Textos de Caio Fernando Abreu
Foi numa dessas manhãs sem sol que percebi o quanto já estava dentro do que não suspeitava. E a tal ponto que tive a certeza súbita que não conseguiria mais sair. Não sabia até que ponto isso seria bom ou mau — mas de qualquer forma não conseguia definir o que se fez quando comecei a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto. Não que houvesse fotografias ou qualquer coisa de muito concreto — certamente havia o concreto em algumas roupas, uma escova de dentes, alguns discos, um livro: as miudezas se amontoavam pelos cantos. Mas o que marcava e pesava mais era o intangível.
(...)
Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.
Quero um amor que assista um
filme comigo mexendo no meu
cabelo, que quando eu chorar me
faça rir, que me chame de linda
quando eu chamá-lo de idiota, que
ande de mãos dadas comigo, que
me beije na chuva e quando eu
falar de mais, que durma de
conchinha e me esquente nas noites
frias de inverno, que me mande
rosas com um cartão, que eu goste
do seu perfume. Um amor que
passe as tardes comigo dormindo ou
simplesmente fazendo nada, apenas
deitados na cama, eu que quero um
amor que me entenda quando não
estou nos meus melhores dia,
resumindo: eu quero alguém que
com pequenas coisas me faça feliz.
Pare de ter medo do que poderia dar errado e pense no que poderia dar certo.
Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser infinito. É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.
"Um amor deveria existir para duas pessoas se tornaram melhores juntas, amor deveria se resumir em uma grande admiração, eu gostaria que o sorriso dele fosse capaz de me fazer completamente feliz mesmo que esse sorriso todos os dias fosse para outra pessoa, mas agora... Não sou mais de dar um tempo, não sou de vai e volta, não sou de brincar com os meus sentimentos e muito menos me aceitar sendo um brinquedo, aprendi a valorizar as pessoas enquanto é tempo, mas também não acreditar facilmente nelas, eu não procuro mais perfeição, apenas com certeza um pouco de maturidade. Se você me deixar sofrendo com a intenção de que eu sinta sua falta, bom... Talvez VOCÊ que acabe sentindo a minha a falta..."
Crie laços com as pessoas que lhe fazem bem, que lhe parecem verdadeiras. Desfaça os nós que lhe prendem àquelas que foram significativas na sua vida, mas, infelizmente, por vontade própria, deixaram de ser. Nó aperta, laço enfeita. Simples assim.
Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto.
É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será.
Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto.
O domingo tá acabando — já é tarde — amanhã a gente começa de novo. Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga.
Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você.
Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros.
O amor é lindo sim, e ele é a maior recompensa para quem não tem medo de enfrentar os próprios medos e os medos do outros. É querer estar com a pessoa independente de qualquer coisa ou situação. Pelo simples fato de estar junto.
Só uma coisa era fundamental (e dificílima): acreditar.
Ei, só vim avisar que estou desistindo, ok? Acho que assim será melhor, com ou sem você, já não importa mais. Venho vivendo em um permanente e inútil sacrifício, apenas mudarei o foco. Prometo esquecer-te. Aprendi a lembrar de ti a todo momento, agora bastará lembrar de te esquecer. Não vai ser difícil, vou tentar lembrar do muito que te dei e do pouco que recebi, vou lembrar dos sorrisos que desejei enquanto as lágrimas tomavam conta de mim, vou lembrar do quanto te amei e o que isso significou pra você. Bom, será assim. Vou sofrer como antes, mas dessa vez terei amor próprio, cuidarei mais do meu “eu”. Posso ter sido mais uma pra você, mas sou única pra mim.
Vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.
"E da janela do quarto, vendo uma vida de estrelas passarem por seus olhos, algo lhe dizia: - Tá vendo aquele mundo lá fora? É seu, vai pegar."
Carta Para Além do Muro
Eu não achei que ia conseguir dizer, quero dizer, dizer tudo aquilo que escondo desde a primeira vez que vi você, não me lembro quando, não me lembro onde. Hoje havia calma, entende? Eu acho que as coisas que ficam fora da gente, essas coisas como o tempo e o lugar, essas coisas influem muito no que a gente vai dizer, entende? Pois por fora, hoje, havia chuva e um pouco de frio: essa chuva e esse frio parecem que empurram a gente mais pra dentro da gente mesmo, então as pessoas ficam mais lentas, mais verdadeiras, mais bonitas. Hoje eu estava assim: mais lento, mais verdadeiro, mais bonito até. Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse.
Pequenas epifanias " Extremos da Paixão"
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.
O Estado de S. Paulo, 8/7/1986
Sim , você me trouxe a vida realmente ,pois estava vivendo por viver , estava ficando por ficar , não tinha sentimento algum em mim mais , você me trouxe a esperança , me trouxe o mundo e se tornou meu pedacinho de tudo , de tudo que eu gosto de tudo que eu faço de tudo que eu sinto , e até de tudo oque eu penso , mais paro e penso será que com você é assim ? por um minuto queria sabe oque se passa na sua cabeça quando ouve meu nome ..
Às vezes eu paro pra pensar nos casos que eu já tive e fico rindo sozinho, lembrando dos momentos que se foram. Uma vez eu li que quando é verdadeiro, não acaba. E antes de ter lido isso, eu me perguntava o porque de tantas idas e vindas na minha vida. Sou da tribo que deseja, pede e vive à base de energia positiva. Se estou conhecendo alguém, minha mente automaticamente começa torcer à favor da causa. É isso o que eu quero pra mim. Quero que dê certo. Dentro de mim tudo é muito limpo. Muito organizado. E talvez seja esse o motivo de eu sentir longe o cheiro de sujeira. Meu coração alerta. Acho que sou meio neurótico com tudo isso às vezes mas ao mesmo tempo me conformo porque tenho meus motivos. Adoro balada mas não suporto sair beijando na boca do primeiro bonitinho que me joga uma cantada tosca. Não sou obrigado a ter que lidar com a falta de personalidade própria nos dias de hoje. Poderia muito bem me entregar pro primeiro que me pede em namoro como muitas fazem. Mas prefiro ser mais seletivo. Prefiro conhecer antes de tomar qualquer decisão. É engraçado mas hoje em dia o que mais tem por ai é homem dizendo te amar, dizendo ser diferente dos outros, fazendo a linha principe encantado. Só que uma hora o encanto acaba. Não sou garoto de encantos, muito menos contos de fadas. Não faço da minha vida um filme da Disney. Sou mais que isso. Sou carne e osso. Sou pele, sou amor. Amor de verdade, entende? Amor sem metades. Sem rótulos. Não nasci pra viver pulando de relacionamento em relacionamento pra achar o cara certo. Vai que o cara certo resolve aparecer quando eu estiver iludido com o errado? Por isso eu prefiro ficar na minha, pois de tanto me perguntar o porque de todos os relacionamentos nunca derem certo, a vida me mostrou batendo dos dois lados da minha cara que quando é pra ser, é pra ser, e quando não é pra ser, não é pra ser. Não tem como alterar o que já foi escrito. E é por isso, meu amor, que tirei a simples e breve conclusão, que meu coração não é bagunça. Não bate aqui se não pretende entrar. Não entra aqui se pretende sair. Por favor.
Está chegando a hora de mudar a rota. É preciso saber a hora de dizer um "até logo" e pegar outro caminho. O que me conforta é saber que lutei, tentei, abri mão de muita coisa e de forma alguma me arrependo. Como diz a frase de Caio Fernando Abreu. “Não se preocupe, não tenha pressa. O que é seu, encontrará um caminho para chegar até você. Deus não demora, ele capricha!” Seguirei crendo nisso...
Está chegando a hora de mudar a rota. É preciso saber a hora de dizer um "até logo" e pegar outro caminho. O que me conforta é saber que lutei, tentei, abri mão de muita coisa e de forma alguma me arrependo. Como diz a frase de Caio Fernando Abreu. “Não se preocupe, não tenha pressa. O que é seu, encontrará um caminho para chegar até você. Deus não demora, ele capricha!” Seguirei crendo nisso...
E a moça? De que lugar teria vindo? Que caminhos teria pisado? Que insuspeita das descobertas teria feito? Tu olharias a moça mas, as perguntas não acorrendo, o mistério que a envolveria seria desfeito - uma moça vestida de azul, sentada no chão de uma praça sem lago. Não poderias saber nada de mais absoluto sobre ela, a não ser ela própria. Fazendo perguntas, tu ouvirias respostas. Nas respostas ela poderia mentir, dissimular, e a realidade que estava sendo, a realidade que agora era, seria quebrada. pois, não fazendo perguntas, tu aceitarias a moça completamente. Desconhecida, ela seria mais completa que todo um inventário sobre o seu passado. Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando essas perguntas não são feitas. Que a maneirar mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa se ria justamente não falar, não perguntar - mas ver! Em silêncio.
(Conto: Ponto de Fuga)
Não é que eu seja orgulhosa, mas tem coisas que realmente não tem a necessidade de serem ditas. Caio F. Abreu disse; ''Esse negócio de sentimentos demonstrados demais meio que estraga'', e eu concordo com ele, porque quando se expõe seus sentimentos demasiadamente, você fica vulnerável e é bem nessa hora que algumas pessoas fazem disso uma oportunidade para elevarem seus egos.
Heteros ou homos (?) a médio prazo iremos todos enlouquecer, se passarmos a ver no outro uma possibilidade de morte. Tem muita gente contaminada pela mais grave manifestação do vírus — a aids psicológica. Do corpo, você sabe, tomados certos cuidados, o vírus pode ser mantido a distância. E da mente? Porque uma vez instalado lá, o HTLV-3 não vai acabar com as suas defesas imunológicas, mas com suas emoções, seu gosto de viver, seu sorriso, sua capacidade de encantar-se. Sem isso, não tem graça viver, concorda? ...
O Estado de S. Paulo, 25/3/1987
Se cuido do meu intelecto para meu desenvolvimento pessoal, falam de mim.
Se cuido de minha aparência para criar uma imagem pessoal, falam de mim.
Se cuido do meu corpo para fins estéticos, falam de mim.
Se cuido de mim mesmo, alguém acha um defeito e querem cuidar da minha vida por mim.
Agora vou cuidar do meu espírito e, por favor gente, deixa Deus tomar conta dele por mim.
"...dançar de rosto colado, pegar na mão à meia-luz, desenhar com a ponta dos dedos cada um dos teus traços, ficar de olho molhado só de te ver, de repente e, se for preciso, também virar a mesa, dar tapa na cara, escândalo na esquina, encher a cara de gim, te expulsar de casa e te pedir pra voltar."
Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir. E só.
Não existem segundas chances, porque, na verdade, nada volta a ser como era antes. Depois que algo é quebrado, sempre vão existir marcas que provarão que algo, em algum momento, esteve errado. Não existem segundas chances quando um coração é magoado. Não existem novas oportunidades para algo que se deixou passar, ou perdeu. Depois que o encanto acaba, não há mais nada para ser feito. A não ser lamentar seu erro.
As coisas vão ficar cada vez mais duras. O seu corpo vai-se decompor lentamente e você vai criar barriga e acreditar cada vez menos em todas as coisas, em você mesmo. O campo, a terra, o mar, a natureza — vão ficar cada vez mais distantes. E um dia tudo não vai ter passado de um sonho. Um dia você vai lembrar de tudo e pensar com tristeza: “loucuras da juventude”. E todo esse tempo de agora não será mais que um longo tempo perdido, inútil, jogado fora. Quanto mais você ficar aqui, mais poluído você fica, mais envolvido com a cidade. Cada vez é mais difícil você se libertar. Porque é que você não vai de uma vez? O que é que você está esperando? O que é que você está fazendo para realizar o seu sonho?
Talvez o mal é que a gente pede amor o tempo todo. Não se preocupa nunca em dar amor, sem esperar reciprocidade. (...) A gente tá se perdendo todos os dias, pedindo pra pessoas erradas. Mas o negócio é procurar. A gente não se recusar a se entregar a qualquer tipo de amor ou de entrega. Eu nunca vi por que evitar a fossa. Se a fossa veio é porque ela tinha que vir, o negócio é viver ela e tentar esgotar ela. A gente, quando tenta analisar qualquer problema, sempre vai aprofundando, aprofundando, até que chega nesse fundo que é amor sempre. (...) A gente sempre procura um amor que dure o mais possível. Procura, procura, talvez tu aches. Pra mim é horrível eu aceitar o fato de que eu tô em disponibilidade afetiva. Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo, porque não agüenta o fato de estar sozinho.