutamente todos (não faltou nenhum).
Rendez-vous a vermelho e negro no fundo-inferno da minha alma!

(Freddie, eu chamava-te Baby, porque tu eras louro, branco e eu amava-te,
Quantas imperatrizes por reinar e princesas destronadas tu foste para mim!)
Mary, com quem eu lia Burns em dias tristes como sentir-se viver,
Mary, mal tu sabes quantos casais honestos, quantas famílias felizes,
Viveram em ti os meus olhos e o meu braço cingido e a minha consciência incerta,
A sua vida pacata, as suas casas suburbanas com jardim,
Os seus half-holidays inesperados...
Mary, eu sou infeliz...
Freddie, eu sou infeliz...
Oh, vós todos, todos vós, casuais, demorados,
Quantas vezes tereis pensado em pensar em mim, sem que o fósseis,
Ah, quão pouco eu fui no que sois, quão pouco, quão pouco —
Sim, e o que tenho eu sido, o meu subjetivo universo,
Ó meu sol, meu luar, minhas estrelas, meu momento,
Ó parte externa de mim perdida em labirintos de Deus!

Passa tudo, todas as coisas num desfile por mim dentro,
E todas as cidades do mundo, rumorejam-se dentro de mim ...
Meu coração tribunal, meu coração mercado,
Meu coração sala da Bolsa, meu coração balcão de Banco,
Meu coração rendez-vous de toda a humanidade,
Meu coração banco de jardim público, hospedaria,
Estalagem, calabouço número qualquer cousa
(Aqui estuvo el Manolo en vísperas de ir al patíbulo)
Meu coração clube, sala, platéia, capacho, guichet, portaló,
Ponte, cancela, excursão, marcha, viagem, leilão, feira, arraial,
Meu coração postigo,
Meu coração encomenda,
Meu coração carta, bagagem, satisfação, entrega,
Meu coração a margem, o lirrite, a súmula, o índice,
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, bazar o meu coração.

Todos os amantes beijaram-se na minh'alma,
Todos os vadios dormiram um momento em cima de mim,
Todos os desprezados encostaram-se um momento ao meu ombro,
Atravessaram a rua, ao meu braço, todos os velhos e os doentes,
E houve um segredo que me disseram todos os assassinos.

(Aquela cujo sorriso sugere a paz que eu não tenho,
Em cujo baixar-de-olhos há uma paisagem da Holanda,
Com as cabeças femininas coiffées de lin
E todo o esforço quotidiano de um povo pacífico e limpo...
Aquela que é o anel deixado em cima da cômoda,
E a fita entalada com o fechar da gaveta,
Fita cor-de-rosa, não gosto da cor mas da fita entalada,
Assim como não gosto da vida, mas gosto de senti-la ...

Dormir como um cão corrido no caminho, ao sol,
Definitivamente para todo o resto do Universo,
E que os carros me passem por cima.)

Fui para a cama com todos os sentimentos,
Fui souteneur de todas ás emoções,
Pagaram-me bebidas todos os acasos das sensações,
Troquei olhares com todos os motivos de agir,
Estive mão em mão com todos os impulsos para partir,
Febre imensa das horas!
Angústia da forja das emoções!
Raiva, espuma, a imensidão que não cabe no meu lenço,
A cadela a uivar de noite,
O tanque da quinta a passear à roda da minha insônia,
O bosque como foi à tarde, quando lá passeamos, a rosa,
A madeixa indiferente, o musgo, os pinheiros,
Toda a raiva de não conter isto tudo, de não deter isto tudo,
Ó fome abstrata das coisas, cio impotente dos momentos,
Orgia intelectual de sentir a vida!

Obter tudo por suficiência divina —
As vésperas, os consentimentos, os avisos,
As cousas belas da vida —
O talento, a virtude, a impunidade,
A tendência para acompanhar os outros a casa,
A situação de passageiro,
A conveniência em embarcar já para ter lugar,
E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, urna frase,
E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa.

Poder rir, rir, rir despejadamente,
Rir como um copo entornado,
Absolutamente doido só por sentir,
Absolutamente roto por me roçar contra as coisas,
Ferido na boca por morder coisas,
Com as unhas em sangue por me agarrar a coisas,
E depois dêem-me a cela que quiserem que eu me lembrarei da vida.

Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.

Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário,
Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia
Que a dor real das crianças em quem batem
(Ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em quem batem —
E por que é que as minhas sensações se revezam tão depressa?)
Eu, enfim, que sou um diálogo continuo,
Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre,
Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque
E faz pena saber que há vida que viver amanhã.
Eu, enfim, literalmente eu,
E eu metaforicamente também,
Eu, o poeta sensacionista, enviado do Acaso
As leis irrepreensíveis da Vida,
Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada,
O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim,
Prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo
E acha mais seu olhar para o absinto a beber que bebê-lo...
Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma,
Sem personalidade com valor declarado,
Eu, o investigador solene das coisas fúteis,
Que era capaz de ir viver na Sibéria só por embirrar com isso,
E que acho que não faz mal não ligar importâricia à pátria
Porqtie não tenho raiz, como uma árvore, e portanto não tenho raiz
Eu, que tantas vezes me sinto tão real como uma metáfora,

Como uma frase escrita por um doente no livroda rapariga que encontrou no terraço,
Ou uma partida de xadrez no convés dum transatlântico,
Eu, a ama que empurra os perambulators em todos os jardins públicos,
Eu, o policia que a olha, parado para trás na álea,
Eu, a criança no carro, que acena à sua inconsciência lúcida com um coral com guizos.
Eu, a paisagem por detrás disto tudo, a paz citadina
Coada através das árvores do jardim público,
Eu, o que os espera a todos em casa,
Eu, o que eles encontram na rua,
Eu, o que eles não sabem de si próprios,
Eu, aquela coisa em que estás pensando e te marca esse sorriso,
Eu, o contraditório, o fictício, o aranzel, a espuma,
O cartaz posto agora, as ancas da francesa, o olhar do padre,
O largo onde se encontram as suas ruas e os chauffeurs dormem contra os carros,
A cicatriz do sargento mal encarado,
O sebo na gola do explicador doente que volta para casa,
A chávena que era por onde o pequenito que morreu bebia sempre,
E tem uma falha na asa (e tudo isto cabe num coração de mãe e enche-o)...
Eu, o ditado de francês da pequenita que mexe nas ligas,
Eu, os pés que se tocam por baixo do bridge sob o lustre,
Eu, a carta escondida, o calor do lenço, a sacada com a janela entreaberta,
O portão de serviço onde a criada fala com os desejos do primo,
O sacana do José que prometeu vir e não veio
E a gente tinha uma partida para lhe fazer...
Eu, tudo isto, e além disto o resto do mundo...
Tanta coisa, as portas que se abrem, e a razão por que elas se abrem,
E as coisas que já fizeram as mãos que abrem as portas...
Eu, a infelicidade-nata de todas as expressões,
A impossibilidade de exprimir todos os sentimentos,
Sem que haja uma lápida no cemitério para o irmão de ttido isto,
E o que parece não querer dizer nada sempre quer dizer qualquer cousa...
Sim, eu, o engenheiro naval que sou supersticioso como uma camponesa madrinha,
E uso monóculo para não parecer igual à idéia real que faço de mim,
Que levo às vezes três horas a vestir-me e nem por isso acho isso natural,
Mas acho-o metafísico e se me batem à porta zango-me,
Não tanto por me interromperem a gravata como por ficar sabendo que há a vida...
Sim, enfim, eu o destinatário das cartas lacradas,
O baú das iniciais gastas,
A entonação das vozes que nunca ouviremos mais -
Deus guarda isso tudo no Mistério, e às vezes sentimo-lo
E a vida pesa de repente e faz muito frio mais perto que o corpo.
A Brígida prima da minha tia,
O general em que elas falavam - general quando elas eram pequenas,
E a vida era guerra civil a todas as esquinas...
Vive le mélodrame oú Margot a pleuré!
Caem as folhas secas no chão irregularmente,
Mas o fato é que sempre é outono no outono,
E o inverno vem depois fatalmente,
há só um caminho para a vida, que é a vida...

Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu os românticos,
Esse opúsculo político do tempo das revoluções constitucionais,
E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a razão
Nem haja para chorar tudo mais razão que senti-lo.

Viro todos os dias todas as esquinas de todas as ruas,
E sempre que estou pensando numa coisa, estou pensando noutra.
Não me subordino senão por atavisnio,
E há sempre razões para emigrar para quem não está de cama.

Das serrasses de todos os cafés de todas as cidades
Acessíveis à imaginação
Reparo para a vida que passa, sigo-a sem me mexer,
Pertenço-lhe sem tirar um gesto da algibeira,
Nem tomar nota do que vi para depois fingir que o vi.

No automóvel amarelo a mulher definitiva de alguém passa,
Vou ao lado dela sem ela saber.
No trottoir imediato eles encontram-se por um acaso combinado,
Mas antes de o encontro deles lá estar já eu estava com eles lá.
Não há maneira de se esquivarem a encontrar-me,
Não há modo de eu não estar em toda a parte.
O meu privilégio é tudo
(Brevetée, Sans Garantie de Dieu, a minh'Alma).

Assisto a tudo e definitivamente.
Não há jóia para mulher que não seja comprada por mim e para mim,
Não há intenção de estar esperando que não seja minha de qualquer maneira,
Não há resultado de conversa que não seja meu por acaso,
Não há toque de sino em Lisboa há trinta anos, noite de S. Carlos há cinqüenta
Que não seja para mim por uma galantaria deposta.

Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.

Cavalgada explosiva, explodida, como uma bomba que rebenta,
Cavalgada rebentando para todos os lados ao mesmo tempo,
Cavalgada por cima do espaço, salto por cima do tempo,
Galga, cavalo eléctron-íon, sistema solar resumido
Por dentro da ação dos êmbolos, por fora do giro dos volantes.
Dentro dos êmbolos, tornado velocidade abstrata e louca,
Ajo a ferro e velocidade, vaivém, loucura, raiva contida,
Atado ao rasto de todos os volantes giro assombrosas horas,
E todo o universo range, estraleja e estropia-se em mim.

Ho-ho-ho-ho-ho!...
Cada vez mais depressa, cada vez mais com o espírito adiante do corpo
Adiante da própria idéia veloz do corpo projetado,
Com o espírito atrás adiante do corpo, sombra, chispa,
He-la-ho-ho ... Helahoho ...

Toda a energia é a mesma e toda a natureza é o mesmo...
A seiva da seiva das árvores é a mesma energia que mexe
As rodas da locomotiva, as rodas do elétrico, os volantes dos Diesel,
E um carro puxado a mulas ou a gasolina é puxado pela mesma coisa.

Raiva panteísta de sentir em mim formidandamente,
Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos os meus poros em fumo,
Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma só divina linha
De si para si, parada a ciciar violências de velocidade louca...
Ho ----

Ave, salve, viva a unidade veloz de tudo!
Ave, salve, viva a igualdade de tudo em seta!
Ave, salve, viva a grande máquina universo!
Ave, que sois o mesmo, árvores, máquinas, leis!
Ave, que sois o mesmo, vermes, êmbolos, idéias abstratas,
A mesma seiva vos enche, a mesma seiva vos torna,
A mesma coisa sois, e o resto é por fora e falso,
O resto, o estático resto que fica nos olhos que param,
Mas não nos meus nervos motor de explosão a óleos pesados ou leves,
Não nos meus nervos todas as máquinas, todos os sistemas de engrenagem,
Nos meus nervos locomotiva, carro elétrico, automóvel, debulhadora a vapor

Nos meus nervos máquina marítima, Diesel, semi-Diesel,
Campbell, Nos meus nervos instalação absoluta a vapor, a gás, a óleo e a eletricidade,
Máquina universal movida por correias de todos os momentos!

Todas as madrugadas são a madrugada e a vida.
Todas as auroras raiam no mesmo lugar:
Infinito...
Todas as alegrias de ave vêm da mesma garganta,
Todos os estremecimentos de folhas são da mesma árvore,
E todos os que se levantam cedo para ir trabalhar
Vão da mesma casa para a mesma fábrica por o mesmo caminho...

Rola, bola grande, formigueiro de consciências, terra,
Rola, auroreada, entardecida, a prumo sob sóis, noturna,
Rola no espaço abstrato, na noite mal iluminada realmente
Rola ...

Sinto na minha cabeça a velocidade de giro da terra,
E todos os países e todas as pessoas giram dentro de mim,
Centrífuga ânsia, raiva de ir por os ares até aos astros
Bate pancadas de encontro ao interior do meu crânio,
Põe-me alfinetes vendados por toda a consciência do meu corpo,
Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para Abstrato,
Para inencontrável, Ali sem restrições nenhumas,
A Meta invisível — todos os pontos onde eu não estou — e ao mesmo tempo ...

Ah, não estar parado nem a andar,
Não estar deitado nem de pé,
Nem acordado nem a dormir,
Nem aqui nem noutro ponto qualquer,
Resol,,,er a equação desta inquietação prolixa,
Saber onde estar para poder estar em toda a parte,
Saber onde deitar-me para estar passeando por todas as ruas ...

Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho

Cavalgada alada de mim por cima de todas as coisas,
Cavalgada estalada de mim por baixo de todas as coisas,
Cavalgada alada e estalada de mim por causa de todas as coisas ...

Hup-la por cima das árvores, hup-la por baixo dos tanques,
Hup-la contra as paredes, hup-la raspando nos troncos,
Hup-la no ar, hup-la no vento, hup-la, hup-la nas praias,
Numa velocidade crescente, insistente, violenta,
Hup-la hup-la hup-la hup-la ...

Cavalgada panteísta de mim por dentro de todas as coisas,
Cavalgada energética por dentro de todas as energias,
Cavalgada de mim por dentro do carvão que se queima, da lâmpada que arde,
Clarim claro da manhã ao fundo
Do semicírculo frio do horizonte,
Tênue clarim longínquo como bandeiras incertas
Desfraldadas para além de onde as cores são visíveis ...

Clarim trêmulo, poeira parada, onde a noite cessa,
Poeira de ouro parada no fundo da visibilidade ...

Carro que chia limpidamente, vapor que apita,
Guindaste que começa a girar no meu ouvido,
Tosse seca, nova do que sai de casa,
Leve arrepio matutino na alegria de viver,
Gargalhada súbita velada pela bruma exterior não sei como,
Costureira fadada para pior que a manhã que sente,
Operário tísico desfeito para feliz nesta hora
Inevitavelmente vital,
Em que o relevo das coisas é suave, certo e simpático,
Em que os muros são frescos ao contacto da mão, e as casas
Abrem aqu; e ali os olhos cortinados a branco...

Toda a madrugada é uma colina que oscila,
...................................................................... e caminha tudo

Para a hora cheia de luz em que as lojas baixam as pálpebras
E rumor tráfego carroça comboio eu sinto sol estruge

Vertigem do meio-dia emoldurada a vertigens —
Sol dos vértices e nos... da minha visão estriada,
Do rodopio parado da minha retentiva seca,
Do abrumado clarão fixo da minha consciência de viver.

Rumor tráfego carroça comboio carros eu sinto sol rua,
Aros caixotes trolley loja rua i,itrines saia olhos
Rapidamente calhas carroças caixotes rua atravessar rua
Passeio lojistas "perdão" rua
Rua a passear por mim a passear pela rua por mim
Tudo espelhos as lojas de cá dentro das lojas de lá
A velocidade dos carros ao contrário nos espelhos oblíquos das montras,
O chão no ar o sol por baixo dos pés rua regas flores no cesto rua
O meu passado rua estremece camion rua não me recordo rua

Eu de cabeça pra baixo no centro da minha consciência de mim
Rua sem poder encontrar uma sensação só de cada vez rua
Rua pra trás e pra diante debaixo dos meus pés
Rua em X em Y em Z por dentro dos meus braços
Rua pelo meu monóculo em círculos de cinematógrafo pequeno,
Caleidoscópio em curvas iriadas nítidas rua.
Bebedeira da rua e de sentir ver ouvir tudo ao mesmo tempo.
Bater das fontes de estar vindo para cá ao mesmo tempo que vou para lá.
Comboio parte-te de encontro ao resguardo da linha de desvio!
Vapor navega direito ao cais e racha-te contra ele!
Automóvel guiado pela loucura de todo o universo precipita-te
Por todos os precipícios abaixo
E choca-te, trz!, esfrangalha-te no fundo do meu coração!

À moi, todos os objetos projéteis!
À moi, todos os objetos direções!
À moi, todos os objetos invisíveis de velozes!
Batam-me, trespassem-me, ultrapassem-me!
Sou eu que me bato, que me trespasso, que me ultrapasso!
A raiva de todos os ímpetos fecha em círculo-mim!

Hela-hoho comboio, automóvel, aeroplano minhas ânsias,
Velocidade entra por todas as idéias dentro,
Choca de encontro a todos os sonhos e parte-os,
Chamusca todos os ideais humanitários e úteis,
Atropela todos os sentimentos normais, decentes, concordantes,
Colhe no giro do teu volante vertiginoso e pesado
Os corpos de todas as filosofias, os tropos de todos os poemas,
Esfrangalha-os e fica só tu, volante abstrato nos ares,
Senhor supremo da hora européia, metálico a cio.
Vamos, que a cavalgada não tenha fim nem em Deus!
...............................................................
...............................................................

Dói-me a imaginação não sei como, mas é ela que dói,
Dec4ina dentro de mim o sol no alto do céu.
Começa a tender a entardecer no azul e nos meus nervos.
Vamos ó cavalgada, quem mais me consegues tornar?
Eu que, veloz, voraz, comilão da energia abstrata,
Queria comer, beber, esfolar e arranhar o mundo,
Eu, que só me contentaria com calcar o universo aos pés,
Calcar, calcar, calcar até não sentir.
Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que quis,
Que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou.

Cavalgada desmantelada por cima de todos os cimos,
Cavalgada desarticulada por baixo de todos os poços,
Cavalgada vôo, cavalgada seta, cavalgada pensamento-relâmpago,
Cavalgada eu, cavalgada eu, cavalgada o universo — eu.
Helahoho-o-o-o-o-o-o-o ...

Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação ...

Sou um anjo caído
À procura de minhas asas
Meu coração está aflito
Da minha alma já não resta mais nada

Coração destruído
Culpa acumulada
Um sorriso no rosto
Uma mente malvada

Você diz que me conhece
Um encontro, talvez?
Sou aquele que tem te visitado
Quando o relógio bate as 3

Coração destruído
Culpa acumulada
Um sorriso no rosto
Uma mente malvada

Sou um anjo caído
Que não precisa de asas
Sou o rei de todo o inferno
E só preciso de sua alma

Eu me Perdoo (Ana Jácomo)

No meu coração, eu me perdoo pelas bobagens desastrosas que fiz. Pelas escolhas equivocadas das quais eu me arrependo à beça. Por ter ferido lindezas, sem querer. Por ter deixado ir embora gente querida que adorei ter conhecido.

No meu coração, eu me perdoo pelas vezes em que dei tanto poder ao outro e esqueci o meu. Por deixar roubarem, sem compaixão, os meus lápis de cor preferidos. Por chamar de amor o que contraria a essência dele. A cara dele. A luz que ele tem.

No meu coração, eu me perdoo por não ter dito o que certamente hoje eu diria. Por não ter tido sensibilidade para compreender preciosidades que me foram ditas sem palavras. Por me faltar em instantes em que precisei tanto de mim. Por, às vezes, faltar ao outro quando ele mais precisava.

No meu coração, eu me perdoo por demorar tanto a descobrir o que mais me importava. Por em tantos momentos dar prioridade ao que não merecia. Pelas vezes em que agi de modo tão contraditório às minhas próprias crenças.
Pelos momentos em que permiti que fizessem bagunça com o que era tão precioso.

Foi por medo. Ingenuidade. Ignorância. Confusão. Lá, era tudo que eu sabia. Lá, era tudo que eu podia.

Aprendiz, eu me abençoo, no meu coração.

- Ana Jácomo -

“O meu coração… sinto que o meu peito mal pode contê-lo. Como se estivesse a tentar escapar, por já não me pertencer. Pertence a ti. Se o quiseres, não desejarei nada em troca, não desejarei presentes, nem demonstrações de devoção. Nada a não ser saber que também me amas. Só o teu coração em troca do meu.”
Stardust