Textos de Caio Fernando Abreu
O que é nosso nunca se vai, por mais que queira, sempre estará presente. Se for, na hora certa voltará, e se não voltar, é porque não era nosso. Melhor assim. Doer, dói, mas somente uma vez. E nada melhor que o tempo para mostrarmos o melhor caminho. E isso não é frieza, é maturidade. Nada dura para sempre, nem as dores, nem as alegrias. Tudo na vida é um aprendizado, tudo na vida se supera.
Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro. Sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te conduza ao céu ou ao inferno.
Eu aprendi que, na vida as coisas acontecem na hora certa e no lugar certo. Acho que ultimamente ando a todo o momento errada […] Mas que diabos é que tem de errado comigo? Há tanto tempo tenho suportado a ser despercebida de todos. Ando só, desprezada, angustiada, tristonha, melancólica, desamparada. Ando carente de carinho, de afeto, de afeição, de carícia, de amor. Sinto falta de dengo, de frescurinhas, de meiguices. Sinto falta de ser levada a sério […] Vislumbrei um clarão de carência em mim mesma, tão forte a ponto de cegar quem vê. Mas isto impossível seria, já que minha agonia ninguém há de perceber.
Às vezes parece que o mundo inteiro se vira contra mim. É como se nada mais se encaixasse, como se não existisse mais certo e errado. Às vezes percebo como tudo está diferente, como tudo muda com o decorrer do tempo. As coisas vêm e vão. Os sentimentos, as histórias, os problemas, as soluções, as tristezas, as alegrias. Vêm e vão, como se fosse simples, como se tudo se resumisse a isso.
Então a suspeita bruta: não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós. Afirmou, depois acendeu o cigarro, reformulou, repetiu, acrescentou esta interrogação: não suportamos mesmo aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós? Não, não suportamos essa doçura.
Puro cérebro sem dor perdido nos labirintos daquilo que tinha acabado de acontecer. Dor branca, querendo primeiro compreender, antes de doer abolerada, a dor. Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos. Que talvez, pensava agora, nem tivessem sido tão paradisíacos assim.
Imagine um mundo de coisas limpas e bonitas, onde a gente não seja obrigado a fugir, fingir ou mentir. Onde a gente não tenha medo nem se sinta confuso (não haverá a palavra nem a coisa confusão, porque tudo será nítido e claro). Onde as pessoas não se machuquem umas às outras, onde o que a gente é apareça nos olhos, na expressão do rosto, em todos os movimentos.
Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.
O erro? Eu dizia, pois é, o erro. Eu penso, se o erro não foi de dentro, mas de fora? Se o erro não foi seu, mas da coisa? Se foi ela quem não soube estar pronta? Que não captou, que não conseguiu captar essa hora exata, perfeita, de estar pronta. Porque assim como o movimento de apanhar deve ser perfeito, deve ser perfeita também a falta de movimento, a aparente falta de movimento do que se deixa apanhar. Você me entende?
(…) porque é preciso falar claramente sobre certas coisas, é preciso alertar as pessoas para as vidas erradas que levam, a alimentação errada, as emoções erradas, os relacionamentos errados. Não quero ser dono da verdade, mas aprendi algumas coisas nesses anos — pode parecer ambicioso, mas de repente gostaria de ajudar a transformar este mundo numa coisa melhor. Para isso, tento ficar bem.
Não gosto quando a gente fica falando assim no que não foi, no que poderia ter sido. God! Não aos sábados, principalmente à noite. Não hoje, por favor, hoje não dá, eu tenho. Eu tenho uma sensação meio de amargura, de fracasso. Você me entende? Como se tivesse a obrigação de ter sido, ou tentado ser, outra pessoa.
Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter? são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado.
Eu espero por dias melhores sem pressa, sei que o que tiver pra acontecer de bom comigo vai acontecer, e preciso ter paciência, vai acontecer na hora certa. É preciso viver um dia de cada vez, é preciso subir a escada degrau por degrau e acima de tudo saber esperar e principalmente ter fé acima de tudo.
Te amarei a cada pôr-do-sol, e em cada nascer do dia. Te amarei de Janeiro a Janeiro, e isso inclui também feriados e fins de semana. Te amarei nos dias chuvosos, tanto lá fora quando aqui dentro, mas te amarei ainda mais nas horas de alegria, quando a vontade de te ter ao meu lado para partilhar o sorriso me fizer ver o quão necessário você é para minha existência.
Que se danem os príncipes e as princesas. Que venham as pessoas reais, aquelas que se doam. Que sofrem, que choram por um amor. Aquelas que abraçam travesseiros e suspiram. Que têm milhares de defeitos mas o que conta mesmo é “aquela” qualidade que te fez apaixonar. Achar essas pessoas não é tão difícil, a gente as reconhece logo de cara. O problema é que às vezes a gente pensa demais e complica as coisas.
Quando desliguei o telefone pra lá das 04:00 horas da manhã, eu disse que sonharia com você, apenas pela certeza de que sua imagem linda, clara, fascinante, jamais sairia da minha cabeça… Ao me deitar, eu estava pensando em ti. Eu não sei se é sonho, o que acontece, mas eu te sinto sempre. Até enquanto durmo. Sinto seu toque, sua voz, vejo seu sorriso. Sinto e vejo tudo, meu misto de sonho e realidade, por que demorou tanto para chegar? Eu guardei um sonho bom pra ti essa noite. Estive com você da forma mais bonita: toquei seu coração – te dei o meu, e recebi o seu. E ao amanhecer, sua imagem continuava nítida em minha mente. Meio sonolento, acabei despertando pelo vibrar do celular, e era você. E tem sido você, e vai continuar sendo você. Por tanto tempo eu quis, e então você chegou.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Depois os dois se abraçaram e se deram beijos nas duas faces e como duas pessoas que não se vêem há muito tempo atropelaram perguntas como: por onde é que tu anda, criatura, ou exclamações como: mas tu não mudou nada, ou reticências tão demoradas que as filas chegavam a deter-se um pouco, as pessoas reclamando e uma hesitação entre mergulhar nas gentes entre um beijo e um me telefona qualquer dia e ficar ali e convidar para qualquer coisa, mas um medo que doesse remexer naquilo, e tão mais fácil simplesmente escapar que chegou a dar dois passos. Ou três.
Hoje estou me permitindo escrever sobre este cansaço indivisível, sobre minha falta de tempo, sobre a desordem que se instaurou em minha vida. Por trás disso tudo, o mais perigoso espreita: a grande traição que estou cometendo, todo dia, comigo mesmo. Porque escrevendo assim, para sobreviver, não escrevo o que me mantém vivo – outras coisas que não estas.
A gente tem que parar com essa mania de achar que todas as pessoas são iguais, parar de ter medo de que toda história se repita e acabe da mesma forma como acabaram algumas outras histórias frustrantes que a gente viveu. Não vamos deixar o medo, e um passado de merda atrapalhar a nossa felicidade, não podemos desistir um do outro assim tão fácil!