Textos de Afeto
JOGO DE AFETO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
É bem difícil tomarmos a iniciativa de oferecer a uma pessoa querida o benefício do afastamento, ao percebermos que a nossa presença constante, previsível, já está saturando essa pessoa. No entanto, é imperioso que assim façamos o quanto antes, para prevenirmos o desgaste maior, que não tarda e logo se agrava nestes casos.
Um afastamento suave, sem rancores, cobranças, atitudes abruptas ou passionais, e no tempo certo, logo há de ser alvo do reconhecimento, a gratidão, e quem sabe a saudade ou nostalgia da pessoa querida. Pessoa para quem somos também queridos, ou não teria existido a relação que chegou ao ponto em que chegou.
Para nunca mais viver esse desconforto, resolvi me forjar procura. Não me demonstrar oferta. Não bater à porta e me ostentar como promoção; artigo afetivo em queima de estoque. Doravante, quem me quiser faça o pedido; passe no caixa; peça entrega. Fique ansiosa, insegura e cheia de planos para cada vez que a encomenda chegar.
QUEM É VOCÊ?
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Venho e trago todo afeto;
calor humano sem fim;
você olha para o teto,
ao invés de olhar pra mim...
Outro dia tenho a sorte
de apesar do meu temor,
encontrá-la em outro porte;
até com senso de humor...
Quando penso que já sei
que você é mesmo duas,
subestimo a própria lei
do planeta; o céu; as luas...
Você enche, míngua, cresce,
se renova com vertigem,
esquenta, gela, incandesce,
é cerrado e mata virgem...
Cansei de passos no escuro;
nos vãos de sua maré;
agora só lhe procuro
ao saber quem você é...
TODAS AS LÍNGUAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Já usei com você,
todas as línguas do meu afeto.
Usei as falas e os sinais;
também silêncios e presenças...
mas me cansei.
Calei o peso do seu nunca
e despertei meu nunca mais...
minhas reticências...
aprendi a linguagem das ausências...
EMOÇÃO RECICLÁVEL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Apostei noutro afeto sem cisco e poeira;
sem estética, selo, padrão nem carimbo;
numa feira de sonhos e tons em comum,
nossos olhos expostos às exposições...
Foste o filme perfeito que assisti sozinho
sob traços da tela de um rosto forjado,
li em teu pergaminho falsos mandamentos
nos quais era pecado ver pecado em tudo...
Pela tua verdade que mentiu pra mim,
fui ao fim dos meus nãos e me lancei em ti
feito rio que pousa no colo do mar...
Eras cópia de alguém que se fez na ilusão
desta velha carência que permuta os alvos,
quando minha emoção envelhece outra vez...
PAPEL DE PRESENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Apostei no que fomos, o meu afeto mais sincero e profundo. Fiz isso, até já não sermos. Foram anos e anos de sonhos que eu poderia julgar em vão, mas não o faço, porque mesmo assim fui feliz... porque tive a miragem que gerou raiz em meu coração, cresceu e deu frutos.
Sou quem viveu de verdade; quem se doou de fato, porque fiz da quimera um enredo perfeitamente palpável... meu aqui, meu agora, o presente futuro num papel de presente que a saudade sempre afagará, das mais doces formas de nostalgia. Terei sempre o que reviver, para ser feliz de novo, junto ao ser feliz como sou neste momento, pelo meu poder de acreditar.
Hoje, além de viver do presente, usufruo dos juros daquelas juras de afeto, que saíram falsas de seus lábios e chegaram reais ao meu íntimo. Preservei o que fomos, e o faço quando já não és. Tenho asas para voltar ao passado somente meu e suprir a esperança de um novo dia, cada vez que os meus olhos se fecham para uma nova noite no céu das minhas expectativas.
Enquanto perdias tempo enganando a ti mesma, ganhei tempo construindo história. Renovei meu império sentimental, enriqueci ainda mais meu mundo, e fui ao centro de tudo para me reaver; me recriar. Pesquei para mim, todos os tesouros do tempo que perdeste.
ESTILHAÇOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quis fazer nosso afeto encantado e perene,
ser alguém muito alguém pro teu mundo e teus olhos,
pra criar uma história de amor tão só nossa;
meio jazz, bossa nova, sem data limite...
Fiz por ser um amigo tão fundo e presente,
bem amante, amador pros contextos de amores,
levar flores nos olhos pra fazeres mel
que jamais faltaria nos nossos momentos...
Iludiste o meu sonho do laço sem nó,
foste um dó destoante que me pôs de ré,
pé atrás nas questões dos afetos profundos...
Dediquei muitos anos a gostar demais,
fui demais pro teu jogo de praticidade,
quando a minha verdade questionou a tua...
FORMOL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Hoje quase me curvo de formalidade;
modulei meu afeto pra não te assustar;
fiz a minha verdade se calar no peito,
pra depois refluir cautelosa e solene...
Ao podar os meus modos não toco teus medos;
o carinho contido soa confortável;
entre palpos e dedos te livrei dos riscos
do calor mais humano e da presença estreita...
Aceitei o formol que julgaste adequado
e ficou acertado ser melhor assim,
nos tonarmos mais algo e bem menos alguém...
Aprendi a dosar o melhor de quem sou,
já não dou tanto eu em razão de nós dois
que afinal somos dois e me fizeste ver...
CURA DOENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Era bom me doar como quem morreria,
ter afeto insondável pra distribuir,
não temer as mentiras, nem as mais prováveis,
mesmo assim não mentir como frágil defesa...
Era ter um sentido que a vida perdeu,
uma dor que fazia o viver mais intenso,
fui mais meu nesse tempo em que fui tão de alguém
que bastava aos meus olhos e minha ilusão...
Mas o tempo me trouxe uma cura doente,
minha mente venceu as emoções do peito
e me deu equilíbrio pra me tornar frio...
Hoje tenho saudades de sentir doer
a saudade que outrora me fez mais humano;
remoer um amor, correspondido ou não...
AFETO OCULTO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Gosto mais de você do que é certo,
mas guardei o gostar só para mim,
no deserto insondável do meu eu
lá no fim do sentido que não faz...
Fecho a dor, é preciso me trancar
pra manter o placebo da presença;
ter o ar que você também respira
e jamais lhe perder pra seus temores...
Não me deixo legível pra você,
quando alguma oração me denuncia
numa linha facial descuidada...
Gosto mais de saber que não lhe tenho,
mas manter meu engenho de quimera,
do que nem lhe sentir ao meu redor...
PECADO SACROSSANTO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Foste minha versão de afeto extremo
sem extremos dos quais me arrepender,
nau e remo num mar de calmarias
anti-ouvidos, olhares e suspeitas...
Minha cega esperança em colo amigo,
confiança irrestrita e desarmada,
meu antigo segredo sempre novo;
emoção que o silêncio manteria...
Um ingênuo pecado sacrossanto
entre gestos contidos, conscientes
das correntes e cercas abstratas...
Eras minha saudade do futuro
em um porto seguro que não tive,
mesmo assim ancorei minha ilusão...
DE UM GRANDE AFETO IMPROVÁVEL
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Quase nunca, mas ocorre uma pessoa ter tanto carinho, amizade – e respeito – por outra, quase sempre de outro gênero, que acabe se permitindo certos desprendimentos e confidências, e com real pureza de propósitos ou intenções. Isso pode ser um problema, se toda essa carga de sentimento e confiança não for correspondida com exatidão pela outra parte. Aí surge aquele pé atrás e vem o distanciamento sem prévio aviso, de quem não está preparado para tanta entrega e tamanha falta de noção resultante da certeza de uma recíproca irrestrita, o que justificaria essa cumplicidade.
Temos que ter freios e filtros, para não sermos tão seguros da igualdade afetiva do outro, pelo menos até que o outro dê sinais relevantes da mesma intensidade; a mesma entrega; os mesmos tons. A coincidência do exato afeto raro na extremidade oposta é ainda mais rara do que o próprio afeto. Poucos indivíduos têm estrutura para viver algo tão delicado, belo e ao mesmo tempo tão fácil de ser confundido na linha tênue que o separa do abuso. É compreensivelmente normal que tanta gente se arme contra sentimentos tão improváveis – e suas manifestações tão peculiares –, pela natureza misteriosa dessa raridade. De fato, muitas pessoas fingem essa pureza de alma e coração, para cometerem dissimuladamente certas improbidades pseudo-afetivas.
Finalmente aprendi que o encontro de duas almas tão similares e alheias a desejos comuns é um grande acontecimento. Mas temos que ter bom senso, muito critério e profunda observação do outro, para termos certeza de que o encontro é incontestável. Não sendo o caso, as nossas demonstrações intensas de amizade extrema podem gerar temor, conflito, aversão e, às vezes, alguma medida radical. Tenhamos inteira consciência da sociedade na qual vivemos, e sendo assim, respeitemos completamente o direito alheio à não recíproca ou à relutância em relação ao caráter de nossa entrega.
Sobretudo, saibamos reconhecer o equívoco de nossas expectativas e identificar a hora de retirar os excessos... tornar comum o que é especial... tirar do plano superior o que nutrimos sozinhos e assumir uma relação como qualquer outra. É inconcebível que o ser humano desperdice comida, tempo e afeto.
APELOS MODESTOS
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Quem tiver um amor sobrando aê,
uma sobra de afeto – qualquer um,
qualquer prisma, soslaio dum olhar,
venha ver quanto bem lhe faço em troca...
Serei grato por gestos e palavras,
por afagos discretos nos cabelos,
minha lavra de sonhos e carências
tem apelos modestos e sutis...
Eu aceito até beijo em minha testa;
faço festa por mão mais generosa
e não vou exigir além da conta...
Tenho tempo; quem sabe lhe seduzo,
mas me privo de abuso e peço aê,
sua esmola de afeto inicial...
CONTAGEM REGRESSIVA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Meu afeto por ti foi bem mais expressivo;
de não ver a passagem da hora mais lenta;
foi daquelas versões de adesivo nos olhos,
para nem perceber que sentia sozinho...
Era tão consistente, sem arma e defesa,
que não tinha segredo; nada pra esconder;
tive minha certeza do quanto sabias
que não tinhas razão pra temer tanto afeto...
Guardo ainda resquícios daquele sentir;
poderia mentir, nem mentiria tanto,
mas ainda não sei me camuflar pra mim...
Entretanto é verdade que já vejo as horas
e não dói como antes; não sangra saber
como sabes me ver com frieza e distância...
REVISÃO DE AFETO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Você teve temor do que nunca existiu;
evitou iminências sem fundo e raiz;
preveniu amanhãs que jamais nasceriam,
como nem madrugadas pousaram por lá...
Teve tanto juízo sem necessidade;
gastou preces e preces contra males falsos;
inventou cadafalsos, previsões de culpas,
enforcou a pureza do meu bem querer...
Você não mereceu cada gesto bonito
que de fato não fiz, recolhi bem a tempo,
atendi ao seu rito infindável de fuga...
Retirei de seus medos o melhor de mim;
respondi sim ao não e me tornei mais um
dos afetos comuns que nem afetos são...
ALFORRIADO
Demétrio Sena - Magé
Para mim não há vida, se o laço dá nó,
se o afeto não pode respirar sozinho;
quando já me sufoca, prefiro ser só;
a gaiola de luxo não supera o ninho...
Quero cama que nunca me roube o caminho;
tomar banho e de novo me cobrir de pó;
vestirei os meus trapos, caso a seda, o linho
manipulem no contra; dominem no pró...
Que ninguém se nomeie senhor ou senhora
do meu tempo, meu vir e do meu ir embora,
pois me prendo e me solto pela minha chave...
E ninguém se pretenda ser meu adivinho,
decidir quando passo da pinga pro vinho,
se viajo de sonho, de charrete ou nave...
Indiaroba, Terra de História e Afeto
Há um olhar que ultrapassa o óbvio, que enxerga além das paisagens e dos cartões-postais. Um olhar que se detém nos detalhes, nas expressões, nas mãos que trabalham, nas risadas que ecoam pelas ruas, no cheiro da comida que traz lembranças de casa.
Minha gente é feita de força e delicadeza. Das águas do Rio Real que nos banham e dos passos que marcam a terra. São rostos que contam histórias, vozes que preservam tradições, gestos que carregam gerações inteiras. E eu, com minha lente e meu coração, me faço parte disso tudo— registrando, contando, preservando.
Cada clique é um abraço na memória, um jeito de dizer: olhem para nós, para o que somos, para o que temos. Nossa cultura pulsa na feira livre, no trabalho dos pescadores, na dança que embala as festas, na fé que nos une. Indiaroba é mais que um lugar, é sentimento, é pertencimento, é raiz.
E quando alguém me pergunta o que me faz ter tanto orgulho de viver aqui, eu respondo sem hesitar: é a minha gente.
luxúria;
me vi em navalhas:
preto engoliu branco,
afeto sangrou agressão,
orgulho devorou o amor.
arranquei meus olhos —
agora as rosas brotam
onde restaram os buracos.
mordi frutas brilhantes
e mastiguei vermes
apenas para cuspir
seus caroços podres
e escolher estátuas douradas
com vísceras de barata:
beijei-lhes a boca
até engolir as asas.
e no rastro do desejo,
só restaram cinzas de abraços
e retratos sem face.
transformei camas em altares,
mas nenhum deus respondeu
às preces que sussurrei
entre pernas e gemidos.
nessa piada que me conto
enquanto me fodo —
só restam sílabas grudadas
e pegadas na poeira
da casa vazia
que já foi peito
antes de ser tumba.
Leis universais.
Tive oque chamei de grande ideia. Promover entre as pessoas o afeto e amor fraterno. Tentei convencer uma pessoa a não devolver a ofensa e perdoar e ela irritou-se mais ainda como quem diz não sou santa quero é que se... . Porém não estamos falando de santidade mas de aprimoramento pessoal crescimento e aperfeiçoamento, afinal somos seres espirituais tendo uma experiência humana.
Percebi ainda que as mesmas, não estão interessadas no perdão e ainda fingem ser bondosas e amorosas. Que nada elas querem mesmo é pagar sempre tudo na mesma moeda e, se iludem dizendo ``dei o meu melhor´´ pra se livrarem do tal peso da consciência.
E parafraseiam coisas do tipo:
Que deus te dê em dobro tudo que desejares pra mim.
Quem com o ferro ferem, será ferido.
Quem cospe pra cima cai na cara. Etc.
A lista é enorme. Esquecem todos que estamos todos envolvidos e misturados na mesma esfera global. Então veja! Porque quando acontece uma tragédia ou coisa ruim e desagradável nos atinge em cheio? Pode ser que tenha acontecido nos mais longínquos dos lugares, o certo é que nos afeta como se fosse em nossa casa.
É fácil, fazemos parte de um todo, onde estamos interligados, não obstante se for ao lado ou no Oiapoque ou Chuí, o fato é que devemos sempre promover amor e igualdade sem a intolerância que se provoca por ai de pagar na mesma moeda. Mas e se resolvermos mesmo fazer essa politica de devolver na mesma moeda, ai vem a tal da lei do retorno que nos arremete a mesma catástrofe ou pior.
Portanto o melhor meio além do perdão é praticar a solidariedade e o amor ao invés de ficar nos alimentando com sentimento de vingança que cedo ou tarde nos arremete a tão cruel depressão. Pense nisso!
Saiba que o espaço de tempo pra se viver nesse mundão pode acabar logo ali onde as leis Universais que insistimos não levar em consideração por valores antigos embutidos pelas religiões em nosso psicológico nos tornando cegos mesmo tendo visão. Afinal temos que observar o grande e maior mandamento ensinado nas antigas o qual sei que todos sabem de cor.
Amor pra ser feliz, Saúde pra viver e Paz pra sorrir.
ECLOSÃO
Há no afeto um momento de pureza
que é o do olhar no olhar, um infinito
descobrindo ao toque toda a leveza
do querer, enamorado e tão bendito
Uma poesia d’alma e de profundeza
de dois corpos se fundindo erudito
do encontro, e de prazerosa viveza
pondo o agrado no ápice do espírito
Um mistério de força dos amantes
Cada carícia, aflitos, e amima luzidia
beijos, sensações e o desejo em laço
Porque, entre dois seres delirantes
encena um ato com a sua melodia
musicando o amor num compasso
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/12/2019 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A Voz do Amor
Nesse coração acelerado e existente
Labirinto romântico e sacro do afeto
De refúgio arcano, piegas e inquieto
A voz do amor, te vozeia, persistente
E quando a tua voz tange na mente
A alma se embebece em um dueto
Com o sentimento, num só soneto
De paixão e ardor, tão ferozmente
Que, o meu olhar se torna cantante
Denunciando ao meu amor sincero
Sua importância de todos os amores
Em um concerto leve e constante
Dos anjos, sem nenhum exagero
És ritmo a vida em todas as cores!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/12/2019, 16’10” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando