Texto para Animar uma Pessoa

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⁠O Peso do Vazio –

Os dias de dor e solidão em
que eu ainda encontro
a luz da escrita,
são dias ruins,
mas não são
os piores.

Os piores dias são aqueles
em que há a angústia,
o sofrimento,
e falta-me a ideia,
a palavra.

Nesses dias
eu meio que sinto um
gosto precoce da morte
ou, talvez,
do processo de morrer.

Uma espécie de erro:
um espaço não habitável,
habitado por algo — ao mesmo
tempo íntimo e desconhecido.

Um estranho peso:
o peso do


vazio.

Inserida por SilvioFagno

⁠Instante Infinito -

Estou com excesso de palavras
presas ao peito.
Excesso de vontades vorazes
— abraços e beijos não dados —
e uma falta gigantesca de qualquer
coisa nossa.

É uma canção por terminar,
um verso por concluir,
um... quase
isto.

E no meio disso tudo,
no instante infinito que
separa a gente,
eu quase não
existo.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Uma Breve História Sobre Ana –

Naquela manhã chuvosa e fria, de uma quarta-feira de novembro, Ana, para não se atrasar, decidiu sair um pouco mais cedo, devido às condições meteorológicas.
Assim, precisou cumprir suas tarefas em menos tempo que o habitual.
Então, enquanto caminhava até o ponto de ônibus mais próximo, que ficava a cerca de duzentos metros de sua casa, percebeu, já próximo ao local, que havia esquecido a trava de segurança do botijão de gás aberta.
Meticulosa, às pressas, precisou voltar até sua casa para arrumar o descuido.
Ao chegar em frente à porta, enquanto enfiava a mão esquerda na bolsa à procura das chaves, ouviu, ao fundo, alguém chamando-a pelo nome.
— Dona Ana, bom dia!
Demorei um pouco, por conta desse mau tempo, mas cheguei para consertar aquele vazamento no banheiro.
— Bom dia!
Mas eu solicitei o trabalho de vocês há três dias, meu Senhor.
E alguém havia me dito que viriam naquele mesmo dia que, por sinal, foi este domingo agora e, portanto, eu estava o dia inteiro em casa.
Mas agora?!
Eu estou de saída, preciso trabalhar.
— Mas a gente avisou segunda-feira à tarde pelo número que a senhora entrou em contato,
que viríamos hoje, neste horário.
— Nossa!
Foi o número do meu filho e, provavelmente, ele esqueceu de avisar-me ou não viu a mensagem.
Bom, mas acontece que, neste momento, eu não posso estar em casa, estou indo trabalhar.
— Mas, senhora, como eu vou voltar metade da cidade sem ter feito meu
trabalho? — eu perderei meu dia.
— Então, o senhor quer que eu perca meu dia de trabalho para não perder o seu, é isso?
Desculpa, mas eu não posso sair para trabalhar e deixar uma pessoa que eu não conheço na minha casa.
E já estou me atrasando.
Mais dez minutos e eu perderei o ônibus que me levará a tempo até meu trabalho.
Sem esse, terei de pegar um outro que me atrasará, pelo menos, trinta minutos.
— Entendo, dona Ana.
Mas eu estou há menos de quinze dias nesse emprego, e se eu voltar sem ter feito o serviço, serei, certamente, despedido ao final do mês ou antes mesmo. E eu não posso ficar, outra vez, desempregado.
Pois moro de aluguel e tenho uma esposa e três filhos para sustentar, Senhora.
— Quanto tempo o senhor acha que levará para terminar o serviço?
— Bom, pelo o que a senhora nos passou, acho que não mais que quarenta minutos.
— Quarenta minutos é muito, meu senhor!
E olha lá meu ônibus indo... droga!
Pronto, agora o outro passa em dez minutos e eu não posso perder esse.
— A senhora não tem uma pessoa: um vizinho, um conhecido que possa ficar aqui enquanto eu faço o serviço?
— Neste horário não, meu senhor. — todos estão trabalhando.
Eu moro com meu filho, mas, neste momento, ele está viajando.
Olha, desculpa, meu senhor, se eu esperar mais, perderei o segundo ônibus que passa em menos de dez minutos.
E o terceiro só em quarenta e cinco minutos.
E como sei que o seu local de trabalho fica de um lado da cidade e o meu do outro, o senhor não poderá me dar uma carona.
Portanto, eu preciso ir.
Sinto muito!

Enquanto ela abria a porta e entrava em casa para baixar a trava do botijão e voltar, o quanto antes, até o ponto de ônibus para tentar alcançar o segundo, foi até a janela da sala para fechar as cortinas, quando avistou o senhor em passos lentos, desolado, voltando até seu veículo de trabalho.
E enquanto pensava em si mesma e seu filho, lembrava do conforto que, de certa forma, ainda tinha, mas que parecia faltar àquele homem e sua família.
Então, aos gritos, chamou-o, pedindo que fizesse o seu trabalho, enquanto servia-lhe uma xícara de café com torradas.

Enquanto ela sentava no sofá da sala e pegava seu celular para comunicar ao chefe sua ausência naquele dia, o telejornal local noticiava que, devido às fortes chuvas daquela madrugada, o congestionamento na via que dava acesso ao seu local de trabalho, ultrapassava os setenta quilômetros de lentidão.
E, assim, ela pôde entender que realmente havia feito a escolha certa.
Então, descansou os pés sobre uma almofada cinza, e a mente e o coração em um livro de poesia, ouvindo ao fundo, entre uma martelada e outra, Seu Régis assobiar sua canção favorita.

Inserida por SilvioFagno

⁠A Pedrada e o Silêncio —

Foi um dos golpes mais
duros que eu
já recebi:

Ouvi tudo que sempre
quis ouvir e, feliz,
extremamente
feliz,
virei-me para
continuar a andar,
mas, passos
depois,
a pedrada e o silêncio.

(Alguém tocou a vida
normalmente depois
disso:

E não fui eu).

Inserida por SilvioFagno

⁠Abreviada —

⁠Certo dia,
numa conversa com
uma adolescente de 16 anos,
(através de uma rede
social),
eu fiz-lhe duas perguntas em
que as respostas, de um
ponto natural,
eram as mais simples:
sim ou não.

Mas ela conseguiu "simplificar"
ainda mais:
A primeira respondeu-me
com um "Nn".
E para a segunda ela usou
um "Ss".

Ainda um pouco confuso,
pensativo,
eu deduzi que esses
"sinais",
seriam abreviações do
sim e do não,
e então questionei-me:

O que será desta e das
próximas gerações?

(Ora, a grande maioria das pessoas
já não é lá grande coisa,
imagina só abreviada).

Inserida por SilvioFagno

⁠Um Grande Inferno —

⁠Aquela situação (o sentimento — de anos — não correspondido, a saudade, o ciúme), tudo aquilo me consumia de uma maneira assustadora, e eu não podia controlá-la, não encontrava uma saída.

Eles eram jovens e saudáveis — embora
idiotas — e faziam parte da geração dela.
Eu não poderia nunca vencê-los fazendo o mesmo que eles.
Eu só poderia vencê-los, de alguma maneira, fazendo, naturalmente, diferente. — sendo o diferencial na vida dela.

Assim, quando ela lembrasse de um deles, lembraria de todos eles ao mesmo tempo.
Mas quando, por ventura, lembrasse-se de mim, então lembraria somente de mim.

Naquela noite eu fui dormir sabendo que ela estava com outro, fazendo tudo que se pode fazer com um outro e, aquela noite, como tantas outras, foi uma noite longa, terrivelmente longa e dolorosa,
e meu sentimento — nobre — que, por grandeza, deveria ter morrido ao amanhecer, acordou comigo, levantou-se comigo, (droga!), vive vivo comigo,
e isso é um grande inferno,
meu Deus!

Inserida por SilvioFagno

⁠Objeto Pontiagudo —

Um jogo de futebol na TV
quase sempre me salva.

Uma bebida, uma conversa com um amigo,
a leitura de um poema me salvam.

Um cochilo de quinze minutos à tarde;
uma corrida de meia hora; um dia frio de chuva, todas essas coisas,
momentaneamente
me salvam.

Me salvam durante o tempo em que
estou ali concentrado, distraído.

A realidade crua da vida me cai como
um objeto pontiagudo sobre a pele nua,
por dentro: na alma. — e isso dói tanto.

Inserida por SilvioFagno

⁠A Receita —

Eu poderia dar a receita àqueles
que querem destruir-me.
É tudo muito simples,
fácil.

Há, porém, um detalhe:
A grande crueldade é que,
ironicamente, não
funciona para
o inimigo.

Somente os que têm meus
mais sinceros sentimentos
conseguem destruir-me
facilmente.

Os inimigos ainda correm
algum risco.

Inserida por SilvioFagno

Final de Ano —

⁠Fiquemos atentos, tomemos
cuidados.

Não sei o quanto há de superstição;
O quanto há de medo, de verdade,
de maldição.

Mas sei que há a caminho um fim
que se aproxima. — o fim de um
ciclo — onde um Deus vai precisar
prestar contas.

Fiquemos atentos, tomemos
cuidados.

Sorte!

Inserida por SilvioFagno

Paralisia


⁠Tudo está calmo
Nada se move
Só a brisa desliza
Sobre a água espelhada
Tudo está calmo
E o sentimento
É de que num instante
A bela rima virá
E sobrevoará o caos
Que desanima a existência
Tudo está calmo
Sim, senhor
Nem mesmo o amor ao próximo
Se movimenta.

Avanildo Moreira

Inserida por Avanildo

O ⁠Chão da Estação —

Olha só:
parece-me que as pessoas estão
indo muito bem sem você,
garoto.
(Que já não é mais tão
garoto assim).

Ela parecia importar-se com você
há algum tempo. — com o que
você pensava e falava
e sentia —
mas agora... agora não!

Ela parecia querer estar com você,
dividir coisas com você: risos,
gostos e sons.
Talvez anos, talvez sonhos — talvez a vida.

Mas olha só agora:
Ela veio e não disse que vinha;
Foi sem dizer que ia.
E você foi só o chão da estação
pela qual ela passou (acompanhada,
sorridente, distraída),
sem a mínima vontade
de ficar.

Inserida por SilvioFagno

⁠""Gostaria de poder ver pelo olhos dos estranhos que vc encontra no seu dia dia, apenas para poder apreciar os detalhes da sua beleza por mais tempo.

E aproveitar da beleza do seu sorriso espontâneo, do brilho dos seus olhos e do seu cabelo cacheado que combina perfeitamente com cada detalhe do seu rosto....

E por fim me pegar perdendo o chão com cada vez que me encanto pela pessoa especial que você é.""

Inserida por caio_blasques_lizze

⁠16/12 -

Ora,
por que haveria de ser
diferente?
Apenas deite
e durma.

Amanhã será só mais um dia
a menos como todos
os outros.

O sol nascerá a leste;
A vista da janela
ainda será a
mesma;
O tempo se desenrolará
na mesma velocidade
de todos os outros
dias.

Então,
arrumarei a cama e
os cabelos como
em todos os
outros;
Escovarei os dentes
e mijarei como em
todos os outros;
Prepararei o café e os
ovos e os pães (se houver
pão), como em todos
os outros dias.

Ao fim da tarde
sentirei fome e sede
e saudade como
em todos os
outros.

Ao fim do dia
estarei aqui sozinho,
assim, como estou:
no escuro do quarto,
deitado na cama,
como há sete dias,
como ontem,
como agora e em
todos os outros.

Vamos,
apenas deite e
durma. — amanhã será só
mais um hoje a
menos.

Inserida por SilvioFagno

⁠Golpe Baixo –

E de repente você pensa
em quantas coisas conseguiu fazer
esta semana:
De quantos oportunistas conseguiu desvencilhar-se;
Quanta gente idiota, mesquinha
e mau-caráter conseguiu
evitar, entre ir ao supermercado pela
manhã e tentar entender o porquê
de tanta coragem antes de
dormir à noite.
E, naturalmente, há algo
a ser comemorado.

De certo modo, você tem
sido forte:
tem conseguido controlar alguns
desejos impulsivos, algumas paranóias,
alguns medos.
E tudo isso, por enquanto, tem segurado-o.
E isso é bom, ainda que passe. — e passa.

Mas quando você acha que,
finalmente, está começando a dominar
o adversário, a luta — o jogo —
de repente, num simples descuido,
acontece o golpe fatal.
E lá está você, outra vez, nocauteado, dominado, vencido.

Golpe baixo, às vezes,
é algo te fazer lembrar
dois belos olhos castanhos
e uma boca carnuda
mordendo você.

Inserida por SilvioFagno

⁠Por Eles -

⁠Eu sempre vou amar os jovens,
os adolescentes.
Claro,
falo do verdadeiro espírito
dessa fase da vida — a liberdade,
a espontaneidade, os sonhos,
a urgência.
Alguns traços de rebeldia,
a malícia com um certo ar de ingenuidade,
a vivacidade, tudo isso que (por muitas vezes,
em conjunto ou não), extrapolam alguns limites, mas, ainda assim (envolto de algum traço de poesia), é uma necessidade
à alma — à vida.

Naturalmente, hora ou
outra,
também vou odiá-los,
mas,
logo em seguida,
perdoá-los.

Eles estão no lugar onde a vida mais entorta,
mais destoa, mais balança.
Ainda que, sob a benção da distração, não percebam a real de tudo isso.

Eles não sabem bem o que são,
nem mesmo sabem o porquê
de não saber o que são.
Mas eles precisam saber, urgentemente precisam saber e ser o que ainda desconhecem.
A vida cobra decisões de gente grande,
e eles ainda não o são.

Ser criança ou ser adulto é, de certo
modo, mais confortável:
Ou se vive num sonho
fantasioso, relativamente
ainda seguro,
ou numa realidade
palpável. — se não a ideal,
o mais próximo da
mais provável.

Ser jovem, adolescente
é viver tudo ao mesmo
tempo.
Uma mistura — agredoce — uma doce maldição poética,
e sem tempo (ainda que
tenham tanto), para maiores entendimentos.
E isso confunde, sufoca,
dá medo.
(E digo jovem, adolescente,
não somente falando
de idade).
Algumas adolescências
beiram os trinta, os quarenta anos...

Mas penso que todo ser
humano com alguma coisa
especial,
independentemente
da idade,
carrega algo jovem, algo adolescente
no espírito.

Acho que é, também,
por eles e por isso
que eu escrevo.

Inserida por SilvioFagno

⁠Sigo —

Sigo com uma enorme angústia em
formade mágoas e decepções.
Mas sigo.

E sigo,
simplesmente
porque é o que me resta.

Não direi-lhe mais nada, nem cobrarei nada.
Nem a deixarei mais me ver chorar.
Apenas seguirei... como um rio
calmo e esquecido que aparenta estar secando, mas ainda em fluxo.
Ainda.

E espero que um dia melhore;
Espero que um dia aceite;
Espero que um dia passe.

Espero... mas, por ora, não a
espero mais.

Inserida por SilvioFagno

⁠À Altura —

⁠Gente fria me assusta, me desestimula,
me põe pra baixo.

Meus dedos querem dedos
e pele quentes.

Meus olhos querem olhos
admirados, devotos, sonhadores.

Meu coração, meu íntimo,
meu sentimento anseia,
implora por algo vivo, intenso,
desmedido — recíproco.
Nada menos.

Vai acabar logo (a gente
sabe),
vai acabar logo — não
há escapatória.

Então,
o que estamos fazendo,
afinal?
O que realmente importa?

Há um fluxo sanguíneo,
e neurônios, e sentimentos
vivos justificando vida.
E enquanto vivo, não suporto
gente fria demais, gente distante
demais, gente rasa (demais).

Toquem um cadáver!
Digo,
toquem um cadáver e entenderão
a necessidade de uma resposta
à altura do seu sentimento.

Inserida por SilvioFagno

⁠Chuvas Tristes –

⁠Eram onze e meia da noite,
eu já estava na cama como que pra dormir,
e em meio ao barulho do ventilador,
as futilidades das redes sociais
e a realidade amarga da
vida, eu notei — através
da janela ao fundo —
que chovia.

Então, de súbito,
levantei-me para olhar com um pouco
mais de atenção, e percebi que já
chovia há, pelo menos, uma
meia hora.

Era uma chuva calma, tímida — triste.

E chuvas tristes são como
pessoas tristes:
Quase ninguém nota.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Aprisiona Os Dois –

A grande maioria de nós,
de alguma maneira,
deve algo, alguma coisa
a alguém.
E isso, no fim, numa relação,
de certa forma prende,
aprisiona os dois.

Assim,
um rompimento ou uma permanência
nessas circunstâncias, abre uma enorme
cratera de dúvidas, traumas, mágoas...
decepções na alma de,
pelo menos,
um.

Raramente, muito raramente os dois
podem decidir ficar ou
partir em paz.

Inserida por SilvioFagno

⁠Acabam Por Morrer Inúteis -

⁠Uma grande maldade da vida
é que, inexplicavelmente,
os melhores sentimentos:
os mais sinceros, os mais cuidadosos,
os mais nobres — esses todos —
quase sempre são ignorados, rejeitados,
esquecidos — desperdiçados.

E, por fim, esgotados,
acabam por morrer
inúteis.

Inserida por SilvioFagno